Alyss e Adam pararam numa vendinha perto da casa da loira no caminho de volta para casa.

– É rápido, eu só vou comprar a pipoca se não a minha mãe me mata - ela disse da janela e ele concordou com a cabeça dando de ombros.

– Tudo bem, eu espero. A coisa mais importante que eu vou fazer hoje é jogar vídeo game, mesmo. Vai lá.

– Okay, é rápido - disse novamente e correu para dentro.

Andou apressada entre as prateleiras até achar as pipocas de microondas e pegou dois pacotes, só por precaução.

– Aqui - disse indo para o caixa e dando o dinheiro.

– Obrigada senhorita, volte sempre - disse uma mulher de cabelos castanhos em um tom um tanto monótono, como se aquela fosse sua fala diária que ela repetia pelos menos quinhentas vezes ao dia. Alyss deu um sorriso fraco e andou a passos rápidos de volta para o carro.

– Que foi? - perguntou ele dando partida quando ela entrou.

– A moça parecia um robô, queria que ela estivesse mais feliz, não gosto de pessoas tristes, é chato - disse rapidamente e deu de ombros.

– Que coisa mias fofa - ele disse tirando uma das mãos do volante e apertando a bochecha dela para implicar.

– Nem começa, Cosgrove - disse dando um tapa na mão dele.

– Voltamos aos sobrenomes? - perguntou ele rindo.

– Só quando der vontade, sabe? - ela disse com as sobrancelhas erguidas e ele revirou os olhos e deu um sorriso de lado.

– Você me ama, loira, você me ama.

– Claro que sim! - ela concordou debochadamente - O que me denunciou? Ah, já sei! Seus incríveis e irresistíveis olhos azuis, você me pegou os fitando desesperadamente e apaixonadamente, não foi?

– Eu não sabia que alguém poderia usar tanto deboche em uma frase com menos de trinta palavras!

– Eu consigo coisas impossíveis, sabe? - disse ela rindo.

– Me dê um exemplo - ele disse enquanto parava o carro na frente da casa dela.

– Eu consegui seu coração - disse ela e ficou séria, ele engoliu em seco e desviou os olhos - Meu Deus! Você tinha que ver sua cara! - ela disse enquanto gargalhava descontroladamente.

– Haha, muito engraçado, srta McGrey! - ele disse bufando.

– Tchau, Adam - ela disse tentando recompor o fôlego e saindo do carro.

– Não esquece que você vai ver o filme com sangues e partes do corpo sendo arrancadas comigo amanhã - disse ele segurando seu pulso e ela fez uma careta - Eu te desafiei, você aceitou.

– Eu sei - ela disse puxando a mão - Não tenho escolho, tenho?

– Não - disse rindo - Tchau.

– Tchau - ela observou o carro sumir pela rua e entrou em casa - Mãe, cheguei!

– Trouxe a pipoca? - perguntou da cozinha.

– Aham - disse indo atrás dela - Aqui, vou tomar um banho rapidinho, okay?

– Tudo bem, não demore - disse ela e Alyss correu escada a cima e foi para o banheiro tomar banho em tempo recorde, saiu e colocou um short jeans e uma camiseta e ficou descalça - Pronta?

– Pronta - concordou sorrindo e se jogou no sofá ao lado da mãe que soltou o filme.

A pipoca acabou na metade do filme e nenhuma das duas parecia disposta a desviar a atenção do filme e ir fazer mais pipoca. Os olhos de ambas já estavam cheios de lágrimas quando Benvólio foi avisar a Romeu da suposta morte de Julieta.

– Por que aquele carinha não podia ir mais rápido? - perguntou Alyss com a voz embargada e abraçou uma almofada com força.

– A criança tava doente.

– Problema é da criança - disse dando de ombros e ficando em silêncio sem ligar para o olhar reprovador da sua mãe.

O filme acabou e as duas já estavam com o rosto completamente borrado por lágrimas.

– Por que você gosta tanto desse filme?

– Não faço ideia, é que é tão incrível - disse dando de ombros e limpando o rosto.

– E triste, não esqueça dessa parte. Você já viu praticamente todas as versões e em cada uma você chora mais, não sei como você não fica desidratada.

– Não estou em condições para rir - disse e deitou no sofá.

– Bola para frente que a vida continua, você já está ai a meia hora - disse sua mãe depois de um tempo.

– Você também.

– Sim e a culpa é absolutamente sua que está com a perna em cima de mim - disse e Alyss sorriu um pouco levantando as pernas para a mãe sair.

– Acho que estou em depressão - disse ela encarando o teto.

– O Adam não vai morrer igual ao Romeu, ta? - brincou sua mãe que já havia saído do transe após o final do filme.

– Uhum - concordou e se levantou limpando o rosto - Vou ligar para ele.

– Para ter certeza que ele está vivo?

– É, pode ser - disse dando de ombros e se arrastando escada a cima, quando chegou no seu quarto pegou seu celular e discou o número de Adam.

– Sentiu minha falta? - ele perguntou brincando.

– Não - ela disse ainda chorosa.

– Você ta bem? - ele perguntou parando de brincar.

– Eles morreram de novo.

– Quem morreu, Alyss? Quer que eu vá para ai? - ele perguntou nervoso e ela quase riu.

– Foi o filme - ela disse e o escutou suspirando aliviado do outro lado do telefone.

– Não acredito que você aprontou essa comigo - ele disse e ela conseguiu rir um pouco - Que filme te fez chorar assim?

– Hmmm - ela resmungou pois no fundo ele já sabia a resposta.

– Fala sério! - ele disse e então riu - Qual é, Alyss! Romeu e Julieta de novo? Acertei, não acertei?

– Bom... - ela disse e então fez uma careta - É.

– Você nunca vai cansar de assistir isso?

– Isso não! - ela defendeu.

– Okay, okay, eu me rendo - ele disse - Mas você tem que confessar que já viu esse filme mais do que mil vezes.

– Não vi não, mas é uma ótima ideia, obrigada.

– Obrigada nada! Sua mãe vai querer me matar se você por uma ideia dessas na cabeça!

– Ai você iria morrer igual o Romeu.

– Você iria se matar? - ele perguntou rindo.

– Não, eu iria roubar seu vídeo game e seríamos felizes para sempre, fim - ela brincou.

– Quanta consideração, hein loira - ele disse emburrado.

– Sem dramas, se recomponha homem. Eu tenho que desligar.

– Por quê?

– Porque minha orelha já está doendo - ela disse bufando e ele também bufou.

– Sinto que fui usado.

– Você foi, Adam - ela disse dando de ombros - Eu precisava de alguém para desviar minha atenção do filme e você realizou seu papel muitíssimo bem, obrigada.

– Você é sempre um amor assim?

– Sempre, já devia ter se acostumado - disse rindo - Que filme você vai querer ver amanhã, hein?

– Amanhã você saberá.

– Fala logo, eu vou ter que me preparar psicologicamente para isso.

– Amanhã - ele insistiu.

– Adam Cosgrove! Fala logo se não você vai comer pipoca sozinho - ela disse se irritando.

– Sobra mais para mim - ele brincou.

– Um - ela disse e esperou um pouco - Dois... Se eu falar três pode esquecer de mim amanhã!

– Estou morrendo de medo.

– Okay, tr...

– Rendido! - ele gritou do outro lado e ela sorriu.

– Desembucha.

– Sério que você não viria?

– Desembucha logo, Adam.

– Okay, iremos ver Jogos Mortais!

– O que?! - ela quase gritou.

– Tchau, tchau - cantarolou ele e desligou.

– Idiota - ela resmungou olhando para o telefone e se deixou cair em sua cama.