Always With Me escrita por Menta


Capítulo 23
Some Were Born To Sing The Blues


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Foi mal pela demora, essas semanas foram muito corridas de trabalhos e compromissos de uma forma geral. Mas, aqui estou de volta, e amanhã já sai outro capítulo do ponto de vista da Cora, com um personagem novo que eu acho que vai dar muito o que falar, heheheeheh!
Nesse capítulo, teremos uma conversa emocionante entre Lia e Lis, bem como a volta de Cordelia para casa, e as dificuldades que a garota enfrenta com a visão retrógrada de sua mãe sobre o mundo bruxo. Momentos felizes entre as irmãs MacLearie e tudo o mais! O próximo capítulo terá momentos mais "wow", assim como a visita de Cora, durante o feriado da Páscoa, a casa de Grace, junto a seu namorado, Reg!
Assim sendo, espero que gostem!
Dedico o capítulo as leitoras duda fap e Arrriba, que recomendaram minha fanfic! Espero que isso incentive o resto das leitoras fantasmas (já que agora conto com 55 leitoras na fanfic) a se manifestarem! Eu não mordo, eu sou fofa! ;P
E que a magia flua em todas vocês!
Beijos e boa leitura!



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– Já estou indo, Lis! – Cordelia falou, já impaciente, respondendo a amiga de cabelos cacheados que, a reclamações sibilantes de “anda logo com isso”, a pressionava pela décima vez. Abaixando os olhos de volta para sua bagagem, Cordelia MacLearie conferiu seu malão de Hogwarts uma última vez, atentando para conferir se não esquecia detalhes importantes como sua varinha, algumas saias, blusas e meias três-quartos que haviam estragado depois de muitas monitorias próximas na Floresta Proibida, não suportando o intenso contato com a terra, lama, musgo, umidade, galhos e raízes cortantes.

– Que neurose, Little Lia. – Phyllis reclamou, soltando o ar em um barulho estalado com os lábios, mostrando sua impaciência. – E se você esquecer alguma coisa? Quem é que vai roubar? Seu admirador secreto? – Lis rolou os olhos, debochando. Ainda se lembrava da noite em que Latrell Graeme, o ex-namorado de Cordelia, fora nocauteado no sétimo andar enquanto fazia uma ronda noturna perto do gabinete do professor Dumbledore. Quando acordara no dia seguinte, não sabia dizer quem tinha feito aquilo, nem sequer o que fizera durante a tarde e a noite do dia em que fora atacado.

– Homens não podem entrar nos dormitórios femininos da escola. – Lia lembrou, sentindo suas bochechas ruborescerem levemente ao lembrar-se de Sirius Black. Seu último encontro com ele, durante a última detenção que o rapaz cumprira consigo a ajudando em sua monitoria, fora, no mínimo... Muito curiosa.

– ‘Cê tá lembrando bem das coisas, hein? – McNair debochou da amiga loira, dando-lhe um sorrisinho sarcástico. – Ainda vou arrancar de você o que está te deixando tão estranha. – Phyllis falou alto, inconveniente, enquanto algumas colegas da sonserina que terminavam de se arrumar puxavam seus malões para fora do dormitório do quinto ano da Casa das serpentes. Algumas delas, curiosas, olhavam maliciosas para Cordelia, interessadas em uma fofoca.

– Já te falei tudo. – Lia mentiu. – Daqui a dois meses teremos os N.O.M.s, e eu não me sinto nem um pouco preparada. – Cordelia MacLearie falou a meia verdade que sabia que não satisfaria Phyllis, enquanto fechava a mala com um pequeno estalo, guardando um último cachecol da Sonserina e alguns pares de sapatos já gastos demais. Lis era uma de suas duas melhores amigas, que, junto a Grace, a conhecia tão bem quanto suas irmãzinhas.

– E eu finjo que acredito. – Phyllis encarou as próprias unhas, batendo um dos pés no piso do dormitório, em uma postura descrente. – Você sempre foi psicótica com notas, mas você está me escondendo algo. Vai ter que me falar por bem ou por mal. – Lis deu-lhe um olhar ameaçador de soslaio, junto a um sorriso debochado.

Enquanto travavam o breve diálogo, as poucas colegas que já haviam se arrumado tinham também deixado os aposentos das meninas do quinto ano da sonserina. Cordelia levantou os olhos para Phyllis, puxando o malão de cima de sua cama, e o arrastando consigo.

– Quer ir agora? Se... Adiantar? – Ela sugeriu, encarando bem os olhos da amiga de cabelos cacheados.

