Always With Me escrita por Menta


Capítulo 8
Something In The Way She Moves - Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, lindonas!
Venho neste final de domingo com DOIS capítulos que têm um pouco de tudo: drama, suspense, romance, comédia... Espero que gostem! Teremos partes do Valentine's Day de 1977 e o aniversário de 17 anos de nosso querido Remus Lupin!
Não quero dar spoilers, e acho que essa pequena sinopse resume tudo. Dedico estes capítulos em especial a Lauren P. S, uma leitora fofíssima que também ganhou homenagem na fic por todo o carinho que dedica aos meus escritos, inclusive me presenteando com uma fanart na minha fanfic do Loki!
Gostaria de agradecer mais uma vez a Babi Prongs, minha grande amiga potterhead do nyah. Ela estava ansiosa por esse capítulo, hehehehe!
Agradecimentos especiais às leitoras Lune Noire, Tia Voldy e Isabel Macedo que foram lindas e comentaram recentemente, a primeira tendo comentado já inúmeras vezes e favoritado minha história. Se tem algo que vocês podem fazer por mim é isso: mantenham contato, comentem, POR FAVOR, nos DOIS capítulos, não vão cair dedos, nem vão cegar seus olhos, e só me farão MUITO feliz! Eu responderei com toda a gentileza e carinho possível, tenham certeza. =) E, se quiserem, não me oponho nada à favoritações e recomendações! Heheheheh!
Beijos e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/487289/chapter/8

Sirius Black acabara de adentrar o Salão Principal. O sol da manhã já subia alto, mostrando-se brilhante e ardente pelo teto encantado, prometendo um clima ensolarado e festivo contrário ao frio daquele meio de inverno.

Seria bem-vindo, se aquela quarta-feira não implicasse em uma certa data.

– Bom dia, flor do dia! - Prongs o saudava, animado, empurrando-se para longe no banco da mesa da Grifinória, dando espaço para o amigo sentar. Moony olhava para as grandes janelas abertas, parecendo aguardar algo. Franzia as sobrancelhas, aparentando alguma preocupação. Wormtail devorava diversos bolinhos coloridos, com confeitos que brilhavam e mudavam de cor e sabor, os chamados cupcakes, comida, como dizia Sirius, sem gosto, de mulherzinha. Estranhamente, a maior parte deles estava decorada com coraçõezinhos, assim como os guardanapos de papel nas mesas. Anjinhos querubins voavam pelo Salão Principal, levando arcos com flechas cujas pontas também tinham formato de coração e entregando cartões coloridos e chamativos. Sirius soltou um grunhido, entendendo do que se tratava aquilo.

– Ah, que merda, de novo essa porra? - Sirius xingou, sentando-se ao lado de Prongs, passando as mãos cansadas pelo rosto, enquanto três anjinhos já se posicionavam para jogar-lhe os cartões flechados na superfície da mesa à sua frente.

– Caso ainda não saiba, Sirius, o dia de São Valentim acontece todo ano. Uma vez por ano. - Moony respondeu, levemente debochado. - Mas eu já tenho suas reservas. Vai precisar, se quiser sobreviver à data. - O amigo levantou as sobrancelhas, voltando os olhos para as janelas. Estava se referindo aos antídotos contra possíveis poções do amor contidas nos chocolates enviados para Sirius.

– Eu ainda não ganhei nada. - Wormtail comentou, enchendo a boca de bolinhos, parecendo ansioso, encarando uma pequena pilha de cartões ainda não abertos, de Remus, e a enorme pilha de cartões de James Potter, os quais ele se atarefava em transformar em uma espécie de castelo, como um castelo de cartas, naquele momento. Movia a varinha, sem dificuldades, empilhando com destreza um acima do outro, fazendo o formato. - Será que esse ano supera o anterior? - O rapaz gorducho comentou, cuspindo um pouco da comida enquanto falava.

– Certamente você está muito mais sedutor, meu caro. - Prongs debochou, apontando para a comida cuspida, e Sirius deu uma risadinha sem som.

