Leah e Bella escrita por Cássia Andrade


Capítulo 22
Capítulo XXI


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente: gostaria de agradecer por ter os leitores mais incríveis do mundo. Obrigada pelos comentários e pelo carinho. Então, vamos nos divertir em mais um capítulo de Leah e Bella?
Boa leitura!



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CAPÍTULO XXI

― Isso é algo muito sério, Quil! ― Leah parecia uma criança birrenta batendo o pé no chão. Ela sabia muito bem porque estava assim: a consequência de segurar a raiva e estar nervosa provocava isso. Quil puxou da geladeira um copinho de iogurte de morango e observou o líquido rosa, então, rendeu-se num suspiro cansado.

― Fale logo, mulher.

― Por que você trata isso tudo como se fosse uma brincadeira? ― explodiu Leah, botando para fora toda a raiva que acumulara durante a noite. Como Quil e Seth que estavam na ronda permitiram que vampiros entrassem no território? Como permitiram que os sanguessugas chegassem tão perto? O que eles estavam fazendo? Brincando? Tirando um cochilo? Leah não sabia, mas desejava se botar de socos e chutes em Quil e Seth. ― Você sabe o que poderia ter acontecido ontem, idiota? Bella poderia ter morrido! Charlie poderia estar com o pescoço quebrado!

― Tá, tá… ― Quil ergueu as mãos. Seth, que estava sentado à mesa se deliciando com um generoso pedaço de panqueca com calda, sentiu a comida amargar na boca. Leah mostrou os dentes para Quil e Seth engoliu a porção de comida, sentindo um desconforto interno. Leah bufou e acompanhou os movimentos de Quil: caminhando cuidadosamente até a mesa e sentando-se ao lado de Seth, abrindo o copinho de iogurte e mergulhando uma colher prateada no meio do líquido rosa. ― Estávamos na floresta…

― Sério? Não parecia! ― retrucou Leah lembrando-se do vampiro magrela que ela matara: o garoto sádico de treze anos.

― Mas que merda, garota! ― berrou Quil, largando bruscamente o copo de iogurte. ― Por que não me deixa terminar e depois joga as pedras?

― Por que não espero você terminar? Porque não foi você quem quase teve o seu imprinting morto! ― berrou Leah, ainda descontando a raiva.

― Por que não fiquei na matilha de Sam? ― resmungou Quil; meio amargo e meio brincalhão.

― Quer sair? Saia, mas agora! ― Leah franziu o rosto inteiro numa careta nada convidativa e Quil revirou os olhos. Seth respirou profundamente e se pronunciou:

― Estávamos na floresta quando três deles apareceram. ― Leah direcionou seu olhar exclusivamente para Seth. ― Um era corpulento e as outras duas… ― Seth abaixou o olhar, respirando o máximo que conseguia. Leah tentou manter a calma quando percebeu que Seth estava segurando o choro.

Chorar não era comum na casa.

Na noite anterior ― onde a loba passara a noite deitada na rua, com a cabeça grudada na casa de Bella ― Leah sentira vontade de chorar. Chorar de raiva e um estranho medo de não ser capaz de proteger Bella, mas não chorou. Decidiu deixar ficar acumulado dentro dela: teria que conversar muito com Quil e Seth e eles deveriam ver naquele dia a face mais raivosa e preocupada de Leah.

Apesar de sempre ter sido mais doce e gentil que Leah, Seth não era de chorar. Sempre fora o tipo de criança que quando caía da bicicleta se levantava sozinho e ia até o banheiro de casa, pegava o kit e lavava a própria ferida, aplicava sozinho o remédio e fazia o curativo. Meu garotão! ― Harry bagunçava os cabelos de Seth e sorria orgulhoso. Apenas na morte de Harry os irmãos choraram sem limites; queriam por para fora aquela dor imensurável. Não repreenderam uma única lágrima, deixaram todas caírem.

― Duas garotas de onze anos, Leah. ― Seth ergueu o rosto, a voz não passava de um murmuro trêmulo. ― Eu realmente não sei o que a ruiva está planejando, mas isso é horrível. São crianças, Leah! Crianças sem chances de vida…

― Elas são fortes, Leah. ― disse Quil com um semblante sério. ― Pequenos assassinos de um plano macabro da sanguessuga. Eu achei a cabeça de um deles ontem no pátio de Bella, você sabe do que estamos falando. ― Leah mexeu a cabeça, lembrando-se do garoto novamente.