Phyllis coçou a cabeça, tentando parecer indiferente. Seus lábios franzidos, assim como suas sobrancelhas, entregavam à garota loira que sua amiga estava bastante incomodada. – Pode ser. Vamos. – Lis disse sem meias palavras, e saiu arrastando seu próprio malão de cima de seu colchão forrado com os cobertores verdes da Casa. A mala caiu com um estrondo retumbante no chão, fazendo perceptível sua ansiedade em deixar logo o dormitório. Cordelia a seguiu sem dizer mais nada, e rumaram, ainda muito adiantadas, para as filas nos jardins de Hogwarts para adentrar as carruagens que os levariam para Hogsmeade.

O feriado de Páscoa começaria naquele dia, e o Expresso Hogwarts levaria a todos para King’s Cross, para que aproveitassem as duas semanas de folga.

Enquanto subiam as escadas das masmorras até os corredores que conduziam ao salão principal, a loira aluna do quinto ano da sonserina olhou discretamente para o rosto de Phyllis, que forçava feições descontraídas. Cordelia sabia porque ela estava assim. Aquilo se iniciara na última segunda-feira, quando a garota de cabelos cacheados brigara definitivamente com Grace e Regulus, não aguentando mais ver o casal compartilhando amor. Ao vê-los demonstrando sua felicidade da recém-oficializada união séria, Lis passara a evitar com seus maiores esforços encontrar com Grace Macbeth, sua dor de cotovelo ao vê-la tão feliz com seu namorado parecendo ser algo insuportável de lidar.

Lia respeitava a opção da amiga. Desde que Phyllis lhe contara que era apaixonada por Grace, sentimento que admitiu para si mesma por volta do início do terceiro ano da escola, Cordelia sentiu-se muito grata pela confiança que a amiga depositava em si, sabendo que era a única confidente deste segredo que Lis queria levar para o túmulo. Fora no mesmo dia em que MacLearie contara a ela sobre a morte de seu pai, como se delineara, e tudo o que sua mãe sofrera nas mãos dele. Fora nas férias antes do início de seu quarto ano letivo em Hogwarts.

Grace Macbeth também sabia sobre o drama familiar de Cordelia.

E ela, sobre o que Grace enfrentava em sua própria família.

Lembrando de Grace, a loira estudante aguardou até que ocupassem um dos primeiros lugares nas filas de espera até a saída das carruagens. Combinaram de irem juntas, sozinhas, no dia anterior. Lis não quisera sequer tomar café da manhã, tamanha sua pressa em sair logo da escola. Cordelia, afinal, sabia que ela provavelmente nem sentia fome. Seu afã em fugir da presença de Grace parecia guiá-la como um feitiço obsessivo durante toda a semana que se passara.

Ajeitando sua capa escura com o brasão da sonserina, que lhe cobria até quase os pés, Cordelia resolveu quebrar o silêncio e enfim avisar a Phyllis sua programação para o feriado. Na frente das duas, havia apenas um quarteto de alunos da corvinal. A maioria dos estudantes ainda estava no salão principal, comendo antes da viagem.

– Lis, escuta. – Cordelia começou, tentando deixar sua voz em um tom brando. – O que você vai fazer no feriado? – Ela perguntou, gentil.

– Aturar as merdas machistas do meu pai e meus tios. Fingir que estou mantendo a moral em alta com os velhos filhos da puta. Inclusive e especialmente meu tio Walden, que quer que eu me torne a esposa troféu baba-ovo de algum bruxo das trevas endinheirado. – Phyllis falou grossa e abertamente, enquanto Cordelia lhe olhou com censura, fazendo-lhe uma expressão de reprovação. Os alunos da corvinal olharam para McNair, franzindo as sobrancelhas em uma expressão de choque. Lia reparou que eram todos do segundo ano da escola.

– Vá tomar conta da tua vida, projetinho de gente! – Phyllis quase gritou para um dos alunos que a olhava mais incisivamente, que logo desviou o olhar, parecendo assustado.

– Bem, então não vai dar para a gente se encontrar. Certo? – Cordelia perguntou, tentando manter a conversa civilizada.

– Não. E é melhor eu agradar os velhos bem. Não quero correr o risco de que descubram algo sobre o idiota do Rabastan, e ter de aturar lições de moral sobre como não sei me comportar como uma moça decente de boa família. – Phyllis deu uma risada sardônica. – Boa família... Meu tio gosta de torturar criaturas mágicas, talvez até mais do que transar, e eu é que sou a estranha. – McNair debochou da própria família, que de fato tinha uma má fama de conter exemplares um tanto sádicos em sua genealogia.

– Então... Eu vou para a casa da Grace durante a segunda semana do feriado. – Cordelia adiantou, falando rápido, mas a expressão de Phyllis se modificou como se tivesse sido mudada por um feitiço de transfiguração. Lis levantou os olhos para ela assim que mencionou o nome de Grace, sua expressão subitamente fechada como se quase considerasse que a amiga lhe cometera algum tipo grave de traição.

