CAPÍTULO XXXVI

Leah girou um pouquinho, analisando como a roupa tinha ficado. Não tinha apertado, mas estava consideravelmente justa. Era um short jeans e uma blusa larga e com um ombro caído; era branca e tinha os seguintes dizeres na frente: Still Sane. Bella e Leah riram junto.

― Boa frase. ― comentou a loba antes de voltar para cama, engatinhando até alcançar Bella. Montou encima da garota e inclinou o rosto, beijando os lábios de Bella com devoção. Moveu os lábios encima dos de Bella com uma sintonia invejável enquanto segurava o rosto dela entre as mãos magras e um pouco ásperas. Bella foi passeando com as mãos pelas costas de Leah: inicialmente as omoplatas e foi descendo, até alcançar os quadris. Manteve as mãos ali, apreciando do calor da sua loba. Leah beijou-a apaixonadamente até o ar faltas para as duas. Bella ficou com os olhos fechados, sentido o efeito do beijo de Leah percorrer por toda ela: os arrepios, a sensação de fragilidade na pele (o que tornava cada toque mais prazeroso). Também de olhos fechados, e com a respiração ofegante batendo contra a bochecha de Bella, Leah murmurou: ― Eu te amo tanto.

Bella sorriu e respirou fundo, estabilizando parte da respiração.

― Também amo você… ― respondeu ao juntar a boca na de Leah outra vez. Não foi um beijo feroz e nem seria: ambas apenas desejavam um pouco de calma e amor. Bella acariciou com a mão a coluna de Leah, deslizando os dedos com suavidade. Rolou sobre as costas e inverteu a posição, diferenciando um pouco ao não subir encima de Leah e sim ficar no colchão. As duas voltaram a rir: tudo parecia tão bobo e engraçado. Estavam na mais satisfatória paz e ninguém, absolutamente ninguém, pensava em Victoria naquele instante. Todos pareciam dedicados à ternura. Talvez Sianoah e Seth estivessem juntos naquele momento; abraçados e dividindo uma tigela de guloseimas ao assistirem o mais novo episódio de Esquadrão da Moda (programa que Leah, particularmente, odiava). Quil deveria estar afundado no seu quarto, folheando como uma criança a sua velha e amada edição de O Surfista Prateado. Jared, sem dúvidas, estaria no sofá de casa, atirado e tirando o cochilo mais barulhento de todos. Uma onda de relaxamento tinha atingido a todos depois do confronto na floresta.

― Afinal ― Leah passou os dedos por cima das letras da blusa. ― Por que você não simpatiza com essa blusa?

― Não gosto de roupas com frases. ― respondeu suavemente. ― Me sinto exposta demais.

― Isso é… ― Leah pigarreou desconfortável em pensar qualquer constrangimento que Bella pudera passar. ― Diferente.

― Tudo bem. ― assegurou Isabella Swan. ― Não precisa se preocupar.

― Eu me preocupo ― falou. ― E sempre me preocuparei.

― Isso é extremamente protetor ― negou.

― Você é muito delicada. ― Leah acariciou as laterais dos braços da namorada. ― Não pode se machucar; seja no físico ou emocional.

― Muito protetora… ― murmurou, achegando o rosto no vão do pescoço de Leah. ― Acha que poderíamos mudar de assunto?

― Claro que sim. ― concordou. ― Sobre o que você quer falar?

― Eu acho que… ― Bella suspirou baixinho. ― Sobre o nosso futuro.

― Claro, claro… ― falou apressadamente. ― Gatos, cachorros, papagaios falantes, dinheiro pra caridade, casinha cor de rosa…

― Leah! ― Bella tremeu numa risadinha. Leah sorriu, satisfeita de seu trabalho. ― Estou falando sobre o que vamos fazer daqui a algum tempo.

― Quanto tempo?

― Não sei com precisão, mas creio que são alguns meses.

― Estamos falando sobre faculdade?

― Exatamente.

― Humm… ― a voz de Leah saiu como um ronronado indiferente.

― Você parou de estudar. ― explicou Bella, indo rapidamente ao ponto que desejava.

― Acha que eu preciso de escola? ― indagou, arqueando as sobrancelhas.

― Eu sei que você sabe muito mais do que eu, Leah ― Bella disse com sinceridade. ― Mas, você sabe… Existem exigências para cursar alguma coisa.

― Eu saberia me virar sem um diploma. ― contestou.

― Com um diploma seria mais fácil. ― replicou.

― Esse assunto está acabando com meu bom humor… ― resmungou a Clearwater. Leah tinha abandonado os estudos para se dedicar à matilha; parecia inútil voltar pra qualquer instituição de ensino. Aparentemente, o cérebro de Leah tinha sido alienado pela ideia de proteger a todos. Infelizmente, o trabalho não lhe rendia nenhum centavo.

― Você é tão atlética ― Bella disse, tentando empolgar Leah com a ideia de voltar a estudar. ― Parece que você nasceu para cursar algo como Educação Física.

― Nenhum aluno sobreviveria ao meu nível atlético ― sem dúvidas, Leah conseguiria ganhar aquelas super maratonas envolvendo nado, ciclismo e corrida. Venceria dando risada. E, estaria tão intacta depois dos esportes, que ainda conseguiria levar Bella no colo pra casa.

― Fazer faculdade é importante, Leah. ― continuou Bella, insistente. ― É importante para o seu futuro…

― Eu sei ok? ― interviu Leah. ― Mas, com muitíssima sinceridade, não tô a fim de ficar na Reserva enquanto você está no outro lado do país cursando Literatura ou Biologia. ― claro que, além da alienação, Leah estava hesitante com isso: com a perspectiva de ficar longe da amada, pois, querendo ou não, Leah sempre estaria um ano atrás de Bella nos estudos.

