Always With Me escrita por Menta


Capítulo 2
Shelter From The Storm


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mais um capítulo dessa história focada na época dos Marotos e da Primeira Guerra Bruxa. Temos agora um capítulo focado em um outro ponto de vista, de um dos nossos queridos Marotos! Não quero dar spoilers, então espero que leiam e se divirtam! E, por favor, comentem. É muito importante para qualquer ficwriter receber respaldo do que escreve, e tudo o que eu escrevo é com muita dedicação e afinco.
Beijos e boa leitura!



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Ele acordou de ressaca levando uma forte travesseirada na cara.

— Puta que pariu, James! — Sirius Black rosnou sonolento e irritado.

— Acorda, princesa! — James Potter debochou do amigo, sua voz alta e divertida, dando-lhe mais uma pancada com o travesseiro no rosto. — Vai perder a hora do trem, desse jeito. Quem mandou encher a cara em noite de lua cheia! — Potter dava um nó malfeito em sua gravata da Grifinória enquanto fechava seu malão ruidosamente, os trincos estalando a centímetros dos ouvidos de seu amigo sonolento, propositalmente.

— Você sugeriu essa ideia brilhante. Se eu bem me lembro de algo depois de tanto álcool. — O jovem Black zuniu seu travesseiro no rosto do amigo, derrubando seus óculos no colchão de sua cama, localizada à sua direita, e já arrumada. Em seguida, espreguiçou-se e coçou as costas por baixo da blusa do pijama, estalando-as depois, sentindo a cabeça rachar de tanta dor.

Lembrou-se rapidamente da noite anterior, na qual ambos viraram inúmeras garrafas de uísque de fogo contrabandeadas de Hogsmeade em uma festinha improvisada em um corredor do oitavo andar. O local parecia abandonado, e foram acompanhados por algumas garotas da Lufa-Lufa e alguns amigos da Grifinória. Remus, sério, e Peter, preocupado, tentavam lembrá-los durante todo o tempo do risco que corriam, por ser uma noite de lua cheia, demorando-se desse jeito. Sirius, já bêbado, teve de ser arrastado por James, também consideravelmente alto, enquanto estava aos amassos com uma garota da Lufa-Lufa, evitando por pouco serem pegos por Filch ou que algo ainda pior acontecesse. Deixaram como rastros apenas garrafas vazias e os suspiros desejosos das garotas que foram suas companhias naquela noite.

— Como sempre acontece. — Remus Lupin, parecendo exausto, com olheiras proeminentes marcando seu rosto de aparência um tanto enfermiça, encontrava-se sentado na cama que lhe pertencia dentro do dormitório da Grifinória, defronte a Sirius. Estava arrumado e pronto para o feriado de Natal que apenas começava, seu cabelo castanho claro, em alguns pontos levemente grisalho, arrumado e alinhado.

— Não sei como ainda ando com vocês. — O rapaz parecia se queixar, mas não podia esconder um sorriso contido de canto dos lábios, entre o ainda irritadíssimo pelo que acontecera na noite anterior, e o também divertido. Graças a influência de Sirius, Remus também conseguira um “par” por uma frutífera meia hora. Quando tudo terminara e os quatro amigos haviam descido aos terrenos do castelo, não foram rápidos o suficiente para impedir a transformação de Remus, e tiveram de ter o triplo de cautela do que de costume para impedir que algo horrível acontecesse.

— Porque você precisa da companhia de pessoas inteligentes, sagazes, para variar — Sirius respondeu, sorrindo sonolento ainda, tendo sido interrompido logo após por Peter Pettigrew, que abrira a porta do dormitório masculino da Grifinória. Parecia preocupado, seu rosto redondo e bochechudo suando e rubro como se tivesse corrido uma longa distância.

— O café da manhã terminará em dez minutos! E o trem partirá em vinte! — O gorducho rapaz parecia angustiado.

— Vai com calma, Wormtail. Esqueceu que sempre há comida no Salão Principal até acabar as refeições? Não vai te faltar nada — James acalmou o amigo, debochando de seu apetite.

— É um cara de pau mesmo. Provavelmente comeu por nós três e depois vem correndo como se estivesse preocupado que fôssemos passar fome. — Sirius troçou, brincalhão, trocando apenas a camisa do pijama por uma camisa social branca, deixando de abotoá-la por inteiro. James riu abertamente, e Lupin soltou um suspiro de cansaço.