– ...O almofadinha vai também? – McNair falou, sua voz gelada como uma tempestade de neve.

– O Reg... Ulus vai. Grace vai para a casa dele primeiro. – Cordelia contou rápido, completando astutamente o apelido de Regulus Black, por mais que soubesse não ser nenhuma ofensa ser amiga dele e de Grace Macbeth. Phyllis não poderia ser egoísta a ponto de querer separar Lia de seus outros amigos, e Lia sabia que não seria. Ao menos não manifestaria o desejo de fazê-lo conscientemente, soltando a verdade em palavras claras e irreversíveis.

– Dona Maise sempre liberal. – Lis troçou, forçando seu sorriso. – Um dos motivos pelos quais sempre gostei muito dela. – Phyllis admitiu, espreguiçando os braços para tentar não demonstrar seu incômodo.

– De fato, ela sempre foi muito aberta nesse quesito. Fez a Grace ser muito segura de si, foi bom. – Cordelia falou, concordando. – Já te falei que avisei minha mãe que ajudei Dumbledore a fazer um círculo celta de proteção? Ela está saltitando de alegria pelos corredores do nosso castelo, já contou até para os meus parentes de segundo grau. – Lia tentou mudar de assunto o mais rápido que pôde.

– A Gray... Grace quer ser como ela. Não sei até que ponto isso é bom. – Phyllis se corrigiu, evitando usar o apelido carinhoso da amiga por quem era apaixonada. Desviou o olhar do rosto de Lia, olhando para o céu de primavera com poucas nuvens, em uma gostosa manhã ensolarada que já começara festiva como o feriado que viria. Ignorou completamente a tentativa falha de Cordelia, voltando ao mesmo tópico.

Lia desistiu. Provavelmente Phyllis choraria todas as mágoas que guardou durante aquela semana de estudos intensa com Lia. Procuraria atualizar-se sobre como foram os primeiros dias, desde o primeiro ano letivo de Hogwarts das três, que o MacTrio não passou ao menos algumas horas diárias junto. E, claro, como Grace passara sem ela.

Durante esse tempo separado, Cordelia reparou que Lis fizera questão de ir dormir sempre depois que Grace adormecera, ou ir ao dormitório muito mais cedo do que o horário habitual. Rabastan, mordido pela humilhação que sofrera nas mãos das duas, tentava sondar Lis discretamente, talvez tramando sua vingança. Mas McNair passara o tempo todo grudada com MacLearie em locais públicos, evitando localidades mais desertas onde um possível casal buscaria encontrar privacidade.

Nas poucas vezes em que Cordelia pudera ter algum contato com Grace e Regulus, fora convidada para passar a segunda semana do feriado com eles, na casa dos Macbeth. Grace a perguntou discretamente, enquanto Reg lhes dava um tempo a sós para conversarem, se Phyllis falara algo a respeito dela. Cordelia MacLearie percebia o quanto Grace sentia falta da união entre as três, e lamentava muito a falta de Lis, por quem Lia sabia que a linda garota de cabelos lisos e castanhos escuros nutria um sentimento forte de amor que poderia se equiparar ao amor fraterno que Cordelia sentia por suas irmãzinhas.

Conhecia Grace. Por mais que fosse meiga, doce, e aparentasse ser inofensivamente tola, Macbeth era muito astuta e usava sua incrível capacidade de soar “sonsa” para seus próprios propósitos. A amiga daria um jeito de arrancar dela o que estava perturbando Phyllis, ou ao menos de lhe dar alguma sugestão que fosse suficiente para compreender o que se passava, quando estivesse com suas defesas baixas.

– Bem, mas depois de tudo o que a mãe dela passou... Eu acho que é até uma forma de homenagem. – Cordelia complementou, sabendo que seria difícil fazer Phyllis desistir da ideia de remoer em palavras mais uma vez seus sentimentos por Grace.

– Por esse lado, pode ser. – Phyllis respondeu, mas meneou a cabeça, ainda discordando. – Mas não é o melhor para ela seguir por esse caminho. – Lis insistiu, reparando que as carruagens começavam a se posicionar de forma a permitir que os alunos passassem a ocupa-las. Filch passou mancando pelas duas alunas, se arrastando pela grama para guiar as fileiras de alunos já organizadas.

– Grace é a cara da mãe dela. Será bem sucedida. – Cordelia tentou comentar de maneira amena, discorrendo sobre como Grace Macbeth herdara a beleza estonteante de sua mãe, que fora eleita Miss Bruxa da Grã Bretanha por cinco anos consecutivos.

– Não é isso que estou pondo em questão. – Lis balançou a mão direita de uma forma repressora, como se os comentários de Lia fossem besteira. – Ela poderia virar uma modelo de sucesso, mas não é melhor estar em evidência agora. – Phyllis retrucou sombriamente.

