Always With Me escrita por Menta


Capítulo 9
Something In The Way She Moves - Parte Dois


Notas iniciais do capítulo

E agora a parte final! :)
Aguardo comentários nas duas partes, como falei. Foi um bom esforço da minha parte aparecer logo com dois capítulos de uma vez. Sejam fofas e compreensivas e me deem suas opiniões nas duas partes, por favor. Fica feião um capítulo sem comentários!
Beijos e uma ótima leitura mágica a todas! :3



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Por volta de meia hora depois, metade do bolo já tinha sido derrubada e grande parte dele devorada pelos alunos. Copos quebrados começavam a se espalhar pelo chão, e Sirius começava a se sentir em casa, tirando um maço de cigarros trouxas do bolso, olhando para as garotas que vieram à festa.

James não perdera tempo e já tentava sondar Evans, encarando-a de longe como um predador faminto, e a garota parecia ignorá-lo, entretida em uma conversa com a monitora da Corvinal, chamada Maji Chang. Remus conversava com Dorcas Meadowes, garota por quem nutria uma espécie de quedinha e a qual Sirius sabia ser recíproca, apesar dos dois serem lentos e pouco talentosos no assunto para tomar alguma atitude. Peter tentava a sorte com uma menina baixinha da Corvinal, que parecia ouvi-lo com dificuldade, franzindo os lábios e a testa.

Mais adiante, sentada conversando e bebendo uma enorme caneca de cerveja amanteigada, estava Marlene McKinnon, acompanhada de Emmeline Vance. Suas bochechas já estavam levemente avermelhadas pelo álcool, e McKinnon tinha a ponta do nariz suja pelo colarinho da bebida. Enquanto levantava para buscar algo para comer em uma das mesas espalhadas pela Sala, Marlene cruzou seu olhar com ele, que lhe brindou com um sorriso. A garota desviou o olhar, o ignorando, parecendo de certa forma entristecida.

Dando de ombros, Sirius puxou um cigarro de dentro do maço, e já se punha a acendê-lo enquanto estudava ao longe um grupo de beleza promissora de Lufa-Lufas do sétimo ano quando foi interrompido por James.

– Alto lá, apressado. - O amigo puxou o cigarro de sua boca e zuniu-o longe sem dificuldades. - Cadê aquele carregamento de “fada verde” que você jurou ter conseguido? - Prongs o lembrou da bebida com mais de 50% de álcool e outros ingredientes de poção que, se não bebida com parcimônia, era tão pesada que levava a alucinações vívidas.

– Puta que pariu, esqueci. - Sirius praguejou, irritado. Não queria sair da Sala, não tão cedo.

– E, como pode ver, todos estão ocupados. - James levantou uma sobrancelha e indicou Remus, ainda conversando com Dorcas, que parecia ter sido atingida por um feitiço confundus pela forma abobalhada com que o encarava, e Peter, que por algum milagre conseguira beijar a menina da Corvinal, e agora se agarrava com ela em um canto escuro da Sala, próximo a duas portas nas quais continham os banheiros femininos e masculinos.

– Porra, arrumamos aquelas cortinas vermelhas para isso. Esse cara manda muito mal mesmo. - Sirius reprovou a atitude de Peter, lembrando que haviam cortinas vermelhas na Sala separando o cômodo de pequenos compartimentos “acolchoados” para quem quisesse se divertir.

– E você também, se nos regular essa merda. - Prongs insistiu, dando um tapinha no ombro do amigo, e gritando “Evans!” em alto e bom som, dando-lhe as costas e finalizando o assunto com Padfoot. Sirius revirou os olhos, sem outra escolha, indo até o quadro que continha a saída da sala. Não havia jeito de saírem sem a senha correta, decisão tomada por James e Sirius para que a festa não murchasse antes da hora.

– “Senha escrota”. - Sirius disse a senha idiota criada de improviso por ele e James, quando literalmente passaram alguns minutos pensando em uma “senha escrota” para permitir a saída.

