Always With Me escrita por Menta


Capítulo 29
Young Hearts and Who Inspires Them


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, minhas leitoras e leitores lindas e lindos!
Minha gente, eu não vou nem tentar pedir desculpas por todo esse chá de sumiço. Vocês sabem que eu tenho uma vida muito atarefada e um tempo curto reservado para a escrita, que divido entre diversas histórias ainda não finalizadas. Eu dependo muito de inspiração e o momento mágico em que ela aparece, e, no caso, posso dizer pra vocês que esse capítulo foi bem influenciado por ter assistido Fantastic Beasts (mas que filme maravilhosamente lindo s2). Eu via o Newt e não tive como não imaginar a Cora extasiada pela dedicação dele pelas criaturas mágicas uhauhsuhshe! Ela com certeza seria fangirl absurda dele, por isso esse capítulo saiu agora. Temos interações Bairbre x Cordelia, porque eu estava com saudades de colocar também essa minha querida protagonista interagindo com suas irmãzinhas. Mas não se preocupem que o próximo tem Sirilia, para quem estava sentindo falta. E eu devo escrevê-lo e postá-lo na semana que vem, já tenho o roteiro dele pronto, então com certeza não vai demorar. Será outro POV da Cordelia hahahaha!
Dedico este capítulo a todas as comentaristas do capítulo 28: Caroline Halliwell Black, Aurora, Pudim Valdez, Shalashaska, Larizg, Arrriba, Winter, Layla Glêz, Nighty, Anna L, Mah Black, Kanon, NathyMarinho, La Black e wendypillow. Muito obrigada por me deixarem saber o que estão achando da fanfic, suas lindas!
Deixemos, então, que a magia flua entre nós todas. :)
Beijos e boa leitura!



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A garota respirou fundo, mas mal conseguia controlar sua excitação. Suas pernas tremelicavam, os joelhos se movendo para frente e para trás. As palmas suavam, a ansiedade e expectativa correndo soltas pelo seu corpo como um encantamento fluido e constante.

Com um sorriso bobo na cara, Cordelia MacLearie piscava os olhos mal contendo sua empolgação. Queria fechar os olhos e soltar um gritinho agudo, eufórica.

Naquele domingo de Páscoa, retornara da temporada passada na casa de Grace para comemorar a data festiva com as irmãs e sua mãe. Contrariando os planos anteriores, a garota loira achou melhor deixar a casa da amiga naquela data, pois a mãe de Macbeth piorara de saúde, exigindo um cuidado maior de parte de sua família. Lia se ofereceu para ajudar a amiga, que apenas refutou lhe dizendo que ficaria bem sozinha com Colette, sua avó.

Cordelia conhecia Grace há anos. Compreendia que a grande amiga se sentia melhor lidando com a doença de sua mãe da forma que sempre fizera. Guardando-a para si, em sua intimidade. Respeitando a escolha da melhor amiga, a bruxa celta anuiu e avisou sua mãe mandando-lhe uma coruja perto do final de semana.

Já era tarde de domingo, e o Beco Diagonal fervilhava de pessoas. Fortemente protegido por conta de um atentado dos Comensais ocorrido na madrugada passada em uma área trouxa de Londres, ainda assim muitos bruxos andejavam de um lado ao outro por conta de dois grandes eventos que ocorreriam naquela tarde naquele centro comercial. O lançamento de um novo modelo moderno de vassoura, apenas usado pela seleção da Inglaterra de quadribol, agora passível de ser adquirido pelos bruxos não atletas.

E o acontecimento que Cordelia julgou que perderia ao passar o feriado na casa de Grace.

A bruxa de origem celta estava, naquele momento, parada em uma fila comprida na livraria Floreios e Borrões. Sua irmã Bairbre estava ao seu lado. Sua mãe, Guinevere, e sua irmã mais nova, Mairéad, decidiram ficar no castelo do Clã, pela preocupação da matriarca com os últimos acontecimentos. Cordelia quase não conseguira convencer a mãe a deixa-la ir. Apenas por ter prometido voltar e ser deixada no Beco na companhia de seu tio Desmond, que fora visita-las, Guinevere permitira aquele curto passeio. Lia e sua irmã do meio teriam de estar de volta no máximo às dezenove horas.

