CAPÍTULO V

A floresta era um vulto negro diante dos olhos de Leah Clearwater.

Seus pés estavam queimando da alta velocidade e seus pelos grudentos com a água da chuva que escorria entre eles; era difícil admitir, mas até mesmo Leah estava incomodada com o forte cheiro de cachorro molhado.

Atrás dela, ela podia escutar os pés de Sam deslizando habilmente pelo chão lamacento da floresta a um quilômetros dela; eles estavam naquilo a mais de quinze minutos e Leah não suportava mais fugir de Sam.

O uivo ecoou toda a floresta e Leah, por alguns segundos, virou o rosto e enxergou Embry encima de uma pedra na colina, arqueando o pescoço para dar um segundo uivo.

Aquilo seria um aviso: algo estava acontecendo; alguém estava invadindo as terras. Leah por um segundo desejou poder escutar o que estava acontecendo, mas sabia que já estava feito: sua mente era preenchida apenas por seus pensamentos e eles eram exclusivamente dela, ela havia largado oficialmente a matilha desde o segundo em que a conexão mental fora cortada.

Os sons dos pés de Sam foram se distanciando mais e Leah acelerou o ritmo da corrida, esticando as pernas o máximo que podia. Ela sabia que já estava quase fora da cidade, eles já haviam passado pelo rio e pelos territórios que fora dos Cullen, enquanto os sanguessugas estivessem fora, todo o terreno seria deles.

Cerca de dois minutos depois, Leah já estava fora de Forks.

Seu coração batia contra o peito com brutalidade, bombeando o dobro do sangue no dobro de velocidade. Seus pulmões fortes estavam roncando enquanto sua garganta ameaçava um rosnado enraivado.

A chuva já havia diminuído ao contrário do ódio de Leah.

Era tanta raiva fluindo em seu corpo, escondida entre seu sangue e escorregando entre as veias. Seus músculos se contraíram e Leah voltou a correr, os dentes rangendo o a língua tomada de um amargor insuportavelmente forte.

Era raiva; raiva de Sam.

Ela já havia escapado dele e agora a raiva se revelava, tudo que ela acumulara desde o inicio. Mesmo que Leah não amasse mais Sam, a raiva de um dia te-lo amado era o que a dominava, em parte, pois a outra parte era dele tê-la afastado de Bella por aquele curto tempo.

Leah sentira-se tão enraivada assim apenas quando Harry morrera; chorara de raiva de Victoria.

Mas por mais raiva que Leah tivesse, ela não gostava de desconta-la em seres vivos, mas era inevitável. Leah odiava esquilos e aquele seria seu alvo da vez; o pequeno animal parado encima do tronco velho, roendo algo quase invisível que estava escondido entre as mãos.

Leah rangeu os dentes novamente e pulou no esquilo, prendendo-o entre as patas e o abocanhando com a mesma voracidade que um cão raivoso atacaria um filhote de gato; brutal e doloroso. O gosto de sangue espalhou-se por seus lábios e ela rosnou outra vez, despedaçando o resto do animal e o cuspindo no chão.

― Mãe! ― Seth entrou em casa; os cabelos negros úmidos da chuva e a bermuda pingando. Sue esticou-se no sofá e olhou para o filho, o olhar dolorido e o corpo rijo se erguendo do sofá castanho.

― Onde está Leah? ― os olhos de Sue estavam semicerrados e ameaçavam a escorrerem lágrimas a qualquer segundo; Sue sempre fora uma mulher, quase em todos os momentos, mas agora ela conseguia apenas ficar desesperada e totalmente sem controle de suas emoções.

― Você já sabe ― murmurou Seth quase ao inaudível tristemente.

― Como não saber? ― retrucou Sue ― Sam chegou aqui, endiabrado e prometendo arrastar Leah pelos cabelos até a casa dele!

― Mãe…

― Foi por causa da filha de Charlie? ― perguntou Sue, Seth abaixou o olhar. Não deveria contar, aquilo devia ser um assunto entre Leah e Sue, e não entre ele e Sue. ― Responda Seth! ― exigiu ela.

― Sim. ― respondeu lentamente.

― Onde ela está? ― Seth negou. ― Você correu… ― Sue pausou. ― Você correu com os outros?

