Always With Me escrita por Menta


Capítulo 16
Living Is Easy With Eyes Closed - Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitoras lindas!
Contabilizando um número total de 42 leitoras, êêê todascomemora, devo dizer um MUITO OBRIGADA a todas que fazem da fic cada dia mais prazerosa de escrever. Venho com um capítulo pesado, ESPECIALMENTE a segunda parte, focado no Regulus Black! Ponto de vista dele, yaaay! Como sempre, acabei escrevendo demais, e tive de dividir em duas partes. Assim, peço que comentem nas duas, afinal de contas, postar capítulo dobrado merece presentes de leitoras gentis! =) Tenham consideração pelo meu esforço, e, por favor, comentem nas duas partes.
Devo agradecer especialmente às leitoras Lena18, tia voldy, Lune Noire, LaurenPS por estarem comentando sempre, e também a nova leitora, Luana Gomes, que foi uma fofa que se manifestou pela primeira vez no capítulo passado! Espero que isso anime as fantasminhas, hehehehe, e passem a comentar também. Campanha: façam uma ficwriter feliz, comentem!
Não darei a sinopse dos capítulos, direi apenas que contém: a paixão profunda que o Reg sente, uma lembrança com a Cora e um pouco mais de sua personalidade e passado. Depois, teremos um capítulo pesado, com alguns detalhes meio repugnantes, mas que faz parte para criar a aura de radicalismo dos Comensais da Morte. Teremos, para compensar, um final fofo que acho que vão gostar.
Assim, que a magia flua em todas vocês!
Beijos e boa leitura!



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Tão linda...

Fora seu primeiro pensamento, depois de muito, muito tempo.

Ao abrir os olhos, ele se deparara imediatamente com o sorriso resplandecente de Grace, seus olhos castanhos estreitos, cintilando com o gesto sincero. Seu rosto pendia acima de si, desafogando toda a dor que antes sentira, seus cabelos castanhos escuros emoldurando o rosto mais lindo que ele já tivera a sorte de ver. Por trás de si um halo de luz vespertina saía por entre as cortinas da ala hospitalar, naquela tarde de quinta-feira, iluminando o rosto da garota defronte a Regulus Black.

De que importava que Sirius soubesse que era um Comensal da Morte? Qual era a relevância de suas costelas e ossos partidos ao ser atacado pelo irmão? Por que deveria se sentir humilhado por tudo o que acontecera? Grace estava ali, olhando para ele, e sorria. Sorria, porque finalmente acordara, e estava de novo ao seu lado.

Regulus tinha certeza que jamais vira algo tão bonito em vida.

O efeito calmante, acalentador das doces feições da garota, sorrindo-lhe pacificamente, como se partilhasse do mesmo alívio que sentia, dava-lhe a vaga ideia das ondas calmas de uma baía embalando um náufrago após uma tempestade em alto mar. Seus olhos marejados de lágrimas estavam contraídos com candura, enquanto lhe sorria um de seus poucos sorrisos verdadeiros. A garota quase nunca era vista com expressão fechada ou tristonha, mas breve e raro era seu riso honesto. Regulus sentiu-se como o homem mais sortudo do mundo, enquanto ela apertou sua mão esquerda, estendida para fora do leito hospitalar, dizendo entre uma leve risada de alívio:

– Finalmente acordou, Reg, seu preguiçoso.

Subitamente, Regulus Black abriu os olhos mais uma vez, levantando-se abruptamente.

Sonhara mais uma vez com Grace Macbeth, que lhe aparecera desta forma muitas vezes enquanto ficara desacordado desde o domingo passado até a tarde de quinta-feira, do dia 20 de março de 1977. Era a manhã do dia 22, e, podia ver no relógio antiquíssimo, uma relíquia da família Black o horário. Fora dado de presente por seu pai, Orion, e agora repousava em sua cabeceira... Dizendo-lhe, por seus ponteiros, que estava muito atrasado.

Ouviu o ruído rascante de alguém puxando suas cortinas verdes de dossel da sonserina de maneira brusca.

– Caramba, Reg, já são quase onze horas. – Rabastan Lestrange avisou ao amigo, seu rosto anguloso e longo mostrando feições ansiosas. Estava muito bem vestido, usando um casaco sofisticado de tweed, suéter e gravata social, em cores sóbrias e escuras, diferente do uniforme da Escola.