O dia de São Valentim era provavelmente uma das datas mais desagradáveis em Hogwarts, perdendo apenas para os feriados em que fora obrigado a estar com sua família. Agora que fugira de casa, recebera auxílio por parte de seu tio Alphard, para sua enorme surpresa, capaz de se sustentar sozinho com os bens doados pelo parente. O tio lhe escrevera uma carta, contando-lhe que sabia do que ocorrera na casa dos Black durante o ano novo, e que lhe dava todo seu apoio, o que o rapaz sabia diferir da massiva opinião do resto da família. Ganhara uma herança tão vistosa que Sirius duvidava ser capaz de gastar, ainda em vida. Tinha certeza que, depois disso, o tio fora provavelmente eliminado da grande árvore genealógica dos Black que havia no Largo Grimmauld.

Assim como já tinha certeza não mais fazer parte dela, e da família que abandonara.

– E o pior é que não dá para aproveitar a data em Hogsmeade. Essa história de dia dos namorados só vale a pena quando usada para passar conversa. - Sirius falou com honestidade, desviando de seus pensamentos amargurados, e James lhe deu um tapinha nas costas. Metade dos anjinhos querubins do Salão estava ocupado em presentear-lhe com uma quantidade de cartões que já ultrapassava os ganhados por James, até então o “líder” da mesa nesse sentido.

– Eu realmente gostaria de entender como você faz tanto sucesso, Pads. - James sorriu quase solene, debochado. - Sendo tão romântico e poético. - O amigo implicou com sarcasmo, enquanto Sirius ameaçava azarar um anjinho que quase o flechou, atabalhoado pela quantidade de cartões recebidos pelo garoto. - Acho que se eu falasse essas coisas para a Evans, ela já estaria beijando meus pés. - Prongs insistiu.

– Na data de hoje, eu não me incomodaria de te presentear com todo o meu sucesso. - Sirius respondeu sombriamente. - Não tenho mais saco pra aturar essas merdas. - O rapaz rosnou, já irritado por ter se lembrado da família, ignorando os cartões que caíam a sua frente.

– Acordou de ovo virado, cara? - Potter perguntou, pegando um dos bolinhos da mesa e experimentando com uma bocada exagerada. - Anime-se, esqueceu do presente que planejamos para Snivellus? - Os olhos de James brilharam de malicia, enquanto ele continha um sorriso cruel.

– Acho que tem outro lado bom desse dia também, pelo visto. - Sirius sorriu cúmplice para James, enquanto Remus soltou um muxoxo de desaprovação. Peter deu uma risadinha, ansioso, parecendo farto de comida.

– Agora elas chegaram. - Lupin disse, avisando aos amigos, recuando um pouco para proteger-se da “chuva” que viria. Sirius olhou na direção que Remus apontara, e vira uma enorme quantidade de corujas descendo pelas janelas do Salão Principal.

– Vamos ver o quão humilhante será minha derrota este ano! - James disse, divertido, enquanto as corujas davam rasantes pelas mesas do Salão, entregando chocolates e doces do dia dos namorados. Uma revoada de bombons, caixas e doces em formatos de coração, flores e outros aspectos femininos caía em massa na frente de James e Sirius, mas, em pouco tempo, o segundo superou o primeiro no dobro de presentes.

– Quarenta e nove, 50... Eu contei 50, e você, Paddy? - James empilhava seus presentes, fazendo uma torre chamativa na mesa bem a sua frente. Alguns colegas da Grifinória o encaravam, divertidos, sorrindo e o parabenizando. Os anjos enfim iam embora do Salão, olhando feio para Sirius por tê-los ignorado e sequer lhes dado agradecimento por seu árduo trabalho. Um dos querubins inclusive chegou a ter o trabalho de despedir-se pessoalmente do garoto fazendo-lhe um gesto ofensivo com o terceiro dedo da mão, para o deleite de James e Peter, que gargalharam.

Jogando o último chocolate contado para o lado, Sirius respondeu:

– Cem. Sem sacanagem. - O amigo respondeu a James, fazendo o trocadilho, sorrindo-lhe enviesadamente, enquanto Prongs fingia exasperação. Alguns rapazes em volta, inclusive da mesa da Lufa-Lufa, ao lado da mesa da Grifinória, encaravam Sirius com respeito. As risadinhas femininas das garotas em volta eram quase tão audíveis quanto as próprias vozes dos quatro rapazes que conversavam. - Moony foi bem também, ele tentou esconder mas eu contei pelo menos uns vinte doces. - Sirius expôs o amigo.