– Sem dúvidas o é. - Uma das bruxas semi-nuas fazendo broom-dance parou de dançar e fez um gesto concedendo-lhe a saída, parecendo ofendida e irritada de estar decorando uma sala repleta de adolescentes.

Saiu da Sala Precisa e vestiu a capa de invisibilidade, querendo rumar um quanto antes até o dormitório e buscar as garrafas que guardara embaixo da cama. Enquanto caminhava, ouviu sussurros sibilantes e abafados vindos do corredor perto da entrada do gabinete de Dumbledore. Não iria dar meia volta para investigar, ignorando o que era, até que ouviu algo que chamou sua atenção:

– ...É melhor que você escolha bem suas amizades, Lia... - A voz repulsiva do monitor da Sonserina e, descoberto recentemente por Sirius, já ex-namorado de Cordelia MacLearie, parecia ameaçar alguém no corredor escuro.

– Nada do que eu faço é do seu interesse, Graeme. Não mais. - A voz já conhecida de Cordelia soava tão baixa quanto a do rapaz, aparentando uma tranquilidade e desdém que ele não parecia incutir tão bem às próprias palavras. - Pare de me perseguir. - MacLearie exigiu, e Sirius já se aproximava, invisível, do ex-casal que discutia.

– Você não é muito inteligente fazendo inimigos, Lia. O que ia contar ao diretor? - O rapaz perguntou de maneira ameaçadora, e Sirius o viu ranger os dentes à meia luz do luar que entrava por uma das janelas do corredor escuro.

A garota levantou a varinha, engolindo em seco, apontando para o garoto e recuando. Sirius não esperou mais e reagiu instintivamente.

– OY! Olha pra cá, seu babaca! - Sirius provocou o "pela-saco" máximo da Sonserina, que, franzindo as sobrancelhas, olhou para o ponto onde ele estava ainda com a capa da invisibilidade. Movendo-se um pouco para o lado esquerdo, retirou a capa da invisibilidade, escondendo-a rapidamente em um bolso largo e interno da sua capa da Grifinória que vestira ao sair da Sala Precisa. Um segundo depois, retirou dos outros bolsos a varinha e bradou:

DEFATIGATUS!* – Sirius apontou a varinha para o rapaz com um movimento fluido do pulso, que caiu para trás como se alguém tivesse empurrado seus pés para frente, fazendo um estrondo enorme que reverberou por todo o corredor. Estava instantaneamente desmaiado, e só acordaria depois de muito tempo. A azaração usada fora inventada por ele e por James para ter um efeito mais prolongado de um “estupefaça”.

– Mas que... - Cordelia, de olhos arregalados, perguntava, parecendo em choque. Sirius a interrompeu, puxando-a pelo braço e a arrastando com o máximo de gentileza que conseguia ter naquele momento para a entrada da Sala Precisa.

– Já vai entender. Aguenta um minuto, e tente não falar para não chamar mais atenção. - Ele quase rosnou em resposta, irritado pela mudança de planos. - E você não vai precisar disso aqui. - Antes que Cordelia pudesse reagir, ele puxou sua gravata da Sonserina, por sua parte circular. Sem a gravata, Cordelia estaria apenas com a blusa branca de algodão do colégio, as saias e as meias pretas três quartos. Seu uniforme passaria a não ser identificável, sem um brasão da Sonserina denunciando a que Casa a garota pertencia.

MacLearie protestava audivelmente e tentava se desvencilhar, mas ele era claramente mais forte do que ela. Assim que chegaram correndo até onde seria a tapeçaria dos trasgos dançarinos de balé clássico, ela conseguiu se soltar dele após a terceira e última volta na frente da peça decorativa. Cordelia logo puxou outra vez a varinha e apontou para ele, seu rosto em uma expressão furiosa, perguntando audivelmente se ele tinha enlouquecido de vez.

– Vai dificultar? - Sirius rosnou em resposta, sem querer ser obrigado a desarmá-la, já, porém, proferindo “expelliarmus” enquanto ela sequer dissera uma sílaba para conjurar o feitiço escudo.