— N-não comi ainda… — Peter tentou se justificar, corando, sem saber acompanhá-los na brincadeira, segurando a maçaneta da porta do dormitório masculino da Grifinória.

— Relaxa, cara. — Sirius, arrastando seu malão no qual havia acabado de enfiar todos os seus pertences de qualquer jeito, foi colocando os sapatos. Depois disso, aproximou-se do amigo e deu-lhe um tapa nas costas. — Vou comer mais do que você pra aguentar essa ressaca de merda. — O rapaz passou pelo amigo, descendo as escadas do dormitório. Logo em seguida, os outros três saíam junto consigo da Sala Comunal, com uns poucos alunos também atrasados da Grifinória.

Desceram as escadas e rapidamente chegaram ao Salão Principal, não sem antes cruzar com algumas alunas da Lufa-Lufa que já haviam terminado o café da manhã e caminhavam para a fila das carruagens que os levariam para a estação em Hogsmeade onde se encontrava o Expresso Hogwarts. Uma das garotas, chamada Trisha ou Triss ou algo parecido, de cabelos encaracolados castanhos e um decote volumoso abaixo do nó da gravata amarela e cobre, sorriu desejosa para Sirius, dizendo um “bom dia” agudo.

Ele a respondeu com um aceno cansado de cabeça, enquanto Remus educadamente lhe dava bom dia de volta, James o encarava debochado e Peter caminhava de cabeça baixa. Mais uma enchendo a paciência. É pedir muito me esquecer no dia seguinte?

— O arrasa-corações da Grifinória! — É claro que James Potter não perdoaria aquilo. — Eu me pergunto como consegue pegar tanta mulher tratando-as que nem lixo. Sério, me ensine, mestre! — James zombou, enquanto Sirius o ignorava solenemente soltando um arroto retumbante, finalmente sentando-se à mesa da Grifinória, enquanto um aluno do terceiro ano o encarava desagradado. — Um cavalheiro! — o amigo continuou.

— Eu não te ensinaria minhas artes para usá-las para o mal. Amaldiçoaria meus movimentos — Sirius debochou de volta, sorrindo — você estragaria tudo tomando mais um toco da Evans pela milésima vez.

Remus não resistiu e riu levemente, junto a Peter, sentados ambos à frente de James e Sirius.

— Você sabe que uma hora consigo sair com ela, Padfoot. É uma questão de honra agora — James troçou de volta, mas o amigo sabia o nível de seu interesse na garota. Era algo mais profundo do que ele alegava, mas o deixaria sem importunações a respeito.

— Eu te desejo sorte, Prongs. Contanto que passe pelo menos um dia sem falar nesse assunto — Sirius debochou, comendo grandes bocadas de ovos mexidos com salsichas, porém não parecendo menos elegante por isso.

— Então vamos falar de você. — Potter deu um tapa nas costas do amigo. — Aquela menina da Lufa-Lufa era gostosa, hein? — James deu um sorriso travesso. — Quer dizer que esse foi o “motivo de força maior” que fez você se atrasar ontem e sumir da nossa vista? Nada mais justo. — Potter riu, e se serviu de algumas fatias de presunto.

— Por falar nisso — Remus interrompeu a conversa — não que vocês dois mereçam. — O amigo entregou aos dois rapazes dois copos que acabara de encher com um líquido verde-escuro, com forte cheiro de hortelã.

— Pelas barbas de Merlin! — Sirius bebeu o copo de um gole só, sentindo o gosto aliviante de hortelã preencher sua garganta. — Seu mata-porre nos salvando mais uma vez. Moony, nós te amamos! — Sirius respondeu fingindo emoção, tentando abraçar o amigo por cima da mesa, que recuou. Chamou a atenção de alguns alunos da Casa com o gesto escandaloso, dentre eles algumas garotas do quarto ano que o encararam esperançosas.

— Amamos mesmo. Meu pai ia me matar se me visse nesse estado. — James Potter também arrotou sonoramente, dessa vez à mesa, e alguns alunos se afastaram do grupo de quatro rapazes, desagradados, enquanto Peter parecia constrangido e tímido.

