Imortais escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 4
Capítulo 3 : Caius




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Caius saiu de dentro da boato, procurando a garota. Nem teria se dado ao trabalho se não fosse pelo que tinha acabado de ouvir, querendo ou não a humana era importante pra Cecília.

Caminhou em passos lentos até que a viu. Uma menina, ajoelhada na grama do acostamento e chorando. Revirou os olhos, entediado. Era simplesmente patético.

— Hum, garota. - chamou assim que se aproximou - vou te dar uma carona.

— Ce... cí... lia - a garota disse entre soluços.

— É só você me passar o endereço que eu... - Caius se assustou quando o volume do choro dela aumentou. - Lana, ta tudo bem. Vai ficar tudo você. Ou assim espero.

Caius, sem opção, passou a mão pelo cabelo dela enquanto a garota se acalmava. Tinha lido que fazer carinho em cachorro fazia eles pararem de latir, parecia uma boa ideia testar a tese em humanos. Olhou pra boate, irritado. Estava perdendo toda a diversão e caminhões do corpo de bombeiro se aproximavam.

— Cecília - Lana disse após algum tempo. - , ela ta lá. Lá dentro - o último comentário foi dito baixinho e Caius viu o olhar atormentado e de pânico dela.

— Ah, merda. Olha só, garota, seria bom se você se levantasse e parasse de chorar. Não é tão ruim assim, ta tudo sob...

O barulho similar a um tiro e uma explosão fez Lana se levantar de uma só vez e Caius pestanejar. A garota começou a gritar de forma ensurdecedora. Caius teve que a segurar para impedí-la de sair correndo, e com a cabeça latejando ele resolveu nocautea-la.

Caius fez um ligeiro movimento com o dedo e o hidrante mais próximo estorou. Fez com que um jato de água se dirigisse até ele, assumisse a forma de uma frigideira e passasse do estado líquido para o sólido.

Segurou no cabo da frigideira de gelo e bateu com ela na cabeça de Lana, que parecia alarmada. Logo em seguida passou a panela improvisada para o estado gasoso e fez com que a água do hidrante parasse de jorrar.

Caius pegou a garota desmaiada, jogou ela no ombro e começou a andar pra trás de uma árvore, não querendo chamar a atenção do corpo de bombeiros. Visualizou Withe Hall em sua mente e em seguida o guardião apareceu, parecia zangado.

— Não vai levá-la para lá. - White Hall disse, a carracanca nunca sumindo.

— Eu não tenho pra onde levá-la, White. E além do mais, não estão loucos para interrogá-la? - Caius tentou persuadi-lo, colocando a garota nas mãos  dele. - Chame Jane, ela saberá o que fazer.

White segurou a menina e desapareceu. Caius pegou o novo celular do bolso da calça e discou para sua velha amiga.

— O que você quer? - ela perguntou, irritada. - Se veio me pedir ajuda, pode esquecer. Não me convidou, agora se vira aí.

Céus, a notícia se espalhou mais rápido do que imaginara.

— Pelo seu tom, presumo que já saiba da novidade.

— Qual delas? Da sua amiguinha desmaiada ou do sumiço da esquisita?

— Sinto muito por isso, mas pode dar um jeito nela até a situação se acalmar? - Caius pediu, voltando a andar pra dentro da boate, ignorando os avisos de alguns bombeiros - Só não deixe que ninguém a veja.

— WhiteHall não vai manter segredo sobre isso por muito tempo. Uma verde, Caius, sério? Você perdeu o juízo? - Jane esbravejou do outro lado da linha. - O reitor quer a sua cabeça numa bandeja. Nossa cabeça. Quando você vai parar de chamar a atenção e...

— Jane, não é hora pra isso - interrompeu Caius - Cecília sumiu, droga. Desapareceu.

O telefone ficou mudo e Caius pensou que a ligação tivesse caído. Olhou pra tela e viu que ela ainda estava lá.

— Jane? Ta aí? - perguntou.

— Você fala como se ela tivesse realmente sumido. Do tipo "ela se foi e NINGUÉM sabe onde ela ta".