– Quinze. - Remus respondeu, corrigindo, diminuindo os chocolates de tamanho, com a varinha, para guardar no bolso da capa do uniforme da Grifinória.

– Eu ganhei quatro. - Wormtail contava os poucos chocolates entregues, dando um sorriso amarelo para os amigos.

– Eu diria três. - Moony, ao seu lado, puxou um dos chocolates de sua mão. - Esse daqui foi entregue por engano. Está endereçado a James. - Apontou com o dedo indicador para a dedicatória na qual se lia “Para James Potter”, incrustada na embalagem de um chocolate em formato de vassoura.

Sirius e James riram, enquanto Lupin jogava o chocolate para James, sentado à sua frente. Encantando o chocolate para que voasse um pouco acima de si, Sirius já via o rapaz prestando atenção em algo mais interessante.

Sentada no ponto extremo da mesa da Grifinória, bem longe de onde os Marotos estavam, Lily Evans conversava animadamente com Emmeline Vance, Dorcas Meadowes e Marlene McKinnon, suas amigas da Casa. Parecia ter recebido uma enorme pilha de chocolates, destoando dos presentes dados a Emmeline e Dorcas, competindo apenas com McKinnon, sentada ao seu lado. Vendo o sorriso fácil da garota loira, percebeu que ela parecia ter contado uma piada debochada sobre Lily, que fechou a expressão enquanto suas amigas riam.

Sirius lembrou-se da época em que quase chegou a namorar a garota, depois de saírem por alguns meses – não ininterruptamente, porém – durante o quinto ano de ambos. Ela era corajosa. Dera-lhe o ultimato, ele se lembrava bem. Ou assumiam a relação que tinham como namoro, ou seria melhor terminarem. Apesar de saber já ter sentido algo por ela, que já ficara no passado, ele a rejeitara. E, desde aquele dia, se afastaram tanto que fora como se jamais tivessem se aproximado.

Certo de sua decisão, Sirius disse-lhe nunca “fazer esse tipo de coisa”. Jamais quisera namorar. Sempre desprezou romantismo e essas “babaquices”, segundo suas próprias palavras, e perdera a conta de quantas vezes tinha de se controlar para aguentar a ladainha de James sobre Evans. Aquilo não fazia seu tipo. Não gostava de assumir compromissos com ninguém, desprezava a ideia de perder sua independência e ter de dar satisfações a alguém. Alguém além de seus amigos.

O rapaz jamais desejara ter filhos e buscar um relacionamento estável. As famílias eram quase todas como as dele; corruptas, mentirosas, falsas. Cheias de intrigas e sofrimento. Laços que ligavam indivíduos pelo sangue, que os obrigavam entre si por vínculos impostos, e não pela própria escolha. Ele não precisava daquilo.

Seus amigos eram sua família, e lhe bastavam. As mulheres eram diversão, e passageira. Só confiava plenamente em três pessoas, e eram apenas elas que recebiam tudo de si.

Prongs, Moony, Wormtail.

Seus melhores amigos.

– Paddy, se liga, vai ser agora. - James o despertou de seus pensamentos, retirando do bolso da capa o que preparara para aquele momento. Sirius viu o amigo tirar um chocolate em formato de pomo de ouro de seu bolso, e tocou com a varinha na superfície do doce. Asas saíram de dentro dele, e o doce seguiu voando pela mesa da Grifinória, desviando das mãos dos alunos que tentaram agarrá-lo, indo parar na frente do nariz de Lily Evans. Conseguiram ouvir os gritinhos e risadas exaltados de Emmeline Vance daquela distância:

– Pega, Lily! Pega! - A garota de franja incentivou, enquanto o pomo continuava voando na direção do rosto de Evans, enquanto ela tentava desviar do chocolate, movendo a cabeça de um lado a outro.

