Always With Me escrita por Menta


Capítulo 11
Dirty Paws


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, lindonas!
Como dito ontem, postaria logo esse capítulo, também da Cordelia, já que o Sirius ganhou dois POVs seguidos nos capítulos anteriores.
Dedico este capítulo à leitora Isabel Macedo, e agradeço muito a LaurenPS e Natália Leão que comentaram tão rapidamente a postagem do capítulo anterior! ^^ As leitoras que ainda não comentaram e estão sempre por aqui me trazendo um sorriso enorme ao rosto (sim, Lune Noire, Tia Voldy e Babi Prongs querida, estou falando com vocês HUAHUUHE), aguardo seus comentários no capítulo anterior a esse, também, assim como neste!
Peço desculpas pelo capítulo ter saído grande e tal. Eu sei que está BEM extenso, o maior da fic até agora, e realmente pretendo diminuir isso. Só que não daria para dividí-lo em dois. Apesar de grande, ele tem bastante diálogo e tentei fazê-lo ser bem movimentado e informativo; acredito que não acharão cansativo, especialmente pelas cenas finais.
Veremos, agora, que a guerra vai avançando pouco a pouco, mostrando suas garras de perigo com alguma discrição. Teremos um pouco de drama adolescente, junto a isso (admitam, todas gostamos disso também HAUAHEUH), e um final que, espero... Todas vão gostar!
Digo, assim, por último: obrigada por todos os comentários, e pelos 23 acompanhamentos que recebi. Tenho 10 favoritações, também, e isso me deixa bastante feliz! Saibam que comentários são muito importantes para a dedicação do escritor, leitores ainda fantasmas =) e podem ter certeza que tenho todo o carinho e atenção para responder quem é gentil de me presentear com suas opiniões a respeito da história, favoritações e, quem sabe em breve... Recomendações? Hehehehehe! Uma sugestão! ;P
Beijos e boa leitura! Que a magia flua em todas vocês! =D



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A tarde de terça-feira passou com tranquilidade. O dia seguinte também foi leve, mas agora já chegava a outra data que a garota temia.

Quinta-feira. O dia das detenções.

Cordelia não sabia como reagiria ao encontrar Black novamente. Nos poucos momentos que passava pelas partes comuns da Escola, evitando as localidades mais apreciadas pelos Grifinórios – os jardins dos castelos, os corredores do sétimo e sexto andar, os jardins de inverno próximos à sala de herbologia -, ela evitava fazer contato visual com qualquer um que não fosse membro do MacTrio, a forma com que eram chamadas ela, McNair e Macbeth, por estarem sempre juntas. Acabou passando muito tempo na sala comunal da Sonserina e evitando as partes do exterior do castelo.

Infelizmente, apesar de isso lhe permitir ter passado quase a noite toda de quarta-feira conversando e rindo com Reg, Grace, Phyllis, Rabastan e Sheryl Flint, foi também obrigada a suportar Latrell sentando-se próximo deles com seus amigos e sua nova namorada, tão grudados que pareciam até querer se fundir em um mesmo corpo. Ela não se incomodava por ciúmes, muito pelo contrário; o que a irritava era saber que ele agia assim apenas para humilhá-la, mexer com seu orgulho, o que a deixava ainda mais furiosa por também saber que ele tinha ciência de que conseguia exatamente o que queria.

De qualquer forma, a noite fora agradável. Reparara na súbita proximidade de Grace e Regulus, que flertavam descaradamente, Grace cruzando e descruzando as pernas em sua minissaia, sentada defronte a Regulus, tentando – e conseguindo – chamar sua atenção. O garoto volta e meia achava algum motivo para elogiá-la, que lhe sorria fingindo timidez, e Cordelia quase sentia pena do rapaz ao perceber que ele não tinha poder nenhum para resistir a Grace. Apenas podia torcer para que a garota não o magoasse.

Phyllis, observando aquilo, não parecia muito animada, mas volta e meia contribuía ao grupo com alguma piadinha sarcástica. Depois de alguns momentos falando besteiras, Rabastan puxou outra vez o assunto da Revolução. Já estavam sozinhos na sala comunal, e passava da meia-noite.

– Mostre para eles, Reg. - Os olhos de Rabastan Lestrange faiscaram. - Pare de fazer doce. - O amigo implicou.

– Eu... Não acho uma boa ideia. - Regulus respondeu, subitamente sério.

– Do que ele está falando? - Grace perguntou, piscando os olhos com charme para Reg.

– Você deveria ter orgulho, cara. - Rabastan insistiu. - Se não vai mostrar, eu mostro por você. - O rapaz se levantou e foi até onde o amigo estava sentado. Regulus tentou sair do sofá de couro verde, mas Lestrange e McNair o seguraram.

– Agora eu fiquei curiosa. - Phyllis fuzilou o rapaz com o olhar.

Regulus respirou fundo, meneou a cabeça, e puxou a manga de um dos braços. Cordelia, já previamente preocupada, sentiu a mesma sensação horrível na boca do estômago de quando lera a notícia da morte da mãe de Mary MacDonald.

Desenhado pelo braço de Regulus Black estava uma caveira com a boca escancarada, uma serpente descendo sinuosamente de dentro de sua garganta para seu antebraço.

– Isso é? - Grace perguntou, seus lindos olhos amendoados castanhos arregalados.

– A marca de um Comensal da Morte. - Rabastan respondeu por Regulus, seu sorriso empolgado transparecendo um pouco do que parecia ser inveja. - O círculo mais importante da Revolução. Os preferidos do Lorde das Trevas.

– Não sou um dos preferidos, na verdade. - Regulus respondeu, humilde.

