Renascer escrita por Ana C


Capítulo 2
Voltando a sentir


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado especialmente para a Carol Dantas, primeira a comentar e a acompanhar minha fic. E para Rita e Clara que favoritaram a história já no primeiro capítulo! Muito obrigada meeesmo!

Eu dou aula para 17 turmas (isso mesmo, de-zes-se-te)! Se eu sumir um pouquinho, e demorar pra postar, não me abandonem, ok?



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POV Katniss

Estou deitada na cama, querendo reconstituir os fatos que ocorreram durante o meu dia, mas as cenas se amontoam em flashes descoordenados. O pesadelo, o barulho de pá do lado de fora de casa, Peeta, as Prímulas Noturnas sendo plantadas, a raiva, a dor, a lembrança aterrorizante de Snow e de seu nauseante cheiro de rosas... Eu machucando meu corpo novamente durante o banho, nunca deixando de sentir aquele odor fétido... Concluo que provavelmente não consigo me concentrar pois esse dia não repeti meu ritual normal de ficar entre a apatia total e a vontade de morrer. Hoje eu me rebelei contra aquilo que me fazia sofrer. Hoje eu chorei e gritei a falta de minha irmã, mas também chorei e gritei por mim, por tudo que passei. E hoje eu revi o garoto de cabelos loiros e os olhos azuis que causam palpitações ao meu coração.

Peeta Mellark está de volta ao Distrito 12. Ele está de volta e plantou todas aquelas flores para que a lembrança da minha irmã fosse sempre algo belo. Mas eu demorei a entender o significado delas. Na verdade, eu sempre demoro a entender seus gestos. Nós somos tão diferentes, no entanto ele voltou para mim. Eu tenho certeza de que sou o motivo do seu retorno a esse fim de mundo, porém não tenho a mais absoluta ideia do que fazer com relação a isso. Eu estou despedaçada, irremediavelmente quebrada, a minha alma está morta. O que eu devo fazer? Sair correndo e oferecer mil abraços e beijos enquanto digo que seremos felizes para sempre? Eu não sei mentir e ele sabe disso. Ou talvez eu deva pedir que ele cuide de mim, como se cuidaria de qualquer inválido. Isso certamente faria mais sentido. Ou eu poderia falar a verdade e secamente, pedir para que ele se afastasse de mim definitivamente, porque meu coração e minha alma ainda não estão preparadas para voltar a sentir. O torpor me mantêm viva. O choro me faz companhia. E é por eles que eu pretendo estar acompanhada de agora em diante. Mas Peeta não vai embora. Estou certa disso. Ele é do tipo de pessoa que persiste silenciosamente, que é a rocha sólida na qual todos se apoiam quando estão caindo. Mas eu não o quero por perto. E vou evitá-lo o quanto puder.

Tenho a confirmação da vontade de Peeta de fincar raizes no 12 e, principalmente, perto de mim na manhã seguinte. Quando vou para tomar café da manhã, depois de mais uma noite sendo perseguida pela versão bestante de todos aqueles que eu perdi, o vejo conversando alegremente com Greasy Sae e sua neta, mantendo as duas completamente hipnotizadas com o seu jeito de falar e gesticular, enquanto corta um pão em fatias grandes. Na verdade, eu já sabia antes que Peeta já havia chegado.Conforme descia as escadas de casa, o cheiro que está sendo exalado do andar inferior da casa parecia vir me receber, me fazendo salivar automaticamente, mas não pretendo para ele que finalmente estou ávida para comer alguma coisa.

Quando chego na cozinha, sou recebida com três sorrisos sinceros, que sou incapaz de retribuir, mas eles parecem não se importar e retomam o assunto de onde pararam. Eles estão falando sobre o tipo de comida que era servido no Distrito 13 e de como era bom poder comer uma comida que tivesse realmente gosto, que os fizesse sentir em casa. Eu concordo plenamente e sendo a comida feita por Peeta, sei que estará deliciosa. Ele parece ler minha mente, pois em determinado momento, suas mãos empurram para mim um prato com uma pequena porção de pães de queijo.

– É melhor você comê-los antes que eles esfriem e fiquei duros... - Ele diz, com um sorriso sereno nos lábios.

Eu devoro aqueles pães imediatamente. Eu realmente não tenho comido muito ultimamente e aqueles pãezinhos de queijo conseguem ser ainda melhores que os pães normais que Peeta costumava assar. Sei que ele está me olhando agora, com o rosto cheio de satisfação, mas não me importo e continuo comendo como louca.

Durante o café da manhã, escuto Greasy e Peeta fazerem uma espécie de pacto, no qual um ensina ao outro, suas habilidades culinárias. Não é difícil entender que ele vai permanecer na minha casa por mais tempo do que eu planejava, ou por mais tempo que eu posso suportar. Tento formular qualquer frase que o mande de volta para sua própria casa, sem parecer louca, ou grosseira, porém só consigo fingir que estou alheia a todos os assuntos discutidos naquela mesa. Só me resta sair do mesmo cômodo em que ele está.

– Se vocês me permitem, eu vou para a sala. - Resmungo, irritada de ter que pedir permissão para sair da minha mesa em minha própria casa.

– Claro, fique à vontade, Katniss. A casa é sua, afinal. - Greasy me responde de maneira condescendente, mas percebo que Peeta e sua neta não gostaram da maneira com que eu falei. Azar o deles.

Escuto sons que qualquer lar normal deveria fazer. Barulho de panelas, o grito incessante da chaleira que ferveu a água, a conversa animada na cozinha e algumas gargalhadas infantis. Qualquer um que passe pela minha casa agora vai pensar que Katniss Everdeen finalmente está vivendo o sonho dourado da liberdade e do amor. Mas eu estou deitada no sofá, enquanto meus convidados estão envolvidos em algum tipo de ritual, que também deve envolver o ato de cozinhar.