Sem poder fazer diferente, Lílian levantou a mão na frente do nariz, e, subitamente, o pomo de ouro começou a tremer, assim que ela o tocou. Suas asas balançaram freneticamente, e, de sua superfície, subiram faíscas douradas e vermelhas, que formaram a seguinte frase:

“Vai me dar uma chance de capturar seu coração? - de J.P.”

Emmeline e Dorcas imediatamente olharam para Potter, fazendo um sinal de positivo com os polegares, incentivando o presente, enquanto Vance gritava um sonoro “ai que fofo!”. McKinnon deu um sorrisinho, aparentemente não querendo olhar para aquele ponto da mesa, e Lily revirou os olhos, colocando uma das mãos na frente dos lábios. Aparentemente, tentou esconder um sorriso.

– Acho que foi uma resposta positiva. - Remus disse, sorrindo para Prongs, seus olhos indo da expressão de Lily ao rosto do amigo.

– É, por enquanto ela ainda não tentou te azarar. Está no lucro. - Sirius debochou, enquanto Peter parecia extasiado com o sucesso de James, embora levemente invejoso.

– E agora vem a outra parte. - James indicou com o queixo a mesa da Sonserina, na direção de onde Snape estava sentado, cercado por Mulciber e Yaxley. Prongs parecia controlar a própria alegria, compreendendo que Evans realmente gostara do presente.

Sirius, entendendo o sinal, lhe passou o chocolate que trazia consigo, já encantado para seguir Snivellus, em um formato simples de bombom. James tocou no doce com a varinha, e o chocolate instantaneamente passou a voar entre as poucas corujas que restavam para a mesa do outro canto do Salão. Em alguns minutos, os amigos controlavam os risos, vendo o chocolate pousar discretamente na frente dos poucos doces que o rapaz de nariz adunco havia recebido.

Severus, desconfiado, se recusou a tocar no doce, que passou a tremer descontroladamente. Os quatro rapazes mal seguravam as risadas, vendo Snape levantando-se da mesa, subitamente, quase pulando do banco. O doce pôs-se a seguí-lo, suas abas batendo como se fossem asas, enquanto ele apressava o passo para fora do Salão Principal, rumando para as escadarias centrais. Em segundos, o bombom deu um rasante na frente de seu nariz e explodiu em seu rosto, deixando-o marcado com palavras escritas com chocolate:

“Virgem, liso, pega-ninguém, enrustido” e outros insultos do nível espalhavam-se pelo rosto de Snivellus, para divertimento dos Marotos.

Com o rosto lívido de fúria, o rapaz tentou limpar o chocolate de seu rosto, sem sucesso, enquanto boa parte do Salão Principal ecoava em risadas. Sirius sentiu lágrimas subirem aos olhos de tanto rir, enquanto Snape fugia para fora do Salão, mas algo na mesa da Sonserina lhe chamou atenção.

Sentada no mesmo banco em que Macbeth e McNair, Cordelia MacLearie abria discretamente os doces recebidos no dia de São Valentim. Não parecia sequer prestar atenção na peça que James e Sirius acabaram de pregar em Snape, e muito menos na amiga de cabelos castanhos escuros, ao seu lado, lendo em alto e bom som um dos inúmeros cartões que ganhara com um sorriso convencido no rosto.

Aparentemente, Macbeth fora mais presenteada do que MacLearie ou que McNair, que bocejava exageradamente, sem cobrir a boca com as mãos. Sirius conhecia brevemente as duas, pois também foram convidadas a participar do Clube do Slug. Sirius Black fora intimado a frequentar, junto a James Potter e Remus Lupin, as reuniões fechadas para alunos "extraordinários", por insistência do professor e diretor da Sonserina, Horatio Slughorn. O lado bom das reuniões é que não havia uma predominância Sonserina, diferentemente do que Sirius esperara. O professor só selecionara quem ele julgava "melhor" de sua Casa.