– Pare com a falsa modéstia! - Grace disse docemente. - Você é brilhante, Reg. - Cordelia reconhecia em seus olhos o mesmo brilho faminto que a garota dirigia para os rapazes que julgava interessantes o suficiente para serem vistos ao seu lado.

– Regulus está muito bem cotado. - Rabastan insistiu. - Assim como meu irmão. E seu tio, McNair. - Ele dirigiu-se a Phyllis.

– Parabéns a todos nós. - Lis respondeu debochada, colocando os dois pés em cima da mesa de centro em meio ao grupo. Cordelia, sentada a sua frente, repreendeu seu gesto, e Lis a respondeu dando-lhe a língua.

– É algo digno de ser comemorado mesmo. - Sheryl Flint enfim falou, movendo seus cabelos morenos lisos e escorridos para o lado. Seus olhos azuis faiscaram. - Acho que nunca serei boa o suficiente para fazer parte da Revolução. - A garota tinha notas baixas e não era realmente nenhum prodígio na maior parte das matérias.

– Ela está certa. - Rabastan falou outra vez. - Você não deveria ser tão sarcástica, Phyllis. Alguns podem entender que você está do lado... Errado. - O amigo ameaçou levemente.

– Eu estou do meu lado, Rab. - Phyllis respondeu, encarando-o séria. Não era novidade que os dois jamais se deram muito bem.

O rapaz de cabelos ruivos escuros lhe deu um sorriso amarelo e sentou-se no lugar que ocupava. Por alguns minutos, ficaram em silêncio.

– O que essa marca realmente significa? - Cordelia perguntou, sentindo um pressentimento agourento. Phyllis a olhou devagar, e ela desviou o olhar da amiga.

– É a marca dos Comensais. - Regulus respondeu timidamente. Grace ainda o encarava como se fosse uma loba e ele, um apetitoso pedaço de animal.

– Comensais? Não eram “Cavaleiros de Walpurgis”? - Lia perguntou, sentindo-se mais e mais preocupada.

– Não usam mais esse nome desde o ano passado, Little Lia. - Phyllis respondeu. Cordelia encarou a amiga, surpresa, e ela manteve o mesmo olhar despreocupado.

– Comensais da Morte. - Rabastan disse, movendo uma taça de suco de abóbora em um movimento circular. - É assim que o Lorde das Trevas chama seus principais seguidores, agora. - O garoto disse imperiosamente.

– Se você queria causar impacto, era melhor que estivesse com uma taça de vinho na mão. - Phyllis implicou com o rapaz. - Com essa taça de suco de abóbora, perde toda a moral. - A garota debochou e o grupo riu divertido.

– Espere e verá, Phyllis. Meu irmão vai me colocar para dentro dos Comensais muito em breve. Ele, e nosso grande amigo Reg. - Ele sorriu para o rapaz de cabelos negros sentado ao seu lado.

– Se o Lorde das Trevas não tiver critério algum, é bem possível que você passe na entrevista para aprendiz de Comensal. - A menina insistiu, e os amigos continuaram a rir.

– Cuidado com o que você fala, Phyllis. - Rabastan insistiu, e agora parecia realmente sério. - Ser malandra agora é fácil. Daqui a pouco, não vai ter tanta coragem. - O rapaz a ameaçou outra vez.

– Qual é o propósito dessa marca? - Cordelia interveio, tentando acalmar os ânimos e mudar um pouco o assunto. - Um rito de passagem, uma amostra de exclusividade? - Ela perguntou, tentando conseguir a atenção dos amigos.

– O Lorde das Trevas marca apenas quem considera ser muito digno desta honra. Os seguidores especiais, privilegiados. - Rabastan explicou. - Os que permite vê-lo pessoalmente. - O rapaz terminou a frase, e Cordelia sentia-se cada vez pior.

– Como ele é pessoalmente? - Grace perguntou para Regulus.

– Ele tem... Uma presença impressionante. - Reg respondeu, parecendo desconfortável.

– Como assim? - A bela garota insistiu.

– Desista, Gray. Você é muito linda, mas o Lorde das Trevas você não vai conseguir pegar. - Phyllis interrompeu o diálogo dos dois, e os amigos não puderam resistir e gargalharam. Regulus parecia incomodado, olhando Lis como se ela fosse inconveniente, e Grace a encarava tentando não demonstrar irritação. Cordelia era talvez a única que percebera a amargura na voz da amiga, ao debochar.

– Depois dessa, acho que é hora de me retirar. - Rabastan se levantou, e Sheryl também despediu-se dos restantes. Cordelia deu um olhar significativo para Phyllis, que desviou os olhos verdes da amiga de olhos verdes-claros. MacLearie levantou-se e deu boa noite educadamente para Grace e Regulus, dando um abraço na amiga que lhe levantou os braços em uma expressão meiga e adorável, toda sorridente. Sabia que Phyllis a seguiria em um curto espaço de tempo.

Assim que as duas subiam as escadas para o dormitório feminino do quinto ano da Sonserina, Lia ouviu Grace quase ronronando para Regulus, e reparou, olhando de esguelha, que já havia sentado ao seu lado.

– Ah, Reg, deixa eu ver de novo... - Ela falava com uma doçura sensual que parecia quase inocente.

– Ele não passa dessa noite. - Phyllis debochou, desagradada, enquanto entrava pela porta do dormitório.

Em seguida, Phyllis e Cordelia trocaram-se silenciosamente, a primeira vestindo um pijama de seda azul-claro e a segunda vestindo uma camisola de tom rosa choque do mesmo material que da amiga.

– Eu não sei porque você se arruma até para dormir. - Phyllis debochou, falando baixo para não acordar ninguém, e apontando para a camisola elegante e fina da loira. - A não ser que me esconda um cara maravilhoso embaixo da cama. - Ela fingiu olhar por baixo da madeira escura, mas Cordelia a parou com um olhar sério.

