Leah e Bella escrita por Cássia Andrade


Capítulo 41
Capítulo XL


Notas iniciais do capítulo

Allô! Quem está pronto para o capítulo antes do epílogo?
Estou sentindo falta dessa energia maravilhosa de vocês antes do final!
Mas, enquanto estamos aqui, quero agradecer aos comentários SEMPRE incríveis, divertidos e empolgados!
Boa leitura e mantenha-se forte Team Leah!



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CAPÍTULO XL

Antes que Bella conseguisse engolir a seco outra vez e desencolher-se contra os armários, o som de outra porta sendo arrombada repercutiu na área: o estouro do ferro contra o piso. Ruídos poucos discretos. Passos pesados e outros leves. Isabella estreitou os olhos e esticou o pescoço, segurando na pequena maçaneta de um armário e tentando se levantar. Escorregou para o chão antes que se erguesse: as pernas bambas, as têmporas doendo e o corpo sofrendo, como se estivesse todo distendido.

Leah Clearwater desceu as escadas com impaciência, de dois em dois degraus e correndo. A escadaria não era tão longa, mas soou como um caminho infindável: mil degraus que a levariam a uma cena sôfrega. O que Victoria teria feito a Bella? Teria judiado muito? Mas, no fundo, Leah sabia: pouco importava se fossem muitos ou poucos ferimentos; Victoria não passaria daquele dia. À sua frente, Edward Cullen havia desaparecido: um vulto branco.

Odeio vampiros… ― resmungou Sianoah, depois de tropeçar num pedaço de piso lascado. Leah não deu ouvido e continuou na descida truculenta. O vestiário, que poderia ser um perfeito salão de festas, estendia-se gigantesco à sua frente: ela parou por um segundo, fechou os olhos e escutou as batidas rítmicas do coração de Bella; aliviada, triste e nervosa. Norte; decifrou Leah, atirando-se na direção e correndo entre os armários. Ela quis ser durona, mas não conseguiu: paralisou no meio do corredor, como se uma parede de vidro impedisse sua passagem. Engasgou com o oxigênio enquanto uma ponta de angústia dominava seu peito; Bella choramingando no ombro de Edward, encolhida contra ele com fragilidade. Os braços nus estavam coloridos com manchas que iam do azul até o preto; inchado em alguns pontos e com acúmulos de sangue que eram rosados com destaques roxos. O cabelo dela ― notou a menina Clearwater ― estava com a metade do volume costumeiro: como se tivessem lhe arrancado partes. O pescoço exibia marcas; meias luas que revelavam as unhadas de Victoria. Um filme passou pela mente de Leah, contorcendo-a numa tortura mental: inimagináveis torturas, humilhações e ameaças. Ah, sua Bella…

Leah, nostálgica e quase entre lágrimas, andou até onde Bella estava: despencou de joelhos ao lado da garota. Bella soltou-se de Edward e olhou Leah com os olhos marejados; os de Leah encheram-se d’água ao ver o rosto de Bella pintado em vermelho, nas bordas e nas bochechas, onde a mão de Victoria tinha impactado incontáveis vezes. Os ombros de Bella sacudiram-se enquanto um soluço se libertava e ela jogou-se dentro dos braços de Leah, que se fecharam ao seu redor, acolhendo-a com demasiado cuidado e afetuosidade.

Alívio. Alegria. Decepção. Raiva. Tudo se misturou dentro de Leah, fazendo-a se inclinar sobre Bella e beijar-lhe os cabelos, puxando seu rosto com cautela: medo de machuca-la ou que estivesse quebradiça; como uma bonequinha de porcelana em suas mãos rudes e grandes.

Me perdoe por isso… ― implorou; era sua culpa aquilo. Seu fracasso com Bella. Leah tremeu e engoliu qualquer resquício de fragilidade; era a alfa e não uma garotinha amedrontada. Largou Bella com dificuldade; como se estivesse sendo obrigada a soltá-la agora que finalmente a encontrara. Leah estava cheia de culpa e raiva. Um brilho magoado cortou o olhar de Bella. ― Onde está a ruiva? ― a voz de Leah saiu rosnada: a boca contorcida, o corpo levantando-se e os dedos estalando. Edward pôs a mão sobre a de Bella, como se a consolasse, porém, viu Leah, mostrava-se meio indiferente. Talvez hesitante em fazer aquilo na frente da loba.

― Ela fugiu… ― a voz do vampiro amargara-se. Leah cerrou so dentes e um rangido desagradável veio da boca. ― Não deve estar muito longe.

Sianoah, que ainda vinha na direção deles, parou logo atrás de Leah: Isabella Swan estava pior do que ela pudera imaginar.

― Meu Deus… ― Sianoah, espantada, cobriu a boca com a mão. ― O que ela fez com você, Bella?

Infelizmente, Bella não soltou um sorriso tristonho ou um dar de ombros: tudo que conseguia fazer era olhar Leah, ansiosa por um novo ato e para que falasse algo sólido. E, em parte, ressentida por sido deixada de lado quando tudo que desejava era um abraço duradouro da namorada.