Cordelia compreendera. Já imaginava que fora isso que a amiga queria dizer, mas não gostava de tocar neste assunto. A “Revolução” sondando ao seu redor, mais uma vez.

– Ela tem proteção. – Lia respondeu, mais silenciosa, olhando para Lis incisivamente, seus olhos arregalando-se de forma clara e urgente. Não era lugar nem hora de estarem conversando sobre algo assim. Não em plena luz do dia, em meio a tantos alunos e professores. Mas, ainda assim, não deixava de se sentir ao mesmo tempo condoída e emocionada com o carinho profundo que McNair nutria por Macbeth. Por mais que agora Lis a estivesse tratando como algum bruxo contaminado com varíola do dragão, que devesse estar em quarentena mas continua perambulando por aí, deixando a todos em risco.

– Se ela ficar muito visada, não terá. Acha que o Regulus é o único que a quer? – Phyllis persistiu.

– Eu não sei, Lis, você deve estar certa. – A garota loira concedeu, para tentar encerrar o assunto. - Vamos esperar entrar na carruagem, por favor? – Cordelia falou de uma forma quase grosseira, e Lis estreitou seus olhos para ela. Lia começava a se irritar; estava fazendo seu melhor para ser compreensiva, justa e agradável com as duas amigas, mas a amiga de cabelos cacheados começava a tirar-lhe do sério. Sabia que enquanto a agradasse estaria livre de maiores perguntas persistentes a respeito do que poderia estar escondendo, e detestava a ideia de Lis descobrindo sobre seu “casinho tórrido” com Sirius Black, um traidor do sangue nojento, na visão de McNair.

Phyllis, mau humorada, fechou a cara para Cordelia, que revirou os olhos, respirando fundo e buscando paciência. Aguardaram alguns minutos até enfim embarcar, e terem alguma privacidade na carruagem ocupada.

Sentadas enfim uma defronte a outra, Cordelia tentou insistir em outras amenidades, como o livro que emprestara a Phyllis, sobre “criaturas das trevas” – Cordelia MacLearie discordava do conceito de que poderiam haver animais intrinsecamente maus -, mas, assim que as carruagens puseram-se a andar, e Lis, claramente aliviada, não vira sinal de Grace Macbeth por perto, sua linguagem corporal passou a apresentar a postura mais desinibida que combinava mais com sua personalidade.

– E você? O que vai fazer durante essa semana com a Bairbre, Mairéad e Dona Guinevere? – Lis comentou, sorrindo abertamente. Gostava muito da família de Cordelia MacLearie.

– Ajudar nas colheitas e caçadas, acho, e fazer companhia para minhas irmãs. Elas estão com muitas saudades. – Lia comentou, contendo o próprio sorriso saudoso, enquanto Lis dava uma risadinha.

– Vocês realmente são fora de série. – Phyllis comentou, sorrindo divertida. – Têm elfos domésticos, e andam pelos bosques colhendo alimentos e caçando. – Lis riu, como se não conseguisse compreender os costumes celtas. Cordelia apenas sorriu. Sabia que a amiga tinha preconceito contra as tradições celtas, por mais que tentasse controla-lo e evitar soar desdenhosa.

Bruxos criados como McNair, em famílias nas quais a ideia de ter uma vasta gama de serviçais para fazer todo o tipo de trabalho braçal e considerado “inferior” era um símbolo de status e riqueza, jamais compreenderiam os propósitos dos bruxos celtas ao caçar e colher seu próprio alimento. A união celta com a natureza era um equilíbrio que não poderia ser quebrado, para não ser prejudicial ao próprio portador do sangue mágico em questão. Ao colher sua comida e caçá-la, usando de sua própria magia, o bruxo celta apenas a fortalecia, tornando-o uno com os elementos naturais, recuperando suas energias e potencializando sua percepção mágica.

Assim, passaram as horas restantes da viagem lembrando de histórias divertidas que passaram juntas com o Clã MacLearie, rindo e implicando uma com a outra. Recordaram uma lembrança específica, durante semanas do último verão que passaram juntas, antes do início do quinto ano, na qual Phyllis, Cordelia e Grace se esforçaram para, juntas, transfigurar um tronco caído de árvore em um barco de madeira, e, quando foram bem sucedidas, resolveram explorar as proximidades do lago do terreno do castelo de Cordelia.

No meio do caminho, entre uma margem e outra, Phyllis surpreendeu Grace, a empurrando dentro do lago, fazendo as duas outras amigas rirem de sua expressão irritada por ter molhado uma de suas roupas caras de grife no lago lodoso e escuro. Gargalharam enquanto Grace nadava rápido para dentro do barco, com medo de possíveis criaturas mágicas que pudessem lhe atacar, enquanto Lia apenas ria da presunção ingênua da amiga. Enquanto estivesse por perto, não deixaria que nenhum animal, fantástico ou não, fizessem algum mal para suas amigas.