– Como você está? - MacLearie perguntou.

A garota de cabelos castanhos e encaracolados demorou para responder. Fez um gesto com a mão, silencioso, indicando que Cordelia se sentasse em sua própria cama. Phyllis foi se sentar ao lado da amiga, e, com a varinha, fez as cortinas do dossel verde se fecharem. Estavam rodeadas pela escuridão, em silêncio, e podiam ter mais privacidade para conversar.

– É uma merda, você pode imaginar. Pelo menos antes, não era com uma pessoa tão... Próxima. - McNair lhe sussurrou, deixando as piadas sarcásticas de lado.

– Você tem de superar isso. - Cordelia insistiu. - Não há porque insistir em sofrer. Esses sentimentos não valem tanto assim. - Lia aconselhou, lembrando das palavras de sua mãe.

– Princesa Lia, eu sei que você é traumatizada com a história dos seus pais e tal. - Phyllis falou a frase sem usar de muito tato, mas sabia que a garota era realmente sua amiga, e, vindo dela, aquilo não a machucava. - Mas nem todos os relacionamentos são assim.

– Mas o seu caso, bem... Você sabe. - Ela disse, sem jeito.

– Sempre foi impossível. Eu sei. - Grace respirou fundo, e Cordelia pensou se ela não iria chorar. - Mas continuo a fim. - Lia pôde imaginar o sorriso melancólico da amiga no escuro.

– Isso vai passar. Você vai ver. Eu estou muito mais feliz sem o Latrell. Não vale a pena sofrer assim por alguém. - Cordelia insistiu, pegando a mão da amiga e a apertando. Phyllis a apertou de volta, e puxou a garota loira para um abraço. Sorrindo de volta, Lia a abraçou.

– Não se preocupe com isso. Agora vamos dormir. Ter a amizade de vocês duas me faz muito feliz. - Phyllis disse, sincera.

– Também me faz muito feliz. - Ela respondeu, separando-se da garota de cabelos castanhos.

– Só não conte nada para ninguém. Só você sabe, e manteve o segredo muito bem por esses anos. - Lis sussurrou. - Eu sei que você é expert em manter segredos. - A amiga disse, dando-lhe uma alfinetada que, se Lia não fosse esperta, não teria percebido.

– O que você quis dizer com isso, Lis? - Cordelia perguntou, desconfiada.

– Princesa Cordelia do Reino dos Druidas. - Phyllis debochou, e Lia deu uma risadinha. - Você não me engana. Pode enganar a Grace que é meio desligada às vezes, mas eu te conheço tanto quanto ou mais que as suas irmãzinhas. Mais do que a sua mãe, eu tenho certeza. - A amiga insistiu. - Sei muito bem quando está me escondendo alguma coisa. O que sempre tentou fazer ao longo de nossa longa amizade.

– Não estou te escondendo nada. - Cordelia mentiu friamente, sua voz e traços faciais continuando os mesmos.

– E eu estou acreditanto. - Phyllis debochou. - Não tem problema. Eu espero você estar segura para contar. Sempre foi assim. Boa noite, Little Lia. Sonhe com seus admiradores secretos, sua noite na biblioteca e Latrell estuporado. - A amiga se despediu sarcástica, entrando em suas próprias cobertas, pelo movimento que Cordelia pôde aferir na escuridão.

Cordelia deixou suas cortinas verdes abertas, e passou a encarar o teto escuro do dormitório, após deitar em seus travesseiros. Phyllis tinha razão; ela quase sempre tentava esconder o que podia de suas amigas, não apenas por seu instinto de agir de maneira reservada ser algo que lhe foi treinado desde muito nova, dado seu histórico familiar, mas porque mantinha alguns segredos por medo de ser rejeitada. As amigas demoraram muito para saber mais detalhes sobre sua herança celta, o que aquilo significava para suas capacidades mágicas, seus limites e suas vantagens. Também demoraram bastante para que Cordelia lhes contasse a violência que sua mãe sofria nas mãos de seu pai, e sobre como ele morrera quando ela tinha apenas nove anos de idade. Eram as duas pessoas, fora suas irmãs e sua mãe, que a conheciam muito bem, até os detalhes que preferiria que sequer fossem verdade.

Pensando naquilo, sozinha, em silêncio, lembrou de imagens desagradáveis de sua infância. Sentindo-se angustiada, tentou pensar em algo diverso, até mudar suas preocupações. Lembrou-se que na noite seguinte teria detenção e deveria aturar Black e as claras piadas que ele faria sobre seu estado na noite de segunda-feira daquela semana. Do que falaria...

Mais uma vez, ela sentiu a sensação que estava quase lhe soando familiar atingir-lhe seu ventre. Irritada, virando-se para o travesseiro e o abraçando, ela lembrou do que dissera, que sempre ouvira de sua mãe. Relacionamentos amorosos são uma mentira, fadados ao fracasso, movidos por interesse, volúveis, instáveis, destruidores. Era bom estar solteira outra vez, e não precisar de rapaz algum ao seu lado.

O que não significa que você não possa se divertir... Uma vozinha interior reproduziu o discurso de Phyllis, criticando a frieza de Cordelia, agora se auto-sabotando. De imediato, lembrou-se da imagem do rosto de Black segundos antes de tê-lo beijado.

Irritada consigo mesma, Cordelia MacLearie obrigou-se a relembrar do passo a passo para criar uma mandrágora com sucesso, da fase de germinação até sua maturidade, para desviar seus pensamentos e adormecer.

