Always With Me escrita por Menta


Capítulo 7
A Day In The Life


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, queridonas! Venho com mais um capítulo de Always With Me, e ouso dizer que esse foi o melhor publicado até agora! Se bem que eu considerei o sexto bem forte emocionalmente... Bem, esse é mais leve! Temos uma pequena introdução de MUITOS personagens, inclusive os Grifinórios queridos de todos: Lily Evans, Dorcas Meadowes, Emmeline Vance e Marlene McKinnon, além de alguns amigos de Cordelia, bem como Regulus Black, um dos amados do fandom!
Teremos momentos divertidos SiriusxCora (Coririus? Corsirius? Sirilia? HAHAHAHA), e sugestões interessantes sobre o que está rolando nos bastidores da Primeira Guerra Bruxa. Já, já esse clima "Malhação" fica menos acentuado e vira algo mais... Sério.
Temos também um feitiço que eu criei, com a explicação ao fim do capítulo.
Por último, agradeço a todas as leitoras que comentam, e peço a todos os agora 20 que acompanham essa fanfic dentro do nyah, que sejam gentis e comentem também. Isso realmente faz muita diferença pro ficwriter, não sejam chatos, sejam legais, comentem! =D
Aliás, foi mal pelo capítulo muito grande, mas é realmente cheio de acontecimentos, então espero que passe rápido e vocês se divirtam muito!
Agradecimento especial a Babi Prongs, amiga querida do nyah, que sempre me dá suporte nos meus escritos. Agradeço também a Laurenlinda, querida, e Lari, duas leitoras muito companheiras que pararam aqui pra ler esta minha fanfic novinha e ainda em seu começo.

Logo... Beijos e boa leitura!



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Pelas barbas de Merlin... Grifinórios em peso. Argh.

Ela acabara de entrar no Expresso Hogwarts, carregando seu malão e usando um longo casaco de inverno, de pele branca, falsa, uma imitação de pelo de coelho. Ainda não encontrara seus amigos, e, para sua infelicidade, a corja de idiotas vermelha e dourada estava no meio do corredor.

Inevitavelmente, trombaria com todos os que caminhavam, saindo e entrando em outras cabines, rindo e fazendo o estardalhaço de sempre.

Os anos passam, e nenhum deles amadurece um mínimo... Deve ser mal da Casa. Cordelia pensou, desprezando.

Caminhando discretamente, escolhendo passar pelo canto esquerdo do corredor, foi olhando em frente e desviando dos olhares dos colegas.

Logo, topou com Frank e Alice, o casal mais grudento do sexto ano da escola, que passaram por ela com alguma educação, andando de mãos dadas e dando-lhe passagem, um caminhando na frente do outro para dividir espaço no corredor, mantendo as mãos unidas. Frank era um rapaz tão alto que parecia desengonçado, de cabelos encaracolados e curtos, e chamativos olhos azuis; Alice, uma moça de olhar desafiador, de íris castanhas e longos cabelos negros.

Apesar de lhe darem passagem, nem sequer olharam para seu rosto, dando-lhe tanta atenção quanto a um mosquito. Cordelia retribuiu o tratamento na mesma moeda. Tão polidos... Ela franziu as sobrancelhas com o pensamento irônico.

Após seguir mais em frente, Lia reparou em uma garota morena, de cabelos de comprimento médio e franja no rosto. Sabia quem era, mas não lembrava seu nome no momento. Tinha olhos verdes e em volta do nariz e bochechas sardas, e estava sempre sorrindo. Era do sexto ano da Grifinória, pelo que se lembrava, e jogava no time de quadribol da Casa.

Preocupada com as atitudes descuidadas da menina de franja, tentou desviar da garota, andando em zigue-zague, já que ela parecia rir e andar de costas, prestando atenção em um grupo de garotas que vinha mais adiante.

– Marlene, vai deixar de ser fresca e se inscrever pro time esse ano ou vai continuar fingindo que é uma lady? Metade do colégio já descobriu a verdade! - A garota parecia provocar a amiga, que seguia alguns passos atrás. Cordelia tentou com algum esforço evitar que a garota se atrapalhasse e trombasse de costas contra ela, mas a morena era desajeitada o suficiente para dar um jeito de dar-lhe um encontrão ainda assim.

Trombando ombro contra ombro com a menina do sexto ano, Cordelia, fechou os olhos, se esforçando para não retorcer os lábios de irritação. A garota imediatamente virou-se para ela, e colocou as mãos no rosto, dando uma gargalhada nervosa e sincera.

– Foi mal, querida! Não te vi aí! - A garota segurou delicadamente o ombro de Lia, sorrindo-lhe em desculpas, e ela lhe deu um sorriso amarelo de volta, respondendo-lhe com certa frieza, não gostando de tamanhas intimidades:

– Não foi nada. - Cordelia respondeu, desviando rapidamente o olhar gélido. Logo em seguida, ouviu e pôde reconhecer o grupo de garotas que se aproximava daquele ponto do corredor.

Emmeline, sua retardada! Vem me zoar e não consegue nem andar e falar ao mesmo tempo! - Uma garota loira, de cabelos lisos e compridos, e um tanto alta bradou, sorrindo e xingando a amiga que Cordelia lembrou chamar-se Emmeline Vance - com carinho. Porém, aquela garota Lia reconhecia. Era Marlene McKinnon, uma excelente aluna de Estudo das Runas Antigas, também do sexto ano e da Grifinória. Há muitos anos atrás, quando ambas eram crianças, comparecera as festas que sua mãe dava no castelo do Clã MacLearie para as famílias puro-sangue. Marlene também vinha de uma linhagem de bruxos antiga da Escócia, nascida no mesmo país que Lia, e, aparentemente, era considerada uma das alunas mais bonitas da Grifinória.