― Eu sei… ― Alice foi a última a chegar. Sentou-se ao lado e pôs uma mecha do cabelo de Bella pra trás da orelha. Bella virou-se devagar, fitando Alice. ― Vamos dar um jeito no seu cabelo, amiga. ― prometeu, sorrindo com pesar.

Leah observou a cena: a mente estava em outro lugar.

Para onde Victoria tinha ido? Como tinham sido desligados a ponto de não notarem a fuga da vampira?

― Ela não deve estar muito longe… ― falou Edward, respondendo a um dos anseios da loba. ― Estamos aqui a menos de um minuto e Bella disse que assim que ela saiu; entramos. ― Leah manteve o maxilar tensionado. Tem alguma noção de para onde ela foi? ― Não, mas… ― o olhar dourado e líquido de Edward solidificou-se. ― Cães são bons farejadores. ― lembrou-a. ― Acho que você pode localizá-la pelo cheiro. ― não havia deboche na voz de Edward, apenas seriedade e esperança.

Leah voltou-se para Sianoah:

― Fique com a Bella. ― pediu. Antes que Sianoah pudesse protestar, Leah Clearwater já tinha se virado e saído pelo ginásio. Subiu as escadas e atravessou a porta que, há alguns minutos, tinha arrebentado com Edward Cullen. O que seria dos dois depois daquele episódio? Seriam melhores amigos? Apesar da utilidade de Edward, a ideia tinha um gosto azedo.

Leah parou a alguns passos do ginásio.

O ar de Seattle tinha cheirava a metal, diferentemente de Forks que tinha um cheiro de mar; cidade pequena. O ar soprou os cabelos de Leah, guiando-a a uma jogada um tanto quanto duvidosa: talvez Edward estivesse certo quanto ao “farejar”. Ela respirou profundamente e tentou se concentrar em todos os odores na brisa: era denso e forte. Percebeu mais metal e, acima de tudo, vampiros. O cheiro enjoativo; balsâmico demais pra ser agradável. Apesar todos terem o mesmo cheiro, Leah diferenciou-os depois de uma corrida ao lado de Alice e Edward Cullen na floresta. Edward tinha um cheiro que, de alguma forma, era mais másculo; uma pitada cítrica. Alice era algo mais sutil; lembrava o cheiro das balas de caramelo que vovó Clearwater comprava no armazém. Um terceiro odor alcançou o nariz de Leah, cáustico e insuportável; irrespirável.

Cheiro de Victoria.

***

Costumeiramente, Leah sempre mantinha uma paixão por séries policiais.

Adorava os códigos da polícia, mas sempre se confundia com aqueles números. Amava as ameaças por telefones; as negociações e ficava tensa quando um policial dobrava numa esquina, cantando pneu numa Rua de Manhattan. Divertia-se com o assaltante saltando nas ruas, tropeçando e quase caindo por estar impulsionado demais pelo medo de ser pego. Depois do hoje ― o dia em que precisara correr tão rápido quanto um daqueles assaltantes ficcionais ― Leah não teria o mesmo prazer pelo programa: ela tentou parecer invisível entre as pessoas ao correr.

Ainda levava tudo na ponta do faro: o caminho de saída de Victoria ardia no seu nariz. Era como a estranha sensação de correr de olhos fechados: não via o caminho, mas sabia que daria certo. Victoria não tinha sido muito criativa na rota de fuga: tinha ido para a floresta, o que era esperado.

Leah, exatamente, andou quinzes passos antes de irromper na sua forma lupina: libertando aquela fera gigantesca e impetuosa; cinza e de olhos azuis. Ela adentrou a floresta que circundava as estradas e afundou as patas na grama. O ar úmido e o rastro de Victoria sempre ativo.

“Maldita…” Leah amaldiçoava Victoria a cada passo dado.

Pagaria muito cara por ter encostado um dedo em Bella.

Ah, Bella… O coração de Leah apertou-se, acusando-se mentalmente de ter sido tão indelicada com Bella: ela podia sentir a mágoa da namorada, o peso abaixando seus ombros. Mas fora necessário; se tivesse sido bruta, Bella choramingaria para que nunca mais saísse do seu lado, para que esquecesse Victoria. Entretanto, Leah não queria e não podia esquecer Victoria: tinha que acabar com tudo aquilo de uma vez. Para Victoria não machucar Bella nenhuma outra vez.

De repente, o corpo esguio de Leah chocou-se sobre um grande pinheiro. Ela ganiu e ergueu os olhos: Victoria estava um pouco distante e sorrindo com um prazer insano. Parte da cabeleira vermelha que estava sobre a testa foi tirada da frente do rosto com a ponta de seus dedos. Leah levantou-se entre rosnados ― graves e que transbordavam violência ― e correu na direção de Victoria; pronta para arrancar a cabeça da sanguessuga do pescoço.

Infelizmente, Victoria parecia do que preparada para a o confronto:

Suas mãos agarraram o pescoço de Leah ― tal como se pegasse em mãos uma pelúcia ― e as giraram, numa cena bizarra enquanto Victoria montava na loba e acertava-lhe a garganta com um soco brutal. O ar faltou à loba e ela sentiu o gosto de sangue na boca; seu peito emitiu um ganido baixinho.

