As palavras de Liana ainda ecoavam na cabeça de Adam, por mais que já estivesse saindo da sua última aula daquele dia elas continuavam ali, mais insistentes que o normal. Talvez ele realmente devesse falar com a loira, ele a amava e deveria tentar fazer algo para que pudessem reatar, era o certo a se fazer. Até mesmo a professora de teatro estava tentando ajudar mesmo que de uma forma indireta e ele não tinha feito nada, absolutamente nada, além de reclamar e resmungar de como a vida não estava sendo justa ultimamente.

Adam fez uma careta ao perceber isso e caminhou a passos lentos e preguiçosos até a garagem, poderia falar com Alyss no dia seguinte, foi seu pensamento até chegar à garagem.

– Hey Alyss! - ele gritou quando chegou até lá e à viu um pouco afastada, ela se virou com as sobrancelhas erguidas e andou até ele meio encabulada, enquanto Adam sentia seu coração acelerar.

– Hey - disse com as mãos no bolso e ele sentiu o coração acelerar.

– Ahn... eu estava pensando se você não poderia ir lá para casa ensaiar hoje - disse de uma vez e ela engoliu em seco.

– Eu não falei com a minha mãe nem nada, ela vai ficar preocupada - disse rapidamente.

– Podemos ligar para ela de lá e pedir para minha mãe falar com ela - ele propôs.

– Hum, tudo bem, acho que não tenho nada de realmente importante para fazer hoje, então... vamos lá - ela disse ao não conseguir pensar em algo para negar, mas nada veio a sua mente então apenas o seguiu até o carro, ignorando o olhar e o sorriso malicioso de Liana a alguns metros de distância.

– Se comportem crianças! – ela gritou e Alyss revirou os olhos entrando no carro, Adam riu e Liana lhe deu uma piscadela e então lhe lançou um olhar que quase dizia “Faça alguma coisa ou eu te mato!”, ele assentiu e entrou também, ligando o rádio e dando partida no carro.

O único som ali dentro era a respiração de ambos e a música que tocava no rádio, uma vez ou outra Alyss o encarava pelo canto dos olhos, rezando para que ele quebrasse aquele silêncio constrangedor que havia se estabelecido ali, mas ele não o fez, então ela bufou e ficou encarando pela janela o caminho que parecia bem mais longo do que o normal e do que realmente era.

– Isso está meio estranho – disse ela depois de um tempo, quando já estavam virando a esquina da casa de Adam.

– É – ele disse rindo nervosamente e ela também riu.

– Eu não quero que fiquemos nessa situação, huuuum... – disse e pensou na palavra certa por alguns instantes.

– Constrangedora? – ele perguntou com uma careta parando o carro.

– Eu iria dizer estranha, mas constrangedora também serve – disse rindo e colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, Adam riu e abaixou a cabeça.

– Não quero que fiquemos assim – ele disse depois de um tempo e Alyss o encarou sentindo as bochechas corarem, mas apenas respirou profundamente e assentiu.

– É, nem eu, eu acho – resmungou e suspirou sem saber mais o que falar – Não vamos descer?

– Sim, claro, é só que... eu queria conversar sobre tudo isso que está acontecendo, eu estou me sentindo estranho, sabe? E, caramba, eu nunca me senti assim, é perturbador demais até para mim. Eu nunca tive nada sério com nenhuma menina e nunca imaginei que seria logo com você! Não que você não seja bonita, porque você é, você é bonita até demais na minha opinião e você está com muitas mais curvas do que quando éramos pequenos, você me entende certo...

– Ta, já entendi! – disse ela corando.

– Eu fico com tanta raiva quando vejo aqueles trogloditas da escola te olhando, ainda mais depois daquele baile e de você ter dado aquele show com a Quinn. E eu pensei que estávamos felizes e então tudo mudou do nada, eu nem entendi direito o que aconteceu para ser sincero – disse e jogou a cabeça para trás – Quer dizer, nunca estivemos tão distantes, quando éramos pequenos brincávamos e brigávamos juntos todos os dias por causa das nossas mães, depois enquanto crescíamos fomos nos afastando mais ainda brigávamos todos os dias, discutíamos a cada cinco minutos se deixassem, depois teve o lance do acordo e passamos mais tempo juntos do que eu achava humanamente possível para nós dois – disse fazendo uma cara engraçada e ela riu – E então começamos a namorar de verdade e... bom, depois terminamos e mesmo estando na mesma peça, na mesma escola, jantando um na casa do outro pelo menos uma vez na semana por causa das nossas mães, ainda estamos afastados. Nós dois sorrimos quando as pessoas perguntam se estamos superando tudo o que aconteceu, se ainda somos amigos ou se já voltamos a nos odiar, mas sabemos que nada disso é engraçado. Pelo menos para mim não... eu não agüento mais olhar para você todos os dias e fingir que meu coração não acelera a cada sorriso seu, cada vez que você cora ou que você franze os lábios mesmo que inconscientemente – ele disse e ela desvia os olhos.

– Adam, por favor, pare com isso, não torne as coisas mais difíceis do que elas realmente são – disse se abraçando com força.

– Você me ama? – perguntou ele do nada e ela arregalou os olhos e engoliu em seco.

– O-o que? – gaguejou e segurou a respiração por um tempo.

– Você me escutou – ele disse segurando o rosto dela entre as mãos, Alyss não disse nada, não se sentia capaz de dizer nada – Vou considerar isso um sim – ele disse e aproximou seus lábios dos dela os selando, o beijo começou calmo, sereno, mas depois se tornou algo mais desesperado, como se eles precisassem daquele beijo para matar toda a saudade que sentiram um do outro e não confessaram.

Alyss o empurrou com força e levou os dedos aos lábios inchados e avermelhados, apertou os olhos com força permitindo que lágrimas inconscientes deslizassem por seu rosto.

– Alyss... – Adam disse levando a ponta dos dedos ao rosto dela para secar suas lágrimas já arrependido pelo o que fez.

– Eu tenho que ir, me desculpe – ela disse abrindo a porta do carro e saindo dali correndo.