— Jane, estou falando sério. Ela sumiu, de verdade.

— Como das outras vezes? - Ela indagou, duvidando.

— Foi diferente. Ela estava na frente de todo mundo e sumiu. Por que acha que houve esse alvoroço todo? Foram centenas de testemunhas. - a linha ficou em silêncio de novo e Caius se irritou. - Jane!

— Mas se ela sumiu mesmo... Digo, sumiu de desaparecer...

— Tentaram seguir o rastro dela. Sem sinal.

— Puta que pariu - Jane esbravejou. - mas isso significa que...

— Jonathan virá atrás de nós.

— Vou colocar a garota no quarto dela e em breve a gente se fala.

— Ok.

Minutos depois Janelle Bonky estava do seu lado. A roupa preta colava em seu corpo como uma segunda pele. Havia correntes por toda sua calça e sua blusa continha um símbolo do Iron Maiden. O cabelo vermelho estava ondulado e solto, e o sorriso de deboche a postos.

—Você sabe que isso é contra as regras. Não devia se intrometer numa briga entre sedes, ainda mais convocar os líderes delas. - ela disse enquanto mascava um chiclete.

— Acionar um conselho demora muito, e sabemos o quanto você admira as regras.

Andaram por alguns quarteirões com os celulares no ouvido, estavam chamando os reitores da sede marron e vermelha. Caius desligou o celular antes de Jane e sorriu. Ela fez um biquinho. O reitor brigaria com ele e faria o mesmo discurso de sempre, sobre as regras e sua importância para a sociedade.

Mas havia aquela sensação tão boa em desobedecer regras, aquele formigamento e antecipação. Gostava do caos e de uma boa briga e discussão, gosto esse que compartilhava com Jane.

— Eles estão vindo, o que fazemos? - ela perguntou com aquele brilho no olhar.

Caius passou por cima do que um dia deveria ter sido uma porta e abaixou a cabeça, no mesmo instante que uma mesa voava por cima dele. Voltou a andar, observando tudo ao seu redor. Era sempre a mesma coisa, toda vez que lobisomens e vampiros se encontravam eles brigavam. Por que Cecília tinha que reunir os dois grupos ali? Somente ela pra dar uma ideia maluca dessas e ainda conseguir concretizá-la.

Caius tinha certeza de que ela havia usado grande parte do seu poder apaziguando ânimos. Sem ela, tudo estava destruído. O local estava acabado, vidros e objetos quebrados por inde se passava. Havia sangue esparramado pelo chão e pelas paredes, e algumas estacas e balas de prata jogados.

— Tira isso que eu apago o fogo - anunciou pra Jane.

Caius se concentrou para sentir a água do local e com pequeno esforço estourou o encanamento e as torneiras. Jane criava um redemoinho de ar e impulsionava as estacas e balas a entrarem dentro dele. Logo o fogo estava apagado e a cena do crime livre de provas anormais. E conforme os dois faziam isso mais olhares furiosos paravam de lutar e discutir e passavam a encara-los.

— O que está fazendo aqui, verme? Pensei que tivesse fugido com a sua nova... amiguinha. – Um dos vampiros disse, mostrando os caninos.

Caius o olhou e deu um sorrisinho, dando de ombros.

—Sabe como é. Vocês estão em local público, e chamando muita atenção. Alguém tem que limpar a bagunça de vocês.

Mais e mais vampiros os cercavam. Caius não gostava das outras sedes, mas se tinha uma que ele detestava acima das outras era a sede vermelha. Pra ele, todos aqueles vampiros e zumbis comedores de cérebro e chupadores de sangue mereciam a exterminação. Eram nojentos, repulsivos. Não gostava de ficar no mesmo ambiente que eles.

Logo ele se viu cercado por aquelas criaturas vis sedentas de sangue. Se pudesse afogar a todos eles...

—Nós não pedimos sua ajuda. Saia, e nos deixe em paz. – pediu um vampiro cuja boca escorria sangue.

Caius fez uma careta e acenou para Jane. Ela jogou dois vampiros, que estavam impedindo sua passagem pra uma parede do outro lado.