— Falta só você arranjar alguma poção para o “porre” que vai ser aturar a cambada “toujours pur” nesse feriado. Se quiser, pode me dar só um copo com água mesmo. Sirvo para minha nobre mãe misturado com toda a gim tônica que beber, e ela cairia petrificada morta só de saber que foi um lobisomem que preparou — Sirius debochou e James riu sonoramente.

Fale baixo — Remus o repreendeu sério, sussurrando e dando muita ênfase em suas palavras.

— E não fale assim da sua família — Lupin manteve a repreensão, comendo uma maçã discretamente.

— Não serão minha família por muito mais tempo — Black disse sinistramente, encarando séria e rapidamente James Potter por um momento. Em pouco tempo, o amigo parou de sorrir e voltou a comer, enquanto todos mergulhavam em um silêncio constrangedor. Sirius perdera o apetite, e colocou o rosto nos braços, deitando parcialmente em cima da mesa da Grifinória, escondendo seu rosto da claridade. A enxaqueca da ressaca parecia mais pronunciada, após lembrar-se de sua mãe. Dose dupla de bruxa velha e companhia por sete dias…

James o cutucou quando todos terminaram de comer, e eram os últimos da meia dúzia de alunos atrasados para a ida as carruagens ainda presente no Salão Principal. Inúmeros enfeites de Natal pendiam de vários pinheiros colocados em pontos mais vazios do Salão, assim como voavam pelo cômodo. Anjinhos, sinos repicando e falsos cristais de gelo esvoaçavam pelo Salão, dando rasantes divertidos em cima de alguns alunos menos atentos. Neve falsa caía do teto encantado para parecer o céu que havia fora do castelo, o qual estava nublado e fechado, naquele dia 24 de dezembro. Seria um Natal de neve e muito frio.

Nada mais apropriado para encontrar todos eles.

Ainda quietos, seguiram até a última carruagem disponível, não sem antes levarem um sermão sonoro de Argus Filch pela demora, especialmente James e Sirius pelo descaso com os uniformes. Quando enfim subiram no veículo, James colocou a cabeça para fora da janela, ajeitando os óculos redondos, e gritou para o inspetor:

— Feliz Natal, Filch! Que a Madame Nor-r-ra te dê muitos netos este ano! — Os quatro amigos riram, e passaram a conversar sobre a próxima travessura que preparariam no ano que se aproximava.

Sirius Black, James Potter, Remus Lupin e Peter Pettigrew se encontravam no sexto ano da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, amigos desde os primeiros dias de aula do primeiro ano. Desde então, eram reconhecidos no colégio e se auto-intitulavam Os Marotos, pela quantidade de peças que pregavam. Entretanto, após os acontecimentos do quinto ano do colégio, seu comportamento tornara-se um pouco menos inconsequente.

Com os murmúrios e rumores sobre uma possível Revolução bruxa, vindos especialmente das famílias puro-sangue e de inúmeros alunos membros da Casa Sonserina, estranhos desaparecimentos começaram a acontecer. Influentes políticos do Ministério da Magia relacionados com a causa de apoio aos trouxas e membros ativos de correntes de integração e socialização entre os bruxos e outras criaturas mágicas passaram a ser ameaçados anonimamente. Havia certo ar de hostilidade no mundo bruxo, e não se sabia ao certo o que pretendiam os “conspiradores” membros da Revolução.

Sabia-se, por enquanto, que estavam sendo cotados e recrutados os possíveis membros para acompanhar o círculo dos “Cavaleiros de Walpurgis”, liderado por um ex-aluno brilhante de Hogwarts que agora se auto-intitulava Voldemort. Seus pais comentaram exaustivamente sobre isso no verão passado, dizendo o quanto Regulus, seu irmão mais novo, tinha todos os dotes e capacidades para tornar-se um importante membro da Revolução do Lorde das Trevas, que traria justiça ao mundo bruxo e libertaria os puro-sangues e as famílias de linhagem verdadeiramente mágica da clandestinidade, não mais tendo que se esconder e viver longe da maioria trouxa, naturalmente submissos e inferiores, considerados uma subespécie humana, assim como as monstruosidades que eram os bruxos nascidos trouxa.

Na primeira oportunidade que teve, Sirius fugiu de casa para passar o verão com sua prima Andromeda e seu tio Alphard, os únicos membros da família de quem gostava, não sem antes deixar seu quarto repleto de pôsteres de motocicletas e mulheres trouxas nuas em poses obscenas, usando um feitiço adesivo. Era muito pouco comparado a decepção que sua família se revelou, enquanto paulatinamente crescia e amadurecia, aprendendo a dura realidade da vida e dos preconceitos e discurso de ódio que fomentavam.