Desmond estava praticando a arte que mais gostava no Caldeirão Furado: a apreciação de whiskeys de fogo, na companhia de alguns amigos. Cordelia, depois de conseguir o que almejava naquela fila enorme, levaria Bairbre para o lançamento da vassoura e compraria um exemplar para a irmã.

Mas antes disso... Ela conheceria ele.

Cordelia MacLearie mal conteve um suspiro de adoração reverente. Sua irmã, ao seu lado, bocejou sem cobrir a boca.

Lia deu uma bronca discreta na garota mais nova, exigindo que tivesse modos. Bairbre revirou os olhos, mas não discordou. A garota loira passou os olhos pelas estantes antigas da livraria, coçando de leve a cabeça.

A Floreios e Borrões estava em polvorosa. Muitas pessoas se aglomeravam na fila que já seguia para fora do estabelecimento, contornando a esquina. O burburinho animado tomava conta da loja, e muitos aficionados por um tema que Cordelia muito apreciava, amava, até, conversavam entre si, muito alegres pela chance daquele encontro.

A loira celta abraçou seus dois exemplares literários, fechando os olhos e quase suspirando outra vez. Estava a ponto de dar pulinhos deliciados.

Lia olhou o tomo recente que havia acabado de comprar e aguardava na fila para ser autografado. Além do lançamento da vassoura a qual a bruxa loira sequer se lembrava o nome, aquela Páscoa traria o lançamento de algo muito mais importante: o livro “No Coração Selvagem”, de autoria do bruxo que Cordelia MacLearie mais admirava em todo o mundo, relatando suas aventuras em terras distantes e outras descrições pessoais ao longo de sua vida cheia de experiências mesmerizantes, de grande interesse para a jovem loira.

O escritor de tal livro fora sua primeira paixão platônica, aos oito anos de idade, quando lera “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e vira sua foto, na época ainda jovem, na orelha do livro. Foi impossível não se encantar totalmente pelo bruxo que mais fizera bem para os animais e criaturas mágicas na história do século XX.

E, naquele domingo, Newt Scamander em pessoa estava ali, a poucos passos de distância das duas bruxas celtas da família Gilios. E ela logo o conheceria. Conversaria com ele.

Por Merlin, acho que eu vou desmaiar. Pensou, fanática.

— Cora, por favor, ele é só um bruxo velho de oitenta anos — Bairbre resmungou ao seu lado, as feições parecendo cansadas por ficar em pé por horas na fila.

 — Quieta! — ralhou, franzindo as sobrancelhas para a irmã. — Ele é o magizoologista mais visionário, mais famoso e bem sucedido do mundo — Lia quase suspirou. A garota mais nova ergueu o cenho em uma expressão desaprovadora, meneando o rosto de leve. Cordelia abriu seu exemplar de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, edição de colecionador, raríssima. Olhou a foto antiga em preto e branco de um Newt Scamander de trinta anos de idade, sorridente, com um tronquilho em suas mãos. Olhava para o animal com carinho evidente em seus olhos. Lia se deixou admirar o rosto sardento e doce do bruxo, um sorriso tímido em seu rosto enquanto o fazia.

— Ele já era esquisito e feiosinho nessa idade, hoje em dia deve parecer o Leprie — Bairbre mencionou o elfo doméstico e amigo das irmãs MacLearie.

— Cale a boca, Bairbre — murmurou Lia, contrariada. Nunca acharia Newt feio. O que fizera pelas criaturas mágicas de todo o mundo fizera Cordelia o considerar o bruxo mais apaixonante de seu tempo.

— Além do mais, ele é casado, se controle — relembrou a irmã de Lia. A garota loira franziu os lábios, irritada com a sugestão. E, jamais admitiria, levemente triste por se recordar de que ele era tão fora de alcance.