Sua magia celta lhe permitia isso.

Depois de algum tempo, quando Cordelia se levantou, no barco, para ver se já estavam próximas da terra firme, Phyllis escusamente a empurrou também, e terminaram o dia nessa brincadeira infantil, porém muito divertida, uma tentando tirar a desforra da outra.

Lia encarou os olhos verdes de Phyllis, brilhando um pouco com a lembrança. A amiga sorria.

Porém, sorria um sorriso triste.

– ...Ela perguntou de mim, Little Lia? – Lis enfim deixou o orgulho de lado, e fez a pergunta que provavelmente queria fazer desde o início.

– Perguntou. Quer saber porque você brigou com ela. – Cordelia admitiu, hesitando responder por um momento. Mas não negaria esse agrado a Phyllis, que parecia triste de uma forma que Lia só havia visto uma vez.

Quando lhe confessara seu amor por Grace.

– Ela está sentindo muito a sua falta. – Cordelia MacLearie acrescentou, olhando também emocionada para a amiga, que parecia mal se controlar.

– Eu também. – Phyllis admitiu, e irrompeu em lágrimas, suas mãos apertando o estofado do banco da carruagem em que sentava-se. Fechou os olhos, e parecia frágil como uma criança, sofrendo de uma forma tão sincera que Lia sentiu que ela mesma iria chorar.

Cordelia prontamente se levantou e se sentou ao lado da amiga. A carruagem estava quase parando na estação de trem, mas Phyllis precisava de seu apoio.

– Vai ficar tudo bem. Estou aqui. – Lia abraçou Lis, apertando seus ombros contra si, enquanto a amiga escondia seu rosto em seus ombros. Acariciou os cabelos cacheados de Phyllis, sentindo-se tocada por seu sofrimento.

– Se você for embora, eu te mato. – Phyllis soltou-se delicadamente de Cordelia, a olhando com uma expressão debochadamente séria no rosto. A garota celta lhe deu um sorriso honesto, e Lis retribuiu-o, respirando fundo para se recompor.

– Não vou. Mas você está precisando se comportar melhor. – Lia ralhou de brincadeira, enquanto Phyllis lhe dava a língua em uma expressão infantil de recusa.

– Só me faça um favor, Cordelia. Sério. – Lis enxugou as lágrimas com as mangas de sua capa da sonserina. Recompôs-se rapidamente. Seus olhos pareciam um pouco avermelhados, mas nada tão fácil de reparar.

– Diga. – Lia respondeu, abrindo a porta da carruagem.

– Não conte para ela. Nunca. Preciso que você prometa de novo. – Phyllis a segurou por uma das mãos, apertando-a firme. Era quase uma súplica. Lia podia ver a ansiedade em seu rosto sempre tão descontraído.

– Já jurei e juro de novo: não vou. – Cordelia respondeu, séria.

– Confio em você. – Phyllis disse, a abraçando rápido uma última vez. Assim, ambas seguiram rumo ao Expresso Hogwarts, que já estava parado na plataforma, pronto para levar os alunos da escola para a estação de King’s Cross para mais um feriado durante o ano letivo.

Vai ser difícil.

Mas não vou contar.

Cordelia pensou, engolindo em seco. Estava cada vez mais metendo-se em um fogo cruzado de feitiços. Entre um lado da “Revolução” e outro, entre uma amiga e outra...

Seria uma questão de tempo até ultrapassar a linha e definitivamente fincar os pés de um lado específico.

***

Ao descer do trem e despedir-se de Phyllis, que foi buscada na estação por alguns de seus tios e por seu pai, Cordelia seguiu até um ponto específico onde sabia que encontraria sua mãe.

Atravessou grupos de familiares se reunindo, alguns rindo, outros com a expressão mais solene e saudosa, e, finalmente, a viu: parada ao lado de uma das colunas da estação, olhando para os lados, parecendo desconfortável de estar em um local tão urbano, porém mantendo sua postura irremediavelmente elegante... Estava sua mãe, Guinevere Gilios MacLearie, usando um lindo vestido primaveril em tons de vinho e branco, bem como tranças bem arrumadas em seus cabelos muito dourados como os de Cordelia. Sua beleza física, apesar da idade, atraía a atenção de alguns alunos e até mesmo de pais incautos que a encaravam quase indiscretos, e que recebiam de volta os olhares descontentes de suas respectivas esposas e mulheres que os acompanhavam.