– Parem de fazer besteira nos corredores, vocês duas! Escolham logo a cabine, suas tontas. - Cordelia ouviu a garota ao lado da loira alta reclamar, provavelmente a estudante ruiva mais famosa da escola. Lily Evans, a monitora da Grifinória e alma atormentada pela petulância e imbecilidade de James Potter, e, segundo diziam os rumores, a paixão platônica de Severus Snape, seu colega da Sonserina do sexto ano.

– Lily, nem chegamos em Hogwarts ainda e você já está dando ordens? - Uma garota de cabelos encaracolados, loira, de grandes olhos castanhos, levantou uma das sobrancelhas e cruzou os braços, fingindo exasperação. - Seu cargo de monitora subiu à cabeça mesmo! - Era Dorcas Meadowes, e participava do mesmo grupo de estudos de Cordelia, junto com Remus Lupin, ambos estudantes da Grifinória do sexto ano. As amigas sorriram para Lílian, que, derrotada, as ignorou e abriu a porta de um compartimento do trem alguns metros adiante de Cordelia. Deu espaço para que as amigas entrassem, por gentileza.

Quando Cordelia estava enfim atravessando a barreira da Grifinória do trem, sentindo-se grata por estar sendo ignorada por todas, alguém abriu a porta ao seu lado direito, um tanto próxima do compartimento de Lily e das outras.

– Evans! - James Potter, no auge de seu sorriso arrogante e cabelos ridiculamente bagunçados, ajeitou os óculos em um movimento que provavelmente julgava charmoso. - Evans, Meadowes, McKinnon, Vance, tem espaço de sobra nessa cabine. É só não sentarem do lado de Peter que vão ter todo o espaço que quiserem! - O rapaz se levantou, já usando o uniforme da Grifinória, sua gravata torta e com um nó malfeito pendendo pela camisa amassada. Deu um olhar malicioso para Evans, que apenas levantou as sobrancelhas.

– Muito obrigada, Potter, mas não. Eu diria que seu ego já ocupa metade da cabine por si só. - Lily respondeu, virando de costas e fechando a porta da cabine, enquanto suas amigas riam da piada. Até os rapazes que Cordelia já podia imaginar quem eram, dentro da cabine de Potter, uniram-se aos risos das garotas.

– Foi mal, James, mas ela está sempre um passo a frente de você. - Uma voz agora desconfortavelmente conhecida por Cordelia falou, vinda de dentro da cabine. Franzindo as sobrancelhas, e retorcendo os lábios pensativo, como se concatenasse alguma estratégia para novamente tentar cortejar Evans, o rapaz de óculos redondos direcionou os olhos da porta da cabine para onde estava Cordelia.

– Ora, ora... Olha só quem está aqui. - James Potter, com os olhos faiscando de travessura, afastou-se da porta, deixando a visão de Cordelia livre para os que estavam dentro do compartimento. Foi inevitável olhar para dentro por um segundo.

Sirius Black, dono da voz que reconhecera, sentava-se no banco ao lado da porta, o qual James também parecera ocupar, devido ao lugar vazio ao seu lado. Remus Lupin lia o Profeta Diário, parecendo alheio aos amigos, e Peter Pettigrew encarava James como se ansiasse por algo.

– O corredor está muito florido hoje, Sirius! - James brincou, constrangendo Cordelia de propósito, posicionando-se a frente dela para dificultar-lhe a passagem. A garota parou por um segundo, irritada, movendo-se para o outro lado, para afastar-se de James.

– Sabe, MacLearie, você também é bem-vinda na cabine se quiser. Não precisa ficar tão tímida. - O rapaz a provocou, sabendo que aquilo poderia irritá-la.

– Apesar da oferta tentadora, Potter, acho que prefiriria passar a viagem no corredor. - Ela respondeu, debochada, sua voz sibilando, sem sequer encarar o rapaz nos olhos.

– Bom dia, Cora. - Sirius a cumprimentou subitamente, de dentro da cabine, com sua voz arrastada. Ela, irritadíssima pelo uso do apelido íntimo dado-lhe pelas suas irmãs e pelo sorriso largo que aquilo trouxe ao rosto de Potter, olhou-o furiosa.

Estranhamente, o rapaz não portava a expressão debochada, similar a de James, como de costume. Parecia um pouco mais sério, apesar de apresentar um sorriso de canto de lábios, que pareceu se intensificar quando ela o encarou. Sentindo uma espécie de onda esquisita dentro do próprio ventre, ela girou nos calcanhares de imediato, seguindo em frente e evitando trombar contra Potter.

Afastou-se do grupo a passos largos, podendo ouvir uma risada de James e algum comentário sobre sua falta de educação de não responder ao cumprimento de Black. Ajeitou os cabelos, quase batendo os saltos das botas com força no chão, controlando a irritação. Parecia perseguição que, logo no dia de volta à Hogwarts, encontrasse com um grupo de Grifinórios em peso.

E por que tinha de se irritar com um idiota como Potter? Nunca o deixara atingi-la. Não fora a primeira vez que ele a importunara, o passatempo preferido do rapaz era provocar sonserinos, garotas e rapazes. Cordelia, irritada, sentiu que poderia ter algo a ver com outra figura presente naquela maldita cabine.

Terminar com Latrell me deixou maluca? Ela pensou, irritando-se com a hipótese que formulara sem querer, lembrando-se, mais uma vez nervosa, que corria o risco de encontrar em breve com o ex-namorado.

Apertou o passo, e, levando um susto enorme, foi surpreendida com uma porta escancarando-se do seu lado direito.

– Little Lia! - Grace Macbeth e Phyllis McNair, suas amigas do quinto ano da Sonserina, gritaram agudo em uníssono, a saudando, enquanto ela mesma soltou um palavrão em voz baixa, irritada.