Era dia de visitar Hogsmeade. E de algo a mais... Para Regulus e alguns poucos selecionados.

– Foi mal. Acho que dormi demais. – Regulus Black se desculpou, passando as mãos acima dos olhos fechados. Infelizmente, a realidade de seu dia mal teria relação com o que sonhara. – Vou me aprontar em cinco minutos, pode descer. – O rapaz disse ao amigo.

– Não tem mais tempo de comer café da manhã. É melhor tentar surrupiar algo da cozinha. – Rabastan aconselhou. – Sabe que seu dia será cheio... – Lestrange falava com propriedade, como se estivesse em posição de dar-lhe conselhos. Regulus se irritou com a fala prepotente do colega da sonserina.

– Sei o que terei de fazer. Darei um jeito. – Regulus respondeu rispidamente, como não era de seu feitio. – Rabastan franziu as sobrancelhas, parecendo conter a própria irritação com a resposta também arrogante de Reg. – Se quiser, pode me esperar junto das garotas. Se não, pode ir à frente, não me importo. – Ele manteve a fala prepotente, para afastar Rabastan de uma vez. O rapaz de longos cabelos ruivos, agora presos em um rabo de cavalo que descia por suas costas, deu-lhe um olhar de soslaio, parecendo conter desdém em suas íris castanhas escuras. Deu-lhe as costas, e logo saiu do dormitório masculino do quinto ano da sonserina.

Não tem coragem para discutir porque quer meus favores. Regulus pensou, já comprovando a desconfiança que nutria a respeito dos interesses do “amigo” em si. Houve um tempo em que Rabastan e Regulus eram próximos, assim como suas famílias, que mantinham laços estreitos de convivência até hoje. Mas, conforme cresciam, e Regulus se destacava academicamente, bem como em outras áreas, Rabastan ficou para trás. Longe da visão... De quem importava.

Sabia que o rapaz ruivo queria de si ajuda para integrar o círculo íntimo do Lorde das Trevas. Para suas famílias, não havia honra e demonstração de status e poder maior do que tornar-se próximo dele. Era o desejo de muitos, o sonho de alguns, e a realidade de poucos.

Dentre eles, do mais jovem Comensal da Morte de todos os tempos: Regulus Black.

Ao enfim se aprontar, vestia um longo sobrecasaco vitoriano preto, calças escuras, uma camisa social lisa e discreta e um colete de seda por cima, no qual depositou outro relógio, desta vez um presente de seu tio Alphard, feito de ouro maciço. Uma peça refinada antiga, usada no século passado como relógio de bolso. Assim que conferiu a si mesmo no espelho, reparando que seu cabelo crescera ainda mais, alcançando a altura dos ombros, sentiu-se um tanto deslocado e até mesmo tolo por ter de vestir-se desta forma que saberia chamar a atenção. Em seguida, bufando levemente, o rapaz abriu a porta do dormitório do quinto ano de sua Casa e desceu as escadas, saindo rapidamente das masmorras e dirigindo-se às cozinhas do castelo.

Após algum tempo de conversa com elfos domésticos com os quais mantinha alguma relação de amizade e afeição, por inclusive ter saudades de Monstro – algo que seria muito mal encarado, senão rechaçado dentro da Sonserina – Regulus se alimentou veloz de um farto café da manhã com o qual foi presenteado pelos elfos, dentro das cozinhas de Hogwarts, comendo bolos caseiros, pão-de-ló, frutas e bebendo uma grande quantidade de suco de abóbora. Sentindo-se pronto, despediu-se educadamente dos elfos domésticos, que lhe pediram que os visitasse com mais frequência.

Mentiu, dizendo-lhes que assim o faria.

Em pouco tempo, Reg alcançou a porta principal do castelo, correndo pelos jardins até os alunos que aguardavam em fila para a entrada nas carruagens que os levaria para Hogsmeade. Andando rápido, sentindo seus ossos e músculos que se recuperaram com dificuldade pinicarem dentro de seu corpo pelo esforço que realizara, ele respirou fundo e passou os olhos pelos estudantes. Viu alunos do terceiro ano da Corvinal, um grande grupo de alunos da Lufa-Lufa do sétimo ano rindo barulhentos, e finalmente as encontrou. Cabelos loiros, castanhos e castanhos escuros movimentavam-se, dançando pelas costas de suas três donas que andavam em direção a uma carruagem.

