Renascer escrita por Ana C


Capítulo 7
Resiliência


Notas iniciais do capítulo

Olá meninos e meninas!

Feliz demais com os comentários que vocês mandaram! Lindos demais!

Katy, Ju, Lullaby, bem vindas! Muito obrigada pelos comentários lindos!

Eribarb, Nathy Mellark e AFilho, muito obrigada pelo carinho de sempre!

Para quem favoritou, muito obrigada também!

Antes de começarmos o capítulo, queria recomendar que vocês lessem a fic nova do AFilho, "Meu paraíso particular". Ele escreve bem demais, gente! O link é esse: http://fanfiction.com.br/historia/491989/Meu_Paraiso_Particular/

Esse capítulo é continuação do último, logo está narrado pela Katniss!

Boa leitura!



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Desperto mais uma vez na casa de Peeta e constato que estava errada quanto ao tempo de duração de sua crise. Já faz alguns dias e tudo o que consigo é fazer com que ele se comporte como se estivesse vazio. Ele come, dorme e toma banho sem a minha ajuda, mas seus atos são tão mecanizados quantos os de um robô. O brilho em seus olhos insiste em permanecer desaparecido e o sorriso de seus lábios agora não existe. Liguei para o Dr. Aurelius e ele insiste que eu devo deixar que Peeta retorne naturalmente ao normal. Na opinião do nosso terapeuta, é de certa forma bom que ele tenha deixado os próprios sentimentos extravasarem, uma vez que ele sempre esconde o que está sentindo para poder ajudar os outros. Por “outros”, eu entendi automaticamente se tratar de mim. E já que metade do inferno pelo que ele passou foi para me manter viva, acredito que o mínimo que posso fazer é ser a pessoa a estar ao seu lado todos os dias. Tentei convencer Haymitch a vir vê-lo e ele apareceu aqui uma vez só. Acho que foi dificil demais lidar com a doença da pessoa que não nos mantém doente.

Nunca parei para pensar o quão difícil é conviver com uma pessoa que se fecha em si. Jamais percebi a dificuldade que deve ter sido para o "Garoto com o Pão" me aguentar todo esse tempo, porque eu sempre fiz questão de manter todas as distâncias possíveis dele. E ele sempre quebrou todas elas. Gostaria de ter o mesmo dom para lidar com as pessoas que ele tem. Talvez assim conseguiria falar as palavras que ele quer escutar, ou eu o convenceria passar o dia todo em minha casa, já que ficar sozinho neste estado não vai ajudar mais, ou eu pediria para ele me abraçar na hora de dormir, porque me encolher do lado dele e não sentir seus braços me envolvendo é tão ruim que dói.

Logo depois que eu termino mais uma consulta pelo telefone com o Dr. Aurelius o telefone toca novamente eu atendo, desejando que seja ele me dizendo que encontrou uma possível cura ou novo tratamento para o que Peeta está sentindo. Eu não acho que o método que ele está usando seja eficaz, porque todas as vezes em que coloco o telefone no viva voz e vejo o desenrolar da terapia, não consigo observar nem uma centelha sequer de sentimentos no corpo do homem ao meu lado. Atendo rapidamente, para que o doutor não desista de falar comigo.

– Alô - falo, afobada

– Katniss? - A voz sai em tom de dúvida, mas eu imediatamente sei quem é. Johanna. E eu não podia estar mais surpresa. De todas as pessoas do mundo de quem eu receberia uma ligação, ela certamente não seria o alvo das minhas apostas.

– Sou eu, Johanna. Eu não esperava sua ligação! - nunca, diga-se de passagem - Eu posso te ajudar, aconteceu alguma coisa? - Por favor, que ela não diga que estamos novamente em guerra ou algo do tipo!

– Acho que sou eu quem tem que perguntar isso! Eu estou tentando ligar para o Peeta durante um tempão e ele não me atende. Aconteceu algo com você? Ele nunca deixa de nos ligar!

Ele nunca deixa de ligar para Johanna? Aparentemente para ela e para mais alguém, porque Johanna usou o plural para se referir às pessoas a quem Peeta faz ligações. Quantas coisas eu ainda preciso descobrir sobre esse homem? Eu realmente sou a mais negligente das amigas, ou das companheiras, se é que posso me colocar neste patamar.

– Aconteceu algo com ELE, Johanna. Nós estávamos fazendo um livro de memórias sobre as pessoas que perdemos durante os Jogos e na Revolução e ele teve uma espécie de colapso quando não conseguiu se lembrar das feições do pai. De lá pra cá ele tem dormido a maioria do tempo e tem feito todas as outras coisas no automático. Acho que por isso ele não tem atendido os telefonemas. Eu fico aqui na casa dele a maioria do tempo com ele, mas você deve ter ligado na hora em que eu vou colocar comida para Buttercup, ou na que eu estou na minha casa ou na de Haymitch...