Nada estava saindo tão fácil e glorioso como imaginara: Victoria era cruel e, apesar de ser pequena, tinha mãos pesadas, ágeis. Riley fora uma brincadeirinha comparada a Victoria. Leah, despertando do gosto salgado de sangue, empurrou Victoria com suas grandes patas enlameada. Victoria caiu suficientemente longe para Leah pulasse, ficando em pé e investisse contra a vampira, antes que a mesma lhe acertasse a garganta por uma segunda vez. Victoria, que num segundo ria com as roupas rasgadas, desapareceu da frente de Leah como que num estalar de dedos. Leah apoiou as patas na árvore, latindo e tentando focalizar qualquer sinal vermelho; um pedacinho de Victoria.

Leah soltou-se da árvore e deu uma volta, olhando para as árvores. Escutava os movimentos da sanguessuga ― os galhos quebrando, as folhas amassando e os animais fugindo dela ―, contudo, não a enxergava. E o som, também, parecia confuso demais para localizá-la apenas com os ruídos.

― Então… ― a voz de Victoria manifestou-se. Leah virou-se: estavam a possíveis vinte metros uma da outra. ― Você é a amante da humana? ― isso foi como uma espécie de estopim para Leah: ela atirou-se contra Victoria, cruzando a distância entre e elas e, com afobação, tentando cravar os dentes no pescoço de Victoria. Se conseguisse… Se Victoria não tivesse mãos tão fortes… Se chegasse um pouquinho mais próximo… Não teria a mínima dificuldade em arrancar-lhe a cabeça. O grande problema era conseguir se aproximar.

Leah afundou os dentes no quadril de Victoria, gritando de raiva e tentando puxar algum pedaço da maldita. Victoria rugiu de dor e suas mãos foram para a nuca de Leah, tentando puxá-la: os dentes da loba submergiam na pele de Victoria; um som de mármore quebrando-se. Victoria conseguiu puxá-la antes que lhe arrancasse uma parte; a blusa com marcas de mordida e a pele rachada, como um corpo trincado prestes a perder as bordas.

Leah não perdeu um segundo e voltou a atingir rosto de Victoria com as patas, fazendo as duas caírem enquanto a vampira a segurava pela nuca. Victoria soltou-se de Leah e acertou-lhe a barriga; tal como Riley fizera. Aquilo parecia o ponto fraco de Leah e a fez cair pra trás, rolando sobre as costas.

Victoria levantara-se, orgulhosa do próprio trabalho, e Leah contorceu-se: a dor mil vezes pior do que a do soco de Riley. Daquela vez, algo realmente rompera-se dentro do corpo de Leah. A visão foi acinzentando e a ardência subindo, subindo… Seus olhos queimaram; lobos choravam? Derramavam lágrimas?

A mente de Leah se enevoou: Bella; tinha ficado com os Cullen e com Sianoah. Ela ficaria bem… Certo? Nada de mal voltaria a acontecer com ela… Entre uma fungada e a dormência nas quatro patas, Leah enxergou os cabelos de Victoria. Quis levantar, correr e ser tão forte como imaginava; mas tudo parecia molengo, flácido. A respiração estava pesando. As costelas doendo. Isso tudo com menos de quatro golpes; pensou com desgosto.

Um toque frio, triste, encostou-se a pele de Leah.

Ela fechou os olhos, gemendo de dor.

Leah?” uma voz melodiosa e doce. Ela obrigou-se a abrir os olhos e arrastar-se para longe de Victoria; não demoraria muito para seu corpo voltasse a forma humana. Bella estava parada perto de um tronco de árvore: saudável e com as bochechas rosadas; quentinhas e bonitas. Usava um vestido verde e tinha os cabelos trançados; a trança que Leah sempre gostara de fazer em seus cabelos. Os olhos castanhos reluziam amor e algo na forma com a qual respirava a deixava com um muito materno; como se fosse uma mãe prestes a acolher seu amado bebê. Um grunhido arrependido ecoou: devia ter lhe dado um beijo antes de sair, e sussurrar entre os lábios da garota o quanto a amava. O quanto daria sua vida por ela; como fazia agora. “LEAH!” a voz retornou, agora, desesperada e rasgada. Leah forçou os olhos, piscando: era Sianoah e… Ela saltava sobre Victoria, abocanhando pelo ombro e arrancando-lhe um braço. Tinha sido pega de surpresa.

Ela quis se levantar e ajudar Sianoah a terminar com Victoria: ter a força da mocinha de um romance e achar forças. Mas não achou.

Os olhos sobrecarregados com mais peso do que podiam suportar começaram a se fechar enquanto Victoria se rendia. Outros ladrares soou nas orelhas de Leah e ela enxergou alguns vultos ao seu redor. Seth e Quil. Jared e Jake.

Tudo ruiu nos seus ouvidos e, então, houve escuridão.


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Notas finais do capítulo

Então... O que acharam disso tudo?
O que acontecerá no epílogo?
Deixem suas opiniões!
Beijinhos!