– Grace! – Regulus chamou, sem muito fôlego após dias de repouso forçado e recuperação de seu corpo fragilizado. – Grace, Lia, Lis. – Chamou o garoto mais uma vez, respirando fundo.

– Reg! – Grace foi a primeira a se voltar para ele, suas madeixas castanhas escuras balançando dançarinas com o movimento Deu-lhe um lindo sorriso ofuscante que quase o fez esquecer que estavam acompanhados das duas melhores amigas da garota, o MacTrio em peso.

– Demorou muito para acordar, seu preguiçoso. – Ela falou, e deu-lhe uma piscadela imperceptível, seus longos e aprumados cílios batendo-se com a delicadeza das asas de uma fênix. Estava mencionando discretamente o momento em que o testemunhara despertar após a partida de quadribol de sábado passado.

– Bem, hoje é um grande dia. – Ele se explicou, sorrindo-lhe também com gentileza, e aproximando-se da garota. Cordelia deu-lhe espaço, permitindo que o garoto caminhasse ao lado da amiga, sorrindo-lhe da maneira recatada que lhe era típica.

Ele lhe agradeceu com um olhar silencioso, e reparou que ela demorou seu olhar em seus cabelos agora compridos, franzindo a sobrancelha como se aquilo a desagradasse ou lhe lembrasse de algo aborrecido. Reg teve a impressão de ver as maçãs do rosto de Lia se avermelhando, enquanto ela franziu ainda mais as sobrancelhas e voltou o rosto para frente, parecendo um pouco ranzinza.

Ela anda mais quieta do que de costume. Regulus pensou, levantando uma sobrancelha questionadora, para logo distrair-se com Grace outra vez.

– Será mesmo! Quero que me conte tudo depois. – Macbeth disse, abraçando-lhe pelo braço, pidona, enquanto as colegas adentravam a carruagem. Regulus lhe sorriu de volta, contente com o abraço, enquanto reparou que, algumas carruagens atrás de si, Rabastan subia para dentro do veículo junto com Barty Crouch Jr., Avery e um colega que não conhecia de nome da Corvinal.

Acho que ele ficou realmente puto para aturar um maluco e um sádico como eles.

Barty Crouch era conhecido por seu humor... Peculiar. Gostava de torturar aranhas e pequenos animais, roubava livros da ampla biblioteca de seu pai, um respeitável funcionário do Ministério, para estudar maldições das trevas, e era amigo íntimo de Alijah Avery, um rapaz que se gabava de sua primeira demonstração de magia ter sido muito tardia, porém potente: cegara os olhos de um trouxa que tentara lhe assaltar quando tinha por volta dos oito anos de idade, sem sequer lhe tocar.

Quando podia, Regulus preferia manter distância dos dois, considerando-lhes companhias muito desagradáveis. Apesar de ter uma carga mágica considerável, Avery era disperso e não tinha bom desempenho nas disciplinas bruxas, tendo inclusive dificuldades de aprendizado. Regulus lhe desprezava um pouco, por não ver valor na força bruta que não sabe ser bem utilizada. E Barty Crouch era insano, um companheiro lamentável para qualquer um que tivesse bom senso.

– Pois é. – Phyllis percebeu a direção de seu olhar, e sorria com o canto dos lábios, uma de suas sobrancelhas levantada em suas feições que expressavam grande desdém.

Olhava para a mesma carruagem, tendo sido a última garota a subir na carruagem do MacTrio. Após vê-la se aprumando em seu lugar ao lado de Cordelia MacLearie, Regulus subiu e sentou-se ao lado de Grace.

– Entendo bem o que está pensando. Mas o Rab está melhor com eles do que com a gente. Com certeza combina mais com essas companhias. – Lis debochou, ferina, e Grace comprimiu um riso sarcástico. Parecia concordar.

Cordelia, aérea, olhava pelas janelas da carruagem, como se sua atenção estivesse desviada para outro assunto. Seus olhos verde-claros brilhavam contra a luz do sol que entrava pela vidraça da janela, deixando suas íris quase amarelas.

Era uma visão muito familiar para ele, que convivera muito com a garota em sua infância, e fixara-se definitivamente como seu amigo durante os anos de Hogwarts.