Quando a viu, Guinevere manteve a pose, mas levou as mãos ao rosto, da mesma forma que Cordelia fazia, por instinto, quando ficava emocionada. Viu os olhos da mesma tonalidade de verde muito claro que os seus brilharem alegres e emocionados pelo tempo que passaram separadas, enquanto as mãos de dedos longos e finos de sua mãe cobriam seus lábios franzidos em uma expressão de quem acabava de suprir muitos sentimentos de saudades.

– Venha cá, minha menina. – Guinevere chamou Cordelia que, depois de tantas confusões, emocionais e mentais, tantas descobertas, surpresas, choques e temores... Saiu a passos largos pela estação até sua mãe, arrastando o malão como uma criança que mal aguentou o tempo longe da família.

Viu a expressão imediata de reprovação nos olhos de sua mãe, por seu comportamento pouco requintado e chamativo, mas, ainda assim lançou seus braços em volta dos ombros maternos de Guinevere, a apertando em uma expressão física de carinho que superaria quaisquer palavras. Logo depois, a mãe de Lia deixou sua pose de lado e também apertou a filha com força, contra si.

– Senti saudades, mamãe. – Cordelia MacLearie se permitiu falar sinceramente, de forma infantilizada. Não se importava que soasse fragilizada, estava realmente muito grata de ver sua mãe de novo, de sentir a sensação de segurança do lar, mesmo que ainda não estivesse em casa, na companhia de suas irmãs. Pois já enfrentara muitos desafios, inclusive dentro de si... Estava confusa, e, por vezes, se sentia desamparada.

Mas tinha sua família para aplacar todos os seus medos, e fazê-la se sentir, enfim... Acalantada.

– Eu também, minha Corinha. – Guinevere falou e beijou a testa da filha, depois de soltá-la. Cordelia, dessa vez, mal conseguiu conter as próprias lágrimas. – O que houve? – Sua mãe lhe perguntou, reparando no estado emocional de sua filha.

– Muita coisa, mãe. – Cordelia MacLearie respondeu sinceramente. – Muita coisa. – Ela suspirou, lamentando-se.

– Então vamos para casa logo. Bem vejo que precisa descansar. – Guinevere deu um tapinha carinhoso de leve no rosto de Cordelia, em seguida levantando seu queixo de forma que sua postura ficasse mais alinhada. Aquilo era tão típico de sua mãe, esta fixação com as aparências, que Lia deu um sorriso melancólico em resposta.

Logo depois, seguiram juntas até um beco próximo à estação ferroviária, no qual Guinevere havia deixada preparada uma chave do portal, em um buquê de flores jogado fora, parecendo conter uma coletânea de flores do campo. A mãe da loira garota segurou com a mão esquerda a mão direita de sua filha, e, em seguida, tirou o buquê do chão com a mão direita. Depois de longos segundos nauseantes e de uma forte tontura, Cordelia reconheceu o bem-vindo cheiro de terra, árvores e de um campo úmido ao redor.

O cheiro de casa.

Assim, Cordelia MacLearie passou a primeira semana do feriado como imaginara; auxiliaria sua mãe nas colheitas após a Ostara, quando os frutos eram mais frescos e repletos de uma energia mágica superior. Caçou junto a ela, adentrando fundo as florestas ao redor dos terrenos afastados da civilização no qual se localizava o castelo dos MacLearie, ensinando a Bairbre alguns feitiços para abater os animais sem que sofressem durante o processo. Enquanto isso, Mairéad também as acompanhava, olhando encantada para a forma com que Cordelia e a mãe empunhavam as próprias varinhas e faziam magia. Podia ver, pelos olhos da irmã caçula, o quanto ela ansiava por aprender de verdade tudo aquilo, fazê-lo, por si mesma, ao conseguir sua própria varinha mágica.

Reviu Leprie e os outros elfos domésticos de quem tanto gostava, conversando com todos eles e lhes deixando por dentro das novidades do colégio. Tudo selecionado a dedo, é claro. Cordelia não mencionou os avanços da “Revolução”, tampouco as posições de prestígio dentro do círculo íntimo do Lorde das Trevas, que agora Regulus e Latrell dispunham.

Aproveitou até para se divertir com uma imitação de Joe, um dos elfos, de seu ex-namorado, copiando de maneira ridícula porém não menos verossímil as poses coquetes de Graeme. Até mesmo Guinevere riu, permitindo-se passar um tempo com seus elfos, já que não tinha de fingir a típica distância entre chefe e empregado. Afinal de contas, estavam sozinhos, sem a companhia da elite puro-sangue para importuná-los e fazê-los vestir suas já quase costumeiras máscaras perante o resto do mundo bruxo.