– Oh, não! Milady está brava hoje! Nossa princesa celta está aturdida! Deve ter encravado a unha com um feitiço para pintá-las em francesinha! - Phyllis debochou, enquanto Grace, com seu sorriso largo e encantador, meneava a cabeça, e abria os braços, esperando um abraço da amiga. Cordelia, rindo de leve dos gestos teatrais de Phyllis imitando-a com exagero, como se chorasse por uma unha malfeita, abraçou Grace e foi ao encontro de Phillys, que não só a abraçou como fez-lhe cócegas como Lia costumava fazer com Bairbre e Mairéad.

– Escutem! - Grace falou, levantando as mãos, como se tivesse algo muito importante para contar, freando as brincadeiras. - Vocês não têm ideia do que me aconteceu nesse feriado. Foi o melhor ano novo de todos! - Cordelia já imaginava que seria algum assunto relativo a rapazes, pois, apesar de inteligente, Macbeth era um tanto fútil, e lembrava o lado mais superficial de sua mãe, sempre focada em arranjar bons partidos e casamentos.

Grace Macbeth, Phyllis McNair e Cordelia MacLearie eram amigas desde o primeiro ano da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Já se conheciam de tempos passados, sendo também frequentadoras do castelo do Clã MacLearie, e uma espécie de primas adotivas para as irmãzinhas de Lia. As meninas as adoravam, e vice-versa.

Macbeth era filha de uma conhecida modelo bruxa, vencedora por cinco vezes em totalidade do Concurso de Miss Bruxa da Grã-Bretanha. Era muito parecida com a mãe, e seu jeito sorridente e desinibido a lembrava, além da aparência física, um pouco de sua irmãs. Grace, porém, parecia mais frágil, e parecia conquistar a atenção dos homens com sua delicadeza desajeitada. Ela sabia de seu poder, e o usava sempre que bem entendia, apesar de ser uma expert em se fazer de sonsa a respeito. Tinha a pele muito branca, olhos castanhos escuros assim como seus lindos e sedosos cabelos, sardas no rosto e sobrancelhas grossas que apenas acentuavam seu charme, dando-lhe uma aparência bela e única. Era tida como a mais bonita dentre as três, e tinha uma veia feminista que muito agradava Lia. Apesar de muito próximas, percebia que Macbeth sempre tentava competir, mesmo que não demonstrasse abertamente, com Cordelia, quanto a aparência física.

McNair era uma garota menos charmosa, com um jeito mais masculino e personalidade irreverente. Porém, muitos rapazes a consideravam atraente por seu jeito um tanto selvagem de ser. Era extrovertida, debochada e sagaz, astuta como Cordelia e sempre com uma tirada rápida na ponta da língua. Tinha cabelos encaracolados castanhos na altura dos ombros, e olhos verdes.

– Grace, apesar de adorar ouvir você falar - um amigo em comum do grupo falou levemente debochado, no canto da cabine, e Lia finalmente se deu conta de quem era - acho que eu e o Regulus temos novidades mais importantes. - Rabastan Lestrange, um rapaz de nariz comprido, queixo fino e olhos estreitos, com longos cabelos ruivos, tamborilava os dedos em sua varinha, posta acima de seu colo.

Na sua frente, sentado ao lado de Grace, estava Regulus Black, amigo de Lia há alguns bons anos. Também frequentara bastante sua casa, junto ao irmão, quando eram muito, muito novos. Cordelia mal se lembrava dos detalhes, tinha por volta de três anos de idade.

– O que tem pra nos contar, Reg? - Grace perguntou, ignorando a leve grosseria de Rabastan, tocando uma das mãos de Regulus. O rapaz engoliu discretamente em seco, e respondeu o mais rápido que pôde. Cordelia sabia que Grace sabia de seu poder de sedução sobre o rapaz, mas não tinha certeza se já reparara que ele nutria uma paixonite aguda por ela desde o início do ano letivo.

– Eu fui... Cotado. Para a Revolução. - Regulus respondeu, sorrindo um sorriso orgulhoso de canto de lábios. Cordelia, irritada, lembrou-se do quanto ele e o irmão eram parecidos fisicamente, porém Reg era inegavelmente menos atraente. O que não significava que era feio, pelo contrário.

O grupo ficou em silêncio por algum tempo. Grace, Phyllis e Lia se entreolharam, parecendo pensativas, e Rabastan voltou a falar:

– Reg já me garantiu um lugar de honra. Falou muito bem de mim para a prima Bellatrix, que já faz parte do círculo íntimo do Lorde das Trevas, junto com meu irmão Rodolphus, como sabem. - Ele parecia se mostrar, olhando com mais afinco para Grace do que para as outras duas garotas. - Latrell já é um deles, você sabe, não, Lia? - Rabastan voltou-se para ela, que, um tanto surpresa, não pôde evitar abrir levemente os lábios.

– Bem... Eu e Latrell... Terminamos. Antes do Natal. Eu terminei com ele, quero dizer. - Cordelia respondeu, levemente desconcertada, mas mantendo a pose.

– Ora. E ia contar quando aos amigos? - Rabastan falou, brincando, fingindo seduzí-la.

– Tenha um mínimo de sensibilidade, Rabastan! - Phyllis respondeu, sorrindo debochada. - Ela terminou não tem nem um mês. - A garota de cabelos encaracolados o censurou.

– Bem, mas foi ela quem terminou, não? - Lestrange insistiu. - Deveria estar feliz. Sempre achei ele meio pavão demais. - Rabastan desdenhou.

– Na hora de lhe pedir favores não é isso que você diz. - Regulus debochou do amigo, exibindo seu lado interesseiro.