Não resisto e começo a observar, disfarçadamente, o que está acontecendo no outro cômodo. Vejo os profundos olhos azuis de Peeta mirarem a pequena garotinha sentada no banco com a doçura que é própria da personalidade dele. Ele diz algo que eu não consigo captar, mas eu sei que deve ter sido muito bom, pois a maneira como a menina sorri e cora ao ouvir, me dizem que ela acabou de se apaixonar perdidamente pelo padeiro. Não admiro que isso tenha acontecido. Esse poder é inato da personalidade dele. Ele consegue tocar qualquer pessoa, inclusive eu. Greasy Sae parece estar grata pela companhia que ele faz e este fato eu também consigo entender. Certamente é mais fácil lidar com uma pessoa que dialoga, sorri e age normalmente, do que com uma maluca que eventualmente traz alguma boa caça para o almoço. Faço um esforço para me concentrar na minha solidão, mas começo a tentar escutar o que eles estão falando.

– Eu nunca fui bom com assados! Consigo fazer pães, bolos, qualquer coisa que se venda em uma confeitaria, mas nunca tive tempo para me aventurar em outras áreas da cozinha. - Peeta diz, enquanto pica alguns ingredientes e coloca em uma panela grande, que eu nem sabia que tinha.

– Não vai ser difícil aprender. Acho que você já faz o mais complicado, confeitando todos aqueles bolos maravilhosos e enormes, fazendo esses pães que derretem na boca... Eu acho que logo não vou ter mais o que te ensinar, mas você vai ter que gastar um bom tempo comigo! - Greasy Sae ri de forma divertida.

– Não tem problema algum! Eu tenho muito tempo agora que não preciso me submeter aos caprichos da Capital... Quem sabe não abrimos um restaurante na cidade?

– Eu acho que é uma ótima ideia para você, Peeta, porém eu passo. Estou com muita idade para lidar com esse tipo de pressão. O que eu fazia na costura era pra sobrevivência. Não quero voltar a ter esse tipo de obrigação...

– Eu entendo. É que cozinhar nunca foi algo ruim na minha vida. É a coisa que me faz estar mais próximo do meu pai, ele me ensinou tudo o que eu sei, apesar de sempre dizer que eu era o melhor padeiro da família. Fazer todas essas comidas é minha forma de mostrar que ele não vai ser esquecido nunca! - Eu nunca parei para pensar na falta que Peeta sente de sua família. Ele nunca demonstra, mas talvez seja porque eu sou uma egoísta, estou sempre me lamentando pelos cantos em alto em bom som, sem nunca permitir que ele se expresse.

– Tenho certeza que é por isso que tudo fica tão gostoso – Aff... Se a senhora que está na cozinha não fosse mais velha que minha mãe, acho que ela se atiraria em cima do Garoto com o Pão. E sua netinha também. Belo fã clube que ele arrumou...

– Eu agradeço o elogio! E você, Vivian – esse é o nome da neta de Greasy Sae afinal? Nunca me importei em saber – tem que pensar em como quer seu bolo de aniversário! É no mês que vem, né? Vou tentar fazer do jeitinho que você me disser!

– Eu quero rosa! - Nem preciso me esforçar em escutar a resposta, já que o grito da menininha ecoou pela casa inteira.

– Então teremos um bolo rosa! - Peeta ri da empolgação de Vivian, mas para subitamente. O que será que aconteceu? Escuto o barulho de panelas caindo e imediatamente tento me levantar do sofá, mas as risadas voltam.

– É Buttercup, você quase virou parte do nosso almoço – Peeta fala rindo e o gato dá um miado injuriado – Eu acho que você faria a felicidade da Katniss se isso realmente acontecesse...

Eu quero rir, mas não posso. Não posso me enfeitiçar pelas coisas que ele diz. O almoço fica pronto, eles me convidam a me sentar na mesa, novamente agindo como se eu não fosse dona da minha própria casa. A comida está deliciosa e eu novamente devoro tudo que encontro na frente. Não sei se foi um espetáculo bonito de se ver, a forma como eu comia, mas o clima ameno instaurado na mesa não muda por causa do fato de eu estar comendo feito um animal selvagem.

Greasy e sua neta se despedem de mim e eu fico aliviada: está na hora de Peeta ir para casa também. O que eu não esperava é que, aparentemente, ele não se dá conta deste fato. Eu decido manter meu voto de silêncio com ele, esperando que isso o deixe suficientemente irritado e o faça ir embora. Sento pesadamente em um dos grandes sofás que tenho neste mausoléu que chamo de casa e fecho os olhos pretendendo dormir. Ele se senta em uma poltrona, na minha frente, e parece também estar se preparando para relaxar. Nós nos mantemos sem falar e sem nos movermos por horas, até que em determinado momento Peeta me dá boa noite e segue para casa, de um jeito um tanto apressado para quem ficou tanto tempo sem fazer nada. E eu sigo para o meu quarto, com uma sensação que há tempos não sentia. Seria conforto? Eu acredito que não, que o que há dentro de mim é ainda mais forte. Esperança. Depois de muito tempo desaparecida, sinto que ela acaba de voltar a me visitar. Assim como o meu Garoto do Pão.


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Notas finais do capítulo

Eu já fui uma "leitora fantasminha" também e sei que nem sempre dá pra comentar, mas eu adoraria saber o que vocês estão achando! Beijinhos e até o próximo capítulo!



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