— Bairbre, se você não parar de falar bobagens, não vou te levar para comprar sua vassoura — ameaçou aos sussurros, enquanto a fila avançava.

— Mas você prometeu! — a irmã falou alto, e Cordelia fez um “shh”, levando um indicador aos lábios.

— Prometi se você se comportasse — Lia começou, mas logo se interrompeu. — Ah, por Merlin, já dá para vê-lo daqui! — A garota loira apertou os dois livros contra o peito, engasgando com o ar, abraçando os exemplares literários. Sentiu os olhos umedecerem emocionados.

Sentado um tanto encurvado em uma ampla mesa cheia de exemplares de “No Coração Selvagem”, Newt Scamander sorria para um leitor que conversava animado consigo. Com o mesmo jeito simpático, tímido e meigo que parecia ter nas inúmeras fotos de juventude que Cordelia tinha guardadas do bruxo. Scamander já tinha oitenta anos de idade, seus cabelos no mesmo corte da juventude um pouco rareados perto da testa, grisalhos, as sardas ainda mais pronunciadas em seu rosto. Aparentava ter vinte anos a menos, talvez por sua personalidade jovial e pela vida sempre ativa que levara. Ainda que mesmo assim tivesse uma aparência idosa, Lia não se importava. Se sentia como uma groupie, extasiada para conhecer seu maior ídolo tão de perto.

— Ai... — Cordelia não se conteve, suspirando, fazendo Bairbre soltar uma risadinha debochada. A irmã mais velha deu uma cotovelada discreta na mais jovem, que fechou o rosto para ela.

Demorou mais meia hora para serem atendidas pelo famoso bruxo, vestido com um casaco comprido azul. Bairbre troçou da irmã, sendo repreendida várias vezes, e Cordelia se sentia a ponto de desfalecer de tanta expectativa e contentamento simultâneos. Sentiu que seu coração quase parou quando o segurança da loja permitiu que ela e Bairbre avançassem juntas até a mesa.

— Boa tarde! — Newt disse em um tom igualmente acanhado e gentil. Eu não estou acreditando.

Cordelia quis abrir a boca para falar, mas Bairbre reagiu antes. Levou seu livro recém-comprado de “No Coração Selvagem” até o autor, lhe saudando em retorno com despojamento. Lia sempre se surpreendia com a confiança e a extroversão da irmã do meio.

— Qual é o seu nome, senhorita...? — perguntou Scamander com polidez, munindo-se da pena com a qual assinaria o livro naquela tarde de autógrafos.

— Bairbre Gilios MacLearie. Nós duas somos bruxas celtas. — Ela indicou a si mesma e Cordelia, que piscou nervosa. Suas mãos suavam em bicas, e ela se esforçava para respirar de maneira ritmada.

— Gilios! É de um Clã matriarcal, não? — indagou Newt, sorrindo, ajeitando a gravata borboleta que usava. Olhou de Bairbre para Cordelia. Ela sentiu seus joelhos bambearem. Bairbre fitou a irmã, comprimindo um sorriso zombeteiro pela reação exagerada.

— S-s-sim — gaguejou Cordelia, a voz falhando. Sentiu-se estúpida de imediato. Suas orelhas ruborizaram, o sangue fluindo quente até aquela região de seu corpo.

— Nós somos do norte da Escócia, moramos em uma área afastada, rodeada de florestas — contou Bairbre, tão desinibida como se Newt Scamander não passasse de um amigo de sua idade.

— Devem ter visto algum Hinkypunk, então! Criaturas fascinantes, não? — Os olhos de Newt brilharam de entusiasmo. Cordelia abriu um sorriso enorme e tolo.

— Muito — balbuciou em resposta, ainda apertando os livros contra si, os dedos rijos nas capas dos volumes literários. Estava totalmente atordoada.

Newt Scamander terminou de autografar o livro de Bairbre, e a irmã mais nova deu espaço para que a mais velha se aproximasse. Parecia controlar o riso, e Lia sentiu vontade de lhe xingar.