– Quem você pensa que é, Black?! - Cordelia gritou, e subitamente passou a falar em gaélico, aparentemente o xingando de diversos impropérios diferentes, enquanto ele a puxava outra vez, levando-a pela mão que antes empunhava a varinha para dentro da Sala Precisa. Assim que entraram, enquanto pendurava sua capa da Grifinória dentro de um armário próximo da entrada da sala, Sirius viu que o clima da festa já havia esquentado para muito além do que imaginava.

Alguns alunos sentados nos pufes compartilhavam um cachimbo do qual tragavam uma erva proibida pela lei dos bruxos por seus efeitos à saúde, sendo um deles inclusive Remus, sentado ao lado de Dorcas, com um dos braços em cima de seus ombros. Sua gravata da Grifinória estava amarrada em sua testa, parecendo uma faixa dourada e vermelha, seus cabelos sempre alinhados castanhos-claros agora bagunçados e arrepiados, parecendo o penteado de James. Para a surpresa de Padfoot, Moony, o mais certinho deles, tinha seus olhos vermelhos, rindo enquanto tossia um anel de fumaça como se alguém tivesse contado uma piada genial. Outros estudantes tomavam uma espécie de “doce” que se colocava embaixo da língua e trazia alucinações, deixando a magia a flor da pele. Uma aluna da Lufa-Lufa que acabara de se drogar com o “doce” ateava fogo às cortinas, enquanto alguns amigos mais sóbrios proferiam “aguamenti” e riam de sua “viagem”.

Lily Evans discutia com James, indignada pela quantidade de bebida e drogas contrabandeadas para dentro da festa, e ele tentava contornar a situação dizendo que não fora o responsável por isso e que tinha antídotos e poções em estoque para o caso de alguém sair do controle. Peter ainda se agarrava com a mesma menina da Corvinal, e muitos alunos dançavam ao som de "Twist and Shout" dos Beatles, alguns com copos de whiskey de fogo ou canecas de cerveja amanteigada nas mãos. Emmeline Vance subira em cima de uma mesa e imitava a dança das bruxas que faziam broom-dancing nos quadros com uma vassoura que achara em algum lugar, enquanto muitos alunos da Grifinória a incentivavam. McKinnon, parecendo preocupada, porém rindo bobamente com olhos vermelhos como os de Lupin, tentava puxar a amiga de cima da mesa.

– Como se sente com dezessete anos, Remus? - Alguém perguntou, na "rodinha" de compartilhamento do cachimbo.

– Com MUITA fome. - Lupin respondeu, pitando o cachimbo mais uma vez, trazendo muitas ondas de gargalhadas tolas pela sala. Moony com larica. Acho que já vi de tudo nessa vida.

Cordelia, com o rosto em uma expressão de surpresa e choque que teria sido hilária em outra situação, parecia tentar entender o que estava acontecendo e onde estava exatamente. Seu queixo caíra, e ela franziu as sobrancelhas, em reprovação, ao ver um dos quadros de um bacanal bruxo um tanto detalhado demais.

– Por acaso você me trouxe para os confins da sua mente idiota, Black? - Ela perguntou, indignada, tentando puxar a varinha de volta de suas mãos.

– Quase isso. Bem-vinda ao aniversário de Remus! - Sirius fingiu empolgação, dando-lhe um sorriso debochado e lhe devolvendo a varinha. - Agora que a donzela indefesa está salva, com sua licença, pretendo me divertir. Recomendo que faça o mesmo.

Ele lhe deu as costas, rapidamente se servindo de um copo de whiskey de fogo em uma mesa próxima.

– Devolva minha gravata, Black! - Cordelia exigiu, sibilante, e alguns alunos próximos aos dois ouviram e riram com malícia, falando sons como "hmmmm". Ela fechou a cara para eles, parecendo levemente constrangida, percebendo a própria insinuação que fizera.

– Relaxe e aproveite a viagem! - O rapaz respondeu de costas para ela, debochado, sem sequer a olhar.

Sirius reparou que a garota instantaneamente se voltara para o quadro no qual havia a saída para fora da sala, exigindo que lhe desse passagem.

