Imortais escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 15
Capítulo 14 : Gwilyn




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Gwylin voava o mais rápido possível que suas asas podiam ir. Pingos de água começaram a cair, e o céu estava ficando nublado.

—Hoje não, hoje não. - reclamou.

A chuva começou a cair, e ela teve que diminuir a velocidade com que voava. Justo hoje, que precisava chegar a tempo, tinha que chover. Foi descendo aos poucos, com medo de cair. Todas as fadas sabiam o quanto era perigoso voar na chuva, pois o risco de cair era enorme.

Aterrissou nos galhos de uma árvore e se sentou, balançando as pernas. Se fosse a primeira vez, era uma coisa, mas já tinha chegado mais de vinte vezes atrasada, e as desculpas estavam ficando velhas demais, tão velhas que pareciam forjadas.

Ela sabia o que os outros pensavam dela. A maioria dizia nas suas costas que ela não se importava com a própria Sede. Outros eram mais ousados, e diziam na sua cara.

Já não era o suficiente o que tinha feito no passado? Por que não aprendia com seus erros? Vivia sujando o nome e a pureza das fadas, e se seu pai não fosse um dos reitores da Sede Amarela, provavelmente já teria sido expulsa.

Estava quase pra chorar quando uma abelha pousou em seu ombro.

—Pequenino? Não sabe que é perigoso voar na chuva? - Censurou o bichinho.

A abelha começou a pular em seu ombro, alegando ter algo importante pra dizer.

—Algo importante? Precisa ser agora?

Gwylin fechou os olhos e se transformou. Na forma normal, podia sentir o que alguns bichinhos diziam, como pássaros, abelhas e borboletas, mas transformada entendia melhor.

—E então? O que houve?

"Ataque aos pretos, ataque a Sede Preta. Dos Brancos." A abelha dizia.

—Obrigada, pequenina. Agora vá para um lugar seguro.

Enquanto a abelha se afastava, Gwylin voltou ao normal e começou a correr debaixo da chuva. Precisava voltar a Casa e avisar a Jane e Caius, isso se eles já não soubessem.

Forçou suas asas a se abrirem e levantou voo novamente. Ela precisava se arriscar, precisava tentar...

Quanto mais subia de altura mais sua visão ficava borrada, e a chuva aumentou mais ainda. Ao ouvir o som de trovões, se assustou, perdeu o controle e começou a cair.

Tentava bater as asas, mas elas estavam muito pesadas. Elas estavam tão encharcadas que elas tinham se encolhido e se recusavam a sair. Fechou os olhos e gritou, com medo. Seria assim o seu fim?

—Diabos...

Quando pensou que iria se esborrachar no chão, sentiu braços a sua volta e reconheceu sua voz.

—Me solte, me solte!

Gwylin pulou de seu colo e procurou manter o máximo de distância possível.

—É assim que agradece ao seu salvador? - Ele falou, furioso.

Os dois ficaram se encarando, até que Gwylin finalmente resolveu falar.

—Obrigada.

—Por que raios estava voando numa tempestade? Você não pensa? Poderia ter se machucado, poderia ter morrido!

Gwylin virou de costas e se pôs a correr. Por ser uma fada, tinha uma conexão especial com a natureza e os sentidos mais apurados em se tratando desta, mais do que outros seres. Sentiu as folhas no chão se movendo, e nem precisou olhar pra trás pra ver que ele corria para a alcançar.

—A onde você vai? - Stephan perguntou, do seu lado.

Gwylin pensou em não responder ou dar uma resposta malcriada, mas percebeu o quão infantil isso seria. Não era hora de brincadeiras e infantilidades.

—Estou voltando pra Casa. Preciso ajudá-los.

Continuou correndo o máximo que conseguia, mas se sentiu lerda. Em comparação com Stephan, parecia que estava rastejando.

—Com essa tempestade e essa sua velocidade, não vai chegar lá tão cedo. Sua passagem é pelo rio, e ate você chegar lá, eles já vão ter partido pra guerra.

—Como...

—Eu mandei o recado. Mas se soubesse que você, ao invés de se esconder ou avisar sua Sede fosse correndo contar pra eles, jamais teria avisado. Por que não pode se afastar disso tudo? Por que insiste em querer ajudar? Essa briga não é sua.

Gwylin parou e o encarou, aflita. Sabia que ele se referia a Caius e Jane, e ele nem disfarçava seu rancor por eles.

—Você deveria estar na sua Sede uma hora dessas, protegida. E não só você, mas os outros. Você deveria contar a eles, sua Sede, sua família.
Gwylin mordeu os lábios, se sentindo culpada. Porque, por mais duro que Stephan fosse, ele era sincero, e isso era a pura verdade. Deveria estar indo para uma reunião importante, deveria estar alertando a eles sobre outra briga. Mas não, tinha que dar um jeito de entrar no meio dessa confusão e piorar tudo. Por que não conseguia ser normal?

—Você tem razão. Jane e Caius sabem se cuidar.

Stephan suspirou, e sua expressão relaxou. Mesmo depois de tantos anos, ele continuava lindo. Seu cabelo estava pingando de água, parecia um cachorro molhado. Sentia uma imensa vontade de passar as mãos nos seus cabelos...

Gwylin se virou e começou a andar, dessa vez pra direção da Sede Amarela.

—Gwylin...

Stephan parou em sua frente, bloqueando sua passagem.

—Eu preciso ir.

—Nos precisamos conversar.

Ela o observou com tristeza. Por que ele sempre tinha que complicar as coisas? Por que ela tinha que complicar? Se fosse uma fada descente, estaria naquela maldita reunião, como todos os outros. E nem pensaria em palavras como "maldita".

Seus olhos se enxeram de lágrimas, e começou a chorar. Ele a abraçou, enterrando seu rosto em seu cabelo. Stephan era alto, duas cabeças mais altas que ela, e por mais que estivesse molhado, seu corpo passava uma sensação de conforto e segurança.

Stephan era alto, musculoso e robusto, dono de uma personalidade forte. Era arrogante e grosso na maioria das vezes, mas essa não era a pior parte. A pior parte dele é que era um marrom, e se tinha uma coisa que os Amarelos detestavam era os marrons.

—Não chore. Você sabe o quanto é infantil chorar. - ele disse enquanto beijava seus cabelos.

—Chorar não é infantil. Chorar é uma forma de desabafo.
Stephan se afastou dela e a observou. Passou a mão pelo seu rosto e limpou as lágrimas.

—Veja só o quanto você é linda... Não estrague sua beleza com lágrimas.

Gwylin parou de chorar e o fitou, com os olhos brilhando.

—Por que você tinha que ser um lobisomem?

—E por que você tinha que ser uma fadinha?

Os dois voltaram a se encalhar pelo que pareceu uma eternidade, até que Gwylin decidiu desviar seus olhos do dele. Isso não a levaria lugar algum, ao menos nenhum lugar bom.

—Preciso chegar a Sede e rápido. Pode me dar uma carona?

Ele sorriu, uma coisa rara de acontecer, e ofereceu sua mão a ela.

—Preparada?

Gwylin fez que sim com a cabeça e aceitou sua mão. No mesmo instante, ele se transformou em lobo e ela se viu sentada em cima dele.

Se agarrava ao pêlo dele com força, não por medo de cair, mas por frio. Seus dedos estavam congelando, e a sorte era que a chuva cessara, e só o que restava era uma garoa fina.

Stephan corria tão rápido que parecia um borrão, e logo seus pensamentos e os dele estavam conectados, suas mentes voltando ao passado.


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