***

A quinta-feira se passou rapidamente, para a angústia de Cordelia. De manhã, teve aula de feitiços e herbologia, no final da qual teve o azar de passar por um grupo de Grifinórios que aparentemente estavam na festa de Remus Lupin e lembravam do acontecido, transitando pelo jardim de inverno próximo as estufas. Saudaram-lhe com um “e aí, “Nick-Quase-Sem-Cabeça?””, quando passou, e Cordelia usou do máximo de seus esforços para fingir para Grace que não estavam falando com ela, e sim com outra pessoa. Phyllis a encarou com um ar irritante de sabida, e Lia apenas revirou os olhos discretamente.

Depois do almoço, tivera adivinhação com Grace e Phyllis, matéria eletiva que faziam juntas, e depois rumou sozinha para Estudo das Runas Antigas, enquanto as duas tinham uma hora livre. Despediu-se das amigas, e seguiu para a aula com Regulus, que recebeu um beijo soprado de Grace com uma lascívia que pareceu quase obscena. Viu o rapaz abobalhar-se por alguns segundos, e depois apressar o passo em sua direção.

Durante a aula, que não estava realmente muito interessante, o rapaz puxou conversa consigo.

– Sei que o Rabastan é meio inconveniente de vez em quando. - Reg disse, parecendo se desculpar. - Devo ter parecido um babaca convencido quando ele mostrou o meu braço. - Ele sussurrou.

Cordelia sempre se sentira muito a vontade com Regulus. Apesar de ele vir da família da qual, do seu grupo de amigos, ser a que mais idolatrava as artes das trevas e desprezava quaisquer outra família bruxa que não tivesse relação de sangue com eles, sentindo-se a realeza bruxa, ele não era parecido com a maioria de seus parentes. Estranha característica, que, recentemente, estava vendo pertencer aos dois membros dessa mesma geração da família Black.

Mas um é um idiota. Cordelia se corrigiu rápido, lembrando-se de Sirius Black.

– Não se preocupe. Só o Rabastan pareceu babaca mesmo. - Cordelia respondeu, dando-lhe um sorriso maroto. Regulus riu discretamente.

– Sabe, eu realmente não esperava por isso. - Regulus comentou, e havia algo no seu tom de voz que lhe dizia que ele parecia desagradado. - É uma grande honra, fico lisonjeado, mas... - O rapaz parecia preocupado com algo.

– Ei. - Cordelia respondeu, sussurrando, segurando o braço dele com delicadeza. - Não se preocupe. Isto é uma Revolução, esses gestos simbólicos fazem parte, eu acho. - Ela disse como se realmente soubesse o que dizia, agindo como a boa atriz que era. - Está tudo bem. - Ela lhe deu um sorriso discreto.

– Bem... - Regulus tentou conversar, mas o professor os interrompeu, ralhando com os dois. Passaram o resto da aula em silêncio, apenas tirando dúvidas sobre a matéria em um momento ou outro.

Cordelia aproveitou a hora do intervalo para caminhar sozinha próxima ao Lago Negro. Era uma tarde com poucas nuvens, e o tempo não estava tão frio. Juntou a capa do uniforme o melhor que podia, colocando o cachecol em volta do pescoço, retirando-o de dentro do bolso da capa no qual o guardara naquela manhã. Desceu as escadas devagar, olhando para as colinas e montanhas escocesas que circundavam Hogwarts, e lembrou do castelo de seu Clã.

O que mais gostava em Hogwarts era como a escola lembrava sua casa. Era um castelo muito maior e suntuoso, mas os jardins que os cercavam, as florestas, o Lago Negro e a vegetação em si a lembravam de seu lar. Era a paisagem escocesa, o lugar que crescera, o lugar de onde veio seu sangue, as raízes de seus ancestrais.

A garota caminhou tranquilamente em volta do Lago Negro, parando para contemplá-lo em uma das árvores próximas a beira dele. Sentou-se e respirou, devagar, sentindo o formigamento que passava pelo seu corpo, seu sangue correndo rápido dentro de si pelo contato próximo com a natureza. Sentia sua magia pulsar forte dentro de si, quando foi interrompida por risadas e barulho de passos correndo.

Ah, não. Tão cedo, não.

– Se continuar correndo assim, Vance, vou me apaixonar. - Tim Wood brincava com Emmeline de maneira vulgar, referindo-se aos seus seios fartos que quicavam em seu uniforme de quadribol da Grifinória, enquanto faziam uma corrida de aquecimento em torno do terreno da Escola para o treino de quadribol do dia.

– É uma pena que essa sua cara amassada só me dê vontade de chorar, Wood. - Emmeline debochou de volta, e o time de quadribol da Grifinória riu e a incentivou. Algumas garotas corriam ao lado dela, as quais Cordelia não sabia o nome decorado. Ela levantou-se enquanto ainda havia tempo, mas Emmeline a vira antes que pudesse se afastar o suficiente.

– Olha quem está aí! - Ela apontou para Cordelia. - E aí, garota? - Emmeline correu em sua direção, e Cordelia voltou-se para ela, a contragosto, querendo correr para longe ou lançar-lhe um feitiço estuporante na cara.

– Ora, ora, ora. Sirius, uma flor criou pernas hoje! - James Potter provocou Cordelia, chamando o amigo que surgiu por trás de alguns rapazes da Grifinória, em seguida. Black olhou para Cordelia de longe, um sorriso enviesado instantaneamente surgindo em seu rosto que antes parecia entediado.

– Você andou meio sumida, garota! - Emmeline falou, sendo incentivada por algumas colegas do time de quadribol. Cordelia, entre o revoltada e o incrédula, não entendia de onde a garota tirava intimidade entre elas. Lembrava-se da festa, infelizmente, e sabia que não passara tempo algum com ela.

– É, acho que não tiveram muitos aniversários nesse meio tempo. Não que eu tenha sido convidada, ao menos. - Cordelia falou sarcasticamente e deu um aceno de cabeça em despedida, virando as costas para o time de quadribol cuja maioria já continuara a corrida. Teve tempo apenas de ouvir a voz de Sirius Black dizendo, ao longe.