Cordelia avançou a passos trôpegos, o coração ribombando em seu peito. Entregou primeiro seu exemplar de “No Coração Selvagem”, e seus dedos roçaram com os dele, fazendo sua mão estremecer. Lembrou-se de quando era um pouco mais nova e tinha a fantasia secreta e idiota de um dia encontrar um vira-tempo e voltar para os anos vinte para se casar com Newt Scamander.

— A quem eu devo o prazer, senhorita...? — ele perguntou de maneira paternal e as maçãs do rosto de Lia ficaram imediatamente vermelhas. Não pôde deixar de pensar na fala totalmente inocente e cordial de Newt em um tom malicioso.

Aqueles encontros furtivos com Sirius Black realmente não a estavam fazendo bem. Irritou-se profundamente por se lembrar do rapaz naquele momento. Black não merecia disputar um segundo de sua atenção com Scamander.

— Cora... — A garota tossiu e Bairbre comprimiu o riso com uma das mãos. — Cordelia! — corrigiu-se.

— Cora Cordelia Gilios? — Newt indagou com um sorriso curioso, a fitando novamente. Bairbre não se conteve e deu uma risadinha mais alta, curta. A celta mais velha lhe deu um olhar de reprovação.

— Cordelia Gilios MacLearie — a garota loira disse, mais firme, mirando seu ídolo, arrebatada. Secou uma das mãos suadas na saia. A outra segurava sua edição de colecionador do livro mais famoso do escritor pelo qual nutria aquela intensa paixão platônica.

— Vocês estão em Hogwarts? — interpelou o bruxo com simpatia, autografando seu livro mais recente.

— Bairbre entra em setembro. Eu estou terminando o quinto ano — contou Lia, tímida, sua voz baixa. Seu coração ainda batia acelerado. Não consigo acreditar que realmente está acontecendo.

— Gosta de criaturas mágicas? — Newt indagou de maneira retórica, enquanto Cordelia meneou a cabeça em aquiescência de forma até frenética.

— Sou apaixonada — admitiu. — P-por elas — adiantou, ficando novamente nervosa, e se percebeu contando as adoráveis sardas no rosto do escritor. Newt Scamander a fitou com o mesmo sorriso meigo em seu rosto, que exalava ingenuidade, mesmo com sua idade avançada, e voltou a escrever o autógrafo.

— Ela tem uma foto sua na parede do quarto — Bairbre sussurrou, não se contendo. Lia inspirou rápido e voltou o rosto furiosa para a irmã. Ela mordeu o lábio inferior, mal segurando sua ousadia debochada. Ao mirar Newt de novo, agora até pálida de nervoso, reparou que ele não escutara, continuara a autografar seu livro. Fechou-o e o entregou para ela.

— Era esperado que gostasse delas, não é? Sabe, eu até diria que invejo a habilidade natural de vocês, celtas! — confessou o escritor com um sorriso curto sem mostrar os dentes, fazendo Cordelia ficar boquiaberta. A jovem celta loira lhe passou seu exemplar de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”.

— Mas... Mas você é o magizoologista mais bem sucedido do mundo. Seus estudos mudaram a forma preconceituosa e ignorante como toda a comunidade bruxa enxergava as criaturas mágicas. Você descobriu inúmeras espécies em todos os cinco continentes, criou o Registro de Lobisomem em 1947 e a Proibição de Criação Experimental em 1965, a lei que mais beneficiou as criaturas mágicas na história mundial, protegendo-as de serem usadas em testes e experimentos mágicos. Fora toda a sua contribuição ao longo da luta contra Grindelwald — Cordelia vomitou o conhecimento que tinha de toda a história de vida de seu maior ídolo defronte a ele, e só depois percebeu que poderia ter soado obcecada. Arregalou um pouco os olhos, franzindo as sobrancelhas, mas Newt apenas pestanejou os dele, ainda a fitando. Deu uma risada doce e surpresa que derreteu o coração de Lia. Podia jurar que vira o Newt de trinta anos de idade naquele momento.