― Quem disse que eu vou para o outro lado do país? ― Bella sentou-se abruptamente, encarando Leah descrente e com os olhos esbugalhados.

― Não preciso ser adivinha para saber, Bella. ― retrucou de forma birrenta. ― Você é inteligente o suficiente para conseguir uma bolsa de estudos numa faculdade grande e distante.

― E você é grandinha o suficiente para ir comigo ― um rubor delicado mesclou-se com a palidez de Isabella. ― Eu jamais sairia de Forks sem você, Leah.

― Está sugerindo que eu termine o ensino médio no outro lado do país? ― Leah ergueu-se, sentando-se assim como Bella fizera.

― Sim! ― um sorriso bordou os lábios de Bella. ― Quer dizer… Talvez pareça egoísmo, pois estou esquecendo-se de Sue, mas… O imprinting é um elo eterno. E, sem querer, acabei me apaixonando loucamente por você, Leah Clearwater. ― Bella pousou as mãos na cama. ― Como poderia abandonar uma parte minha?

O coração de Leah pulsou, libertando batidas frenéticas, nervosas e apaixonadas: Bella havia aprendido com exatidão como desarmá-la. E, sem saber como descrever tudo que estava sentindo ― alegria, orgulho, exaltação ― Leah esticou-se e beijou Bella, deslizando entre os lábios dela uma concordância e agradecimento silencioso.

Ponto pra Swan.

***

― Humm… Gatinha ― Quil ronronou, cercando-a com paixão e intenções malévolas. ― Você parece ser tão… Tão… ― ele gemeu. ― Gostosa.

― Pare com isso, Quil. ― repreendeu a matriarca Clearwater, pondo as louças dentro da pia e limpando as mãos num guardanapo de pano branco. ― Sei que as minhas panquecas são divinas, mas sua linguagem está se tornando obscena.

― Desculpe, tia Sue. ― pediu rindo e passou o dedo por cima da calda doce, levando o dedo na direção da boca e gemendo por uma segunda vez: se a calda tinha aquele, imagine as panquecas! Deveriam estar muito mais que divinas! ― Me empolguei com o prato.

― Notei. ― gargalhou, voltando a mesa e sentando-se ao lado de Seth. Já era costume a mesa do café da manhã estar cheia: Quil e Jared pareciam eternamente dispostos a comerem na casa dela. Sianoah sempre estava junta de Seth e Leah de Bella; sempre com companhias a mais no desjejum. ― Onde está Leah? ― questionou.

― Acho que passou a noite com Bella. ― respondeu Seth, dirigindo-se a mesa com uma xícara quase transbordando café preto. Ele sentou-se ao lado de Sia, que tomava um grande gole de suco de laranja; estava fresco e doce. Sue engoliu a seco; sentia-se culpada de não comentar com Leah o quão próxima estava de Charlie e o quão diferente estava se tornando o amor que outrora era fraterno.

― Noite com a Bella? ― Jared cutucou Quil; ambos olhando-se com o mesmo malicioso. ― Humm… Muito suspeito…

― Já mandei parar com a obscenidade. ― Sue deu um tapinha no braço de Quil. Ele recuou e fez a sua cara mais inocente e infantil.

― Mas foi o Jared, tia!

― Não importa. ― negou. ― Parem com isso.

― Acho bom mesmo… ― a voz de Leah veio da porta que se abria. Ela entrou na cozinha e fechou a porta; Jared virou-se e pôs a mão no coração.

― Há quanto tempo estava escutando?

― Cheguei agora. ― respondeu.

― Bom dia, querida. ― saudou Sue, colocando um cubo de açúcar no café.

― Bom dia, mãe. ― Leah inclinou-se e deu um beijo na bochecha de Sue, que sorriu surpresa e contente. Leah sentou-se no único lugar vazio; ao lado de Sianoah. O clima tenso ainda estava vivo entre as duas.

― Bella não atropelou mais ninguém? ― cumprimentou Sianoah, dando seu doce “olá” para a loba Clearwater.

― Você vai ficar sem os dentes da frente se voltar a falar comigo. ― Leah falou com tanta naturalidade como se falaria que o céu estava azul. Leah inclinou-se, pegando um pãozinho.

― E você sem a língua se ameaçar Sia outra vez. ― Um ruído enraivado ecoou da garganta de Seth.

― O assunto não chegou ao berçário.

― Por que você subestima o Seth? ― sibilou Sia, com o orgulho ligeiramente ferido. ― Ele tem quinze anos; não cinco.

― Se fosse tão adulto ― falou venenosamente, sem se importar com os sentimentos do irmão e sim com se defender de Sianoah. ― Não precisaria da defesa da namoradinha.

― Ele é o meu imprinting! ― Sia alterou a voz apenas um pouco, evitando um berro escandaloso. ― Meu garoto; espera que eu escute e fique quieta?

― Pois bem: se você tem o direito de proteger o Seth, eu tenho o de proteger Bella! O mesmo que você sente pelo meu irmão, eu sinto pela Bella. ― e, com aquela fala, Leah conseguiu tirar todas as palavras da boca e mente de Sianoah Noël. ― Não estamos em postos tão diferentes.

― Não vou pedir desculpas. ― reclamou Sia, desviando o olhar de Leah e aconchegando-se em Seth, que a acolheu com delicadeza. ― Não sou a única culpada na história.

― Claro que não. ― Seth beijou a testa de Sia.