CAPÍTULO I

― Bom dia, querida. ― Sue sorriu docemente enquanto servia uma xícara de café e entregava-a a Leah. Leah suspirou e tomou um gole do líquido, largando a xícara no outro segundo quando sentiu sua língua queimar.

― Droga. ― resmungou e passou a mão pelos cabelos negros e amassados. Ultimamente, eles pareciam rebeldes, muito rebeldes. Não havia escova que os segurasse e Leah já estava começando a se acostumar com aquilo, mas Leah não conseguia se acostumar com o tamanho deles; um pouco abaixo das orelhas. Ela adorava seus cabelos quando eram compridos, gostava de fazê-los em uma trança única ou em deixa-los soltos, mas agora, quando pensava em prendê-lo, ou fazer uma trança lembrava de que não havia o tamanho suficiente, até na hora do banho havia sentido a diferença.

Agora, seu cabelo no máximo levava um minuto para ficar completamente enxaguado enquanto antigamente tinha que dedicar quase dez minutos para deixa-los sem vestígios de xampu.

― O que aconteceu, Leah? ― Sue colocou para o ombro esquerdo os cabelos compridos.

― Nada. ― Leah puxou um puxou um pedaço de uma panqueca no centro da mesa, bem arrumada encima de outras dez num prato verde.

― Por que não conversa mais comigo, Leah? ― suspirou Sue. ― Sabe, falar sobre sentimentos...

― Porque não ajuda nada falar deles, mãe. ― Leah mordeu o pedaço da panqueca.

― Tem certeza? ― Leah assentiu.

― Bom dia, mãe! ― Seth entrou na cozinha, sorridente. Os olhos totalmente invisíveis no rosto de tão grande o sorriso luminoso. Sue riu baixo com o entusiasmo do garoto e indicou com a cabeça para o prato com as panquecas antes de se virar para lavar a louça. Seth alisou a barriga bem definida e sentou-se ao lado de Leah, puxando o prato com as dez panquecas. Seth esticou-se e puxou da bancada um vidro de calda de chocolate.

― Você vai explodir um dia desses Seth. ― Leah tomou outro gole do café e olhou de relance para o prato com panquecas que transbordavam calda de chocolate. Seth parou de apertar o vidro contra as mãos e encarou Leah.

― Quando for visitar meu túmulo leve panquecas invés de flores, por favor. ― Sue largou a louça e virou-se, encarando boquiaberta para o prato de Seth.

― Seth! ― Sue o repreendeu como uma criança. ― Leah vai comer o que? Isso era para vocês, na verdade, para nós! ― Sue colocou as mãos ensaboadas nos quadris e Seth sorriu amarelo.

***

― Então, Bella ― Mike mexeu nervosamente nas mãos. ― Acho que nós poderíamos sair um dia desses, quer dizer, você parece estar melhorando e seria legal se nós saíssemos um dia desses... ― Bella suspirou e soltou o melhor de seus sorrisos sinceros.

Talvez, Mike fosse gatinho, okay, ele era, mas a beleza não ajudaria em nada. Bella não se sentia preparada nem para conversar mais do que cinco minutos com Charlie, imagina sair com Mike!

Seu coração ainda doía, estava com um buraco, uma rachadura imensa que ardia, queimava. Toda noite, ela encolhia-se em seus lençóis brancos e chorava pela falta de Edward... Era tão injusto! Por que Edward simplesmente não ficou? Por que simplesmente Edward não a amou? Por que simplesmente ela não foi suficiente para ele? Tantas perguntas preenchidas com um vácuo.

― Ah, Mike, não vai dar... ― Mike suspirou desiludido. ― Eu estou mau em Biologia... ― Bella fez uma pausa. Biologia a fazia lembrar-se de Edward e lembrar-se de Edward fazia seu coração doer, mas ela tinha Jake. Jake era um bom amigo, doce e suave, bem humorado e não passava dos limites, a respeitava, mas ele era um lobisomem e isso era perigoso, mas fascinante. Ficar com Jacob a fazia sentir-se bem, o buraco quase era tapado, mas quando se afastava, voltava mais potente ainda. ― Eu preciso estudar para a prova. ― completou, respirando profundamente.

― Mas a prova é daqui um mês. ― Mike sorriu esperançoso.