– Para quem foi a estrela da festa, está parecendo meio murchinha, hein, Cora? - O rapaz debochou, enquanto James Potter ria. Cordelia não voltou-se para ele. Continuou rumando para o castelo, e o ignorando. Sentia-se furiosa não apenas pelo tratamento por “Cora” que ele lhe dispunha com toda a cara de pau arrogante que tinha na frente de um grupo considerável de Grifinórios, como por fazer piada de si mesma, o que a lembrava da imbecilidade que fora ter feito o gesto de beijá-lo. Aquilo tudo lhe dava uma sensação amarga e odiosa em suas entranhas, e parecia tão potente quanto a humilhação que sentia quando via Latrell se agarrando com a Lestrange na frente de seus amigos.

Ao subir as escadas para o castelo, a garota sentia algo indesejável subir-lhe pela garganta. Estava difícil engolir. Lembrou-se de tudo de ruim que Latrell já lhe dissera, lembrou-se de todas as vezes que sua mãe já lhe olhara em reprovação por alguma conduta que dizia ser deplorável, e lembrou-se da voz de Black ao debochá-la dessa vez, logo quando o encontrara depois de seu momento de fragilidade, na frente de todo o time de quadribol da Grifinória.

Sempre humilhada. Sempre tendo seu orgulho ferido. Subjugada. Feita de otária.

Vai ser muito maior do que eu, minha menina, minha brilhante menina. Vai trazer a glória de volta ao nosso nome, estou certa disso. Seu pai já foi, já foi, somos só nós agora. Eu, você e suas irmãs. Eu e minha filhinha especial.

Ela aguentou até descer as escadas para as masmorras. Quando trombou com o professor Slughorn, andando rápido para chegar ao dormitório feminino, as lágrimas já caíam a contragosto de seus olhos. Slughorn perguntou-lhe o que tinha acontecido, parecendo solícito, e aquilo apenas a fez chorar ainda mais. Levantou uma das mãos pedindo desculpas ao professor, e entrou na Sala Comunal da Sonserina.

Por sorte, ela estava vazia. Apenas Grace e Phyllis estavam sentadas em um dos sofás, parecendo fazer algum dever de casa de adivinhação, com compassos e mapas estranhos. Ela parou, encarou as amigas, e tentou engolir as lágrimas.

– Little Lia! - Grace bradou. - O que aconteceu? - Ela perguntou para a amiga, seus olhos castanhos parecendo muito preocupados.

Phyllis não disse nada, apenas fez um gesto significando que pedia para ela se aproximar. Cordelia não resistiu, e correu até o sofá delas, soltando as lágrimas.

Chorou por alguns minutos, sem parar, parecendo uma criança.

Era sempre assim. Todas as vezes que tentava frear alguma frustração, ela segurava até o momento que surgia a “gota d'água” que fazia tudo transbordar. Ainda não aprendera a demonstrar e liberar seus sentimentos, tendo sido educada a refreá-los e contê-los sempre.

Passados alguns minutos, soluçou com o rosto apoiado ora no ombro de Phyllis, ora no de Grace. As garotas aguardaram pacientemente até que ela enfim falasse.

– Podemos não conversar sobre isso? - Ela pediu, sorrindo fracamente.

– Por enquanto. - Phyllis deu-lhe um sorriso debochado. - Mas você não vai escapar.

– Não vamos te deixar ficar se lamentando sozinha. - Grace disse, dando-lhe um abraço carinhoso. - Sei que está no seu sangue celta ser uma heroína dramática, mas preferimos deixar sua aura mais leve. - A amiga brincou, e Cordelia sorriu para ela, limpando as lágrimas.

– Ah, vocês sabem. - Ela disse, respirando fundo. - Foi história do Latrell, de novo. - Cordelia mentiu sem dificuldades.

– Então quando você se sentir a vontade, você conta. - Grace disse, parecendo séria. - Vamos agora arrumar esse seu cabelo, que ficou todo bagunçado. Estava aonde? No meio do mato de novo, né? - A garota falou com repreensão, e Lia riu de leve. - Menina levada! - Ela a puxou por uma das mãos, levando-a para o banheiro, sendo seguida por Phyllis.

– Por Merlin, o que eu estou fazendo andando com duas patricinhas que nem vocês? - Lis perguntou, debochada, empurrando Cordelia carinhosamente para dentro do banheiro.

Depois de relaxada e arrumada, Lia e as amigas subiram até o Salão Principal, para o jantar. O apoio das meninas, mesmo que não estando a par do total do que se sucedia com ela, fora o suficiente para lhe deixar revigorada. Até sentia vontade de encontrar Black e aturar seus deboches. Estava preparada para lançar-lhe uma azaração assim que lhe desse a mínima chance.

Com fúria no olhar, Cordelia jantou, resoluta. Ao fim da refeição, despediu-se das amigas, sendo saudada com o clássico “juízo, hein” por parte de Phyllis. Não tem ideia de como está certa.

Lia nem sequer se deu ao trabalho de procurar Black. Seguiu para os jardins, sem usar a varinha para iluminar o caminho, confiando mais uma vez em seus instintos. Passado algum tempo, estava logo próxima dos limites da Floresta Proibida, e já havia começado as tarefas da noite.

Cordelia passara a distribuir alpiste para os agoureiros que faziam ninhos nas árvores baixas próximas a entrada da Floresta Proibida. Tinham a penugem azul e acinzentada, bicos compridos e manchados, e uma aparência de enfermidade. Eles iam silenciosos em direção a sua mão repleta do grão, confiando facilmente na garota pelo vínculo de sangue que detinha com os animais. “Magia de elfo doméstico”. Lembrou-se de um comentário debochado que já ouvira de Lucretia Black, em uma das festas de sua casa.