– Também não é para tanto. – Regulus tentou amaciar. – Ele ao menos é mais capaz do que todos os três. – Ele defendeu o amigo apenas por diplomacia, sabendo que Rabastan não era realmente muito talentoso.

– Eu não irritaria o Avery enquanto pudesse evitar. – Lis disse sombria, cruzando suas pernas de maneira um tanto desleixada, deixando partes de suas coxas aparecerem bastante. – Já zoar com a cara do Rab é um dos meus passatempos preferidos. Ele merece. – A garota debochou, rindo, e dessa vez Lia deu algumas risadas, junto de Regulus e das garotas. Reg tentou desviar o olhar das coxas de Lis, que ficaram ainda mais visíveis quando seu corpo tremeu levemente enquanto ria, antes que Grace o notasse. Ao olhar para a menina de cabelos escuros ao seu lado, reparou que era tarde demais; a menina já o fuzilava com olhos castanhos flagrantes. Levantando as sobrancelhas em um pedido mudo de desculpas para Macbeth, Grace ignorou o olhar de Regulus para as coxas de Lis. Assim, a garota dirigiu-se a amiga de cabelos encaracolados e mais claros e curtos do que os seus:

– Lis, por favor, tenha classe. – Grace pediu, franzindo as sobrancelhas e olhando para as coxas da amiga. Phillys fez um gesto infantil e vulgar como se fingisse levantar as saias, e Grace revirou os olhos, deitando a cabeça no ombro de Regulus. Aproveitando a deixa, o rapaz, um tanto sem jeito, a abraçou pelos ombros, puxando-a para mais perto de si.

– Aliás, Lis. Consegui achar aquilo que me pediu. Me deve uma. – Cordelia intercedeu. Regulus sentiu vontade de lhe dar um abraço. Sendo a mais sensível e esperta dentre as três, a garota era sempre diplomática quando algum conflito ou situação constrangedora irrompia entre as duas. Grace e Phyllis eram muito próximas, mas costumavam discutir bastante, sendo Lia a conciliadora de todas estas brigas.

– O livro que eu queria? – Phyllis deu um olhar irritadiço para Regulus e Grace, para depois abrandar seus olhos verdes e escuros ao encarar a amiga loira. O rapaz tinha a forte sensação de que, ultimamente, sua presença junto ao grupo incomodava Lis. – Little Lia assaltando a sessão proibida da biblioteca? Que perigo! – A menina dos cabelos encaracolados debochou. – Tome cuidado, está tão má que daqui a pouco Voldemort lhe chamará para aumentar suas fileiras de seguidores. – A garota de cabelos cacheados bradou, sem tato.

– Não fale o nome dele. – Regulus disse entre dentes, controlando sua voz para que saísse o mais suave possível. Phyllis gostava de agir de maneira chamativa e sem noção, mas ultimamente estava abusando.

– Por quê? – Ela levantou uma sobrancelha em desafio. – Não é um dos queridinhos dele? – Os olhos verdes e escuros da garota faiscaram. – Não vai me dizer que agora tem med... – Cordelia MacLearie a interrompeu mais uma vez.

– Isso mesmo. – Ela levantou a voz de forma que calasse Phyllis McNair. – Criaturas das Trevas e Seus Covis. – Cordelia revirou os olhos, como se o livro fosse de certa forma reprovável. – É literatura de ficção. Não pode considerá-lo ciência bruxa. Afinal de contas, não existe isso de criaturas das trevas. – Lia defendeu.

Regulus admirava a coragem de Cordelia em alguns aspectos. Considerava-a muito competente, inteligente e capaz, porém limitada por sua magia celta, que não a permitia explorar certos recônditos da magia bruxa, como a magia das trevas. Por mais que fosse reservada e fechada, a garota não tinha vergonha de seu sangue celta, acreditando e cultivando suas tradições e ensinamentos. Apesar de sofrer certo preconceito das camadas mais nobres dos bruxos puro-sangue por sua “magia de elfo doméstico”, ela tinha firmeza em suas concepções.

Algo que o próprio Regulus jamais desfrutara.

– Tá bom. Você também escreveu uma crítica do livro ou vai me emprestar e me deixar tirar minhas próprias conclusões? – Phyllis respondeu, ríspida.