– Maldito velho desgraçado! As vezes gostaria que Snow ainda não tivesse morrido, só pra que eu tivesse o prazer de matá-lo com minhas próprias mãos! - Johanna brada furiosa do outro lado do telefone e pede desculpas na mesma hora. Penso que foi pra mim e não entendo. Eu era a pessoa que queria Snow morto mais do que todas as outras. Mas depois que escuto uma voz feminina ao fundo, percebo que ela não dirigia suas desculpas a mim.

– Johanna, onde você está? - Questiono

– Peeta não te contou? Já tem algum tempo que estou no Distrito 4, junto com a Annie. Ela está grávida e eu não queria deixá-la sozinha. É o mínimo que posso fazer por Finnick, afinal. Aliás, é só o que eu posso fazer por ele.

Annie está grávida? Eu me lembro de Peeta ter comentado algo sobre ela e Johanna, mas acho que deliberadamente parei de escutar o que ele falava. Naquela época eu só queria morrer, saber da vida dos vitoriosos que sobreviveram não era prazer algum.

– Ele deve ter falado algo e eu esqueci. Não estive muito bem esses tempos... - argumento

– Ninguém esteve bem durante esses tempos, desmiolada... E eu acho que nunca estaremos. Mas eu estou muito preocupada com Peeta, ele era o que via o mundo cor de rosa, não importasse o quanto estivesse sofrendo! Se ele não ficar bem, nós realmente não temos nenhuma chance...

Eu engulo seco as palavras que Johanna acaba de dizer. As vezes ela parece ser uma espécie de alter ego meu. Aquele que é capaz de verbalizar todo os horrores que passam incessantemente pela minha cabeça. Decido cortar o assunto, antes que ela me deixe mais apavorada.

– Ele vai ficar bem, eu sei disso! - minto, descaradamente - E como está Annie?

– Mais sã do que eu imaginei que estaria. Eu acho que Finnick cuidou de tudo, mesmo não sabendo. Esse filho está dando mais forças para ela do que qualquer apoio meu. Ela quer que ele cresça orgulhoso dos feitos do seu pai e que ele possa aproveitar a sensação de ser livre… - neste momento Johanna interrompe a fala para escutar algo que Annie está dizendo - Ah, ela está pedindo para avisar que assim que ele nascer, vai mandar fotos para você e o Peeta.

– É um menino? Você sempre usa “ele” pra falar da criança... - pergunto

– É um menino sim! Nós descobrimos tem pouco tempo. Eu tenho acompanhado ela nas consultas, nessas horas ela fica muito emotiva e eu tenho medo de que possa acontecer algo ao bebê…- Johanna diminui a voz - É por isso também que não vou deixar que Annie fale com você hoje, ok?

Um menino... Rezo para que ele não se pareça com o pai, para que todos não tenham que se lembrar do triste fim que Finnick teve, mas tenho certeza de que ele se parecerá com o pai.

– Não tem problema algum. Eu também não saberia o que falar para ela mesmo... Eu acho que vou desligar para ver se Peeta precisa de alguma coisa. Não deixe de ligar novamente, ok - Por favor, eu preciso desesperadamente falar com alguém, penso

– Eu não vou deixar. E você, por favor me avisa se qualquer coisa diferente acontecer a Peeta. Eu realmente gosto e me preocupo com ele.

Johanna me dá o seu número de telefone e nos despedimos. Fico com a cabeça martelando as palavras dela sobre Peeta, o fato de ela informar que gosta e se preocupa com ele é surpreendente, pois ela tem certa aversão a mostrar qualquer sentimento que seja positivo. E repentinamente fico enciumada. É algo incontrolável, mas, mesmo assim, me repreendo.

De volta ao lado de Peeta, resolvo contar as coisas que eu conheço sobre o pai dele, talvez a situação dele melhore. Conto o que ele quase se casou com a minha mãe, mas que ela preferiu ficar com o meu pai porque ele cantava muito bem. Digo também que sempre o via na padaria com uma atitude amável com cada um que entrava no lugar e que acho que ele me olhava como uma filha que ele deixou de ter. Termino dizendo que ele era o filho mais parecido com o pai, na aparência, mas principalmente no caráter. E esse legado do pai ele jamais seria capaz de perder.