“Você poderia ter sido grande.” Sua mãe lhe dissera, alguns anos atrás. “Um rebelde, traidor, indigno do meu amor, mancha do meu sangue!” Ela lhe gritara, na última vez em que discutiram.

Sirius fora desperto de seus pensamentos por Remus, avisando-lhe que enfim chegaram a estação. James lhe lançou um olhar cúmplice, mas Black não queria preocupar o amigo com a mesma conversa de sempre. Já tinha dezesseis anos, e em março completaria a maioridade. Não teria de aguentar seus familiares por muito mais tempo.

Logo, os Marotos adentraram o trem, escolhendo uma cabine ao final da locomotiva. Após cada um trocar de roupa, Sirius usava uma jaqueta preta de couro como os rapazes trouxas e calças jeans surradas, além dos tênis típicos dos jovens trouxas, chamados “all star”, para desafiar sua mãe. Remus usava roupas que Sirius lhe dera de presente, depois de enfim reparar que seu amigo usava sempre as mesmas mudas de roupas encardidas. Escolhera justamente as peças mais caras que sua mãe havia lhe dado para doar ao amigo, um grande casaco elegante que parecia ter saído da era vitoriana, além de camisa de linho e calças de veludo.

James vestia-se despojadamente, também de calças jeans, tênis e um grande casaco para proteger-se da neve, e Peter parecia um pequeno boneco de neve, protegido por um casaco impermeável branco.

Assim, passaram a conversar durante as horas de viagem que se seguiram, mas Sirius não sentia muita vontade de confabular com os amigos. A cada minuto que passava, mais perto chegava da semana que passaria junto aos seus parentes, e aquilo ia pouco a pouco o deixando cada vez mais desagradado.

Assim que o trem pareceu finalmente parar na estação, Sirius foi surpreendido por algumas batidas na porta de sua cabine. A vendedora de doces já havia passado, e ele franziu as sobrancelhas, pensando em quem poderia importuná-los aquela hora, enquanto Remus abria a porta educadamente.

— Sirius… Estarei te esperando na saída do trem — Regulus Black, constrangido, falava secamente com seu irmão mais velho — nossa mãe fez questão de nos buscar, dessa vez. — O garoto de traços físicos muito semelhantes ao do irmão, porém menos charmoso e carismático, saiu de perto tão rapidamente quanto entrou, esquecendo a porta aberta.

— Não sei porque sou eu que me transformo em cão, quando o verdadeiro cachorrinho da família é esse moleque — Sirius zombou, rindo cruel, e James sorriu amarelo. Remus e Peter se entreolharam, sem expressar reação.

Logo em seguida, uma garota loira, usando um vestido rosa acinturado marcando suas curvas, luvas e botas brancas que pareciam refinadas, entrou pela porta, ajeitando os cabelos e parecendo distraída. Seu olhar imediatamente se cruzou com o dos rapazes, e ela soltou uma exclamação de surpresa. Curiosamente, ao deter o olhar no rosto de Sirius, que a encarou quase entediado, ele reparou em como seus olhos muito redondos e verde-claros pareceram expressar algum reconhecimento e ansiedade.

— Perdeu alguma coisa, gracinha? — Sirius disse, a constrangendo propositalmente, sorrindo malicioso e debochado.

— Muito pelo contrário — redarguiu a menina, com arrogância, levantando o queixo e estreitando os olhos, lançando um olhar fuzilante para Sirius e depois para Potter. — Me enganei de cabine. — Ela girou nos calcanhares, e James, Sirius, Peter e até Remus detiveram rapidamente seus olhares um pouco abaixo de sua cintura, quando virou de costas.

— Cuidado por onde anda, MacLearie — James disse, petulante, reconhecendo a garota como uma sonserina. Ela respondeu, sem sequer olhar para trás:

— Cuidado com o que diz, Potter. — Sua voz fria sibilou pelo ar, enquanto os rapazes viram um relance de seu perfil buscando a cabine na qual havia se instalado.

Remus, suspirando, fechou a porta.

— Vocês tinham de ser tão infantis? — O rapaz ajeitou o casaco que ganhara de Sirius, sentando-se novamente. — Ela não fez nada contra nós. — Remus fechou os olhos, levantando as sobrancelhas, levemente irritado.