– Sinta-se à vontade. Mas me faça o favor de não rasgar nenhuma página do livro, senão vai ficar muito claro que alguém o tirou do seu lugar. – Cordelia ralhou de antemão. – E não o deixe debaixo da cama. Ficará todo negro, invisível no escuro, e tentará imitar o comportamento de uma mortalha-viva, te atacando enquanto dorme. – Ela olhou para cima, como se estivesse se recordando de algo.

– E cuidado ao lê-lo em noites de lua cheia. Ele uiva e passa a cheirar como cachorro molhado. – Lia fez uma careta de desaprovação. – Sinceramente, Lis, para que quer ler essa merda? – Cordelia falou grosseiramente, e todos na carruagem riram. Por a garota jamais usar esse tipo de palavreado, o escolhendo em raras ocasiões, era sempre divertido e destoante vê-la falando assim.

– A função do meu tio Walden é ser um carrasco de criaturas mágicas. A matéria tem alguma relevância na minha família, especialmente os animais mais perigosos. É bom aprender um pouco para tirar uma onda com os velhos, e me deixarem um pouco em paz nestas férias. – Ela olhou entediada para fora da janela, enquanto falava. Já estavam bem próximos da descida para o vilarejo escocês ao lado de Hogwarts.

– Afinal de contas, ano que vem teremos até a Copa Mundial de Quadribol, e quero estar bem na fita para ter um pouco de liberdade. – Lis respondeu, bocejando sem cobrir a boca. – É por isso que eu sei que é minha amiga de verdade. Tenho este tipo na família, um algoz dos seus amiguinhos, e você ainda assim me ama! – Ela puxou Cordelia para um abraço, enquanto a garota franzia as sobrancelhas e lhe dava um sorriso constrangido.

– Por falar nisso, não sabe a última do meu tio. – Phyllis falou, desinteressada, encarando Cordelia. Lis considerava o parente um maníaco, tão sádico ou mais do que Avery, e não escondia isso dos amigos.

– Acho que sei o que é. – Regulus interveio, tentando participar da conversa. Grace levantou os olhos para ele, franzindo as sobrancelhas. Estava chateada, parecia, de estar um tanto excluída da conversa. As amigas aguardaram em silêncio o que o garoto tinha a dizer.

– Ouvi rumores de que ele estava interessado em trazer os gigantes para a Revolução. Para o nosso lado. – Reg disse mansamente, enquanto Grace arregalava os olhos, surpresa. Phillys concordou com um aceno, revirando os olhos como se a ideia fosse uma loucura. Cordelia olhava diretamente para Regulus, mas seu olhar parecia indecifrável.

– É possível? – Grace perguntou, interessada. – Imagine que máximo, ter gigantes para nos servir! – A garota arregalou ainda mais seus belos olhos, seus cílios batendo rápido, como se fossem pássaros alçando voo.

– Seria no mínimo complicado. – Phyllis debochou. – Não consigo imaginar um gigante cortando o peru da ceia de Natal. Imagine o tamanho dos aventais que teríamos de arranjar para eles! – Lis brincou, e os garotos sorriram.

– Isso seria impossível. – Cordelia respondeu, sua voz um tanto fria, seus olhos mais uma vez perdidos pela paisagem escocesa que contemplava além da janela. Estavam perto de descer na parada próxima de Hogsmeade, e Regulus percebeu que o assunto lhe desagradara. – Gigantes não são subservientes. – Ela respondeu, como se fechasse o assunto.

– São criaturas mágicas, princesa Lia. – Phyllis debochou, cortando a amiga, já impaciente.

– Justamente por isso. Não são domesticáveis. – A garota loira respondeu, tentando soar fria. – O que acha, Regulus? – Ela parecia tentar fugir do assunto, como se não quisesse discuti-lo ou apresentar opinião a respeito. Regulus percebia que a opinião de Lia seria minoria entre os amigos.

– Eu acho... – O rapaz falou, e viu o olhar de Grace esperando sedenta pelo que poderia dizer. - ...Que não há limites para o que o Lorde das Trevas pode fazer. – Ele respondeu, ensaboado, e Grace lhe sorriu com admiração, como se ele próprio fosse ser responsável pela conquista dos gigantes. Lis soltou o ar pela boca, parecendo impaciente, e ele julgou ter ouvido sua voz sussurrar quase inaudível para Cordelia as palavras “puxa-saco”. A menina loira, sua amiga por tantos anos, lhe olhou devagar, e seu rosto parecia desapontado.