― Vocês foram atacados. ― concluiu Leah.

― Estávamos tentando segurar a barra, mas não deu. ― Seth mexeu com o garfo no pedaço de panqueca. Sue tinha sorte de estar no centro da cidade pagando as contas: aquela conversa não seria nada agradável para ela.

― Isso é muito estúpido da parte de Victoria. ― disse Leah. ― Mandar crianças sádicas? Elas não duram um minuto perto de nós!

― Eu pensei nisso também. ― Quil anuiu com a cabeça. ― Talvez ela seja burra o suficiente para achar que eles vão nos dar medo. ― Leah arqueou uma sobrancelha e Quil enfiou a colher cheia de iogurte dentro da boca. ― Ela é louca, Leah! Ela quer vingar a morte do amante dela.

― Por que ela não vai atrás do Cullen, então? ― questionou Seth. Imediatamente, Leah sentiu-se desconfortável com a pronuncia do ex de Bella. Por que ele tinha que entrar no assunto? Ele não tinha mais nada com Bella! Havia largado ela, fugido como um covarde. Ao menos, era o que Leah imaginava quando pensava no Cullen.

Leah odiava o Cullen e isso era inevitável e irreversível: ela o odiava por ter se relacionado com Bella, por um dia ter beijado os doces lábios de Isabella Swan. O odiava por ter magoado Bella e por trazido tantos perigos para a vida de Bella e odiava muito por saber que se ele não tivesse entrado na vida de Bella, jamais existiria uma ruiva sádica. Jamais Bella estaria em perigo e Harry, ele não teria morrido.

― Ela quer fazer um show, Seth. ― respondeu Leah, com a boca seca e um aperto no coração. ― Ela quer dor. Bella sente dor, o morto-vivo não. Ela quer alguém frágil. Ela quer vingança.

― O que vamos fazer agora? ― Quil lambeu os lábios.

― Eu quero atenção total. ― ordenou Leah. ― Fico aliviada e feliz em saber que vocês conseguiram segurar alguns deles, mas, pelo amor de Deus, deem um sinal quando aparecerem! Assim, ficaremos prontas para o ataque.

― Leah… ― Seth crispou os lábios. ― Eu estava tentando ter coragem de matar uma criança, e…

― Eu sei. ― Leah o interrompeu. ― Mas, Seth você não pode se esquecer: eles são o inimigo. Não deve ter pena, deve ter força.

***

― Muito sofisticado aqui. ― Leah observou o recinto. Seria a segunda vez em que ela tomaria um café ali. A última vez em que estivera ali uma velha sardenta havia estragado todo o clima. Bella sorriu carinhosamente para Leah. ― Acho que já estivemos aqui antes. ― Leah soltou o melhor dos sorrisos.

― Notei que você ficou muito tensa depois de tudo aquilo. ― Bella sussurrou e Leah assentiu, desviando o olhar. Realmente, não queria relembrar aquele episódio. Bella deslizou a mão pela mesa e agarrou com delicadeza a mão de Leah. Leah fechou os olhos e apreciou o formigamento que Bella causava e então, voltou a olhá-la nos olhos. ― Charlie foi passar um tempo com Billy, o que é ótimo e seguro. ― isso fez Leah refletir mais uma vez sobre a proposta de Sam, a proposta da aliança entre as matilhas.

Talvez ele estivesse certo.

Talvez fosse o certo a fazer. Bella teria mais segurança se as duas matilhas trabalhassem unidas, mas… Não. Não precisava disso. Leah conseguiria com sua matilha. Ela, Seth, Jared, Quil e a novata Sia, conseguiriam proteger Bella e os outros. Mentalmente, Leah repetiu aquilo milhares de vezes e tentou convencer a si mesma para esquecer aquela história. Sua cabeça estava tão confusa naquele sábado!

― Então, decidi que devíamos comer algo doce e fofo. ― Leah acabou rindo e Bella olhando apaixonada para a loba: o som de sua risada era a mais bela das eufonias. Tudo o que Bella desejava naquele momento era afastar qualquer sinal de tristeza, medo ou raiva de Leah. Bella queria ver a sua namorada sorrindo e rindo; queria esquecer os problemas e poder voltar a ter os encontros de antes. Antes, quando aparentemente, o problema mais grave era quebrar o gelo. Leah ainda ria quando encostou a cabeça na de Bella, fechando os olhos e desfrutando do amor da garota.