– Só sai com senha. - A bruxa dançarina respondeu, rebolando para Cordelia, que fechou os punhos e bufou, praguejando. Sirius já estava longe, tentando resolver um problema que ocorrera no rádio, que agora tocava com ruídos agudos e repetitivos, mas a viu se aproximar pelo canto do olho. Lauren O'Lerine e algumas alunas da Lufa-Lufa do sétimo ano o cercavam, dando palpites.

– Qual é a senha? - A garota demandou, cruzando os braços. Sabia que não era seguro entrar em algum tipo de embate com ele, estando em um território repleto de seus amigos.

– Não são nem meia-noite ainda! - Lauren respondeu para Cordelia, tentando convencê-la a ficar.

– Preciso ir. - Ela respondeu, tentando ao máximo ser simpática e falhando. - Preciso da senha. - A garota insistiu, e Sirius já estava irritado. Não se controlou, sem paciência para aturar as maneiras esnobes dela.

– Caso não tenha percebido, eu estou um pouco ocupado agora, MacLearie. Esta festa tem bebida, comida e o que mais você imaginar liberado e até em excesso – ele disse, levantando uma sobrancelha, vendo Emmeline ser arrastada por McKinnon de cima de uma das mesas, seus cabelos morenos esvoaçando pelo ar com o movimento, assim que caiu em cima da amiga – então espere e se distraia. - O rapaz disse grosseiramente.

Parecendo respirar fundo, ele a viu se afastar e quase fazer um movimento dançarino para evitar trombar contra Peter e a garota da Corvinal, franzindo as sobrancelhas em repúdio. Teria rido, se não estivesse tão irritado. Enquanto já estava na metade do conserto do rádio, tocando com a varinha em alguns botões, Cordelia já havia revirado a Sala Precisa inteira, tentando encontrar outra saída. Ele a viu aproximar-se, mais uma vez, esforçando-se para manter a elegância e a finesse apesar da ira contida em seu rosto.

– Black. Eu preciso da... - Cordelia mais uma vez ordenou, e ele não teve mais paciência.

– Garota. Não me atrapalhe. - Ele se voltou para ela, ríspido. - Faça um favor a si mesma e aproveite a vida. Beba, fume, por Merlin, faça o que quiser, não é possível que alguém seja tão entediante assim! - Sirius rosnou de volta, e algumas garotas da Lufa-Lufa do sétimo ano olharam para Cordelia e riram, parecendo aprovar que ela não seria competição.

Os lábios da garota pareceram tremer um pouco e seu olhar vacilou. Por um segundo, julgou ter visto humilhação em seus olhos verdes-claros. Instantaneamente arrependido, porém, orgulhoso demais para se retratar, Sirius voltou-se para o rádio e continuou a consertá-lo. Lauren encarava Cordelia silenciosa, enquanto as garotas da Lufa-Lufa ao redor tentavam sugerir soluções para o conserto.

Ele ouviu seus passos se afastarem, enquanto respirava fundo, irritado pela ingratidão e toda a pose da garota. Cordelia tinha um lado agradável, descobrira isso durante as detenções, e não tinha paciência para aturar toda essa falsidade e imponência tão similares ao que ele vira ao longo dos anos em sua própria família. Não concordaria com toda aquela babaquice de lady bruxa da alta sociedade.

Alguns minutos se passaram, e conseguiu consertar o rádio. “Magical Mystery Tour” tocava em alto e bom som, e Sirius fora se servir de alguma comida e mais um copo de whiskey de fogo enquanto via Cordelia participar do jogo de bebidas que alguns amigos da Grifinória haviam bolado. Ela tentava beber de uma vez um enorme copo de quase dois litros da bebida, e parecia estar sendo bem sucedida.