Continuou andando, sem se deixar intimidar com eles. Os lobisomens que tinham se transformado estavam voltando a sua forma normal, e o olhavam, curiosos.

—O que foi? Virei celebridade? - Caius cutucou com o pé o megafone que Cecília tinha usado- Continuem com isso, com essa briguinha de criança.

Cecília desaparecida e aqueles animais brigando. Típico.

—Não ouse dizer uma coisa dessas. – Resmungou um deles – Você não é um bom exemplo. Sua Sede vive brigando por motivos fúteis, nenhum de vocês tem direito de se interferir nossos assuntos.

—Deixe-me fazer uma pergunta. Por que mesmo estão brigando?

Caius conseguiu definitivamente a atenção de todos. Todos o olhavam, dúvida e curiosidade estampados no rosto.

— Não é óbvio? – Perguntou Daisy, uma vampira recém transformada que não aparentava ter mais de 15 anos. – Eles levaram Cecília. Ninguém toca nela, é a regra. E eles a levaram.

A garota se sentou, emburrada, com as mãos no rosto.

—Por que vocês levaram ela? – choramingou, olhando ameaçadoramente para os lobisomens. – Por que ? A culpa recairá sobre todos nós. Estamos condenados.

—Não levamos ela. Estão nos acusando de um crime que não cometemos. – Respondeu um dos lobisomens, a garra das suas mãos e o focinho aparecendo.

—Vê se acalma, totó. Deixe a garota falar. – Pediu Caius, e o lobisomem se transformou em segundos e pulou em cima dele. – Quantas vezes eu vou ter que dizer pra não fazerem isso?

O lobisomem atravessou o corpo de Caius e caiu. A gritaria recomeçou, e lobisomens e vampiros voltaram a se acusar.

— Será que dá pra vocês... Tudo bem, isso mesmo, se matem!

Jane, que até agora permanecia em silêncio olhou para a porta e Caius seguiu seu olhar. Três pessoas entravam no local e enquanto passavam todos se separavam e se ajoelhavam.Stephan, 2º reitor da Sede marrom, Desdêmona, a 4º reitora dos vampiros e Sam, 3º reitor da Sede lobisomem.

—Até que enfim aparecerem. Onde está Bill? – Perguntou Caius.

Bill era o 1º reitor da Sede marrom, o líder dos lobisomens. Lobisomens não eram criaturas calmas que obedeciam com frequência, e sempre que se envolviam em problemas, era Bill que consegia segurá-los.

—Ele ficou para resolver alguns problemas. – Respondeu Stephan, passando a mão na cabeça.

Caius acenou e saiu pra fora com Jane. Os líderes iriam brigar com seus subordinados e convencê-los a irem embora.

— Ele parecia cansado - começou Jane ao chegarem do lado de fora - Digo, o Stephan.

— Tem alguma coisa acontecendo por lá. Tentei falar com ele na semana passada. Ele disse que eu não devia me meter nisso.

— Se tem um "nisso" então tem algum problema.

— Uma rebelião? - Jane arqueou as sobrancelhas e Caius riu. - Ah, qual é. Eles são desorganizados, são selvagens. Não gostam de seguir regras.

Jane voltou a ter aquela expressão pensativa e Caius se irritou. Detestava quando ela pensava em algo e ele não conseguia adivinhar o que era.

— Jane, qual é o seu problema? - ele perguntou depois de alguns minutos. Jane tinha parado de andar e encarava a lua. - quer me contar o que está havendo?

— Eles são organizados - ela disse subitamente. - Selvagens e descontrolados, sim. Mas são uma famìlia, não são?

— Uma matilha, é o que são. Mas o que isso tem haver com o resto?

— Não tinha nenhum corpo morto, certo? - esperou ver o aceno de Caius pra continuar - mas tinha sangue. Muito sangue. E durante uma briga dessas pelo menos metade das pessoas vão embora. Todos saíram, exceto...

— Vampiros e lobisomens.

— Exatamente. Não é estranho?

Caius pensou por um momento e a encarou.

— Ta dizendo que tudo isso foi premeditado?