– São tempos hostis! - Rabastan respondeu, sorrindo. - Precisamos reforçar alguns laços de... Amizade.

– E agora que vocês terminaram, será que eu posso conversar com elas? - Grace pediu licença, fazendo biquinho, e Cordelia viu os olhos dos garotos prolongarem-se alguns segundos em seu rosto. Já estava acostumada com aquilo.

Ouvindo a ladainha de Grace com pontuações sarcásticas de Phyllis aqui e ali, a longa viagem até Hogwarts se passou. Regulus e Rabastan, entretanto, cansados dos assuntos fúteis sobre concursos de beleza e magia estética a qual Grace disse ter feito descobertas experimentais durante o feriado, além de ter sido chamada para posar como destaque para o quadro de Lindas Bruxas da Grã-Bretanha do Profeta Diário, passaram a ter rapidamente uma conversa paralela. Phyllis estava prestando atenção totalmente em Grace, mas Cordelia fingia concentrar-se, para escutar o que os amigos diziam.

Ambos conversavam sobre um novo nome dado ao grupo dos que se aliaram ao Lorde das Trevas. Mais desaparecimentos ocorreriam. Havia uma espécie de lista sendo montada, uma lista... De caça, de bruxos a serem perseguidos. E, dentro de Hogwarts, os bruxos da Sonserina, os que se mantivessem fiéis a causa, seriam os primeiros a saber.

Cordelia, sentindo um arrepio intuitivo de mau agouro, lembrou das palavras de sua mãe sobre a Revolução que estava por vir, e que precisavam estar protegidas. A cada nova notícia, comemorada por seus colegas, aquilo parecia ter o efeito oposto em Lia. Deixava-a, apenas, ainda mais apreensiva.

E o pior era pensar que já sabia haver inimigos junto ao Lorde das Trevas... Além de Latrell, haviam outros a temer. Jamais gostara muito de Rabastan, que sempre se mostrara fugidio em momentos de dificuldade. Regulus era um rapaz brilhante e um amigo querido, mas, será que ela realmente o conhecia tanto assim? Será que o que viria a ver, e a praticar... Não o transformaria?

Não o tornaria igual a outros, como... Bellatrix Lestrange?

Sentindo arrepios subirem por sua pele, Cordelia voltou os olhos para a janela, vendo a paisagem escocesa outra vez se delineando perante seus olhos. Já estava anoitecendo, e chegariam em Hogwarts em breve.

Era apenas o dia 3 de janeiro de 1977, e o ano mal tinha realmente começado. Aquele seria seu ano dos N.O.M.s, e, pelo visto, o ano no qual as estruturas políticas da Grã-Bretanha bruxa seriam abaladas. Nada mais seria como antes, era o que todos os revolucionários prometiam. O Lorde das Trevas ganhava mais e mais força, e não havia mais como fugir: teria de tomar uma posição.

Assim que a guerra chegasse, teria de saber muito bem em qual lado gostaria de estar.

***

As semanas do início das aulas se passaram rapidamente, e Cordelia pôde se distrair com as aulas e o estudo intenso deste ano dos exames dos níveis ordinários em magia. Tinha aulas cansativas, que exigiam muito de todos os alunos, mas conseguira manter seu bom nível de aplicação.

Em uma noite do final de janeiro, quando Lia se despedira das amigas depois do jantar, recebendo um "juízo, hein" de piada proferido por Lis - a maneira carinhosa como se referia a Phyllis -, e saíra do Salão Principal para encaminhar-se para os limites da Floresta Proibida, onde auxiliava o professor Kettleburn nas noites de quinta-feira. Era a monitora de Trato das Criaturas Mágicas, o que garantia pontos extras em suas notas, assim como para sua Casa. Suas tarefas incluíam auxiliar os alunos com dúvidas e dificuldades, e cuidar dos animais, assim como estudá-los e assistí-los fora dos horários das aulas.

Quando aproximava-se das portas principais, foi saudada pelo Professor Slughorn, que parecia caminhar em direção às masmorras. Deu-lhe um boa noite educado, enquanto o Barão Sangrento pairou pelo ar, surgindo de uma das paredes perto. Tirou seu chapéu em reverência à menina, que o saudou cordialmente também.

– Senhorita MacLearie, será que posso incomodá-la nesta hora tardia? Poderia me fazer o favor de me acompanhar até a sala de poções? - O professor de poções e diretor de sua Casa pediu educadamente, de seu jeito pomposo.

Cordelia assentiu, e seguiu o professor. Ele parecia levemente apressado e um pouco constrangido, como se estivesse fazendo algo que não era de seu agrado.

– Espero que não se incomode muito com o que vou pedir. O professor Kettleburn me avisou que está de repouso devido a um encontro infeliz neste final de semana com uma manticora. Sente-se forte o suficiente para dar aulas, como pôde ver essa semana, mas evitará as tarefas extras por recomendação de saúde. - Slughorn lhe explicou. Lia desconfiara do estado de saúde ainda mais agravado do professor, que já tinha uma aparência um tanto desagradável devido a cortes e machucados pelo contato com algumas criaturas mágicas não muito simpáticas.

– Farei o meu melhor para ajudá-lo, professor. - Cordelia respondeu, polida e solícita.

– Cordelia, por favor. - Slughorn voltou-se para ela, já descendo os últimos degraus para as masmorras. - Chame-me ao menos de Slughorn. - Ele disse, brincalhão. Cordelia simpatizava com o professor, apesar de jamais ficar inteiramente à vontade em sua companhia. Sabia que ele sempre julgava os alunos pelas suas mínimas atitudes, e os tinha em estima diferente dependendo quase sempre do seu desempenho... Mágico. Seu carinho não era lá muito sincero.