Basicamente, o jogo consistia na ideia de que, quem aguentasse beber cada gota do copo repleto do whiskey mais potente da Sala, ganharia como prêmio a poção felix felicis que Remus preparara por pedido do Professor Slughorn para a próxima aula de poções. Era quase humanamente impossível atingir a meta, mas a garota parecia se esforçar, respirando com dificuldade, engolindo largos goles de whiskey. Quando botou o copo na mesa, tentando limpar a boca com as costas da mão discretamente, vários alunos aplaudiram e exclamaram incentivos. Não havia mais nada no recipiente. Sirius a encarou, surpreso, e não pôde conter uma risada. Era surpreendente que, sendo tão patricinha, não tivesse dificuldades em beber algo tão pesado.

MacLearie não o encarou, apenas guardou o frasco da poção ganha no bolso de sua saia, e recebeu mais uma dose de whiskey de brinde. Encarando o copo com um ar de desafio, bebeu-o todo de uma vez, arrancando mais aplausos, batendo com o copo vazio na mesa ao final.

– É assim que fazemos na Escócia! - Cordelia respondeu, convencida, e muitos alunos gritaram “Vai, Escócia!”, "Rainha do whiskey de fogo" e outras exclamações do gênero.

Sirius, encarando de longe a garota que continuava a beber ininterruptamente, sacou seu maço de cigarros e pôs-se a fumar, finalmente, sentindo-se não mais desejoso de encher a cara como se não houvesse amanhã.

Ao reparar no que acontecia ao longo da sala, viu que Remus puxava Dorcas pelas mãos, levando-a para trás de uma das cortinas, para o orgulho e a satisfação de Sirius, enquanto Peter parecia fora de si, não mais acompanhado da menina da Corvinal, sentado em um canteiro de flores transformado do que antes eram pufes. Ao seu lado haviam alunos também tão chapados quanto, lhe passando o cachimbo que compartilhavam. Peter pitou e soltou um anel de fumaça, transformando o formato circular em uma ratazana de vapor. Sirius moveu a varinha imperceptivelmente e transformou a ratazana que Peter formara em um grande e pulsante membro viril masculino, arrancando gargalhadas dos que viram a transformação.

James parecia enfim ter algum avanço com Lílian, conversando em um tom sério com a garota, sentados em um sofá. Ela sorria sem jeito, o encarando como se o julgasse, porém, com alguma gentileza. James continha seu sorriso abobalhado que ela sempre tirava de seu rosto, enquanto conjurava com a varinha um buquê de flores e a presenteava.

Assim, seus amigos estavam todos ocupados ou em outra “onda”, e já sentira que chegara atrasado demais para entrar no mesmo clima que a maioria. Passou a conversar com alguns outros amigos, fumando um cigarro trouxa atrás do outro, até que Emmeline o convencera a dançar consigo, puxando-lhe pela gravata e dando-lhe uma piscadela travessa. Não seria ele mesmo se recusasse o pedido.

Dançaram “I Saw Her Standing There” e outras clássicas músicas do grupo musical trouxa que a maioria conhecia e gostava, até que Vance pareceu ficar tonta e deitou em um pufe, dormindo logo em seguida. Estranhamente, a música havia parado por um momento, e Sirius se surpreendeu ao ver Cordelia, parecendo um tanto solta, conversando e sorrindo com doçura para Lauren, que mexia no rádio, procurando uma outra estação. De imediato, um fiddle irlandês encheu a sala, com um compasso ritmado e vozes animadas cantando uma canção de bar. Já entendia o que ia acontecer, e não sabia se devia interrompê-la ou não.

O rapaz caminhou até mais perto de Cordelia, que passou a bater os pés no ritmo da música, cantando "whiskey in the jar" e fazendo os mesmos passos complicados e harmoniosos que a vira realizar na noite de Natal. A garota girava sinuosamente, e estar bêbada ao ponto de dançar para alunos da Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa não prejudicara sua performance, muito pelo contrário. A maioria dos rostos da sala a encarava, impressionados com sua habilidade e hipnotizante dança. Quando chegou perto, MacLearie aproximou-se dele, estreitando os olhos e sorrindo discretamente convencida. Puxou suas mãos, realizando a dança em roda que a vira fazer com a irmã mais nova, e era realmente difícil acompanhá-la. Deixando-o quase tonto, MacLearie saltitou mais algumas vezes, sozinha, girando com graciosidade e fazendo uma última espacata em pleno ar, seus braços soltos em um arco belíssimo como se voasse, assim que a música terminou.