— Ah, qual é, cara. Não foi nada demais. Além de tudo, a garota é da Sonserina, não é como se fosse te dar moral algum dia. — James respondeu, debochado, insinuando que Remus criticara seu comportamento imaturo por algum interesse pessoal.

— Ela é do grupo de estudos que participo. E não tive que lidar com nenhuma hostilidade da parte dela, ao menos até agora. — Remus fuzilou James e Sirius com o olhar.

— Então nosso Moony realmente quer se enrolar na cobrinha gostosinha — Sirius debochou — quem diria que soltar seus hormônios uma vez ia te deixar tão descontrolado! — Os amigos riram, exceto Remus.

— Falem sério ao menos uma vez na vida. Não tenho interesse algum nela nesse sentido. Mas ela é uma boa aluna, e no ano que vem já teremos N.I.E.M.s. Pretendo passar com as notas mais altas possíveis, e precisarei da ajuda desse grupo para isso — reclamou Lupin.

— Não precisará nada. Podemos estudar juntos! — James disse empolgado, e Remus revirou os olhos.

— No dia em que eu os verei estudar, será o dia em que Snape e Lily se casarão. — Lupin finalmente debochou, e Sirius e Peter gargalharam.

— Não fale um absurdo desses nem de brincadeira, Moony! — James reclamou, jogando uma embalagem vazia de sapos de chocolate na cara do amigo, que não desviou a tempo. Os amigos riram mais uma vez, e Peter perguntou curioso.

— Não foi essa a menina que apareceu ontem nos jardins do castelo? — Pete encarou James, esperando a resposta.

— Pensei que a minha piada tivesse deixado isso muito claro — James levantou uma sobrancelha — acho que precisamos arranjar mulher para você também, Wormtail, está ficando lerdo demais! Já que o Moony não quer, quem sabe você não conquista a sonserininha que acabou de sair? — James debochou.

— Acha que eu conseguiria? Ela é bonita, e eu, bem… — Sirius interrompeu o amigo.

— Até onde eu sei, essa garota tinha namorado. Uns desses pela-sacos da Sonserina. O monitor deles — Sirius Black respondeu, bocejando, desinteressado, enquanto os outros três amigos o encaravam, agora realmente curiosos.

— O quê? Não, eu não peguei! — Sirius disse, já irritado com as piadas de conquistador barato que lhe faziam.

— Quem diria que dentro dessa alma revoltada e rebelde existiria um admirador de sonserinas! — James zombou, sorrindo malicioso para Sirius, reconhecendo o interesse disfarçado nos olhos do amigo.

— Tá de sacanagem, né? — Sirius rebateu, quase exasperado.

— Se um dia eu pegasse alguém dessa Casa, minha mãe provavelmente mandaria esculpir um busto meu com os dizeres “Há Esperança”. — Os amigos gargalharam, e Remus agora queria tirar a desforra.

— E o que foi que aconteceu ontem? Pediu como quem não quer nada que ela acariciasse suas orelhas, transformado? — Remus debochou também.

— Eu não sou você, Moony — Sirius replicou — só dei uma cafungada embaixo da saia dela. — Todos os amigos riram, e até Sirius se sentiu mais leve.

— Não. Sério, não foi nada demais. Enquanto Prongs e Wormtail te seguravam na Floresta Proibida, eu guiei ela para uma cabana minúscula. Depois que ela entrou e se protegeu com umas chamas conjuradas, vi que estava tudo tranquilo. Foi aí que avisei vocês que estava tudo bem para irmos pela passagem do Salgueiro Lutador para a Casa dos Gritos — Sirius resumiu os acontecimentos, mencionando o uivo de aviso.

— E como você a convenceu a te seguir? — James perguntou, já debochado de antemão. Remus e Peter sorriam junto.

— ...Latindo. E abanando o rabo. Elas nunca resistem — Sirius brincou, entre o irritado e o divertido. Todos os amigos gargalharam, e ele já sentia falta daqueles momentos leves mesmo sem ainda ter encontrado sua família por inteiro.

— E quem construiu essa cabana improvisada? — Remus perguntou, já sabendo a resposta.

— ...Eu — Sirius falou, fingindo irritação.

— Muito romântico! — James exclamou, e todos riram mais uma vez.