Assim, sorriu-lhe de volta, fingindo-lhe plena simpatia.

– Permita-me que eu entre primeiro. Preciso falar com alguns alunos que aqui estão. Não me demorarei muito. - O professor disse, pedindo desculpas pela deselegância.

Cordelia assentiu, discreta, e esperou o professor fechar a porta para escutar com os ouvidos colados na madeira grossa. Quando finalmente entendeu com quem ele conversava, seu estômago revirou múltiplas vezes diferentes.

– ...Chegando atrasados em todas as aulas, atormentando a vida do pobre coitado do Severus, não acham que estão um pouco velhos para isso? Mcgonagall me passou a tarefa de dar-lhes detenção, e sabem muito bem que gosto menos disso do que vocês. - O professor Slughorn parecia conversar com alunos muito queridos.

– Tenha certeza, professor, gostamos muito menos disso do que você. - Uma voz masculina arrogante e conhecida respondeu, e Cordelia sentiu seu chão fugir. Ligou os pontos, e rapidamente compreendeu o que o professor pretendia.

Porém, muito antes que pudesse sequer tentar se esconder, o professor Slughorn abriu a porta das masmorras, gentilmente, para que a garota entrasse. Sentindo que seu rosto perdera a pouca cor que tinha, ela entrou, passo atrás de passo.

O que eu fiz para merecer isso?

– Sente-se, querida. - Slughorn disse carinhosamente. Cordelia sentou na única cadeira vaga, ao lado de James Potter. Na cadeira mais à esquerda sentava-se seu melhor amigo, como não poderia deixar de estar ali... Sirius Black.

– Assim sendo, terminaremos este assunto logo de uma vez. - Slughorn revirou os olhos, dando uma risadinha, como se se divertisse com as atitudes estúpidas dos dois garotos, agindo de maneira muito anti-profissional. - James, devo lhe dizer que Filch me implorou para lhe dar a detenção desta vez. Tem mais fãs nesta escola do que imaginava! - O professor brincou, e os dois riram. Puxa-sacos. Cordelia pensou, irritada.

– Qual é minha sentença, professor? - James Potter perguntou, sorrindo e dando um boa noite sonoro para Cordelia, que não teve outra escolha a não ser respondê-lo com alguma simpatia, estando perante o professor e diretor da Sonserina.

– Limpar os corredores do sexto andar, todas as quintas-feiras de noite, depois do jantar, até abril, e sem magia. Começando a contar o prazo a partir de hoje. - Slughorn disse a contragosto, como se achasse aquilo exagerado. Cordelia até riria, se aquilo não significasse o que temia desde o começo.

– Quanto a você, Sirius. - Slughorn sorriu para o outro aluno, que também saudou Cordelia. Ela o respondeu, se recusando a encará-lo, e sentiu-se aliviada por ver que pelo menos ele não a tratara por Cora em frente ao professor. - Terá uma detenção mais agradável. Se eu pudesse escolher a de James, também não seria tão ruim. - O professor deu uma piscadela cúmplice para o aluno, e Cordelia sentiu vontade de revirar os olhos.

– Será que tem algo a ver com a Senhorita MacLearie, professor? - Black perguntou, no auge de seu cinismo, fingindo inocência. Cordelia sentiu suas orelhas ficarem quentes, pela cara-de-pau do garoto.

– Conversando essa semana com o professor Kettleburn, ele me informou que teria de arranjar um auxiliar para a aluna de minha Casa durante seu trabalho como monitora, todas as quintas-feiras, à noite, após o jantar. Cordelia fica em torno de duas horas e meia acompanhando algumas espécies de animais criadas dentro do castelo, estudando seu comportamento, cuidando de seu desenvolvimento e atividades similares. As criaturas mágicas são fascinantes, tenho certeza que irá se encantar por tal ramo de estudo, como nossa brilhante colega. - Slughorn sorriu para Cordelia, que sorriu para ele também, controlando-se para não se irritar com a piada gratuita que ele fornecera aos rapazes, os quais sabia que aproveitariam a chance.

– Sem dúvidas. Criaturas fascinantes. - Sirius encarou Cordelia como se ela fosse uma criatura mágica referida a ser estudada, e ela teve de se controlar para não azará-lo. James parecia controlar o próprio riso.

– Então, vocês dois, podem ir. - Slughorn fez um sinal para liberá-los, com a mão, dando-lhes um aceno depois com a mesma mão de boa noite. - Acompanharei James até a companhia de Filch. - James Potter voltou-se para Sirius Black, seu olhar parecendo falar telepaticamente com o amigo. Cordelia deu as costas aos dois, após cumprimentar o professor, e saiu usando do máximo de auto-controle que tinha para não bater os pés no chão.

Quando enfim saíram do castelo para os jardins, não nevava, mas fazia frio considerável. Cordelia levantou a varinha, circulou o próprio corpo e proferiu, irritada:

– Foverum*. A garota proferiu o feitiço para se esquentar, ignorando se Black estaria com frio ou não.

– Bela noite, não, Cora? - Black perguntou, sonsamente, depois de fazer o mesmo feitiço para se aquecer também e dizer lumus para conjurar o feitiço que permitiria iluminar o caminho. Ambos vestiam as capas por cima de seus uniformes, permitindo antever apenas os bordados da Sonserina e Grifinória, assim como suas gravatas listradas em vermelho e ouro e verde e prata. - Dia em que alguns tipos da sua Casa chamariam os amigos para sequestrar nascidos trouxa e torturá-los à luz do luar? - O rapaz disse com ironia, a provocando à menção de Mulciber, Travers e Snape, que se envolveram com o teste de maldições das trevas em alunos da Lufa-Lufa considerados sangue-ruim.