Grande parte da sala aplaudiu, inclusive o rapaz, sorrindo realmente divertido. A garota segurou nas saias e fez uma reverência digna da lady que fingia ser, e voltou-se para ele, perguntando, com a língua preocupantemente enrolada:

– Quem é que não sabe se divertir, Black? - Ela jogou os cabelos loiros em seu rosto, virando de costas para ele e indo se servir de uma caneca de cerveja amanteigada, acompanhada de Lauren, de quem pareceu ter virado grande amiga subitamente. Muitos alunos homens riram do que a garota dissera e fizera, incentivando-a.

Sirius, ficando agora levemente preocupado com a atenção que a garota passara a chamar, percebeu que ela já estava ficando vulnerável. Tentou conversar com Lauren para que cuidasse dela e não permitisse que ela passasse dos limites, mas a outra garota parecia ter sido convencida a também encher a cara, competindo com Cordelia para ver quem virava a caneca mais rápido. Pegando mais um cigarro e o acendendo, Sirius tragou fundo, vendo os alunos que tinham tomado “doce” se remexendo em cima dos canteiros de flores oriundos dos pufes transformados, como se estivessem vendo algo lindíssimo pelo teto branco da sala. Isso está ficando realmente fora do controle.

Passado algum tempo, Peter se aproximou do rapaz, passando a lhe contar como estava feliz e o quanto o amava, que era seu melhor amigo e toda a ladainha de bêbado, puxando-lhe para vários abraços, e Sirius o aturava, vendo de longe Cordelia sentada com um grupo de grifinórios, e Lauren dormindo ao seu lado encolhida no sofá, parecendo um felino com frio. A garota loira parecia, surpreendentemente, estar contando piadas e sendo bem sucedida.

– ...E como você chama a posição sexual da menina da Grifinória que vai perder a virgindade? - MacLearie perguntou, arregalando os olhos e levantando as mãos para aumentar o efeito teatral da surpresa, parecendo uma criança. Ninguém parecia saber responder, e Sirius aguardou no mesmo silêncio que a maioria dos rapazes a rodeando.

– Nick-Quase-Sem-Cabeça! - Cordelia gritou agudo, e a maioria dos rapazes riu estrondosamente. - Entenderam? - Ela soluçou audivelmente. - Só a cabecinha... - Cordelia já ia explicar a piada, quando Sirius a interrompeu, ignorando Peter que passara a falar com uma armadura achando que era o próprio garoto.

– Bem, MacLearie, que tal aprender a senha, agora? - Sirius ofereceu gentilmente.

– Não enche o meu s-saco, Black. - Cordelia respondeu, enrolando a língua. - Estou me divertindo. - Ela torceu o nariz para ele.

– Estou vendo. Mas muita gente já foi embora. Já não acha que é hora de voltar para dormir? Já são quatro horas da madrugada e tem aula amanhã. - O rapaz falou, hipocritamente, em contradição a toda a sua conduta, tentando convencê-la.

– Se você está me convidando para ir para cama com você, devo dizer que não, Black. Sinto desapontá-lo. - A garota disse, sorrindo convencida, enquanto alguns rapazes claramente interessados nela riram.

– Você vai se arrepender tanto disso mais tarde... - Ele respondeu, debochado, se referindo a como ela estava se portando, ciente também das segundas intenções da frase. Voltou as costas para ela, indo ajudar Peter que vomitava em cima dos pés da armadura. Ainda bem que saí de perto.

Depois que ajudou o amigo a se recuperar, deitando-o sozinho em um dos compartimentos atrás das cortinas, voltou para a sala, encontrando agora apenas poucos alunos. Apenas Cordelia ainda não o procurara atrás da senha, e agora, ironicamente, se recusava a ir embora.