Sentindo seu estômago revoltar-se por dentro, ela ouviu uma voz arrastada e macia saudar-lhe, próxima, a luz desagradável de sua varinha atrapalhando a iluminação noturna.

– Boa noite, Cora. - Sirius Black aproximou-se, andando despojadamente em sua direção. - A tarefa de hoje é alimentar passarinhos? - Ele debochou.

– Tenho de estudar o canto dos agoureiros. Anotar quando cantam, e quanto tempo demora até que a chuva chegue, por conseguinte. - Sirius Black a encarava como se ela fosse louca, e ela se deliciou com sua ignorância a respeito das criaturas mágicas.

– Presumo que não saiba do que estou falando. - Ela respondeu, desdenhosa.

– Como quase toda a parte do tempo. - Ele debochou em resposta.

– Esses animais, antes relacionados por bruxos ignorantes – ela fez uma pausa e o encarou com desprezo - como ligados à morte e maus augúrios, eram na verdade pássaros extremamente sensíveis capazes de perceber as modificações da umidade do ar. Seu canto raro só soava quando havia chuva próxima de cair. - Ela explicou, enquanto um agoureiro bicava delicadamente o alpiste de sua mão.

– Então vamos ficar aqui esperando que comece a chover? - Sirius Black perguntou, parecendo muito incrédulo.

– Basicamente. Vamos anotar todas as reações desses animais até que a sua detenção acabe, e a minha monitoria também, por conseguinte. Um relatório completo de cada um dos trinados, sua duração, tom, tudo o que for possível. E, para isso... Teremos de ficar em completo silêncio. - Cordelia deu um sorriso cruel, jogando os restos de alpiste fora, e estendendo um rolo de pergaminho para ele, um tinteiro e uma pena, retirados de sua capa.

– Eu vou ter que anotar? Mas não faço a menor ideia do que escrever. - Ele falou, exasperado.

– Uau, Black, eu sabia que você era burro, mas não imaginava que era também analfabeto. - Ela debochou de volta, sentindo-se vingada ao ver a expressão irritada no rosto dele. O rapaz puxou o material de suas mãos com alguma rispidez, e passou a encarar os pássaros que pareciam fracos e doentes.

As horas da detenção se passaram com lentidão, e Cordelia aproveitou o silêncio que sabia ser praticamente torturante para alguém espalhafatoso como Black, que certamente viera para a detenção do dia repleto de segundas intenções para provocá-la. Sentou-se contra o tronco da árvore na qual havia mais ninhos de agoureiro, feitos em formato de lágrima – curiosidade que sentiu-se piedosa o suficiente para demonstrar a Black – e fechou os olhos sorvendo seu sucesso. Ouvia de vez em quando Black resmungar, também por vezes sentado junto ao tronco, e outras levantando, tentando aproximar-se dos pássaros e os afugentando.

Ao julgar tê-lo o punido o suficiente, ela se levantou e leu o que ele fizera do relatório. Suas sobrancelhas se franziram e ela mais uma vez sentiu-se irritadíssima.

– Mas que tipo de relatório é esse? - Ela sibilou, furiosa. - “Pássaro azul escuro, quase negro, soltou um pio que parecia um arroto longo, do tipo de quem bebe cerveja amanteigada.” - Ela repetiu o que estava escrito. - E tem inúmeras baboseiras desse tipo. Quantos anos você tem, cinco? - Ela perguntou, indignada.

– Eu poderia lhe perguntar a mesma coisa. - Sirius respondeu, rosnando de volta. - Acha que eu sou otário? Pensa que não sei que bolou essa merda inútil toda só pra me culpar por alguma maluquice que inventou nessa sua cabeça loira? - Ele a acusou.

Durante aquele momento, um dos pássaros deu um rasante em volta de Cordelia, soltando o gorjeio que realmente parecia um arroto humano. Ela encarou Black, furiosa, por segundos, que lhe respondia o olhar na mesma intensidade.

Subitamente, seus lábios começaram a se mexer, em suas extremidades. Se movimentaram lentamente para cima, e Cordelia não pôde comprimir o riso.

– Eu falei que parecia a merda de um arroto. - Sirius Black insistiu, também sorrindo levemente de volta, e a garota passou a gargalhar. Ele a encarou com uma expressão esquisita, como se estivesse surpreso com sua reação. Moveu seu rosto lentamente para o lado direito, seus cabelos movendo-se com elegância, emoldurando suas belas feições. A encarava não de uma forma como se a julgasse maluca ou algo do gênero, mas como se aquilo o agradasse. Subitamente, Cordelia lembrou-se da vontade irascível que tivera de lhe beijar, e a mesma sensação quente subiu pelo seu ventre.

– A detenção acabou, Black. - Ela disse, subitamente fria outra vez, guardando o relatório de qualquer jeito dentro do bolso da capa. Virou as costas para ele, e seguiu rapidamente de volta ao castelo.

– Ei! O que deu em você? - Black gritou ao longe, parecendo apressar o passo. Cordelia, ao sentí-lo mais próximo, não se importou com a imagem que passaria e desatinou a correr. Em alguns minutos, estava dentro do castelo, sem fôlego, pensando que o teria despistado.

Olhou para trás, e não viu sinal do rapaz. Aliviada, pensou que o melhor não seria voltar as masmorras imediatamente, pois ele poderia tentar procurá-la lá, e provavelmente teria uma resistência à corrida maior do que a dela. Subindo por uma escadaria em formato de espiral, decidiu rumar para a biblioteca e adentrá-la com um feitiço de desilusão.