Finalmente eu consegui falar as palavras certas, porque consigo uma reação instantânea dele. Quando pequeninas lágrimas começam a correr de seus olhos, eu percebo que enfim fui capaz de quebrar o bloqueio que a dor que ele está sentindo construiu. Então eu chego mais perto dele e começo a cantar. Foi assim que ele se apaixonou por mim. Quem sabe ele possa se apaixonar de novo da mesma forma.

Canto todas as melodias que cantei na prisão, que cantei para Prim e as que cantei quando esperava que ele voltasse para mim, durante o tempo em que ele ficou detido na Capital. E quando vamos dormir, eu o abraço com muita força, querendo que ele se lembre que isso fazia ele se sentir bem. E o beijo para que ele sinta que há mais do que o vazio e o abandono deixados pela tortura. E quando o sonho me vence, não tenho pesadelos. “Meus pesadelos normalmente são sobre perder você”, Peeta sempre me dizia e hoje eu posso compreendê-lo. Sendo esse “pesadelo”, hoje, bem real, não há porque ele aparecer nos meus sonhos.

Um cheiro divino brinca com o meu olfato e me faz acordar depois de mais uma noite mal dormida. Viro para o lado para checar se Peeta está bem, mas não o encontro do meu lado da cama. Uma esperança louca invade a minha alma. Será possível que seja ele o responsável por fazer essa sinfonia de aromas chegar até o quarto?

Desço completamente enlouquecida, sem escovar dentes, ou trocar de roupa, a esperança aumentando a cada instante. Quando chego na cozinha abro o maior dos meus sorrisos até hoje porque eu estava certa. Peeta está tirando do forno o que parece ser uma fornada de biscoito e seus olhos tem aquela expressão doce novamente. Eu quase não consigo conter minha alegria, mas me aproximo com calma dele, não querendo assustá-lo.

– Eu te escutei ontem, sabia? - Ele começa a falar - Eu escutei você dizendo que eu me parecia com meu pai, na aparência e no caráter. E aí de noite eu lembrei muito claramente que eu e meu pai amávamos biscoitos de canela. Era o nosso preferido. Toda vez que ele fazia uma fornada, guardava uns dois biscoitos para mim, mesmo que isso fosse proibido. Uma vez minha mãe me pegou comendo-os e quis me bater. Ele me defendeu na mesma hora, como se fosse uma espécie de herói. Foi assim que ele voltou à minha memória. Junto com o sabor da massa, com a canela e com toda a sua bondade.

Eu estou tão aliviada que não me seguro e saio correndo para abraçá-lo. Ele, que não esperava esse tipo de reação tão exultante, quase se desequilibra e cai, mas ele não parece se importar. Nos abraçamos tão forte, como se o mundo dependesse desse gesto, rimos e choramos ao mesmo tempo. Eu posso sentir o cheiro maravilhoso dele misturado com os das especiarias que ele está usando. É inebriante. E então, depois de escutar seus sussurrados e intermináveis agradecimentos, o respondo.

– Bem-vindo de volta! Eu senti tanto a sua falta... - Confesso

– Me desculpa, eu não queria fazer você passar por isso... - Ele lamenta

– Você não tem que pedir desculpas por nada. Todo mundo tem direito de sentir, de ficar triste, de quebrar de vez em quando...

– Katniss, eu tentei te matar. Acho que já quebrei o suficiente. - Ele replica, irônico.

– Não é disso que eu estou falando. Aquilo foi o efeito da tortura. Essa crise que você teve foi somente sua. Foi você colocando para fora toda a dor que sente, mas fica guardando porque tem que cuidar de nós. - Eu respondo, convicta

– Bom, eu acho que sei de uma forma de isso não voltar a acontecer. -

Ele conseguiu me deixar muito curiosa...

– E qual seria ela? - indago, tentando esconder a curiosidade

– Eu vou reabrir uma padaria aqui no Distrito 12. Vou voltar a trabalhar com aquilo que meu pai me ensinou e que eu tenho tanto orgulho. Acho que vai ser bom, vou poder ajudar as poucas pessoas que moram aqui, eu posso oferecer alimentos aos que ainda não tem como comprar e oferecer preços justos a aqueles que já podem. - Ele parece tão feliz com a decisão que eu embarco prontamente em seu desejo.

– E quando você pensa em começar seu novo empreendimento, Sr. Mellark? - eu pergunto, sorrindo.

– Logo, Senhorita Everdeen! Mas agora nós temos alguns biscoitos para comer e um livro pra terminar. Eu mal posso esperar para colocar o rosto do meu pai naquela folha de pergaminho...


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Notas finais do capítulo

Esperando pelos comentários, ok? Mil beijos pra vocês e até o próximo capítulo (com o Peeta narrando!)