Alguns poucos alunos dormiam em cima dos pufes que restaram sem ser transformados pelos estudantes chapados, suas bocas abertas roncando, e MacLearie encontrava-se sentada em um sofá abaixo de uma pintura de uma bruxa fazendo strip-tease, seu retrato já adormecido deitado acima da própria moldura. A garota loira, bêbada como estava, não parecia perceber os avanços de um rapaz da Grifinória do quinto ano, que inclusive tinha um dos braços apoiado em cima do sofá, como se a abraçasse pelos ombros. Do outro lado de Cordelia, Lauren dormia a sono solto.

– Eu t-tenho d-duas irmã-ãs... - Cordelia dizia com dificuldades, soluçando, fazendo um "dois" com o dedo indicador e o dedo do meio. - A Bairbre e a Mairéad, elas são meu tesouro! - Ela exclamava, lembrando das irmãs, seus olhos brilhando ebriamente à menção delas.

– Aí, companheiro. - Sirius se aproximou, ficando no meio dos dois, em uma postura impositiva. - Tá na hora de vazar. - O garoto ordenou, fazendo um gesto com o polegar para trás, indicando para que o sujeito saísse.

– Qual foi, Sirius, eu vi primeiro! - O mais novo tentou discutir, irritado, tratando Cordelia como uma posse conquistada.

– Na verdade, não. Ela é minha prima de segundo grau, e não quero ver marmanjo colando nela. Entendeu? - O rapaz rosnou em resposta, e o garoto, à contragosto, levantou e foi até a saída, olhando para trás, irritado, algumas vezes.

– Prima? Pffffffff. - Cordelia fez o barulho de desdém igual a uma criança. - Não tenho essa mancha no meu sangue. - Ela desprezou.

– Para nossa dupla sorte. - Sirius disse irônico a frase. Mesmo bêbada, ela parecia ter sérias reservas com ele. Não sabia exatamente o que achar daquilo. - Vamos levantando, te ajudo a chegar na sua Sala Comunal, “Nick-Quase-Sem-Cabeça”. - Sirius debochou e lhe ofereceu a mão, reparando que, ironicamente, o rádio ainda tocava, e justamente uma das canções mais românticas dos Beatles.

A voz de George Harrison enchia o ar, cantando Something em toda a sua melosa poesia.

“Something in the way she moves... Attracts me like no other lover.”

– Eu adoro essa música. É tão... Bonita. Honesta. Sincera. - Cordelia disse, com a língua menos enrolada, apontando o rádio e ignorando a mão de Sirius. Ele a puxou com delicadeza pelo braço, e ela tropeçou e se apoiou nos braços dele. “Something in the way she woos me...”

– Quer dizer que a puro-sangue gosta de Beatles? - Sirius provocou, a ajudando a se firmar no chão. “...I don't wanna leave her now, you know I believe and how.”

– De Beatles, de Bob Dylan, de Jefferson Airplane, Led Zeppelin, Eric Clapton... O rock'n'roll dos trouxas é demaaaais. - Cordelia falou bêbada, e Sirius não conseguiu não rir. “Somewhere in her smile, she knows, that I don't need no other lover...”

– Tem um bom gosto musical. - Ele elogiou, a puxando pela mão para fora da sala, enquanto ela lhe mostrou a língua, agindo realmente de maneira infantil. Passaram para uma parte da sala na qual não havia mais ninguém, e Cordelia, dançando para se desvencilhar dele, rodopiou para longe, batendo com as pernas nos braços de um sofá, caindo de costas em cima dele.

– Uuuuuh... - Cordelia disse, parecendo se divertir caindo enquanto suas pernas voaram para cima, suas saias abaixando-se de forma que Sirius agradeceu ser o único que teve tal visão privilegiada. “...Something in her style that shows me...”

– Abaixe as pernas, garota. - Sirius repreendeu com gentileza, ajudando-a a colocar as saias para baixo. Cordelia tinha os olhos fechados, cantarolando a música, e subitamente os abriu. “...I don't wanna leave her now, you know I believe and how.”

– Onde você está tocando? - Ela arregalou os olhos, e os estreitou logo depois. “You're asking me will my love grow. I don't know, I don't know.” – Você é um tarado, Black. Tarado. - Sua tagarelice bêbada não parecia nem perto de acabar. “You stick around now it may show... I don't know, I don't know!”

