Renascer escrita por Ana C


Capítulo 1
Voltando para casa


Notas iniciais do capítulo

Os capítulos vão alternar os narradores! A maioria dos capítulos vai ser narrado pelo ponto de vista da Katniss, mas alguns deles, esse inclusive, serão narrados por outros personagens. Começamos com Peeta Mellark, o mais doce dos personagens de livros e sempre meu favorito!

Espero que gostem! Esse capítulo estava na minha cabeça desde que terminei a trilogia "Jogos Vorazes"! Beijos a todas



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P.O.V Peeta

Eu estou voltando para casa... Eu mal posso acreditar que esse momento chegou, que posso ver, pela janela do trem que me leva de volta ao Distrito 12, todas as cores, toda a destruição, todo o ressurgimento de uma Panem finalmente livre. A cor branca não domina mais meus olhos, os pensamentos surgem em fluxos que eu posso compreender e controlar. O cheiro dela não sai da minha cabeça. Eu sou Peeta Mellark e estou voltando para casa. Estou voltando para ela, a Garota em Chamas que me faz querer lutar, sobreviver, o que me restou de sanidade, a minha família.

Desço na estação do meu distrito e sou imediatamente reconhecido pelas pouquíssimas pessoas que transitam pelo ambiente. Sou brindado com expressões de pena, surpresa, choque, felicidade, mas, sobretudo, de admiração. Eles me veem como um herói, um símbolo revolucionário, algo que eu jamais serei. Todos nós, os que estiveram na linha de frente da revolução, os Vitoriosos, os que lutaram naquela arena nojenta, suportando todo o tipo de privações, todo tipo de horror, todos desejavam, sobretudo, sobreviver. E esta força consegue fazer qualquer um ser sobre-humano. No entanto, entendo que eles precisam de rostos que lhes deem esperança. Que lhes assegurem um futuro menos doloroso e mais próspero e é por esse motivo que devolvo com sorrisos, todos os olhares que recebo.

Começo minha caminhada rumo à Aldeia dos Vitoriosos e logo descubro que felizmente não a terei que fazer sozinho. Haymitch está me esperando do lado de fora da estação, tal qual ele me disse que faria, quando eu ainda estava internado no hospital. Eu sabia que ele estaria, ele sempre manteve as promessas que fez a mim.

- Hey, garoto! Achei que você não voltaria mais! Você demorou tanto para chegar que achei que você tinha se rendido aos encantos das enfermeiras do hospital da Capital – Ele me diz, com um sorriso no rosto.

- Eu realmente pensei nisso, Haymitch, mas quem ia cuidar deste velho mentor que está na minha frente? - Digo, abraçando-o fortemente. Katniss é a menina dos olhos dele, mas sei o quanto ele gosta de mim e o quanto ele sempre se esforçou para me manter vivo. E sei o quanto ele se esforçou para vir me buscar hoje, sóbrio.

- Preparado para voltar para sua casa? Greasy Sae limpou tudo, assim que você pode chegar e descansar o quanto quiser. Imagino que a sua viagem tenha sido cansativa demais, já que você está um lixo...

- Muito obrigado, Haymitch – digo, sorrindo – É sempre um prazer escutar as suas palavras de conforto!

O jeito ácido de Haymitch não me incomoda, pelo contrário, me faz sentir que estou de volta a um lugar no qual pertenço. Dou uma pequena gargalhada e ele me acompanha. Ele sabe que eu não vou me importar com as suas brincadeiras, mas as faz do mesmo jeito...

- É sério garoto! Não sei se você aguenta andar até sua casa e eu já estou muito velho pra te segurar!

- Fique tranquilo que eu posso caminhar até a vila... Eu não sei é se você pode! Você também não anda com a melhor das aparências, Haymitch... - Não resisto em ressaltar como ele parece abatido. O seu jeito de caminhar é tão moroso, que fico realmente preocupado com ele. Seus olhos retratam uma inquietação além daquelas já conhecidas por todos nós.

Em quanto caminhamos, pouca coisa é dita, talvez pela minha absoluta surpresa com o tamanho da destruição do meu distrito. Cinzas e escombros formavam a nova arquitetura do lugar. Ao lado deste cenário apocalíptico, escavadeiras, caminhões e todo tipo de aparato tecnológico, certamente mandados por Paylor -nossa nova presidenta- me indicavam que o meu distrito iria se levantar, assim como nós, os poucos habitantes daqui, também nos reergueríamos.