Além disso, manteve para si, também, todos os sentimentos controversos que começava a nutrir por Sirius Black. Não podia negar dentro de si a inevitável atração que a parecia unir ao rapaz da grifinória, mas se sua mãe sequer desconfiasse do que estava acontecendo entre os dois – seja o que quer que aquilo fosse – estaria perdida. Sua mãe enlouqueceria, provavelmente, a considerando completamente fora de seu juízo mental por, na beira de uma “Revolução”, estar se envolvendo com um rapaz que é reconhecido como a ovelha negra de uma família que está quase totalmente debandada para o lado do Lorde das Trevas.

Não podia se dar ao luxo de se arriscar desse jeito, e sabia disso.

Durante uma noite, no jantar das vésperas do final de semana, sua mãe tocou em um assunto que Cordelia torcera para passar incólume.

– Querida... Sabe como está seu, hum, ex-namorado? – Guinevere perguntou, de forma polida, fingindo indiferença.

– Não, mãe. – Mentiu Cordelia. – Não falo com ele desde que terminei o namoro. – Lia fechou a expressão, encarando a mãe, fuzilando-a com seus olhos idênticos aos dela. – Pensei que já tivéssemos nos resolvido quanto a isso. – Cordelia MacLearie mencionou implicitamente a conversa que tiveram, na qual dissera a mãe que Latrell realmente a machucara. Não da forma que sua mãe temia, mas, ainda assim, a ferira profundamente.

– Eu sei, eu sei. – Guinevere abanou o rosto com uma das mãos, como se quisesse assim soar mais amena, levantando seu copo de sidra, que ela mesma fizera, e bebendo mais um gole. Mairéad e Bairbre estavam sentadas ao redor da mesa redonda na qual jantavam, em uma tenda disposta nos jardins, para aproveitarem o ar da noite primaveril. Encaravam a irmã mais velha e a mãe com olhos curiosos, como se quisessem entender aonde iam chegar com aquela conversa. Enquanto isso, Leprie e outros elfos domésticos faziam levitar travessas com perdizes ao forno, temperadas com legumes cozidos, deitando-se acima da superfície da mesa na qual jantavam.

– Na verdade, só toquei neste assunto porque os Kavanaugh virão para o final de semana. – Cordelia quase engasgou, ela mesma bebendo um gole de sidra. Disfarçou bem, contendo a tosse, e engoliu o resto do conteúdo rapidamente. Não. Mais essa não. Era só o que me faltava.

– Os Kavanaugh? O Tegan e o Fedelmid também? – Mairéad perguntou, animada, mencionando crianças celtas irlandesas que eram seus amigos. Se viam raramente, porém, apenas durante as festividades do povo celta, como era de costume.

– Todos. – Guinevere sorriu largamente. – E já tem alguns meses que está sozinha, Cordelia... – Guinevere sugeriu, e Lia manteve a pose elegante que sabia que agradaria a mãe, evitando soltar um muxoxo de irritação.

– Não estou me sentindo mal por isso, mãe. – Lia tentou.

– Não é uma questão de se sentir mal. – Os olhos de Guinevere cintilaram, perigosamente. – Você ainda é nova, e tem tempo. Tem de saber escolher enquanto ainda não é tarde demais. – Sua mãe insistiu, como se arranjar um bom partido tivesse de ser uma de suas maiores prioridades atuais. Guinevere MacLearie não conseguia aceitar a ideia de que uma mulher poderia viver bem e segura sozinha, aparentemente.

Com a sombra da guerra bruxa pairando sobre todos, talvez não estivesse tão errada, porém.

– Mãe... Eu não preciso me casar agora. – Cordelia tentou falar educamente, cortando um pedaço muito grande de perdiz e mal conseguindo mastigar. Sua mãe a reprimiu com os olhos, e Lia fez questão de respirar fundo para reunir paciência.

– Não estou falando de casamento agora. Seja razoável, Cordelia. Apenas pense a respeito, e aja de forma sensata. – Guinevere falou da mesma forma de reprimenda a qual ela e Latrell compartilhavam. Ambos pareciam dividir o dom de fazer Cordelia sentir-se um pouco depreciada e infantilizada, quando a dirigiam contra si.

– Certo. Vou pensar. – Cordelia MacLearie mentiu, encarando seu próprio prato.

O resto do jantar se passou bem. Brincou e conversou com suas irmãs, pondo-as para dormir em seguida, enquanto Guinevere se punha a fazer uma caminhada pelos bosques ao redor do castelo em busca de ingredientes raros para complicadas poções celtas de muitas utilidades. Contou-lhes histórias, e, quando Mairéad enfim dormiu, ainda tentava fazer com que Bairbre adormecesse. As duas tinham quartos para si, mas gostavam de dormir todas juntas no quarto de Cordelia, quando vinha passar algum tempo em casa.