― Eu sou tão honrada em ter uma namorada como você. ― Leah deu um beijinho na bochecha de Bella, fazendo-a gargalhar e soltar a mão de Leah, agarrando de uma forma confusa e perfeita, a cintura da loba Clearwater.

Bella já podia imaginar o sabor doce da boca de Leah quando uma batida brusca na mesa fizeram as duas saírem do transe. A mesma velha sardenta da outra vez estava parada na frente delas, com os braços cruzados e com o cenho franzido, como se esperasse uma explicação. Na mão direita segurava um copo plástico cheio de café. Leah deslizou o braço pelos ombros de Bella e Bella soltou a cintura da loba.

― Vocês não tem vergonha? ― a velha semicerrou os olhos, destacando mais ainda as sardas avermelhadas. Leah esticou o rosto, como se não tivesse ouvido o que a senhora falou. A velha bufou. ― Vocês não tem vergonha? ― repetiu em alto e bom som.

― Vergonha? ― ecoou Bella.

― De que? ― questionou Leah em um tom irritado, sem largar os ombros de Bella por um segundo.

Disso! ― a mulher apontou um dedo torto para Leah e Bella. Um homem a duas mesas de distância se inclinou, querendo escutar mais da discussão que se iniciava. ― Aqui é um lugar de família, sabiam? Não é para pessoas como vocês…

― Pessoas como nós? ― falou Leah, entredentes. Deus, qual era o problema daquela velha sardenta? Por que não as deixava em paz? Leah preferia mil vezes que ela saísse como da última vez do que ouvir palavras tão ruins e sem sentimento. ― Que tipo de pessoas nós somos?

― Pessoas doentes! ― disse a velha, enfurecida. ― Pessoas que envergonham e corrompem a sociedade! ― corromper a sociedade? Era sério o que aquela mulher estava dizendo?

― Sinto muito, mas se alguém aqui está corrompendo alguma coisa essa pessoa é a senhora. ― retrucou Bella, educada a ponto de chamar a velha antipática de senhora.

Peste! ― os dentes de Leah rangeram e a mesma rosnou baixo. ― Como conseguem? Isso é doentio! Nojento! Mulher nasceu para ficar com homem, e homem ficar com mulher! ― Leah tentou se levantar: já podia sentir sua mão coçando em desejo de acertar bem no meio do rosto da velha, mas Bella apertou o joelho de Leah. Não valia a pena ir presa por bater numa velha louca como aquela. Leah permaneceu sentada. Como driblar aquela lunática sem usar violência?

― O que você quer? ― Leah cortou o discurso religioso que a mulher havia começado há pouco. ― A vida é minha, não sua. Qual o problema?

― Deus ainda fará justiça! ― ela ergueu o dedo para o teto. ― E eu estarei aqui para presenciar o castigo dos pecadores! ― Leah fechou os olhos, respirando erraticamente enquanto Bella apertava mais o joelho da loba. A velha arrumou a bolsa embaixo do braço e olhou para os lados, procurando alguém. ― Onde está o dono daqui? Quero informá-lo sobre essa indecência… ― Leah pulou daquela mesa tão rápido que nem Bella viu.

Leah tremia por inteiro e rosnava para a mulher.

A velha continuou com a postura firme, nem um pouco assustada. Leah deu um passo na direção dela, e ela se afastou com asco.

― Sai. Daqui. Agora. ― Leah já enxergava tudo em vermelho.

A mulher empinou o nariz.

― Aberração. ― então, virou as costas.

Leah sentiu uma tontura e desabou sentada ao lado de Bella. Bella abraçou Leah por trás, agarrando os ombros da loba e percebeu que a garota estava suando. A pele estava ruborizada e muito quente; estava segurando ao máximo a transformação.

― Já passou. ― Bella apertou Leah contra si. Leah concordou e tentou estabilizar a respiração.

― Senhoritas ― o mesmo homem que havia se inclinado para ver a conversa agora estava parado na frente delas. Usava um terno caro e tinha os cabelos mais que brancos que Leah já havia visto em toda a sua vida. ― Acabei escutando as palavras daquela senhora e…

― Também quer discutir? ― retrucou Leah quando Bella a soltou levemente.