- Está tudo bem estragado, ainda... - Haymitch me fala, mais para retomar uma conversa do que para me informar, eu posso ver com meus olhos a situação em que tudo se encontra...

Meu pensamento vagueia pelas lembranças de minha família. Todos sempre disseram que eu era parecido com meu pai... Eu gostava tanto dele, de sua capacidade de encontrar felicidade e força nos lugares mais inóspitos... De como ele me ensinou a confeitar, da presença constante. Dos meus irmãos e de seus sorrisos enquanto trabalhávamos. Da minha mãe... Sinto falta até mesmo dela. É difícil saber que fui responsável pela infelicidade dela... E por sua morte também. Eu nunca pensei em ninguém além de Katniss, durante os jogos. Não me arrependo disso. Mas talvez se eu fosse mais forte, como ela, mais audacioso como Finnick, ou mais raivoso, como Johanna, eu tivesse conseguido salvar os meus pais e irmãos

- Você sabe sobre a padaria de meus pais? - Pergunto, sabendo que a resposta vai ser das mais tristes. De qualquer maneira, a questão era inevitável.

- Não sobrou nada dela... Aliás, não sobrou muita coisa de nada neste distrito. Mas não se preocupe, a Aldeia dos Vitoriosos está de braços abertos e intactos para recebê-lo! - Percebo o escárnio da fala de Haymitch e não posso deixar de concordar. De todos os lugares que existiam em nosso distrito, a aldeia era o único que podia ser mandado para os ares sem remorso. E, no entanto, é o único que se manteve em perfeitas condições.

- Eu já esperava por isso. Mas acho que ainda tinha uma esperança de escutar você me dizendo que o que aconteceu com a minha família era mais uma alucinação criada pela Capital... - Eu falo e não quero deixar meu mentor triste, mas percebo que é exatamente esse o efeito que as palavras causaram nele. É o suficiente para que caminhemos o resto do trajeto em silêncio.

Finalmente chego a minha casa. Neste momento, todo tipo de sentimento bom e ruim está embaralhando a minha mente. E eu me encontro em uma batalha para não permitir que os ataques voltem e me transformem em um monstro. Então eu faço aquilo que gostaria de ter feito desde que cheguei no Distrito 12: eu olho para a casa da frente. Olho e espero que ela descubra que eu estou aqui, que ela saia e me abrace, me beije, me fale que, agora que estamos juntos, nada vai nos separar. A verdade é que toda essa história dos “Amantes Desafortunados” deve ter me deixado ridiculamente idiota. Eu tentei matá-la. Essas cenas não vão acontecer.

- Então, filho... Vamos ficar parados aqui o dia inteiro? Você não pode conceder a este velho o prazer de sentar em uma cadeira, enquanto comemos qualquer coisa que aquela mulher tenha feito para a gente comer? - Haymitch parecia realmente esgotado, assim como eu.

- Claro, vamos entrar! - É realmente bom que ele tenha tirado todos esses pensamentos da minha cabeça - Eu também estou louco para comer alguma coisa, tomar um banho e tentar dormir. Hospitais não são os melhores lugares para fazer essas três coisas – Falo, enquanto pego minha pequena mala e abro a porta de casa.

Sou invadido por um cheiro maravilhoso de comida recém feita. Minha boca saliva e eu vou imediatamente até a cozinha para ver o que foi preparado. É algum tipo de cozido, não sei identificar do que, mas ele vai matar a minha fome e eu não podia estar mais satisfeito. Saio em busca de pratos e talheres, os coloco na mesa e chamo Haymitch, que a essas horas deve estar em busca de algum licor que esteja perdido dentro dos muitos armários dessa casa. A busca vai ser inútil, mas não vou me dar ao trabalho de dizer-lhe isso.

- Vamos comer! – Grito. Escuto passos em direção à cozinha indicando que ele está voltando. Sirvo nós dois e me supreendo quando o primeiro pedaço de cozido encontra a minha língua. Está delicioso, não sei se por causa da minha fome ou pelo sabor real da comida...

