Stiles estacionou o jipe e observou a construção onde Derek chamava de lar. De fato ele nunca havia usado essa palavra “lar” para denominar aquele apartamento industrial, mas era onde ele vivia. Se é que dá para chamar aquilo de viver. Não que Stiles fosse fresco, nem nada disso.

Se bem que Derek havia melhorado muito desde que eles se conheceram.

Floresta, casa abandonada, subterrâneo, apartamento que mais parecia uma oficina mecânica. As coisas vão progredindo gradativamente.

— Vamos lá, você faz as regras. — Stiles falou, ajeitando o cabelo, olhando-se pelo espelho retrovisor.

Então se sentiu confiante em sair do carro, pelo menos até ouvir um uivo. Essas coisas causavam-lhe arrepios, mas esse não era um uivo de um lobisomem. Devia ser um cachorro falando “Boa sorte”.

Antes que ele desistisse do que estava pretendendo fazer, decidiu entrar de uma vez.

Quem atendeu a porta foi o próprio Derek. Ele mandou Stiles entrar e sumiu por alguns segundos, retornando com uma lata de cerveja em uma mão e na outra uma lata de Coke.

Maravilha, pensou Stiles. Ele aceitou, por educação.

— Então você está livre das acusações? — Stiles caminhou até o sofá, era um móvel bem antiquado e nada confortável, mas não havia muitas opções.

— Totalmente livre. Tentaram armar para cima de mim, mas não conseguiram. — Derek ficou em pé mesmo. — Está com fome?

Então a regra do jantar não foi totalmente descartada. Stiles balançou a cabeça positivamente. Ele estava tão eufórico que não havia comido nada desde aquela tarde. Derek caminhou na direção de outra porta e Stiles concluiu que devia segui-lo.

A novidade era que aquele lugar possuía uma cozinha. Embora fosse apenas um micro-ondas em cima de uma placa de metal sobre duas pequenas colunas. Renomados arquitetos high tech jamais conseguiriam reproduzir tal projeto com tanta profundidade. Ironicamente falando.

Havia um latão de lixo ao qual Stiles encontrou latas e mais latas de cerveja e embalagens de fastfood. Ele se perguntou como é que os lobisomens mantinham a forma.

Obviamente caçando na floresta.

Enquanto Derek se ocupava em tirar a embalagem de plástico e colocar a comida congelada no micro-ondas, Stiles aproveitou para analisá-lo.

Ele vestia uma típica calça jeans escura, coturnos e aquela camiseta cinza, ao qual Stiles não imaginava como podia sobreviver. Ou ele possuía um estoque de camiseta em algum lugar desse apartamento, ou ele frequentava a mesma loja e comprava sempre as roupas mais parecidas que podia.

Stiles deu um passo para trás quando Derek virou-se.

— Legal o que fez aqui, está mais... como posso dizer... com cara de casa. — Ele apontou para o micro-ondas e analisou a caixa de isopor ao lado.

— Não é bem planejado, mas no momento não tenho tempo para bancar o dono de casa.

— É, eu concordo. Tem mais Coke? — Derek abaixou-se e pegou uma latinha de dentro da caixa de isopor, entregando para Stiles. — Então, onde está todo mundo para a festa?

Stiles deu um “murro” leve no ombro de Derek, com o punho fechado. Logo ele recuou a mão para dentro do bolso da jaqueta, onde era um local seguro.

— Não tem festa alguma. Peter precisou deixar a cidade, então eu pensei que poderíamos conversar.

— Legal, conversar é uma boa ideia. — Stiles terminou de beber o refrigerante e arremessou a latinha no latão de lixo. — Cesta! — ele sorriu, mas a expressão de Derek não estava assim tão festiva.

Finalmente o micro-ondas apitou e Derek se ocupou novamente com a comida. Stiles fez uma piada com ele ter preparado o jantar, mas isso não arrancou nem um shut up Stiles do lobisomem.

A comida ainda estava fria, ele preferiu não levantar questão. Talvez lobisomens gostassem de comida fria para dar um ar de selvageria. Vai saber.

Estavam sentados no sofá, o apartamento era iluminado por luzes de emergência, possivelmente estavam ligadas no gerador de energia da fábrica vizinha.

Ao contrário do que estava acostumado fazer, comer assistindo televisão ou comer em frente ao computador, Stiles aproveitava um clima frio e tenso em um apartamento frio, comendo uma comida fria. A companhia nem se fala. Derek parecia mesmo entretido com sua refeição.

Ele o olhou de canto num momento, fazendo Stiles desviar o olhar.

Enquanto isso, revisou as regras que havia criado para aquela noite. Estava decidido não ceder. Precisava se mostrar um pouco difícil e fazer Derek correr atrás do prejuízo. A regra não fazia muito sentido quando o indivíduo sequer tentava mostrar suas garras. Não as verdadeiras, as hipotéticas.

Quando terminaram de comer, Stiles agradeceu mentalmente. Derek se levantou e retornou da cozinha com mais cerveja. Derek parou diante da janela e finalmente desatou a falar. Ou tentou.

— Meu tempo aqui está acabando.

A primeira reação de Stiles foi perder a fala, depois o ar nos pulmões e em seguida veio a negação.

— Você não está falando sério, não é? — Ele se levantou em um sobressalto e caminhou até aquele grande vitral. O céu estava nublado, mas não era algo que importava no momento.

— Essa pendencia com a justiça era a única coisa que me prendia à cidade. Agora que tudo acabou, Peter e eu decidimos ir embora. Minha irmã está nos esperando.

E ele falou tudo aquilo como se realmente não houvesse nenhum assunto pendente entre os dois. Isso magoou profundamente Stiles. Ele se virou. Não existia motivos para permanecer ali. Derek não se mexeu, mas quando o rapaz alcançou a porta de ferro, ele abriu a boca.

— Stiles, espere. — Mesmo a contra gosto, ele esperou. Estava de costas, mas podia sentir a presença de Derek se aproximar dele. — Aquilo que eu te pedi na delegacia.

— Já sei, já sei. — Stiles balançou as mãos. — Ser a babá do bando. É, eu acho que entendi.

— Você não entende...

— Não, não sou eu que não entendo. — Stiles virou o rosto mas logo depois encarou Derek, que estava parado dois degraus abaixo dele. — Eu pensei que... deixa para lá.

Ele deixou o apartamento e dessa vez Derek não chamou-o de volta.