— Vão se foder — Black retrucou, rindo também.

Agora que seus amigos mencionavam o assunto, Sirius lembrou, enquanto saíam da cabine e rumavam para fora do Expresso Hogwarts, que já conhecia aquela garota há anos, especialmente na época em que sua mãe costumava levá-lo, quando muito criança, e a Regulus, em viagens em família para as terras de famílias bruxas amigas e conhecidas. Ela era do mesmo ano que seu irmão mais novo, e aparentemente os dois inclusive se falavam com alguma frequência. Só fora reconhecê-la como Cordelia Maclearie quando ficaram frente a frente, e a garota tinha uma expressão não apenas de medo, como também tristeza. Não prestara muita atenção naquilo, estando bêbado e transformado em sua forma de cachorro.

Sirius lembrou-se, já recuperado da ressaca, de alguns flashes da noite anterior. Ela parecera tão frágil e delicada naquele momento, de uma maneira que não condizia com os modos arrogantes e desagradáveis dos sonserinos. “Boa noite, senhor Sinistro.” Cordelia dissera, com um sorriso doce como os das belas garotas da Grifinória.

Bem, foda-se. Se eu contasse desse detalhe eles iam me zoar para sempre.

Os amigos enfim se despediram, abraçando-se, James acompanhando Sirius até onde estavam parados seu irmão, Regulus, seu pai, Orion e sua “querida” mãe, Walburga Black, todos elegantíssimos, vestidos com finesse dos pés à cabeça. Sua mãe olhou de seus tênis trouxas até sua jaqueta de couro, e torceu os lábios em um esgar de desprezo. Walburga era sofisticada demais para ralhar com o filho em público, então apenas o ignorou e seguiu caminho com Regulus e Orion ao lado, obrigando Sirius a segui-los atrás, já arrependendo-se amargamente de ter deixado Hogwarts. Nenhum dos seus pais sequer o cumprimentou.

Ao saírem da estação de King’s Cross, Orion voltou-se para os filhos, parando de caminhar para que Sirius pudesse alcançá-los. Seu pai não era tão sádico e louco como sua mãe, mas também acreditava nos mesmos preconceitos que toda a família Black e os impunha sempre.

— Ao invés de irmos para o Largo Grimmauld, teremos uma confraternização com a maior parte dos Black hoje. E com algumas outras famílias de renome, também — seu pai disse, mencionando as outras famílias com considerável arrogância.

— Eu deveria me empolgar com isso? — Sirius respondeu, ríspido e frio, e o pai franziu os lábios.

— Não me importo com o que vai achar, moleque, contanto que mantenha a boca calada durante a Ceia. Nem sequer tem a maturidade de usar alguma roupa decente ao invés desse saco de lixo trouxa — Orion ralhou grosseiramente.

— Sua mãe pode ter desistido de você, mas eu não vou permitir que continue nos envergonhando. Na minha presença, vai agir como eu mandar. Não vou deixar que prejudique o futuro do seu irmão — seu pai ameaçou, e Regulus olhou de relance para Sirius e para o pai, parecendo nervoso. Walburga mantinha-se distante, como se Sirius merecesse sua atenção tanto quanto uma mosca.

— Acredite, não tenho o menor interesse em ser baba-ovo de bruxo das trevas. Seu filho pode ficar com toda a glória — Sirius rebateu, perdendo o juízo.

Orion voltou-se para o filho mais velho e fez menção de dar-lhe um tapa no rosto. Segurou sua própria mão a centímetros de atingir o filho, que sequer se movera. O homem, parecido com os dois rapazes em traços físicos, alto, bonito, apesar da idade, de charme considerável, tinha o rosto retorcido em uma expressão de desagrado, como se fizesse esforço para fingir que não se importava com Sirius.

O rapaz manteve o olhar do pai, controlando a raiva. Falta pouco. Falta muito pouco. Sirius entoou dentro de sua mente, como um mantra, o que fazia em todas as vezes que vivia esse tipo de situação.

— Veja o que me obriga a fazer... — Orion resmungou, suas sobrancelhas franzidas em uma expressão de angústia. Regulus encarava os próprios pés, quieto, e Walburga olhava Sirius como se não estivesse presente.

Sem mais dizer palavra, a família seguiu caminho pelas ruas de Londres, indo parar em um beco abandonado, com alguns gatos vadios revirando latas de lixo.