- Eu gostaria que ela comesse assim... - Haymitch sussura, como se não quisesse que eu escutasse. Mas não adianta. É sobre Katniss que ele está falando, eu tenho certeza. Imediatamente meus olhos se fixam em seu rosto, demandando que ele continue a falar sobre ela.

- Ela quase não come, garoto... Sae tem que obrigá-la a comer, a tomar banho, a acordar e a dormir todos os dias. Não há nada mais deprimente do que ver aquela menina se arrastando pela casa, tentando de alguma forma trazer de volta a irmã que já se foi. Agora ela está voltando a caçar, mas eu tenho medo que ela entre naquela floresta e nunca mais retorne. É terrível ver o que fizeram com ela, assim como foi terrível ver o que fizeram com você. Eu tenho esperanças de que você vai poder trazê-la de volta a vida, porque esta é a sina de vocês... Vocês sempre se salvam...

Observo que meu antigo mentor faz todo seu discurso com os olhos cheios de lágrimas. Todos nós estamos cheios de dor, não sei se o tempo será capaz de apagá-la.

- Eu não sei se eu serei capaz disso, Haymitch. - Minha voz sai embargada - Eu tentei matá-la quando ela me queria por perto. E tentei salvá-la quando ela queria morrer. Eu não tenho sido a melhor das pessoas para ela, não estou exatamente certo se a minha presença aqui vai ser tão útil...

- Então por que você voltou, Peeta? Se você, entre todos nós, é o que tem mais chance de se reerguer, de ser feliz, de tentar de novo, por que voltou para esse buraco? Para se penitenciar cuidando de uma desequilibrada e de um bêbado? - Haymitch fala sem raiva, sua voz denota somente dor e pena.

- Eu voltei porque vocês são a família que eu tenho agora. Porque você, desde o início dos jogos tem sido meu pai, aquele que cumpre as promessas que faz para mim, aquele que tenta me salvar. E porque ela é a razão de eu estar vivo. Foi por ela que eu suportei tudo aquilo, o amor que eu tenho por ela me fez suportar toda aquela tortura, todas aquelas mortes, todo o sofrimento. É por isso que eu tenho que estar aqui e em nenhum outro lugar. Tudo o que eu tenho está aqui! - Eu estou quase esbravejando, mas não tenho certeza do motivo pelo qual estou fazendo isso...

Haymitch me olha com surpresa e dó. Eu realmente odeio que ele me olhe assim, mas ali está ele, me encarando deste jeito mais uma vez. Ele não age assim com Katniss e isso só me faz concluir que ele me acha um fraco. Eu já sei disso, ele não precisava me dar esse tipo de apoio.

- Eu não te salvei naquela arena e me arrependo todos os dias disso. Queria que você soubesse... - Haymitch diz. Eu aperto a sua mão e espero que ele entenda o gesto. Espero que ele entenda que não é culpado do que aconteceu e que eu sempre sei grato por ele ter escolhido a Kat ao invés de mim.

A conversa atinge um ponto tão denso, que sei que não vamos conseguir mantê-la por muito tempo. Por isso, não me surpreendo quando, logo depois que terminamos de comer, Haymitch se despede e diz que precisa ir para casa resolver alguns problemas. Sei que ele precisa voltar para casa para beber. Sei que ele não sabe lidar direito com esse tipo de emoção e que tudo o que falamos é tão pesado que é difícil suportar, então eu sorrio e me despeço.

Estou sozinho em uma casa enorme, num distrito esquecido, cheio de cicatrizes emocionais e físicas. Nunca pensei que minha vida fosse tomar esse rumo e sinceramente não sei o que fazer com ela. Mas eu tenho um desejo profundo de vivê-la da melhor forma possível. Talvez não hoje... Talvez se eu deitar no sofá eu consiga, só por um instante, descansar, mas minha cabeça parece não pensar da mesma forma, porque assim que sinto meu corpo afundar no sofá acolchoado, tenho uma idéia. Eu levanto, pego alguns utensílios na cozinha, saio e começo a correr rumo à floresta. Acho que descobri uma forma de manter a doce Primorose perto de nós por mais tempo...


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Notas finais do capítulo

Comentários serão sempre bem-vindos! ;)



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