— Não. Só to dizendo que tudo isso foi estranho. Não gosto da Cecília, mas você ouviu o que a Daisy falou. Se aquela desmiolada não aparecer a coisa vai ficar feia.

Caius andava de um lado para o outro, nervoso. Isso não era certo. Durante meses boates se espalharam, boatos esses que pareciam estar se concretizando. Teorias de conspiração, pessoas desaparecendo, revoltas e intrigas. Todas as Sedes deveriam respeitar e obedecer seus reitores, e ele vinha reparando que isso não estava acontecendo. A cada dia que se passava, mais discussões e mais brigas surgiam, e o pior de tudo que ouviu foi sobre uma Grande Guerra envolvendo todas as Sedes. Gostava do caos, sim, porque amava impor a ordem e a calma. Mas uma guerra tão grande assim poderia destruir o planeta, –Nós estamos indo embora. – Anunciou Desdêmona, passando por Caius. - Da próxima vez, nos ligue se houver um problema. Um problema de verdade.

— E aquilo lá dentro não era? - reclamou Caius, indignado. - Ah, é claro, eu estou falando com uma sugadora.

— Cuidado, seu tolo. Pode se arrepender das palavras que diz. - ela o ameaçou. - vamos embora.

A mulher o olhou com desprezo e passou reto junto com alguns seguranças. Um grupo de homens da sede marrom se dirigiram para o estacionamento e outro grupo saiu em disparada para a floresta que se iniciava no quarteirão seguinte. Minutos depois, quando o local todo se encontrava escuro e vazio, Caius notou uma figura parada no meio dos escombros. Stephan.

Caius tinha uma grande lista de inimigos e outra de pessoas cujo afeto simplesmente nunca existiram. Stephan era um caso raro que entrava para os dois grupos. E não era só porque e ele era presunçoso, arrogante e um licantropo. Na verdade, a richa entre eles tinha começado antes mesmo de se conhecerem por causa de uma garota. Uma garota cujos sentimentos foram destroçados.

Caius fechou os punhos e os olhos. Não queria brigar, ainda mais naquela situação. Tinha prometido que não discutiria com ele e vinha cumprido bem sua promessa. E querendo ou não, precisava dele pra coletar informações.

— Cecìlia desapareceu. - ele começou, puxando assunto. - faz alguma ideia de onde ela possa estar?

Stephan o olhou como se só agora percebesse que ele estava ali. Deu de ombros e continuou olhando para o nada.

— Ótimo, não responda. Mas espere só pra ver o que vai te acontecer, um julgamento será feito e...

— Vamos embora - Jane o interrompeu, colocando uma mão em seus ombros. - temos nossos próprios problemas pra cuidar.

— Espere - Stephan se virou e o encarou, a expressão indecifrável.

—Precisamos conversar.

Lana franziu a testa, claramente contrariada, mas Caius fez que sim com a cabeça. Podia não gostar dele como pessoa, mas tinha que admitir que Stephan era um bom líder.

—A situação está ficando fora de controle. - Stephan começou, colocando as mãos no bolso da calça.

—Eu sei. – Respondeu Caius.

—Nós precisamos fazer alguma coisa. Talvez se nós...- Stephan parou, e Caius percebeu o que ele queria dizer.

—Não vamos voltar nisso. A resposta é não, de jeito nenhum.

Caius se afastou, irritado. Por que as outras Sedes insistiam em dizer que era tudo de ruim que acontecia era culpa da Sede Branca?

—Você sabe que ele não é um bom líder. Ele precisa voltar.

—Já acabou? – Perguntou Jane, entredentes.

Pedir pra trazer de volta o antigo líder da Sede Cinza era um dos maiores insultos a Sede Branca. A briga pelo poder e liderança suprema entre eles era conhecida por ser sangrenta e brutal.

Stephan acenou com a cabeça e se virou. Aquele assunto era restrito, e nenhum deles estava dispostos a discuti-lo e brigarem no momento.

— Vamos embora - Jane pediu, ao que Caius prontamente acenou.

Tinham problemas pra resolver e uma humana pra eliminar.


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