Deitada no meio de sua ampla cama de casal, Cordelia ajeitou as cobertas em Mairéad, que já ressonava tranquilamente ao seu lado, seu tórax delicado subindo e descendo ao som de sua respiração tranquila. Aquela cena era muitíssimo relaxante para Cordelia. Ver suas irmãzinhas seguras, em paz, ao seu lado, a fazia se sentir singularmente satisfeita. Como se tivesse cumprido seu dever, e pudesse enfim descansar.

Bairbre, deitada de seu outro lado, apertou delicadamente seu braço direito.

– Cora... – Cordelia sentiu seu rosto ruborescer. Aquele apelido já não era mais apenas de uso de suas irmãs. Um outro alguém o usava com frequência, e Lia corria o risco de vê-lo ser relacionado não mais com sua família, mas sim com Sirius Black.

– Sim? – A irmã mais velha dentre as três meninas da família MacLearie sussurrou de volta, cuidando para que Mairéad não acordasse.

– Você não gostava mais do Latrell? – Bairbre perguntou, cuidadosa. Cordelia podia ver seus olhinhos castanhos brilhando em meio as suas sobrancelhas franzidas de preocupação. Abraçou sua irmãzinha contra si, sorrindo-lhe em silêncio. Vocês duas são meu tesourinho.

– Você vai entender quando for mais velha. Latrell foi muito malvado comigo. – Lia explicou, séria porém de forma suave.

– Você está triste? Não minta, eu sei que está. – Bairbre, sempre muito perceptiva, não deixou Cordelia negar.

– Não é por ele. – Cordelia MacLearie admitiu, ainda sorrindo para a irmã em sua doçura e companheirismo. – Bairbre, quando vamos crescendo, percebemos que o mundo é um lugar um tanto... Complicado. – Lia tentou se fazer entender em poucas palavras.

– Alguém fez maldade com você? – Bairbre perguntou, séria. Podia ver a expressão da irmã do meio tornar-se subitamente séria, determinada. Cordelia riu.

– Não é isso. O mundo não é um lugar justo, e temos de lidar com situações ruins que fogem do nosso controle. Mas eu sempre vou estar aqui para proteger vocês. – Cordelia garantiu.

– Mas eu quero te proteger também! – Bairbre falou, mais alto. Cordelia cobriu a boca dela, vendo que Mairéad se remexeu, ao seu lado esquerdo.

– Você e a Mairéad já o fazem. Toda vez que volto para casa fico muito feliz. Vocês me deixam segura. – Lia falou a verdade para sua irmã, acariciando seus cabelos castanhos por cima dos travesseiros.

– Se alguém fizer algo ruim com você, vai ter de se ver comigo. – A irmã destemida de Cordelia respondeu.

– Eu sei. – Lia riu. – Por isso ninguém tem coragem de me fazer nada! – Ela brincou. – Desse jeito, tão corajosa, você vai acabar indo parar na grifinória, Bairbre. – Cordelia comentou algo que já imaginava desde os últimos anos. A personalidade da irmã não era similar à de seus colegas da sonserina, ou a de Lia e de sua mãe. Bairbre era muito autêntica, não tinha medo de ser quem era e de se expressar. Encarava tudo com uma resistência, altivez e coragem tão naturais que levavam Cordelia a se emocionar com a força de sua irmãzinha.

– Grifinória... Quem eu conheço da grifinória? – Bairbre se perguntou, bocejando, e Cordelia também já estava quase dormindo. De olhos fechados ouviu a irmã responder:

– Sirius Black! – Bairbre falou, lembrando-se. – O irmão mais velho de Reg! – A menina morena acrescentou.

– O q-q-q-quê? – Cordelia MacLearie gaguejou de uma maneira ridícula, sua voz aguda, sendo despertada com a súbita imagem de Black em sua mente. Seu coração se acelerou instintivamente, graças as palavras de Bairbre.

A irmã a olhou de uma forma surpresa, e riu alto. Mairéad acordou, reclamando, e Cordelia levou as mãos à boca, sentindo-se ridícula.

– O que foi, Cora? – Bairbre perguntou, falando da mesma forma que o rapaz da grifinória gostava de se referir a ela.

– Sirius Black é muito bonito. – Mairéad decretou, sua voz embargada de sono. Lia olhou para a outra irmã, incrédula, vendo que Bairbre concordava, movimentando a cabeça de forma a aquiescer à afirmativa da caçula. Conseguia imaginar o rosto de Black, debochado, se divertindo com a cena que presenciava naquele momento.

– Não foi nada. Vocês são muito novas para ficar pensando em quem é bonito e quem não é. – Cordelia ralhou. - Vão dormir, pestinhas. – Cordelia colocou a palma das mãos nos olhos de Bairbre e Mairéad, como se as forçassem a fechar os olhos assim.

Assim não dá.

Até minhas irmãs conspiram contra mim.


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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor! ;D



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