— Sirius, pegue aquela garrafa vazia. — Orion apontou para uma garrafa de vinho parada no meio da pequena rua estreita, enquanto dava as mãos para Walburga e para seu irmão mais novo, que, por sua vez, segurou um dos braços de Sirius. Sem ter outra opção, o rapaz moveu-se para fazer o que lhe foi pedido.

— Vamos para...? — Sirius perguntou, irritado, sabendo que seria uma Chave de Portal.

— Voltar para onde vocês vieram — Orion respondeu, também irritado — os procedimentos de Hogwarts são rígidos demais. Como um Black, esperaria no mínimo conseguir buscar meus filhos da maneira que desejasse — seu pai falou com desprezo.

— Do que está falando? — Sirius perguntou outra vez, ainda mais irritado.

— Vamos para a Escócia. Para perto de Hogwarts, de onde acabaram de sair. Tudo porque seu diretor não permitiu a nós e a outros pais que buscássemos vocês ou os enviássemos direto da escola, apenas para cumprir essa maldita burocracia. Como se fossem nascidos trouxas ou algum mestiço qualquer que não merecesse privilégios — reclamou Orion.

— O que vamos fazer na Escócia? — Sirius se esforçava para se impedir de praguejar.

— Nos convidaram outra vez, depois de uma década. A família bruxa de origem celta mais importante da Grã-Bretanha. Não que isso queira dizer muito — Orion troçou.

— Será um grande evento, uma reunião importante. Seu irmão tem muitas novidades maravilhosas — finalmente Walburga Black dissera alguma palavra, seus olhos se demorando apenas meio segundo em Sirius.

— Quem nos convidou? — Sirius mais uma vez perguntou, apesar de já saber a resposta.

— Ora. Quem mais seria, senão os MacLearie? — Walburga respondeu, lançando um olhar de desprezo para seu filho que acabara de tocar a Chave do Portal.

Sentindo como se um gancho o puxasse por dentro do seu umbigo, Sirius sentiu-se ser levado de maneira grosseira por uma força invisível, até sentir seus pés tocarem um chão afofado por neve, com estrondo. Olhou para cima, e viu um céu nebuloso, já indicando o meio da tarde e, um tanto ao longe, uma construção antiga e medieval de um castelo antigo que mais se assemelhava a ruínas, construído à beira de um grande lago profundo. Em volta daquela localidade, não se via nenhum sinal de vida além do castelo, circundado não só pelas águas do lago como por montanhas e florestas que não pareciam mais ter fim.

— Voltamos a esta terra esquecida de novo… — Orion resmungou, ajeitando suas próprias vestes escuras.

— Caindo aos pedaços, ainda mais… — Walburga disse, divertida com a desgraça do Clã MacLearie.

Sirius caminhava, tentando perder-se em pensamentos, ignorando a situação que vivia naquele momento. Regulus, ao seu lado, parecia controlar sua própria ansiedade.

Esforçava-se para lembrar-se dos amigos e dos momentos divertidos daquele ano letivo até ali. Porém, quando enfim desceram a pequena colina, sem muita dificuldade pois naquele momento o clima estava mais ameno, sem nevasca, o portão dos muros que circundavam o castelo foi baixado. Logo após, o rapaz olhou para um pequeno cais construído nas entradas do terreno, e imediatamente lembrou-se de algo há muito supostamente esquecido.

Sirius, Regulus e Cordelia brincavam no cais, apostando corrida e atirando água um ao outro, pulando e saindo do lago. Riam muito, gargalhando eufóricos, até que a mãe da garota os interrompeu, a puxando pelo braço e ralhando consigo por estar brincando com garotos como se fosse também um dos meninos. Ela encarou os dois uma última vez, chorosa, e a mãe, com uma das mãos, a forçou a olhar para a frente, tirando-a rapidamente de perto deles.

A tristeza desamparada e solitária em meio ao rosto da pequena Cordelia era idêntica a que portava no dia anterior, antes de Sirius surpreendê-la em meio aos jardins nevados de Hogwarts.


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Notas finais do capítulo

Para quem possa ter ficado curioso com o título: https://www.youtube.com/watch?v=tZQR-o4nO1E. A letra é bem fofinha, e tem momentos que combinam BASTANTE com a fanfic. =)
Aguardo os comentários!