Pelo pouco que reparara, McNair era sagaz e debochada, e seria uma menina divertida se não viesse de uma família puro-sangue tão nojenta quanto a de Sirius, e aparentemente defendesse os mesmos valores de “purificação” bruxa. Macbeth, apesar de hipnoticamente bonita e charmosa, era provavelmente a garota mais fútil da escola. Era tão ligada à própria beleza que provavelmente devia se tocar pensando em si mesma à noite, como uma vez já dissera, debochado, para James, quando mencionaram a garota.

As duas eram sempre vistas juntas à garota loira que agora lhe aplicava detenção todas as quintas-feiras à noite. Já haviam se passado três detenções, e ele se divertia tremendamente flertando com a garota até tirá-la do sério. MacLearie sempre lhe parecera contida, reservada demais, até mesmo enfastiante de tão séria, mas tinha respostas espertas e sarcásticas que lhe obrigavam a improvisar para conseguir provocá-la. Além de tudo, era brilhante em magia, capaz de feitiços e encantamentos celtas que ele jamais tivera sequer conhecimento. Tinha um vínculo natural com os animais e os elementos da natureza, que lhe prestavam uma reverência e respeito quase sobrenaturais, algo que ele nunca vira em nenhum outro bruxo. Além de ser surrealmente gostosa.

E, quando deixava sua máscara de seriedade e “pela-saquice” Sonserina cair, poderia ser uma garota divertida, aparentemente.

Enquanto lembrava-se que teria detenção no dia seguinte, pensando no que faria para provocá-la, Cordelia levantou os olhos, e os moveu diretamente para Sirius, como se tivesse percebido, por instinto, que ele a encarava. O rapaz moveu os lábios em silêncio, falando “Feliz dia de São Valentim, Cora”, e ela piscou os olhos, algumas vezes, parecendo aturdida. Logo em seguida, moveu o rosto para o lado, puxando algum assunto com Phyllis McNair, parecendo querer disfarçar alguma coisa.

– Vamos apostar, James? - Sirius falou, sussurrando, para Potter, que estava imerso em uma conversa com Frank Longbottom. Wormtail conversava com Moony, que, porém, moveu os olhos para Sirius rapidamente. Ele sabia que o amigo estava escutando e o julgaria por aquilo.

– O quê? - Potter voltou-se para ele, murmurando em resposta.

– Que eu consigo comer. - Black disse, sussurrando ainda mais baixo.

– Quem? - James ajeitou os óculos, olhando para o amigo como se isso não fosse aposta que se fizesse. - Estou muito feliz, Padfoot, mas não estou tão cego pela felicidade a ponto de querer perder dinheiro. - James falou, sorrindo e passando as mãos pelo seu cabelo desarrumado e arrepiado.

– Você sabe. - Sirius disse apressado.

Os olhos de James faiscaram, instantaneamente movendo-se para Cordelia MacLearie, que lia um de seus cartões recebidos no dia dos namorados com as sobrancelhas franzidas, parecendo desagradada. Peter encarava a ambos, sem compreender do que falavam.

– Sirius 'Padfoot' Orion Black, seu hipócrita filho da puta! - James Potter bradou, rindo com a sugestão do amigo, e Sirius o chutou por baixo da mesa, exigindo discrição. - Para quem disse que dessa água nunca iria beber... - James foi interrompido por uma segunda revoada das corujas, que passaram a entregar os exemplares do Profeta Diário daquela manhã. Os dois ainda riam, cúmplices, até que Remus lhes mostrou a manchete principal do jornal daquele dia. Estava muito sério, e subitamente Sirius percebeu como todo o clima do Salão tinha se modificado.

Ouviram exclamações de surpresa e choque em algumas mesas. De rompante, uma garota se levantou, da mesa da Grifinória, e saiu correndo para fora daquele cômodo. Logo foi seguida por Evans e algumas amigas, seus rostos preocupadíssimos. Parecia chorar descontroladamente.

Franzindo as sobrancelhas, Sirius enfim olhou o jornal. Pela capa, lia-se, em letras garrafais, negras e uniformes:

“Ataques trazem novas vítimas.” Abaixo, a matéria principal falava sobre a morte de Sylvia MacDonald, precedida de tortura por horas a fio, deixada pendurada por um feitiço de flutuação em meio à rua principal do Beco Diagonal na madrugada daquele dia. Sirius levantou os olhos para os amigos, que pareciam compartilhar da mesma expressão de choque e incredulidade. James e Sirius leram juntos a matéria, ambos quietos, subitamente sérios.