Por Merlin, eu não vou aguentar, pensou, atarantada.

— Bem, eu sempre amei animais, é verdade. — O autor aparentava humildade e timidez, retraindo um pouco os ombros. — Mas imagino que os compreenderia ainda melhor se tivesse sangue celta. A ligação mágica que o seu povo tem com os animais e a natureza é simplesmente linda — reconheceu de forma enaltecedora, e Cordelia sentiu que suas pernas parariam de sustenta-la de tanta emoção. Acabara de ser elogiada pelo “primeiro amor” de sua vida. Você que é lindo, pensou, bobamente.

— Se quiser passar sangue celta para novos herdeiros, a Cora Cordelia estaria super disposta a ajudar — murmurou Bairbre a centímetros de Cordelia, fazendo a garota arregalar os olhos e sentir seu rosto aquecer como se estivesse em brasas.

— Desculpe, querida, o que disse? — Newt perguntou com o mesmo ar afável para Bairbre. Não ouvira, fazendo Lia dar um suspiro aliviado. A garota mais nova logo respondeu:

— A edição dela é de colecionador! Demorou anos para consegui-la. — Apontou para o livro que Newt Scamander ainda não havia assinado. O escritor olhou para a obra, abrindo os lábios, constatando que era verdade.

— Acho que eu só vi Tina com um desses! — atestou, impressionado, estudando o livro. Cordelia sentiu seu coração apertar de leve à menção da esposa de Scamander. — Esta é uma das primeiras edições. — Folheou o livro, parecendo empolgado. Sorria animado, estudando o tomo.

— ...É da primeira leva — confirmou Lia, murmurando quase. O escritor leu as primeiras páginas e levantou as sobrancelhas, ainda mais empolgado.

— Realmente! — comprovou, olhando com cuidado para as páginas antigas do livro. — Puxa, você é mesmo uma fã — falou com gentileza, olhando para a jovem bruxa celta loira como se estivesse lisonjeado e surpreso por tamanho reconhecimento destinado a si.

— Admiro muito o senhor. E o seu t-trabalho — acresceu, voltando a gaguejar. As maçãs do rosto de Lia estavam ardentes como se estivesse febril.

— Pode me chamar de Newt! — ele disse, no mesmo tom amável e inocente de antes. O escritor passou a autografar o livro, escrevendo uma dedicatória grande, e a celta loira sentiu sua respiração ficar entrecortada.

— Vê se não desmaia — Bairbre sussurrou discreta perto dela, e a irmã mais velha pisou disfarçadamente em seu pé. A MacLearie mais nova conteve uma exclamação.

 — Eu... Eu pretendo seguir os passos do senhor. De... De você, Newt. Quero ser magizoologista também. Sou monitora do professor Kettleburn — afirmou Lia, tímida, olhando para os próprios dedos que entrelaçava nervosamente, levantando os ombros. Parecia ter sido atingida por um feitiço confundus. Seu coração batia descompassado em sua garganta. O autor ergueu os olhos do autógrafo que escrevia, pousando a pena de lado, voltando a mirar Cordelia outra vez. A garota se sentiu enrubescer novamente.

— Com certeza será bem sucedida — Newt Scamander a incentivou com um sorriso afável, e Lia se sentiu perder o ar por um segundo. Balbuciou um agradecimento pasmo. Bairbre já estava rindo de novo do seu lado. Ele retornou a escrever as frases finais da dedicatória, e outra vez voltou o rosto na direção da garota loira.

— Se me permite perguntar, querida, qual é a sua Casa? — Parecia realmente interessado. O uso do tratamento afetuoso quase fez Cordelia cair para trás.

— Sonserina — respondeu, pestanejando atônita por tantas emoções intensas.