– Diferentemente dos membros da sua Casa, Black - Cordelia respondeu, sem olhar para trás - não entramos na Sonserina por sermos todos iguais. - Ela respondeu, com o orgulho que tinha de pertencer a uma Casa responsável por grandes feitos no mundo da magia. Ainda que nem todos fossem, de fato, positivos.

– Certamente, tem toda razão. São muito diferentes. - A voz do rapaz pareceu ficar mais debochada. - Alguns são apenas oportunistas, outros viram baba-ovos de bruxo das trevas, e alguns, vejam só, viram líderes de Revoluções genocidas e fascistas. - Sirius Black alfinetou-a, jogando na sua cara o fato do Lorde das Trevas ser um bruxo da Sonserina.

Naquela altura, já haviam passado a cabana de Hagrid e estavam nos limites da Floresta Proibida. Naquela noite, Cordelia alimentaria e anotaria as últimas peculiaridades dos Testrálios, e estava pronta para responder a provocação de Black, quando ouviu um som de um lamento tristíssimo partir seu coração.

Um animal em especial estava ferido dentro da Floresta Proibida, e ela pôde escutar seu chamado de ajuda.

– Você escutou isso? - Ela perguntou retoricamente, finalmente olhando para seu rosto, sabendo que muito provavelmente Black não teria escutado.

– Do que está falando? - Sirius Black franzia as sobrancelhas, seus cabelos caídos displicentemente emoldurando seu rosto à luz do luar. Parecia achar que ela estava se comportando estranhamente.

– Fique aqui. Não saia daqui! Não vou demorar. - Cordelia ordenou, e saiu em disparada para dentro da Floresta Proibida.

Não precisava de luz para enxergar o caminho. Seus instintos, aflorando pelo contato íntimo com a natureza, estando cercada pelo Lago Negro, pela Floresta Proibida e por todas as criaturas mágicas noturnas, a guiavam sem dificuldade alguma. Conseguia ouvir o som lamurioso do animal muito claro e límpido em seus ouvidos, e sentia a urgência de encontrá-lo logo. Parecia estar por um fio.

Pulava por galhos, desviava de árvores tocando-lhes com delicadeza com suas mãos, sua capa e saias rasgando aqui e ali em alguns ramos e espinhos, mas tinha agilidade o suficiente para mover-se com destreza e rapidez. Mal fazia barulho, ficando revoltada com a voz de Black, bem mais atrás, gritando seu apelido que suas irmãs lhe deram, e importunando a floresta escura com a luz antinatural da varinha.

Após estar bem fundo dentro da mata, adentrando o coração da Floresta Proibida, ela o viu.

Um lindo unicórnio, prateado em sua luz etérea, de sonho, como uma criatura idílica de tempos muito ancestrais, estava deitado na frente de um pequeno córrego, debatendo-se, fraco, semi-morto. Cordelia sentiu lágrimas subirem aos olhos, sentindo imediata simpatia com a dor do animal.

Ela aproximou-se dele, sabendo o que tinha de fazer. Os doces olhos do unicórnio logo se dirigiram ao seu rosto, e se focaram nos dela. Sem dizer palavra, Lia se aproximou, e tocou em sua crina, a acariciando gentil, pedindo licença para se aproximar e ajudá-lo. O animal assim consentiu, olhando para o córrego à frente.

Cordelia sentou-se ao seu lado, e percebeu a movimentação de Black, enfim se aproximando. O unicórnio pareceu se assustar, movimentando-se bruscamente, mas ela o acalmou, tocando em seu torso com delicadeza, sentindo raiva de Sirius Black por atrapalhar o pobre bicho.

– "Seja curado... Seja livre... Seja saudável." - Cordelia entoou o cântico em gaélico para curar o unicórnio ferido, cantando suavemente, retirando água com as mãos em concha do córrego ao lado, derramando em cima das feridas da bondosa criatura. Tocava-as com as palmas, e, pouco a pouco, foram cicatrizando, como se jamais tivessem sido feitas, com uma luz azulada brilhante formando-se acima dos machucados. A cada vez que Lia os tocava, ia os recuperando com doçura. Agia como se acariciasse uma criança assustada, cantando-lhe uma canção de ninar, fazendo-lhe confortável com delicadeza.

Em pouco tempo, ele se levantou nas quatro patas, sacudindo com elegância a poça de sangue prateado ao seu redor. Cordelia tinha as roupas sujas de sangue do unicórnio e molhadas pela água do córrego, mas continuou olhando para a fascinante e benéfica criatura à sua frente. Levantou-se também, e curvou-se para o animal, que, em retribuição, encostrou o focinho em uma de suas bochechas, pedindo-lhe carinho.

Rindo, Cordelia o acariciou, até que o próprio animal pareceu acenar-lhe com a cabeça em despedida, galopando para as fronteiras da Floresta Proibida.

Quando o animal sumiu da visão dos dois jovens, Sirius Black voltou-se para Cordelia, seu rosto mostrando sincera perplexidade e assombro.

– Como fez isso, MacLearie? Que língua era essa que estava falando? - Black perguntou, parecendo realmente fascinado.

– Gaélico antigo. Sou fluente. - Cordelia respondeu, levantando uma sobrancelha, e fingindo se aproximar do rapaz.

– Tenho de admitir que fiquei sem palavras. - O jovem falou, certo interesse perceptivelmente faiscando em seus olhos castanhos. - Mais do que quando te vi dançando, Cora. - Subitamente o rapaz voltou à mesma postura debochada e provocativa de sempre.

Irritada, Cordelia franziu os lábios e saiu em disparada para fora da Floresta Proibida, para puní-lo, sem usar a varinha para iluminar seus passos, outra vez. Guiaria-se pelo seu aflorado instinto celta, e sabia que daria certo.

