Lucy POV on:

— Você entendeu o que precisa fazer, certo? Não se desespere, depois do almoço estarei de volta. – Erza me ditava as palavras sem nem mesmo olhar em meu rosto. A ruiva estava focada em uma mochila, que deveria ter todos os materiais que seriam precisos durante à manhã.

— O problema não é eu me desesperar. Você deixou isso tudo bagunçado! Como vou conseguir me achar aqui? – Confesso que estava um pouco aflita, mas eu realmente tinha razão. Em minha frente existiam diversas folhas espalhadas no balcão, todas com assuntos misturados.

— Querida, basta você ler o que está escrito. – Erza justificou-se sarcasticamente enquanto apontava-me com seu dedo indicador, onde havia a modalidade de cada arquivo. – Preciso ir, se me atrasar, posso correr o risco de ser descontada. Beijinhos! – Após despedir-se com a fala, ainda recebi dois beijos jogados no ar.

— Aquela maldita... – Murmurei irritada ao ver que estava completamente sozinha, sem auxilio algum no meio da desordem que ela havia deixado.

Durante a parte da manhã, Erza havia sido convidada para participar de uma saída pedagógica, no qual estaria responsável pelas anotações que seriam fornecidas em palestras e reuniões para mudanças na parte do aprendizado de alunos, e em alguns casos nas aulas de cada professor.

Eu ainda não tinha cumprido às horas do dia em que havia faltado, por isso, Diretor Makarov colocou-me de substituta na parte da recepção, durante o turno da manhã. Então, teria que fazer o trabalho de Erza, e assim que ela retornasse, eu me prepararia para dar a aula em minha turma.

Não que fosse uma função que exigisse muito, mas como eu nunca tinha feito algo com tantos papeis ao meu redor, ainda mais espalhados, eu me encontrava totalmente perdida. Mesmo assim, não podia apenas ficar olhando para aquilo tudo esperando que alguma mágica acontecesse junto de uma bela organização. Se ficasse parada, acabaria prejudicando a mim e ela.

Ainda meio relutante, comecei a separar as folhas, por categorias para que não tivesse problema mais à frente. Logo que comecei, peguei o ritmo e me senti mais confiante. Passei bons minutos naquela mesma ação até que tudo estivesse certinho.

Nesse tempo, acabei me distraindo com algumas músicas que cantarolava baixinho, até que foquei em papéis com pedidos e autorização de transferência. Foi algo que acabou por me trazer uma sensação de nostalgia, afinal fora por esse motivo que eu tombei com Natsu no primeiro dia de aula na escola.

Sem que eu quisesse senti minhas bochechas esquentarem vagarosamente. Faziam cerca de cinco ou mais dias que não nos falávamos como antes, desde o “incidente”. Estava sendo algo estranho e de certa forma desconfortável, já que éramos bem grudados e vivíamos conversando. Agora não bastava de simples cumprimentos e raramente algum simples diálogo mais duradouro, mas nada comparado à antes. E acho que nós não fomos os únicos a perceber a mudança que acabou surgindo, já que Levy veio perguntar-me um dia o que havia acontecido.

Apesar de eu e a baixinha, assim como Juvia e Erza, tivéssemos uma boa amizade e confiança, acabei por decidir que nenhum detalhe à mais escapasse de minha boca, mas só permaneci com esse pensamento quando percebi que Natsu deu a entender que não queria voltar ao assunto.

Suspirei pesado tentando concentrar-me no que precisava fazer. Aos poucos, terminando de separar as folhas em montinhos, cada uma com assuntos iguais. Hora ou outra acabava me pegando fora de atenção, como estava no momento, lendo um dos documentos. Era mais um dos vários pedidos de transferência.

“Nome: Wendy Marvell. Idade: 16 anos. Série/Ano escolar: 2º Ano E.M.

Motivo: Mudança residencial.

Escola anterior: Instituto Feminino Cat Shadow.

Nenhuma reclamação ou exigência particular. - Pedido de transferência concedido. ”

A manhã se passou corriqueira, sem que eu encontrasse problemas, já que acabava pegando prática no serviço à medida que o fui fazendo. Me mantive concentrada por boas horas, apenas pausando quando alguém vinha até mim, pedindo-me informações ou solicitando-me mais tarefas. Estava tudo acontecendo normalmente até o momento em que duas pessoas surgiram em minha frente, sendo elas um homem, que aparentava ter alguns anos à mais que eu, e ao seu lado, uma garota que eu chutava ter entre 15 e 16 anos.

— Pois não? – Pronunciei-me amigavelmente com um sorriso no rosto, deixando os afazeres de lado para que minha atenção se mantivesse apenas nos dois.

— Bom dia! Estou aqui por que acabei de me mudar. Sou aluna transferida. – A garota me respondeu retribuindo a mesma simpatia, enquanto o homem se manteve calado. Não aparentava ser um sujeito fechado, apenas deixou que ela respondesse à minha pergunta.

— Certo. Preciso de seus documentos e comprovação de mudança curricular. – Pedi os utensílios necessários enquanto procurava as fichas de transferência de chegada e saída, que eu havia organizado no balcão. Pelo canto do olho, observei de forma discreta os dois desconhecidos. Ambos, além de muito parecidos, tinham a tonalidade do cabelo exoticamente azuis. Não era um tom claro nem tão escuro, mas ficava entra a cor de Juvia e Gray.

— Aqui estão! – A menina depositou os materiais ao meu alcance, abrindo novamente um sorrisinho fofo.