Quando estava na altura do terceiro andar, sentiu sua varinha voar para longe de sua mão, e alguém puxar-lhe pelo braço para dentro de uma sala vazia e escurecida. Ainda não havia se disfarçado com o feitiço, e se arrependeu disso. Na hora que iria gritar ouviu uma voz conhecida proferir “quietus” e vestígios de uma varinha sendo apontada para sua garganta, evitando que o som agudo saísse.

Na sua frente, fechando a porta e encostando-se nela, Sirius Black a encarava, parecendo cansado. Tinha a varinha dele e sua varinha, em mãos, e subitamente ela lembrou-se da gravata perdida. Não a pediria de volta, é claro. Tinha orgulho demais para isso. Olhou rapidamente ao redor, e viu que aquela era a sala de entrada para a ponte suspensa.

– Mas que merda você pensa que está fazendo? - Cordelia disse silenciosamente, querendo que suas palavras saíssem em gritos.

– Tentando entender o que passa pela sua cabeça. - Ele respondeu passando uma das mãos pelos cabelos. - E evitar que você se foda. - Black disse grosseiramente. - Filch estava na escada a poucos metros de você, levaria uma detenção bacana se ele a visse. - O rapaz respondeu parecendo sério.

– E eu deveria acreditar nas suas intenções heróicas por quê...? - Ela debochou, sibilando.

– Porque eu não gostaria de ser culpado pela Escola inteira caso um assassino de unicórnios ou um aprendiz de Comensal da Morte a espreita te atacasse nas sombras. - Black respondeu, cansado. - Essa sua mania estúpida de ficar sozinha perto da Floresta Proibida e correr pelos jardins à noite é um tanto quanto suicida. - O rapaz falou com propriedade, guardando as duas varinhas em um dos bolsos de sua capa da Grifinória, como se realmente soubesse o que dizia.

– Eu estou certa de que posso me cuidar bem o suficiente. - Ela insistiu.

– E eu estou certo que não. Caso contrário eu não te desarmaria com tanta facilidade, ou teria te puxado para cá. - Black respondeu, ainda sério. - Se eu fosse alguém com más intenções... - Ele disse a frase, e sua voz subitamente tomou um tom muito diferente, enquanto caminhava devagar na direção dela. Cordelia sentiu as ondas quentes que assolavam seu ventre traírem seu lado racional em segundos.

A garota recuou alguns passos, passando para a ponte suspensa, seu piso de madeira velha íngreme estalando abaixo de seus pés. Se recuasse até o fim da ponte, estaria próxima da Floresta Proibida, e a hora já era realmente tardia. Por mais que se sentisse segura lá, sempre tentava minimizar seus riscos.

– Quer me fazer pular, Black? - Cordelia debochou, encaranto o teto de madeira da ponte curiosamente torta.

– Não da ponte. - Ele disse imediatamente, repleto de malícia. Cordelia sentiu sua pele arrepiar-se de maneira irritantemente agradável.

– Se você não me deixar passar, eu vou voltar pela Floresta Proibida. - Ela falou, séria, cansando do joguinho de gato e rato.

– Não vai. - Ele insistiu, sério. - Vou te deixar passar, se ficar calma e voltar a racionar. - Aquilo passou a irritá-la e trazê-la as mesmas emoções indesejadas da tarde. Cordelia desviou o olhar, mas sentiu que perdera a capacidade de se conter.

– Saia da minha frente! - Ela tentou bradar, irritada, quase o empurrando. - Já não está satisfeito?

– Do que você está falando? - Black a encarou como se ela fosse louca, mais uma vez.

– Você acha que eu sou idiota? - Cordelia tentava gritar, mas sua voz saía baixa e sibilante. - Acha que eu não sei o que ficaram falando de mim? - Ela insistiu. - Da bêbada descontrolada, que dançou para todo mundo? - Ela sentiu a sensação de sua garganta travar mais uma vez. Instintivamente, voltou-se na direção da Floresta Proibida e tentou correr.

Ele foi mais rápido. Avançou apenas alguns metros na ponte, e Black a puxou pelo braço mais uma vez.

– O que mais você quer? - Cordelia respondeu, deixando o orgulho de lado. - Já me roubou um beijo quando eu estava vulnerável, já me humilhou na frente dos seus amigos, o que mais você quer de mim? Tente me humilhar mais, não é como se eu não estivesse acostumada! - A garota se controlava para não chorar. Não na frente dele. Ele não merecia.

Black a encarava como se nada daquilo fizesse sentido, chocado, mas mantinha a mão firme em seus braços, protegendo-a de se aventurar pela Floresta Proibida àquela hora tardia.

– De onde você tirou isso? - Ele perguntou, parecendo realmente confuso.

– Não se faça de sonso. - Ela tentava se desvencilhar, furiosa. - Você tentou se aproveitar de mim, me largou naquela festa apenas para me provocar depois, e agora eu sou motivo de piada para toda a sua Casa! - Cordelia revoltava-se.

Sirius Black baixou o rosto, meneando a cabeça. O vento passou forte por eles, e uma grossa chuva passou a cair, molhando o teto de madeira, tamborilando por ele ritmadamente.

– Você é completamente maluca. - Black respondeu, sério, levantando o rosto, e agora parecia irritado. Seus cabelos dançavam pela ação do vento, algumas gotas de chuva molhando seus fios e seu rosto.

– Não finja que... - Ela ia começar a xingá-lo mais uma vez, mas ele a interrompeu, dessa vez com um tom agressivo que a surpreendeu.

– Como se não bastasse a sua ingratidão por ter te livrado de uma confusão com o cuzão do seu ex-namorado, você me culpa por ter me aproveitado de você? - Black a puxou para mais perto, pelo braço, e parecia ter dificuldades para segurá-la com alguma delicadeza, ainda. - Eu não vou nem entrar no mérito do quanto eu evitei que você se ferrasse aquela noite, porque você está além de qualquer sanidade. - O rapaz parecia também furioso. - Sabia que essa porra de proximidade com criaturas mágicas não podia ser boa coisa. - Ele debochou, irritado.