― E é por isso que preciso estudar, sabe ― Bella arrumou a mochila no ombro. ― Quero estar 100% na hora da prova.

― Pois é... ― Mike mexeu a cabeça. ― Quem sabe da próxima vez?

Bella concordou e deslizou para dentro do banheiro feminino, aproveitando a entrada do banheiro feminino para se livrar do monopólio de Mike Newton. Era sufocante você estar chorando por dentro por um cara enquanto outro a convida para sair; Mike era insuportável nesses momentos.

Bella largou sua mochila não chão a ligou a torneira, enchendo a mão de água e atirando um pouco de água sobre o rosto. Bella respirou fundo novamente e se olhou no espelho.

Parecia anêmica de tão branca e magra, talvez eu realmente esteja anêmica, pensou observando as maçãs magras do rosto. Charlie havia brigado com ela para que comesse, Bella disse que comeria e aceitou o prato cheio de comida. Quando Charlie fora para o serviço dera quase toda a comida para o cachorro de sua vizinha mais próxima. Achava um pecado por comida fora, mas não conseguia comer, então achou melhor dá-la ao pobre Miles, o cachorrinho de uma perna só.
Bella negou as informações a si mesma e puxou uma toalha de papel, secando o rosto, pegando a mochila e dando o fora dali.

Queria ver Jacob, queria sentir melhor junto de seu fiel amigo lobo.

Ela havia combinado com Jacob de encontra-lo no final da aula.
Mesmo que o conserto das sucatas tivessem acabado, eles se encontravam para conversar, tomar um refrigerante e fuçarem em umas fitas velhas de rock e blues que o pai de Jacob tinha escondido na garagem.

O caminho até Jacob era curto e rápido.

A estrada como sempre estava vazia e chovia fraco, apenas um chuvisco de nada.

Jacob estava na porta da garagem, sorrindo longamente e com os braços cruzados sobre o peito. Estava com uma blusa que um dia já havia sido solta nele, mas que agora quase não servia devido ao crescimento assustador do garoto.

― Hey, Bells! ― Jacob puxou-a para um abraço sufocante e quente. Bella riu baixo, rir perto de Jacob era uma missão fácil. ― Trouxe alguma coisa hoje?

― Sem sucata. ― Bella tirou o casaco, o sacudindo enquanto entrava na garagem. Jacob riu roucamente.

― Ah, estava ansioso pela oportunidade de reconstruir uma Ferrari. ― Bella riu baixo outra vez.

***

Leah estava irritada e andava sobre a chuva como um vulto, andava a um milhão.

Não queria ir até Jacob mas era obrigada.

Leah: Por que eu tenho que ir, Sam?

Sam: Por que eu estou mandando.

Leah: Babaca.

Sam: Vai logo, Leah.

O diálogo havia sido curto mas o suficiente para incomodar Leah.
Leah estava enraivada com Jacob, pelo desentendimento e pelo jeito que ele falou no dia em que Sam tomara a decisão de que Leah teria de ficar afastada de Bella.
Jacob era rude e ainda estava se aproximando de Bella enquanto ela tinha que ficar afastada.

Mas, Leah também tentava ter mais raiva.

Tentava ter raiva de Bella mas não conseguia nem ao menos cogitar a ideia, doía nela imaginar aquilo mas também doía nela amar incondicionalmente alguém sem ao menos saber seu nome completo. Bella era uma completa estranha mas mesmo assim, Leah sentia que a amava mais que tudo. Bella havia nascido para ser amada por Leah, e isso impossibilitava Leah de odiar Isabella Swan.

― Jacob é um merdinha, Sam é um estúpido... ― Leah já considerava isso um mantra. Repetia aquilo desde que saíra da casa de Sam.

Garotinha de recados. ― havia cantarolado Embry quando ela sairia.

Eu não sou uma garotinha de recados! ― berrara ela.

Por que Sam não podia ir até Jacob avisa-lo que tinha ronda de noite?Por que Leah tinha que ir?

Leah avistou a garagem de Jacob e sentiu seu sangue borbulhando de ódio, não queria vê-lo, mas tinha!

― Jacob... ― mas Leah não conseguiu falar mais nada quando aqueles olhos castanhos cruzaram com os seus. Ela só conseguiu ficar paralisada.