— Muito obrigada. – Sorri em resposta com sua carteira de identidade já em mãos, e lendo seu nome, percebi que me soava familiar. Talvez fosse um dos quais acabei vendo nas fichas alguns minutos atrás.

Assim que constatei que todas as exigências estavam confirmadas, fui atrás da ficha de transferência que a correspondia. Após alguns segundos a encontrei, retirando-a da pilha onde as outras se encontravam.

— Wendy Marvell, seja bem-vinda! – Entreguei a papelada em suas mãos e comecei a repassar as informações necessárias. – Antes de tudo, preciso da assinatura de um responsável seu, já que é menor de idade. Você seria...? – Formulei apenas o início da frase, direcionando meu olhar ao homem ao seu lado. Preferi fazer algo assim do que acabar falando algo que soasse de maneira indevida.

— Sou irmão dela, Sousuke. Vim como responsável já que nossos pais permaneceram em nossa cidade natal. – A voz dele, apesar de grave, soou suave aos meus ouvidos, e mesmo que sem o sorriso igual ao da irmã, conseguiu passar o mesmo parecer amigável.

— Ok. Preciso que o Sr. assine aqui, concluindo o contrato de matrícula. Enquanto isso, irei entregar os horários e salas que Wendy irá ficar.

— Por favor, me chame apenas de Sousuke. – O sujeito encarou-me com uma expressão convidativa estampada em sua face, fazendo com que uma indescritível sensação percorresse em meu corpo. Acredito que tenha sido causa pelo brilho existente em seus olhos intensamente azuis.

Dei-me por conta que estava a encará-lo por mais tempo do que o necessário, quando a folha de assinatura fora devolvida. Tentei fazer com que meu constrangimento não ficasse tão aparente, pegando o papel em mãos como se eu não tivesse feito nada demais.

— São quase 10:00 horas da manhã, se você quiser pode começar hoje mesmo, já que suas aulas irão seguir até às 16:00. – Sugeri para a azulada enquanto terminava de entregar todo o material que agora lhe pertencia.

— Seria ótimo! – Wendy respondeu-me sem conter sua empolgação, sorrindo, com as bochechas pouco ruborizadas e com um belo brilho em seus olhos. Desta forma, apenas a encaminhei à sala do Diretor, para que ele a levasse e lhe apresentasse à sua classe.

— Como ela resolveu assistir às aulas, você não irá poder acompanhá-la. Me desculpe. – Justifiquei-me com Sousuke que havia permanecido ao mesmo local, apenas observando a figura da irmã distanciando-se dele, para dentro da escola.

— Está tudo bem, é bom que ela possa sentir-se independente. Espero que consiga se socializar com pessoas da sua idade rapidamente.

— Ah, isso certamente não será problema. Os alunos se dão muito bem e sempre interagem com quem é novato. – Lhe transmiti confiança pontuando uma das melhores qualidades da escola.

— Eu espero que esteja sendo sincera. Wendy infelizmente se tornou uma menina retraída, devido aos colegas de turma que tinha na escola anterior. Mas ela está disposta a mudar, e vejo que já está fazendo um grande esforço. – O irmão da pequena respondeu sério, mas com resquícios aparentes de preocupação e carinho pela garota em seu modo de fala. Algo que me fez ter um bom respeito pelo mesmo.

— Com certeza ela terá um ótimo desenvolvimento. – Assegurei novamente esbanjando uma das minhas melhores expressões confiantes, o que fez ele retribuir.

Os minutos seguintes se sucederam de maneira inesperada da minha parte. O azulado permaneceu em frente ao balcão, puxando assuntos diversos e interessantes. Ele era um homem inteligente e muito agradável de se manter conversa. Descobri que tinha 26 anos e havia se mudado por uma proposta de emprego em uma empresa do ramo comercial. Ele trabalharia na parte de Marketing, apresentando sugestões de novos equipamentos e melhores preços. Wendy acabou mudando-se junto a ele por que não estava em um bom estado emocional para continuar estudando na cidade em que nasceu. A azulada viu como uma grande oportunidade, e Sousuke sendo um irmão super protetor, não hesitou em trazê-la junto.

— Então você trabalha na área infantil? Merece meu respeito loirinha. Paciência com crianças é um dom para poucos. – Apesar de não gostar muito de ser chamada de “loirinha”, não foi algo que me causou algum incômodo. Afinal, não havia sido nada em um contexto de deboche ou coisa do tipo. Ele ao menos sabia meu nome. – Quer dizer que tem dois encargos?

— Não. Nos encontramos aqui hoje por acaso. Eu estou substituindo um dos funcionários, já que tinha horas para cobrir. – Expliquei sem que meu rendimento no serviço de Erza fosse atrapalhado. A conversa acabou se desenvolvendo originando cada vez mais em assuntos variados, que chegaram ao fim após um forte som vindo de um trovão. Em seguida aconteceria uma nova tempestade.

— Já deu minha hora. – Ele abriu um meio sorriso, fazendo com que eu sentisse minhas bochechas esquentarem vagarosamente. Dessa vez não havia sido por sua causa, mas sim, por ele ter usado as mesmas palavras que eu havia dito quando me despedi de Natsu naquela noite chuvosa. – Foi legal conversar com você. Espero que possamos repetir isso novamente, talvez em um local mais adequado. – Dito isso, ele depositou um cartão em minhas mãos, no qual o pertencia e continha informações pessoais.

“Sousuke Marvell, agente publicitário. Fone: (00) 94768 26334”

Observei o pequeno cartão detalhado por alguns segundos, para que o guardasse no bolso de minha calça em seguida. Quem sabe eu não faça uma ligação algum dia?