– Culpado. - Sirius respondeu, debochado, ajudando-a a tirar os sapatos e indo para mais perto dela, puxando-a pelos ombros para a deitar no sofá. Cordelia riu honestamente, parecendo se divertir, e o som da risada dela por alguma razão lhe trouxe uma sensação quente ao peito. “Something in the way she knows, and all I have to do is think of her.”

– Eu 'tô muuuito louca. - Cordelia disse, levando o indicador aos lábios, como se lhe contasse um segredo, fazendo um audível "shhh" depois. “Something in the things she shows me.”

– Estou vendo. Boa noite, Cora. Durma bem. - Sirius respondeu honestamente, abaixando os braços dela para que pudesse adormecer segura em cima do sofá. “I don't wanna leave her now. You know I believe and how...”

– “Cora”. Cora. Co-ra. Você deve se achar muito gostoso, pra ficar me chamando desse jeito, com essa cara-de-pau toda. Deve se achar todo lindo, com esse seu cabelinho caído no rosto – ela moveu a mão esquerda para os cabelos dele, e a passou por alguns fios – deve se achar todo charmoso, irresistível, com essa postura de rebelde metido a inconsequente... Por quê, Sirius? - Cordelia perguntou, franzindo as sobrancelhas, parecendo confusa, chamando-lhe pela primeira vez pelo seu primeiro nome. Os últimos acordes da música tocavam, e, por alguma razão, ele se sentia agindo pelos efeitos de algum tipo de feitiço.

– Por que o quê, Cora? - O rapaz não pôde resistir.

– Por que você é tão lindo? - Ela respondeu, e o puxou pelo pescoço. Apesar de bêbada, deu-lhe um puxão considerável, e seus lábios logo se tocaram. Cordelia lhe beijara com os lábios fechados, respirando devagar enquanto o fazia, apertando deliciosamente com suas unhas a nuca do rapaz e partes de seu cabelo comprido.

Fora apenas um selinho, mas dado com tanta intensidade e intimidade que ele sentiu como se uma corrente elétrica corresse por seu corpo, fazendo seu sangue pulsar mais quente. Se ela não estivesse tão bêbada, teria certamente dado um jeito de aproveitar muito mais. Os dois apenas se separaram quando ela o soltou, e, ao abrir os olhos, Sirius viu, entre o frustrado e o esperado, que ela havia enfim adormecido.

Bem, isso foi de certa forma surpreendente. Ele reconheceu, levantando-se e procurando um cobertor para deixá-la protegida do frio ou de posições que deixassem algo à mostra. Após cobrí-la, achando um edredom alguns metros à frente, afastou-se e deitou-se em um pufe, pedindo a um dos quadros que gritasse para lhe acordar caso a garota despertasse antes de si.

Foi acordar por volta das três da tarde do dia seguinte, sem mais ninguém na sala além dele e os outros três Marotos. Remus dormia com um sorriso no rosto atrás de uma das cortinas, sua blusa aberta de uma maneira no mínimo suspeita, James adormecera em cima do sofá em que conversara com Evans, roncando sonoramente, e Peter babava desmaiado em um dos canteiros de flores.

A cabeça do rapaz latejava e ele sentia certa dor na garganta pela quantidade de cigarros e fumaça inalados no dia anterior. Sirius Black já pensava na desculpa que usaria para explicar suas faltas naquela terça-feira, quando pôs uma das mãos no bolso e encontrou algo diferente lá dentro.

Tirou, com sua mão esquerda, uma gravata da Sonserina, guardada na noite anterior. Sem dúvidas, fora uma data especial.

Acordando os amigos, guardou a gravata de volta, puxando-a para olhá-la uma última vez antes de voltar à rotina estudantil. Olhando as listras verde e prata, Sirius sorriu para si, feliz com o seu segredo.


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Notas finais do capítulo

*Defatigatus: do latim desmaiar.
Esperando a opinião mística de todas vocês! Beatles rules! Hahahahaha! =D



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