Alguns minutos depois, ela já estava na companhia dos testrálios, criaturas equinas porém magras, parecendo famintas, tirando da bolsa que usava para as atividades de Trato das Criaturas Mágicas a carne crua com a qual os alimentaria. Passados alguns minutos, parecendo consideravelmente sujo, suado e irritado, Black saía das fronteiras da Floresta Proibida, grunhindo para ela.

– Sabe, pelo que eu pude perceber, a porra de um unicórnio acabou de ser atacado. - Sirius Black rosnou - e você, saltitante que nem uma fada celta, inteligentemente se mete no meio desse matagal sem usar nem um feitiço de iluminação. - Ele sacudiu os cabelos com charme inegável, antes jogados ao rosto, para liberar a visão dos olhos.

– Eu não preciso disso. - Cordelia respondeu, arrogante. - Diferentemente de você, me garanto nessa Floresta. - Ela respondeu petulante, jogando as carnes para os testrálios, que se aproximavam tímidos dos dois.

– Você realmente julga que eu não? - Sirius Black disse, convencido, como se ela sequer pudesse imaginar suas capacidades. Por alguma razão, sentiu suas orelhas aquecerem-se, mas não por raiva. - Eu e você somos aparentemente mais parecidos do que eu imaginava, Cora. O que é a vida sem algum risco? - Black respondeu aproximando-se dela, seus olhos castanhos exalando malícia.

– Quer dizer que nem todo sonserino é igual ao outro? - Ela perguntou, provocando de volta.

– Bem... Se isso foi magia das trevas, então Snivellus é o cara mais comedor da escola. - Sirius Black falou abruptamente, para responder de maneira cômica, e Cordelia não pôde segurar o próprio riso, mesmo que fosse um comentário contra um colega da Casa. Black levantou as sobrancelhas e arregalou os olhos, para depois estreitá-los.

– Quem diria... É da Sonserina e sabe até sorrir! - Ele respondeu com sarcasmo. - Somos realmente mais parecidos do que eu imaginava. - Black se aproximou desconfortavelmente, curvando o rosto em direção a ela. Cordelia recuou, já não mais sorrindo.

– Não temos muito em comum, sinto desapontá-lo. - Lia respondeu, com sarcasmo, aproximando-se dos testrálios, tocando as costas de um deles. Black a seguiu, parecendo se divertir em deixá-la desconfortável.

– Ah, Cora... Vai regular agora? - Ele deu mais alguns passos em sua direção. - Vai tentar disfarçar esse seu lado selvagem? - Sirius Black a rodeava, e Cordelia se voltou de costas para os testrálios, pensando outra vez em azará-lo. O rapaz tinha um sorriso malicioso e convencido em seu rosto, como se julgasse que ela não queria realmente recuar. Por alguma razão irritante, aquilo lhe soava muito, muito atraente.

Tentando decidir o que fazer, ela reparou em um dos testrálios, movimentando-se para o lado esquerdo, bloqueando a passagem do rapaz, que, porém, avançou como se não o enxergasse. Cordelia teve apenas tempo de levantar as sobrancelhas, e Black, andando como se fosse uma espécie de macho alfa em sua direção, trombou contra o testrálio, que o escoiceou no peito e o atirou para longe, furioso.

Cordelia sentiu lágrimas subirem aos olhos de tanto rir. Black encarava todas as direções, como se não entendesse o que acabara de acontecer.

– Como... Eu levei um coice? Mas que porra é essa? - Sirius Black levantou-se, praguejando, levantando a varinha. Os testrálios o encararam, em posição de defesa.

– Abaixe a varinha. Vai irritá-los ainda mais. - Cordelia o alertou, ainda controlando as próprias risadas. Alguma justiça foi feita hoje. Pensou, divertida, enquanto acariciava recompensadoramente o testrálio que atacou Black.

– Irritar quem? - Black a encarou como se Lia tivesse enlouquecido.

– Os testrálios. Os animais que puxam as carruagens que nos levam e trazem de Hogsmeade. - Ela o elucidou, sorrindo pelo coice. - Pelo visto, você não consegue vê-los. - Ela levantou uma sobrancelha, fingindo desprezo.

– E você consegue? É alguma coisa de fada celta, ou de loira maluca mesmo? - Black perguntou, debochando da garota. Cordelia fechou a expressão, e virou-se de costas para ele.

– Pode não ver, mas não significa que não pode senti-los. Como bem sentiu esse coice. - Cordelia debochou, rindo outra vez.

– Olha ela, se achando a engraçadinha... - Sirius Black meneou a cabeça, suspirando, como se a garota tivesse muito o que aprender. - Ele se aproximou outra vez, olhando a mão de Cordelia que acariciava o torso de um dos testrálios. - Será que agora eles permitirão que eu chegue perto de Vossa Majestade? - Black debochou.

– Eu posso sugerir a eles que te deem outro coice. - Black a encarou rapidamente, parecendo preocupado, mas logo percebeu que ela apenas debochara. Deu um sorriso de canto dos lábios, levando as mãos para tocar onde seria rosto do testrálio. O rapaz, arregalando os olhos e soltando uma exclamação de agradável surpresa, tocou no rosto do equino, que fechou os olhos, agradecido pelo carinho. Pareceu gostar de Black. Sempre tem uma ovelha negra do bando.

– Acho que eu ouvi ele fazer algum barulho. - Sirius Black disse, parecendo interessado.

– Foi. - Cordelia encarou o testrálio, que parecia se refestelar com o carinho. - Ele está gostando, estou vendo pela expressão dele. - A garota loira sorriu para o animal simpático.

