Os aplausos ecoaram e Alyss se sentou ao lado de Liana.

– Foi tãão bonitinho você lá em cima! - disse cutucando a amiga que riu e deu de ombros.

– Você também não foi nada mal - disse sorrindo e Liana girou os olhos.

– Nem nada mal e nem nada bem, não é querida? - perguntou e bufou - Pelo menos eu tive algo que apresentar, já pensou quão vergonhoso seria se você não me tivesse ajudado ontem e agora eu tivesse chego sem nada para falar? Provavelmente iria falar sem parar do cachorro que eu não tenho, você livrou o mundo de algo horripilante, vai para o céu, pode ter certeza!

– Hey, você está bem? - perguntou Alyss com uma careta - Quero dizer, você começou a tagarelar, isso não é algo muito bom, então...

– Eu estou bem, pode ter certeza, absolutamente bem - disse e suspirou - Na verdade eu nunca estive tão bem!

– Liana... me diz que você não aprontou alguma.

– Eu não aprontei nada, Alyss, você não deveria duvidar tanto de mim, sabia? - perguntou emburrada.

– É só que as vezes você age como... bem...

– Como...?

– Como você - disse e deu de ombros.

– Isso é bom, adoro ser eu, qualquer pessoa inteligente adoraria ser eu.

– E modéstia - resmungou e Alex cutucou Liana.

– É a vez do Louis - disse em um tom baixo e as duas se calaram de imediato e se voltaram para o garoto que subira para dizer sua redação.

– Boa tarde a todos - disse ele e respirou fundo enquanto sentia o nervosismo lhe consumir - Bom, acho que essa redação está sendo como algo que você tem entalado na garganta e tem medo de dizer para o resto do mundo.

– Hey, eu não tenho um cachorro entalado na garganta - resmungou Liana, já que falara sobre sua vontade de ter um.

– Cala a boca - disse Alyss dando um tapa no braço da morena.

– E realmente acho que tenha vindo em boa hora - ele continuou e Liana ficou calada, e emburrada, dessa vez. - Eu sempre tive o costume de ser um babaca, achava que todos tinham que fazer o que eu queria na hora que eu queria. Quando eu era pequeno e meus pais não queriam me dar um brinquedo novo, eu chorava até que eles mudassem de ideia, e acho que eles me mimaram um pouco demais. Pois só agora percebi o quão idiota fui com várias pessoas no decorrer do tempo. Não fui um bom amigo para os meus amigos, não fui um bom namorado para as, agora, minhas ex-namoradas, ignorava e até ridicularizava qualquer garota que gostasse de mim. Para mim, era tudo só um jogo, no qual eu tinha que chegar inteiro até o final, não me importando com quem ficasse para trás. Eram como os brinquedos que eu sempre acabava ganhando, eu os usava até me cansar e aparecer algo mais divertido para ocupar o meu tempo, e acho que nenhum amigo deve tratar o outro assim, e muito menos que uma garota deva ser tratada assim. Acho que eu tive que levar um choque de realidade para perceber que o mundo não gira em torno de mim e sim que eu giro ao torno do mundo. Eu tratei uma garota muito mal nos últimos dois anos, eu a convencia a fazer as coisas para mim e simplesmente não lhe dava bola nenhuma, no início nem sabia seu nome. Daí ela começou a namorar e eu percebi como aquilo me machucou, no começo entrei em desespero e pensei que era por estar gostando dela de verdade, mas depois percebi que era só por , pela primeira vez na vida, não estar tendo tudo o que eu queria. E só então eu percebi o quão egoísta e idiota eu era, eu não gostava daquela garota e fiquei irritado por vê-la namorando? Vê-la feliz? Que tipo de pessoa eu havia me tornado? Eu decidi que deveria fazer melhor, tentei dar mais atenção aos meus amigos e a minha família e não brincar mais com os corações alheios. Então, obrigada por tudo, talvez eu tivesse mudado sem sua ajuda ou talvez não, e essa ideia me assusta, porque eu não quero mais ser aquele cara e estou realmente feliz por ser seu amigo - ele disse e se virou para Alyss dando uma piscadela, a loira sorriu e assentiu.

*****

Meia hora depois, mais dez pessoas já haviam lido sua redações, mais ainda faltava várias pessoas, incluindo Alex e Adam.

– Muito bem alunos, parabéns a todos que leram suas redações aqui hoje - disse o professor subindo no palco improvisado - Bom, ainda falta vários alunos então acho que só terminaremos a leitura no fim dessa semana, mas ainda assim, terminaremos, certo? Obrigada e podem voltar para suas classes.

Imediatamente os alunos começaram a levantar e se empurrar para fora da quadra.

– Vamos? - chamou Alyss e Liana olhou para trás rapidamente.

– Ahn... vai na frente, já alcanço você - disse e Alyss assentiu enquanto se enfiava no tumulto para ir para próxima aula.

Liana a observou até que sumisse de vista e andou a passos largos até o outro lado.

– Adam! - chamou para ele não se meter no multidão de alunos também.

– Hey Lia! - disse sorrindo e vindo em direção a ela - Legal sua redação, sobre... seu cachorro, eu acho.

– Não! - disse como se tivesse sido ofendida - Era sobre o cachorro que eu queria ter e não tenho, minha mãe não quer um cachorro! Você não prestou atenção? Ah esquece, você não presta atenção em nada mesmo.

– Calma, não precisa levar para o lado pessoal - ele disse assustado com a atitude de Liana.

– É o seguinte, você quer a Alyss ou não? - perguntou e ele pareceu ter levado um tapa na cara, sério, só faltou virar o rosto.

– Oi?

– Ah, qual é, você não é surdo! - ela disse bufando e batendo um dos pés no chão em sinal de impaciência.

– É, mas a pergunta me pegou de surpreso.

– Você quer Alyss, sim ou não? É só responder - disse e suspirou tentando manter a calma - Você ainda gosta dela?

– Sim - disse dando de ombros e corando um pouco.

– Tem certeza? Por que eu não vi você fazer exatamente nada nesse último mês para reconquistá-la! - disse e ele abaixou os olhos - Qual é, Adam! Cadê aquele garoto que a agarrou na frente da escola toda? Cadê o garoto que fez com que toda essa complicação e rolo entre você se tornasse realmente em algo sério? Cadê o garoto que topou usar calça colado por Alyss?!

– Certo, em primeiro lugar, eu não sabia da calça apertada quando aceitei o papel - disse se defendendo e Liana o encarou com uma expressão mais entediada que o normal - E, em segundo, ela disse que nunca mais voltaríamos ao que éramos antes, eu tentei falar com ela uma vez e ela disse que não saria certo. E, por mais que eu ainda goste dela, sei que ela nunca vai querer voltar para mim.

– Nunca diga nunca - disse Liana com um sorrisinho malicioso nos lábios.