A foto principal mostrava o chão abaixo de onde o corpo aparentemente flutuava, no qual estava escrito, com um líquido viscoso que parecia sangue:

“PELA LIMPEZA ÉTNICA BRUXA.”

Sylvia era a mãe de Mary MacDonald, aluna da Grifinória do sexto ano, assim como Sirius e seus amigos. Tinha apenas trinta e seis anos, cinco filhos, e era mãe solteira.

Sofreu o que sofreu por ter nascido trouxa.

***

Os dias de fevereiro assim correram, e não havia uma manhã que se passasse sem que os quatro amigos lessem juntos o Profeta Diário. Depois daquela primeira notícia explícita de uma ação concreta de bruxos das trevas, Hogwarts estava em polvorosa.

Sirius, James, Remus e Peter agora tinham discussões acaloradas com outros membros da Grifinória – e até da Corvinal e Lufa-Lufa, por vezes – questionando quem realmente era o inimigo e como agiriam. Não poderiam apenas se basear em alunos do colégio cujas famílias concordavam com a ideologia do Lorde das Trevas. A maioria dos estudantes da Sonserina adorava divagar sobre a “Revolução”, como chamavam o genocídio que pretendiam os partidários das trevas, mas ainda eram o que eram, alunos de um colégio, menores de idade. Não era provável que já estivessem envolvidos com as tramas ou que realmente soubessem o que Você-Sabe-Quem pretendia. Até mesmo seu irmão, Regulus, envolvido com a “Revolução” até o pescoço, ainda era muito novo para fazer parte da alta cúpula dos seguidores.

Enquanto seguia o clima hostil, Dumbledore fizera discursos sérios para os alunos, recomendando que se unissem e se protegessem. Não havia mais tantas fronteiras entre a escola e o que havia lá fora.

Estavam perto de despertar para o mundo real, e as perspectivas do que encontrariam não eram nada agradáveis.

Assim, março chegou, e não trouxe maiores notícias de mortes ou ataques. Sabia pela convivência com alguns alunos que ainda havia bruxos desaparecidos, e a mídia parecia esconder tais acontecimentos. Durante as detenções, tentava conversar com MacLearie a respeito entre uma piada e outra, mas a garota era escorregadia como sabão, fugindo de suas perguntas. Ele intuía que a menina não se relacionava com a arte das trevas, não apenas por tê-la visto usando a desconhecida magia benéfica celta para cuidar das criaturas mágicas já por algumas vezes durante as detenções, como pelo comentário que Moony fizera, enquanto Prongs, Padfoot e Wormtail discutíam sobre os últimos acontecimentos e os possíveis partidários das trevas, falando de todos os alunos da Sonserina de quem se lembravam.

Dissera que pelo pouco que convivera com Cordelia em seu grupo de estudos, durante uma noite em que revisavam uma matéria de Estudo das Runas Antigas, ela ajudara a todos os alunos, pois tratavam-se de runas celtas. A tradução do dever de casa passado era uma espécie de lema seguido pelos bruxos celtas; toda a magia considerada negra, como necromancia e outras artes sinistras, eram tabu para os druidas e similares. Os praticantes das artes das trevas, segundo o que se acreditava, pagavam o preço pela mágica de efeito quase sempre irreversível com o próprio corpo e essência. Era, em suma, uma magia auto-destrutiva e repreensível para eles.

No dia 10 de março, uma segunda-feira, porém, a rotina sisuda deu espaço para um pouco da essência... Marota. Era aniversário de Remus Lupin, e ele seria o primeiro do grupo a completar a tão aguardada maioridade bruxa.

Sirius, James e Peter já haviam combinado a surpresa há dias. Naquele semestre, Prongs e Padfoot descobriram uma sala, no sétimo andar, que se adequava as necessidades de quem passasse por ela. Era de madrugada, e fugiam de Filch, temendo levar uma suspensão por estarem rondando os corredores muito além do horário permitido. Quando passaram pela terceira vez no mesmo ponto de um corredor daquele andar, subitamente uma porta surgira ao lado deles. Ao abrirem, descobriram uma sala ampla, repleta de pufes para descansarem, livros, revistas e inúmeros armários, tapeçarias com fundos falsos e compartimentos para se esconderem.