A expressão que Newt Scamander fez foi no mínimo curiosa. Primeiro, pareceu demonstrar incompreensão. Depois, piscou os olhos algumas vezes, desviando-os do rosto da garota loira, como se tivesse acabado de se lembrar de algo que não pensava a respeito há muito tempo. Ele ficou parado, fitando perplexo uma das estantes da Floreios e Borrões. O segurança perto das garotas parecia impaciente pela demora no término de seus autógrafos, e podiam ouvir sussurros ansiosos mais atrás, dos bruxos ainda na fila aguardando para ter a oportunidade de conhecer o escritor renomado.

— Senho... Newt? — a jovem loira perguntou com a voz aguda e falha.

— Ah, me desculpe — Scamander pareceu cair em si, e terminou de escrever o autógrafo. Sorriu contrito para a sonserina, lhe entregando o livro.

— Imagine, não precisa se desculpar! — Lia abanou o ar a sua frente, um pouco desajeitada. — Muito obrigada pelas dedicatórias, Newt. Foi um prazer inenarrável conhecê-lo — Cordelia falou com sinceridade explícita, sorridente como não lhe era de costume.

— O prazer foi todo meu! — ele respondeu da maneira ingênua que lhe parecia típica, mas Lia não pôde deixar de ficar com o rosto fervendo. Saudou Cordelia e sua irmã com um adeusinho. Bairbre retribuiu o gesto, e Lia levantou a mão, tímida e até tonta.

Ela se sentiu flutuar enquanto andava para fora da livraria. Volta e meia olhava por cima do ombro, mas Newt já assinava outros livros e falava com outros bruxos. Olhou uma última vez para trás e trocou um olhar fortuito com o escritor. Estancou, parando de andar de imediato.

Newt abriu um sorriso animado e lhe disse “boa sorte” à distância, com outro aceno. A garota apenas sorriu boba e agradeceu, retribuindo o cumprimento com uma das mãos, virando as costas de novo.

Ao saírem da Floreios e Borrões, caminharam na direção da loja de artigos de quadribol, mas Lia teve de se recostar contra uma das paredes de uma loja da rua, abraçando seus livros de novo. Fechou os olhos e suspirou, respirando fundo lânguida e apaixonada, um sorriso palerma se desenhando em seu rosto. Recostou a cabeça sonhadoramente contra a vitrine.

— Ah, Cora, para com isso! — reclamou Bairbre audivelmente, querendo puxá-la por uma das mãos, mas a bruxa mais velha desviou, apertando os livros contra o colo.

— Ele é o homem mais lindo do mundo... — Cordelia suspirou, enquanto olhava entorpecida para uma marquise, mas não a enxergava. Não acreditava que tivera a sorte de conhecer o bruxo que mais admirara em toda a sua vida.

— Você ficou maluca! Ele não era bonito nem novo, ainda mais agora velho desse jeito! Excêntrico seria até elogio — ratificou a menina morena, séria, puxando a irmã pelo braço. Lia não se moveu, apenas piscou, entregue aos seus devaneios de tiete.

— Não importa, ele é completamente maravilhoso — a bruxa celta adolescente soltou outro suspiro, fechando os olhos com vigor e apertando os livros ainda mais contra si.

— Para de ser doente por esse esquisitão ou eu vou procurar a mulher dele e convencê-la a pedir uma ordem judicial de restrição de proximidade no Ministério da Magia contra você! Vamos! Eu quero ver a palestra de lançamento na loja de artigos de quadribol! — a garota de cabelos escuros pediu, ainda tentando arrastar a irmã consigo.

Cordelia conferiu a dedicatória de “No Coração Selvagem” na qual se lia apenas:

“Para Cordelia Gilios,

Espero que aprecie a leitura.

Com afeto,

Newt Scamander”

A mesma dedicatória que fora dedicada a sua irmã mais nova. Lia não se importou com os dizeres genéricos. Quis beijar a palavra "afeto", mas se controlou. Abriu seu “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, primeiro volume, primeira edição, item raro de colecionador.