Por alguma razão estranha, tinha a sensação de que, pela forma com que ela o olhava, estava comparando-o com alguém. Alguém que ela julgava melhor, aparentemente.

Ao enfim saírem todos da carruagem e se encaminharem ao povoado, Regulus caminhou com as garotas até o Três Vassouras, já cheio mesmo sendo por volta do meio-dia. Pediram cerveja amanteigada, e Grace pôs-se a contar das cartas que recebera da Associação Internacional de Modelos Bruxas, convidando-a para os testes de aptidão, seus olhos cintilando de alegria ao contar o feito para Reg e suas amigas. Ele sorriu incentivando-lhe, e ela passou a contar sobre o encantamento que desenvolvia aos poucos para aumentar o charme pessoal de qualquer bruxo e bruxa, por menos atraente que fosse. Regulus tentava lhe ouvir com atenção, mas tinha algo muito mais desagradável planejado para aquele dia, do que passá-lo junto consigo. Grace sabia, mas tentara manter o acontecimento em segredo das outras garotas, que descobririam no momento certo.

Ao ver Latrell lhe encarando, abrindo a porta do bar e se aproximando da mesa acompanhado de Rumild Lestrange, que usava um decote no mínimo chamativo, sabia que a hora chegara.

– Boa tarde, garotas. – Latrell saudou o MacTrio, e deu um aceno de cabeça curto e frio para Regulus, como se o incentivasse a se levantar. Estava em uma hierarquia superior ao garoto, especialmente quanto aos Comensais da Morte, mas Reg reparava que, em seus olhos estreitos e espertos, brilhava alguma espécie de faísca de inveja.

Sabia que o monitor-chefe de Hogwarts sempre o detestara, por ter sido extremamente ciumento e possessivo durante o namoro com Cordelia. Regulus era o único amigo homem de Cordelia em Hogwarts, laços que começaram desde sua infância, e o rapaz mais velho não tirava de sua própria cabeça que Reg fazia o tipo que se finge de amigo para depois seduzir a garota de quem se aproxima. Ele até estaria certo, errando apenas na pessoa com quem Regulus tentou por algum tempo usar essa abordagem e enfim conseguira.

Apesar de achar Cordelia atraente, ele percebia que a garota erguia um muro invisível contra a aproximação alheia. Fora difícil tornar-se seu amigo de verdade, não apenas seu companheiro de brincadeiras infantis, apesar de considerá-la uma companhia agradável e divertida. Lia era muito arisca, de personalidade arredia, e bastante reservada. Para Regulus, parecida demais consigo para se atrair por ela.

Se não fosse por Sirius, talvez jamais tivessem se afeiçoado.

Regulus ainda se lembrava de como passara a falar com a menina loira. Sozinho, aproveitando o verão junto a família Black e outros puro-sangue no castelo do clã MacLearie, hóspedes por alguns dias, Reg se sentia solitário. As outras crianças eram muito mais velhas do que ele, e, mesmo que a maioria fossem relacionadas a ele por sangue, não o convidavam a participar por ser o mais novo de todos.

O próprio irmão mais velho, por uma risível diferença de um ano, não tinha dificuldades em fazer amizade e conquistar a simpatia até dos bruxos adultos. Sirius Black sempre fora engraçado e carismático, tinha um magnetismo natural que atraía a companhia alheia. Regulus era tímido, acabrunhado, e esperava os outros virem até si para mostrar-se a si mesmo. Apesar de atrair a atenção de muitos, as pessoas costumavam desistir dele, por preferir se isolar do que se arriscar ao convívio social.

– Vá lá, fale com ela. – Sirius disse, empurrando o irmão mais novo, ambos descendo uma das colinas dos jardins do clã MacLearie. Na beira do cais, sentava-se uma garota loira, seus pés desnudos na água do lago. Estava muito quente, e Regulus suava dentro de suas camadas de roupas.

– Não. Não quero. – Regulus respondeu, emburrado.

– Vai ficar jogando pedras sozinho no lago? Não seja idiota. – Sirius o empurrou mais uma vez. – Vá brincar com ela. Ela também está sozinha. – O irmão pontuou.

– Já disse que eu não quero! – Regulus se irritou e o empurrou de volta. Sirius quase caiu no chão, mas se equilibrou, e deu-lhe um safanão na nuca.