No dia seguinte, investigando a estranha aparição da sala tão especificamente organizada com tudo o que precisavam, testaram todas as salas do sétimo andar possíveis, depois de muito vasculhar no Mapa do Maroto. A sala era aparentemente irrastreável, e já estavam desistindo, quando James disse, pela terceira vez, na frente de uma tapeçaria de mau gosto com trasgos dançando balé, o quanto estava cansado e precisava sentar e relaxar as pernas. Logo atrás dele, para o assombro dos rapazes, surgira a mesma porta da noite anterior. Abriram-na juntos, outra vez, e a sala ampla desta vez estava repleta de inúmeras cadeiras e poltronas para todos os gostos.

Depois de digerida a surpresa, testaram as possibilidades da sala algumas vezes mais, até concluir que ela se modificava de acordo com o desejo e a necessidade dos que passassem à sua frente.

Assim, passaram o dia do aniversário de dezessete anos de Remus Lupin fingindo que não fariam nada de especial. Deram-lhe os parabéns durante o café da manhã, rumaram juntos para a aula dupla de defesa contra as artes das trevas – a qual Sirius, James e Remus concordavam em julgá-la mal dada, aplicando pouco a prática, considerando os perigos reais que teriam de enfrentar -, parando para o almoço, e, em seguida, tendo um tempo de aula de herbologia com os alunos da Lufa-Lufa, terminando a tarde com Transfiguração, matéria a qual praticamente podiam se dar ao luxo de sequer prestar atenção. Prongs e Padfoot, assim, passaram o último tempo conversando, sem que Moony percebesse, decidindo os últimos detalhes da festa.

Logo que o dia terminou, após o jantar, Remus parecia cansado; na semana seguinte, teriam lua cheia, e sua aparência enfermiça estava ainda mais evidente. Sirius e James se esforçavam para não demonstrar a empolgação contida, e Peter, porém, não se continha bem, roendo as unhas e batendo os pés no chão, impaciente. Moony chegou até a perguntar-lhe se estava tudo bem, no qual o garoto prontamente negou, recebendo um chute por baixo da mesa de Prongs, exigindo-lhe que se portasse de maneira mais controlada.

Finda a refeição, James conseguiu convencer Remus a seguir-lhe ao sétimo andar, contando-lhe sobre uma Sala na qual se continha uma biblioteca especial montada pelos alunos, que somente aparecia em vésperas de provas para os que não soubessem de sua localização. Moony não parecia acreditar, e tentou exaustivamente discutir para voltarem à Sala Comunal e estudarem, mas acabou sendo convencido pelos três, prometendo-lhe que ele não se arrependeria. Suspirando e reclamando que os amigos lhe davam a fama de monitor mais negligente da história de Hogwarts, Remus Lupin e os três amigos se apertaram na capa de invisibilidade de James, assim que os corredores próximos ao Salão Principal esvaziaram-se. Logo subiram um andar até a sala vazia de transfiguração, torcendo para que Mcgonagall não os descobrisse.

Usando suas varinhas para iluminar o caminho com discrição, Sirius ajudou James a levantar o quadro negro, exibindo a passagem secreta que havia atrás do mesmo, levando por escadas malfeitas e tortas até o sétimo andar. Por meio de magia, colocaram o quadro no mesmo lugar, assim que o último deles subiu pela passagem, e seguiram pelo caminho escuro, saindo por trás de uma estante que empurraram na sala de adivinhação.

Rapidamente, os quatro amigos direcionaram-se até o corredor no qual Sirius e James sabiam conter a Sala – que Prongs nomeou de Precisa – no lugar da tapeçaria dos trasgos dançando balé. James liderou o caminho, enquanto Sirius atrasava Remus e Peter, para que o amigo pudesse passar três vezes em frente à tapeçaria desejando a real necessidade deles.