― Ela é minha irmã, mãe ― Seth ergueu o rosto. ― Jamais a perseguiria; mesmo que ela estivesse errada, jamais. ― Sue assentiu.

― Vá achar sua irmã, Seth. ― Seth sorriu.

***

― Hey, Lee… ― Leah pulou assustada quando ouviu a voz masculina e carinhosa, despertando-a de seu sono. O dia já havia amanhecido e Leah dormido na floresta; estava tão enraivada que não se lembrava de ao menos de ter pegado no sono na forma lupina.

Seth riu baixo e Leah bufou, sentando-se entre as folhas amareladas da floresta. O chão ainda estava úmido. Seth riu baixo mais uma vez e sacudiu as coisas em seus braços. Um saco de salgadinhos, uma peça de roupas e um par de tênis.

― Vamos lá, Leah! Trouxe comida e roupas! ― Seth movimentou as coisas em seus braços novamente. Leah mexeu a cabeça, indicando para que Seth se virasse. Seth revirou os olhos e virou-se de costas, enquanto Leah corria para trás de uma árvore. ― Sabe, Sam estava ladrando feito um louco… ― comentou o jovem lobo, iniciando um outro dialogo. ― Eles ― Leah parou por um segundo quando escutou eles ao invés de nós. Seth havia largado a matilha também? ― procuraram você por toda a floresta, quer dizer, não sei se você notou, mas está fora da cidade. ― Leah colocou as mãos encima dos seios, esticando a cabeça. Seth enxergou a irmã de soslaio e deu cinco passos cambaleantes para trás, com a mão das roupas esticada para trás. ― Como foi dormir na floresta?

― Fica quieto, pirralho. ― resmungou Leah, puxando sua peça de roupas da mão de Seth e voltando para trás da árvore, completamente. Leah vestiu rapidamente sua roupa; era só um jeans, uma regata vermelha e seu par quase novo de tênis. ― O que aconteceu para pararem de me perseguir? ― questionou.

― Um vampiro invadiu as terras ― Leah ouviu a voz de Seth sair entrecortada.

― Achei que isso fosse para mim. ― ela sentou-se ao lado do irmão no tronco, puxando de suas mãos o saco de salgadinhos. Seth sorriu longamente, enfiando a mão no saco de salgadinhos e puxando-a com um punhado gigantesco de comida.

― Sempre é bom comer, Leah. ― Leah suspirou e pegou uma porção para si, comendo cada um de uma vez, calmamente. ― Sabe, enquanto não tenho meu imprinting… ― Seth lançou um olhar estou-falando-de-você–sim… Leah colocou outro salgadinho na boca, ignorando o olhar de Seth. ― Quero continuar apaixonado pela comida. Olhe só para ela ― Leah olhou para os pedacinhos em suas mãos: frios, crocantes, com cheiro de queijo e totalmente sem vida. ― Olha que gatinha sensual… ― Seth suspirou apaixonado e Leah deu uma cotovelada nele. Seth gargalhou e colocou o resto que tinha em suas mãos na boca, abraçando Leah pelos ombros em seguida. ― Ria Leah! A vida é bela! ― falou ele com a boca cheia. Leah assentiu e voltou a comer. ― Em falar em bela… ― Seth puxou do bolso da bermuda seca e nova a pulseirinha de ouro. ― Acho que isso é dela. ― Leah puxou a pulseirinha e soltou um sorriso a Seth, um sorriso sincero. Mas, o sorriso durou pouco, em seguida, ele se desfez e o olhar de Leah tornou-se sério.

― Você largou a matilha, certo? ― Seth abaixou o olhar, evitando o assunto. Leah bufou. ― Você não devia ter feito isso…

― Por que não? ― Seth franziu as sobrancelhas. ― Leah, Sam estava…

― É problema meu! Não seu…

― Eu não vou voltar pra lá, Leah ― retrucou Seth a calando. ― Enquanto você for minha irmã, vou estar do seu lado e dane-se o que você está pensando; eu não vou voltar pra lá.

Leah ponderou manter a postura severa, mas não conseguiu; ela sorriu e abraçou Seth pelos ombros, e em seguida bagunçou os cabelos do jovem lobo.

― Esse é o meu pirralho.