― Ao contrário, senhoritas ― o homem puxou um cartão branco com letras douradas e o entregou para Leah. ― Sou advogado. ― ele sorriu. ― Caso queiram ajuda. ― piscou ele.

***

“Sia?” ― Seth soltou um ganido animado e correu na direção da loba branca, derrubando-a no chão e fazendo os dois rolarem na lama. Era pouco mais de duas da tarde e o sol começava a aparecer. Sia, que estivera dormindo a manhã toda por causa da ronda noturna, soltou uma risada latida e esfregou a ponta do focinho na orelha de Seth.

“Seriedade, crianças.” ― Jared olhou para as grandes unhas nas grandes patas. Há pouco havia tido a troca de turno: Quil havia trocado com Seth seu sono da manhã, então, enquanto Seth dormia, Quil ficava atento. Jared, em compensação, por ter ficado muitas noites fora da ronda, teria que ficar mais tempo que os outros. Sia não havia tido nenhum tipo de cobrança. Sia ignorou o comentário de Jared e esfregou o focinho em Seth, que continuava encima dela.

“Eu te amo.” ― falou Sia.

“Eu te amo.” ― Seth lambeu o rosto de Sia: desde o queixo até testa. Sia gargalhou e empurrou Seth, se levantando em seguida. Era por essas razões que não gostavam de deixar os dois na ronda: quando juntos, Sia e Seth construíam uma cúpula em volta deles, um mundinho próprio.

“Achei que fosse tirar a tarde de folga.” ― Seth se deitou e Sia negou, deitando-se ao lado dele na grama e aconchegando-se ao máximo em Seth.

“Estava com saudades.” ― admitiu ela.

“Também estava.” ― Seth deitou bem a cabeça, do modo que ele sempre fazia para acomodar Sia. Sia se inclinou sobre ele, cravando o queixo nas costas de Seth.

“Como foi aquela prova de álgebra?” ― questionou Sia.

“Fácil. Acho que consegui tirar um B.” ― Sia acariciou as costas de Seth com uma das patas.

“Posso te ajudar nos estudos.” ― ofereceu ela.

“E você sabe contar Sia?” ― debochou Jared. Seth virou a cabeça para Jared e soltou um rugido. Jared balançou a cabeça, rindo levemente. “Já entendi a mensagem. Vamos lá irritadinha, aprenda com o mestre: que número vem depois do um? Dois! E que número vem depois do dois?” ― quando Jared pronunciou três Sia pulou por cima de Seth e o atacou, indo com os dentes no pescoço dele.

“Seu idiota!” ― Sia afundou os dentes no pescoço de Jared que berrou de raiva, empurrando Sia com as patas e indo para cima. Seth rosnou alto e se colocou na frente de Sia, olhando ameaçadoramente para Jared.

“Qual é Seth? Ela vai ficar curada até o final da tarde!” ― resmungou Jared, decepcionado por perder a chance de uma luta com Sianoah. Seth rosnou novamente e deu um passo para frente, a ameaça final. Jared deu outro passo e rosnou com alegria; seria divertido.

“Vampiros!” ― gritou Sia. No mesmo instante, Seth e Jared se viraram e farejaram no ar o odor desagradável. Um rosnado coletivo ecoou na floresta e ambos afundaram as patas na terra antes de saírem correndo: Sia, com certeza, era uma ótima farejadora. Tinha o melhor olfato, porém era um olfato que só funcionava quando ela não estava perdida em suas próprias palavras e pensamentos.

“Mas que por…” ― Jared travou entre a árvore a descida de uma pequena colina, totalmente descrente do que via. Sia estava tentando recuperar o fôlego quando Seth parou ao lado dela, inclinando a cabeça para ter certeza. Sempre que os sanguessugas partiam, os lobos se apropriavam de todo o território, mas agora…

“Quem são eles?” ― perguntou Sia quando viu uma garota baixinha e de cabelos espetados parar de tirar algumas coisas do carro. A garota baixinha semicerrou os olhos e olhou para os lados, até que focalizou os lobos. Encarou ele por alguns segundos antes de virar as costas.

“Os Cullen.” ― respondeu Seth. “Eles voltaram.”


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Notas finais do capítulo

Então: o que acharam do capítulo?
Bom? Ruim? Lembrem-se: opiniões são essenciais!
Obrigada!
Beijinhos da Cássia.