– E vai ter a cara de pau de dizer que seu time de quadribol hoje estava subitamente simpático a uma aluna da Sonserina? - Ela respondeu, ríspida.

– Estava, sua maluca! - Sirius Black a xingou em resposta. - Estava, porque quando você fica bêbada não é alguém intratável como se esforça para ser. Mostra seu lado divertido, longe de toda essa sua pose ridícula forçada, fica evidente que você sabe ser bem humorada e uma companhia agradável. - Black estava também fora de si. - Pode te parecer novidade, mas, quando está alucinada pela bebida, sem essa rigidez de merda, as pessoas gostam de você. - Ele afrouxou o aperto em seu braço. - Eu não estava realmente debochando quando disse que você foi a estrela da festa. - Ele disse, exasperado.

– Mas... - Cordelia não conseguia acreditar.

– E eu imagino que você não precise ficar bêbada para isso. Se diminuir toda essa babaquice com que foi criada, imagino que sua vida social vá melhorar muito. Eu sei exatamente o que é isso, sou do mesmo nicho puro-sangue nojento que você. Não que sua socialização seja do meu interesse. - Ele respondeu rispidamente.

– Você não tem nada a ver com isso. - Ela respondeu, ainda irritada, embora subitamente confusa.

– Não tenho. E nem quero ter, acredite. Pare de criar problemas para mim, e eu te deixo em paz. - Sirius Black voltou-se de costas, caminhando para longe dela, deixando-a voltar pelo caminho da ponte para Hogwarts.

Ela lembrou-se de outro detalhe importante.

– Como foi que me achou tão rápido? - Cordelia perguntou, desconfiada, mencionando seu encontro no terceiro andar. Sirius pareceu parar de caminhar suspeitamente. - Já não bastou tentar me beijar quase inconsciente na festa, agora vai me seguir? - Por alguma razão desconhecida, ela soltou todas as frustrações em cima dele naquele momento. Sentiu-se mais leve, e já ia começar a culpá-lo mais, quando ele imediatamente se virou na direção dela, parecendo ter um olhar obstinado no rosto. De imediato, ela sentiu seu coração se acelerar.

– Eu não tentei te beijar. Não me acuse do que eu não fiz, sua loira maluca. - Ele caminhou rápido na direção dela. - Se eu tivesse tentado te beijar, você saberia, acredite. - O rapaz estava muito perto. - Porque eu teria feito isso.

Sem ter chance de reagir, Sirius Black a puxou para si, suas mãos movendo-se agilmente para a cintura da garota, por dentro da capa da Sonserina que ela usava. Sentiu seus dedos e palmas das mãos firmes comprimindo o suéter e a blusa de algodão contra as suas mãos habilidosas. Ela fechou os olhos e sentiu os lábios dele tocarem os seus, e, no momento em que ia abrir sua boca tentando respirar, ela sentiu sua língua mover-se para dentro de seus lábios desejosos. Não havia como resistir.

Sentindo as ondas ardentes a engolirem por completo, Cordelia moveu seus braços para as costas dele, antes para tentar afastá-lo, e, naquele momento, por ceder ao prazer imenso que aquilo lhe dava. Ao respirar fundo sentiu o cheiro do pescoço dele, um aroma úmido e masculino, entorpecente, que apenas a deixou ainda mais excitada. Gemeu quase silenciosa e beijou-o em retribuição, enquanto uma das mãos dele a puxava ainda mais para si, cravada em sua cintura, e a outra lhe subia pelas costas, deixando um rastro de chamas por onde passava, acima do tecido da blusa e do suéter. A mão que lhe subia parou nos seus cabelos, fechando-se em punho e dando um puxão em seus fios para baixo, enquanto seus lábios ainda se devoravam em um ato de deliciosa selvageria.

Quando ele enfim a soltou, proferindo um som entre o desejo e a raiva que lembrava um rosnado, Cordelia viu seus olhos castanhos e escuros a fuzilando com um olhar tão lascivo que se sentiu desnuda. Seus braços desceram das costas dele para o tecido de sua própria capa da Sonserina, enquanto ela tentava racionalizar o que acontecera. Ela respirava em dificuldades, e, assim que a sensação incendiante que a tomara ia diminuindo em intensidade, se sentiu realmente maluca. Foi pouco a pouco tomando consciência da chuva que se apertara ainda mais ao longo da paisagem ao redor da ponte suspensa, e do vento que lhe trouxe um súbito frio depois de seus corpos terem se separado.

– Entendeu, Cora? - Ele sussurrou, dando-lhe um sorriso de canto de lábios, e afastando-se o suficiente para permitir que ela saísse pelos corredores de Hogwarts. Assim que ela passou por ele, devolveu-lhe a varinha da garota.

Cordelia saiu a passos largos de perto dele, sentindo-se mais confusa do que nunca. Se recusou a olhá-lo, por alguma razão de auto-preservação instintiva. Passou todo o trajeto entre a ponte suspensa e as masmorras sentindo-se alheia a si mesma, sua temperatura corporal acima do costumeiro, como se ainda pudesse sentir o toque ardente de Black sobre seu corpo, seus cabelos, sua boca. Ao descer tropegamente até as masmorras, a memória do beijo dado com uma intensidade que ela nem sequer sabia ser possível aferir parecia estampada em seus pensamentos, incapaz de sair de lá.

Como que por magia.

Sirilia! Sirilia here, there, and everywhere, HUAHUAHUE!


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Notas finais do capítulo

Esperando pelos reviews! =D