– Só ele? - Black disse, e, subitamente, pousou a mão que acariciava o rosto do testrálio em cima da mão de Cordelia. A garota a mantinha tocando o torso do animal, e o rapaz passou a apertá-la com delicadeza firme. Ela sentiu a temperatura daquela parte de seu corpo subir alguns graus, apesar do frio da noite. Instintivamente, recuou a mão, e encarou Sirius Black.

O rapaz a olhava com o mesmo sorriso de canto de lábios, e moveu o rosto levemente para a direita, seus olhos estreitados e enegrecidos em uma expressão de pura malícia, com uma intensidade que ela ainda não havia testemunhado. Não parou de olhar fundo em seus olhos nem uma vez.

Cordelia sentiu seu coração palpitar, e recuou um passo, tropeçando em um galho que não vira, o que não era de seu feitio, tendo sempre boa coordenação motora.

– Cuidado, tem um testrálio vindo na sua direção! - Lia apontou bobamente, tentando distrair o rapaz, sentindo-se idiotamente atrapalhada.

– Tem? - Black perguntou com sua voz irritantemente sedutora e arrastada, logicamente não lhe dando crédito, e avançava devagar para ainda mais perto dela. Parecia se divertir com sua falta de reação, e ela sabia que brincava de seduzí-la pelo puro prazer da provocação, como costumava fazer com todas as outras garotas da escola.

Mas era inegável que o olhar decidido e intenso em seu rosto quase a deixava sem ação.

Sem saber o que fazer, Cordelia levantou a varinha. Não proferiu feitiço algum, apenas a usou como barreira para a aproximação de Black. Ele parou de andar, olhou da varinha para ela, e deu uma risada sem som.

– Você é mais divertida do que eu imaginava, te concedo essa, MacLearie. - Sirius Black disse arrogante, deixando claro o quanto se divertia em deixá-la sem reação.

– A detenção acabou por hoje, Black. - Cordelia disse, fria, irritada consigo mesma. Pôs-se a caminhar em direção ao castelo a passos largos. Empunhou a varinha, disse "lumus" e iluminou o caminho, por via das dúvidas.

– O que aconteceu com a conversa de antes, Cora? Está se sentindo ameaçada? - Black disse, soltando sua inconveniência para cima dela.

– Às vezes é melhor se precaver. - Ela respondeu, fria, sem o encarar. Podia imaginar seu maldito sorriso enviesado em resposta.

Passado algum tempo, subiram algumas colinas, circundando partes do Lago Negro e contornando o Salgueiro Lutador, e enfim passaram pelas portas principais do castelo. Black mantivera-se em silêncio, e Cordelia volta e meia olhava de esguelha para trás, pensando no que ele poderia estar aprontando. A cada vez que o encarava, desconfiada, ele sorria anda mais.

Já muito irritada, decidida a seguir caminho para as masmorras, Cordelia, quase a ponto de azará-lo outra vez, reparou que Black ainda não arredara pé.

– O que mais você quer?! - Ela exclamou, irritada. Black meneou a cabeça, fazendo um barulho de estalo com os lábios, franzindo as sobrancelhas.

– Péssima pergunta. - Seus olhos se estreitaram outra vez na mesma expressão ardente de minutos atrás, e ela recuou mais uma vez.

– Pode sossegar, Cora. Só vou fazer sua segurança até sua sala comunal. - Black respondeu, divertido.

– E por qual razão eu precisaria de uma escolta? - Ela perguntou, indignada.

– Talvez porque tenha um assassino de unicórnios à solta por aí, e quem sabe ele também não curta atacar loirinhas metidas à fada. - Black respondeu, fingindo seriedade com uma atuação impecável.

– Ah, puta que pariu! - Cordelia respondeu, perdendo a compostura, virando-lhe as costas. Ouviu a risada de Sirius Black ecoar pelo corredor, enquanto descia as escadas que levariam até as masmorras. Sabia que ele a seguia, mas se recusou a olhar para trás.

Ao finalmente chegar a parede que escondia a entrada secreta para a Sala Comunal da Sonserina, ela olhou de esguelha para Black que, estranhamente, parara ao lado da entrada, como se soubesse que era realmente ali.

– Boa noite, Cora. Sonhe com os anjos. - Antes que pudesse responder-lhe com alguma ofensa, Black puxou sua mão esquerda e a beijou, olhando em seus olhos enquanto o fazia. Cordelia, surpreendida, não reagiu.

Apenas aguentou ondas e ondas de calor subirem por seu ventre, enquanto sentiu suas orelhas arderem em brasas.

– E depois... - Black já estava na altura das escadas. - ...Me conte como eu fico de asas! - Ele terminou a cantada de péssimo gosto, sua capa da Grifinória esvoaçando degraus acima.

Um completo idiota... Cordelia falou a senha, e entrou na Sala Comunal, suspirando pelo que ela torcia ser apenas raiva. Tinha um sorriso bobo no rosto, pois realmente achara a porcaria da cantada divertida, mas jamais deixaria que soubesse disso.

Pensando em como suportaria aturar Black por todas as quintas-feiras à noite até três meses em diante, ela sequer viu quem estava ali lhe esperando.

– Boa noite, Lia. Espero que esteja se comportando bem. - Uma voz conhecida disse, vinda da janela que dava para o lago do colégio, soando fria e sibilante em meio a Sala Comunal solitária.

Latrell Graeme a olhava, parecendo estudá-la detalhadamente, como se tivesse adivinhado seus pensamentos e o que se sucedera naquela noite. Seus olhos castanhos espertos brilhavam à luz esverdeada da Sala Comunal, seu distintivo de monitor fulgurante. Latrell sorriu, e Cordelia segurou a respiração.





Sirius e Cora para shipparem, ehheheheehehehe!


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Notas finais do capítulo

*Foverum, do latim fovere, aquecer. Hehehehehheeh!
Aguardo comentários porque esse capítulo foi bem caprichado!



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