– Por Merlin, vocês enlouqueceram de vez? - Remus perguntou, parecendo já enfastiado e impaciente. - Se isso é a ideia de vocês de piada, estão mais tolos do que de costume. - O monitor da Grifinória levantou as sobrancelhas, encarando com certa vergonha James indo e voltando na frente da tapeçaria.

– Olhe agora, meu caro amigo lupino. - Padfoot indicou com o rosto a tapeçaria que tinha se modificado para uma porta, a qual James já abria, movendo os braços com teatralidade para que entrassem. Finalmente sorria amplamente, assim como Sirius, sabendo o que aguardava o amigo.

– Feliz aniversário, Moony! - Wormtail disse, puxando, junto a Sirius, o amigo, cada um segurando um de seus braços, o empurrando pela porta.

Assim que adentraram a Sala, Sirius sentiu-se feliz como não se sentia há tempos.

Decorada com balões de festa vermelhos e dourados que piscavam incessantemente e mudavam de formato, dançando por seu teto, com lampiões a gás com chamas multicoloridas em suas paredes, pufes, mesas pequenas para servir comes e bebes e inúmeras poltronas, sofás e cadeiras, assim como uma pista de dança que mudava de lugar, a Sala Precisa tornara-se a Sala da Maioridade de Remus. Fotos indecentes de bruxas fazendo strip-tease, broom-dance* e até outros atos mais libidinosos espalhavam-se por todos os cantos, algumas em tamanho real, assim como quadros obscenos e eróticos decoravam toda a sala. Além disso, havia uma faixa enorme dourada com dizeres rubros, que mudavam por alguns segundos. Naquele momento, a faixa mostrava a mensagem:

“Parabéns, Moony! Aproveite a legalidade de toda a ilegalidade! Divirta-se aparatando para onde quiser, como por exemplo tendo a companhia das primas na Vila dos Cisnes, sendo preso em Azkaban e tomando o porre dos seus sonhos com uísque de fogo. Tudo não necessariamente nessa ordem.” Sirius e James aplaudiram a faixa, incentivando os dizeres, enquanto Remus era saudado por uma multidão de alunos de diferentes Casas.

– FELIZ ANIVERSÁRIO, REMUS! - Todos gritaram atabalhoadamente, alguns pulando em cima do rapaz, outros lhe dando tapinhas nas costas educados, ou o cumprimento de uma maneira sem selvageria.

Todos os seus amigos da Grifinória já estavam lá. Até mesmo um punhado de alunos divertidos da Lufa-Lufa e uns poucos da Corvinal lá estavam, inclusive a responsável pela música da festa, Lauren O' Lerine, aluna do quinto ano da Lufa-Lufa que logo pulou em cima de Remus abraçando-lhe e beijando seu rosto por seu aniversário, dando em seguida um abraço carinhoso em cada um dos Marotos. Ao abraçar Sirius, ela lhe avisou, exultante:

– Consegui não só captar uma onda de rádio trouxa que só toca música dos Beatles, como achei barris e barris de cerveja amanteigada na temperatura certa que durarão a noite toda! - A garota falou apressada, sorrindo de orelha a orelha. A menina de simpatia ímpar tinha longos cabelos castanhos escuros ondulados e olhos gentis e cintilantes que variavam entre o azul esverdeado e o verde azulado.

– Bom trabalho, recruta. - Sirius brincou, sorrindo-lhe galante. - Só não garanto que a cerveja dure a noite inteira. - A garota lhe sorriu e, junto a Peter e James, Sirius puxou Remus pelos pés, enquanto os outros dois amigos o levantavam pelos braços, arrastando-lhe para o centro da Sala.

Lá havia um bolo de diversas camadas de chocolate e outros recheios doces com uma vela em formato de “1” e outra vela em formato de “7”, claramente encantada para parecer uma lua minguante. Remus parecia emocionado, deixado no chão após ser jogado para cima algumas vezes pelos amigos e outros colegas da Grifinória, e logo todos cantaram parabéns para que a festa em si começasse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Broom-dance: referência à pole-dance, HAHAHAAHAH. Não resisti.

Estou aguardando os reviews mágicos! *o*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Always With Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.