– Sou mais velho do que você. Me respeite. – Sirius exigiu, sua voz quase um rosnado, e Regulus sentiu certo medo do irmão. O irmão mais velho o puxou pelo braço, e, antes que pudesse resistir, sentiu que ele fingia torcê-lo.

– Tá bem! – Regulus falou entre dentes, sentindo dor. Não queria que o vissem assim fragilizado. – Desculpa. Desculpa! – Reg pediu, e Sirius o soltou rapidamente, para em seguida gritar:

– OY! – Ele já descia a colina rapidamente, e Regulus sabia que deveria segui-lo, para evitar mais uma briga. – Oy, é com você mesmo! – A garota loira se voltou rápido, assustada pelos gritos de Sirius.

– Ei, loirinha. Viemos brincar com você. – Sirius nem sequer perguntara se ela queria, e já sentara-se ao seu lado. A menina loira franziu as sobrancelhas para ele, não parecendo gostar de sua intromissão.

– Eu sou o Sirius. E você, qual é o seu nome? – Ela continuava a encará-lo, e Regulus resolveu sentar-se do outro lado livre próximo dela.

– ...Cordelia. – Ela respondeu, parecendo sem jeito. Em seguida, voltou os olhos arredios para Regulus, parecendo temer que ele também fosse deselegante como o irmão mais velho.

– E eu sou o Regulus. – Reg respondeu, tentando parecer menos petulante do que Sirius. O irmão, com um sorriso malicioso no rosto, olhou rapidamente para Regulus. Engolindo em seco, o garoto mais novo tentou se segurar na borda do cais, prevendo o que viria, mas Sirius era mais forte e o empurrou para dentro da água do lago.

Caindo para trás de tanto gargalhar, Sirius parecia ter lágrimas nos olhos, e Regulus controlou as próprias lágrimas de humilhação. Cordelia olhou de Sirius para Regulus, silenciosa. Em seguida, se levantou, agora encarando Sirius mais uma vez.

– O que foi? Não achou engraçado? – Sirius perguntou para a menina loira, sorrindo de canto de lábios, em uma postura desafiadora.

– Muito. – Ela respondeu, sorrindo também, e, para a surpresa de Sirius, mergulhou graciosamente dentro do lago, como uma sereiana, os respingos d’água molhando as calças do garoto, parecendo que urinara em si mesmo. Sirius olhou para o estrago em suas calças e xingou um palavrão ressonante, olhando para a silhueta de Cordelia como se ela fosse maluca.

Seu vestido azul escuro, molhado completamente, parecia quase negro. Quando emergiu, sorria para Regulus, nadando ao seu lado.

– Sirius fez xixi nas calças! – Cordelia apontou, rindo, e Regulus passou a gargalhar também. Sirius Black pareceu primeiramente muito irritado, furioso quase, mas, vendo que os garotos riam e se divertiam dentro do lago, deu uma risada discreta também, derrotado.

– Vocês vão ver quando eu pegar vocês! – Sirius ameaçou, pulando de “bomba” dentro do lago. Ao emergir, Regulus e Cordelia nadavam já próximos, um respingando água no outro. Subitamente, os dois garotos riram, acompanhando o sorriso genuíno da garota que parecia antes um tanto séria.

– Duvido que nadem melhor do que eu! – Cordelia MacLearie passou a nadar rapidamente para longe, no lago, corajosa e divertida.

Regulus encarava Cordelia, agora muitos anos depois, vendo sua expressão fria encarando o ex-namorado. Percebera que a garota sofrera, e relutara em lhe contar que flagrara Latrell traindo-lhe em alguns momentos passados. Não queria que ela sofresse, detestava a ideia de ser pivô de algum tipo de conflito em seu relacionamento, mas sabia que a amiga merecia alguém melhor.

– Vamos, Black. – Latrell Graeme falou em tom de ordem, beijando com desnecessária intimidade Rumild na frente das três garotas. Ele percebia que o rapaz tentava humilhar Cordelia para aplacar seu orgulho ferido ou talvez até algo que ainda sentisse por ela, mas Reg se perguntava se a estratégia ainda funcionava. Cordelia parecia impaciente, ao invés de desagradada. Como se apenas quisesse que ele se afastasse logo.


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Notas finais do capítulo

Aguardo os reviews da primeira parte, hein! =D Quero ver todas comentando, lindas!



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