“Para Cordelia Gilios,

Torço para que seu fascínio pelas criaturas mágicas lhe inspire a conhecê-las e compreendê-las cada vez mais e melhor. Espero que o carinho que dedica aos estudos desses animais se mantenha sempre pulsante e presente, fonte de muitas descobertas e alegrias para você. Desejo que aproveite e pratique sua herança celta, um verdadeiro privilégio. Aproveite sua juventude, seus conhecimentos, sua sensibilidade e inteligência! Desejo que tenha muito reconhecimento em sua carreira de magizoologista, e que possa se tornar uma colega de profissão bem sucedida. Espero que a vida lhe reserve muitas conquistas e longos anos de felicidade perto de todos os animais fantásticos que buscar conhecer, e os locais onde habitam. Por fim, espero que dentro de seu coração, viva, para sempre, o amor que compartilhamos por tais criaturas fascinantes!

Com carinho e admiração mútuos,

Newt Scamander”

Cordelia desatou a chorar, emocionada, soltando uma exclamação aguda de regozijo. Aquilo era mais do que podia lidar. Bairbre lera a dedicatória junto com ela, e também tivera de parar de troçar. Abraçou a irmã, que ainda olhava para a página do livro toda preenchida pela letra do escritor e o título tão conhecido.

— Estou muito feliz por você, Cora. De verdade. Sei o quanto isso significa pra você — disse sua irmã, verdadeiramente afetuosa. Lia fechou o livro e a abraçou de volta, também com ternura e empolgação.

— Ah, se eu tivesse nascido há uns setenta anos atrás... — Cordelia conteve um lamento, sorrindo abobalhada e secando o rosto. Não se sentia bem chorando em público, mesmo que de alegria. Sua irmã lhe deu um sorriso curto.

— Você preferia, não é? — sua irmã do meio perguntou, e as duas passaram a caminhar para a loja de esportes bruxos.

Cordelia meneou o rosto em negativa. Bairbre a fitou, surpresa.

— Eu não teria conhecido você, nem a Mairéad. Só preferiria se vocês e a mamãe viessem junto — Lia falou com franqueza. Sua irmã lhe deu um sorriso tímido, algo raro para alguém tão extrovertida. — E a Grace e a Lis também — acrescentou, lembrando das melhores amigas que eram como irmãs.

— Ainda bem que não nascemos nessa época. Por Merlin, que vergonha seria ter um cunhado bitolado desses. — Bairbre fez uma careta de repúdio. Lia lhe deu um beliscão brincalhão no ombro esquerdo.

— Não fale assim do meu Newt — debochou Cordelia, ainda sentindo que caminhava nas nuvens.

— Não é e nunca foi seu — retrucou sua irmã. A jovem loira já se preparava para responder, quando seu coração pulou inúmeras batidas. Quase parou.

Defronte a ela, duas silhuetas conhecidas saíram de uma loja de logros que Lia sempre considerou indigna de atenção. Estavam poucos centímetros na frente das duas irmãs, que quase trombaram com os outros dois bruxos.

James Potter e Sirius Black, vestidos a caráter trouxa, voltaram os rostos na direção das irmãs MacLearie.

— Paddy, veja só isso! Pelo visto todo mundo resolveu vir ao Beco Diagonal hoje mesmo, hein? — Potter falou em um tom sugestivo, dando um tapa nos ombros de seu melhor amigo. Black cruzara olhares surpresos com Cordelia, que, novamente, sentiu o rosto enrubescer por completo.

Rubor motivado, agora, por sensações muito mais próximas, palpáveis, reais...

E nada platônicas.


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Notas finais do capítulo

~ Como eu disse, eu tenho certeza que a Cora seria MUITO fangirl do Newt uahhushs! Sério, ela ama criaturas mágicas, no mínimo ela teria uma crush absurda no nosso Newtzinho fofinho auhsuhse!
~ O próximo capítulo é bem amorzinho, acho que vocês vão amar e me perdoar um pouquinho por essa demora sem noção. Desculpa mesmo, gente, não faço por mal, é sério.
~ O Newt com certeza lembrou da Leta quando a Cora falou que era da Sonserina. Feels...
~ Aguardo comentários, se possível! :D