Neo Pokémon Hoenn escrita por Carol Freitas


Capítulo 19
Girls just wanna have fun


Notas iniciais do capítulo

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                O fim de tarde chegava em Rustoboro, aos poucos a quantidade de carros que transitava pela rua tinha seu último pico do dia, antes de, por fim, atingir a quietude das ruas vazias. O céu os poucos se tingia de pigmentos alaranjados a medida que o sol preparava-se para descansar por trás das montanhas. Tailows já aqueciam suas cordas vocais prontos para uma nova orquestra desorganizada que garantiria a conquista das fêmeas para a reprodução da espécie.

                Em terra, nos fundos do cento pokémon, May batalhava contra mais um dos treinadores que a desafiara após a batalha contra Roxanne. Parecia que a notícia da vitória da garota se espalhara como incêndio em campo de trigo entre os estudantes e, por conta disso, todos pareciam ansiosos por ter a oportunidade de batalhar aquela que vencera a líder da cidade. Apesar de Roxanne ser gentil, ela não dava moleza para as crianças, testando-as ao máximo para que se mostrem dignas de portar suas insígnias.

                – Termine com o Copycat, Skitty! – Ordenou a treinadora e Skitty deu um salto e acertou as patas com força no chão, recriando o Magnitude, o último movimento lançado pelo geodude contra quem lutava. O golpe causou um grande tremor na área foi superefetivo para o pokémon que acabou ficando fora de combate.

                Com um sorriso, o garoto que aparentava ter uns 11 ou 12 anos chamou de volta seu pokémon para a pokeball.  Apesar da derrota, parecia estar empolgado.

                – Puxa, você é forte assim como dizem, não é a toa que ganhou da Prof. Roxanne! – May ficou um pouco sem graça com a fala do garoto e fez um gesto displicente com a mão.

                – Eu apenas me esforcei. Pelo que eu vi da Roxanne, ela pegou bem leve comigo.

                – Ela nunca pega leve com ninguém – O menino riu – Muito obrigado pela batalha. Espero que eu tenha a chance de ter uma revanche algum dia. Até mais!

                Foi até a garota e estendeu e despediu-se com um aperto de mão, saindo pelas laterais do campo para ir em direção ao centro pokémon. May abaixou-se e fez um sinal para Skitty, que lambia suas patas após a batalha, aproximar-se. A gata correu alegremente até ela e ronronou ao receber um afago carinhoso de sua treinadora nas costas.

                – Você foi muito bem hoje. Quantos foram mesmo? 6? Achou que é seu novo recorde – A gata miou baixo em resposta. Aparentemente estava mais interessada em receber uma boa coçada em uma área que não alcançava do que no elogio – Vem, vamos ao centro para que você possa descansar.

                A gata pulou em seu ombro e a garota levantou-se, andando calmamente até por entre os campos até chegar à entrada do prédio. A sala de recepção estava bem movimentada, aquele horário era um dos picos de funcionamento do local. Para facilitar o trabalho das enfermeiras, retornou sua pokémon para a esfera e aguardou pacientemente sua vez de atendimento. Após deixar Skitty sob os cuidados de uma Chansey solícita, ela subiu alguns andares até o quarto.

                Optou por tomar um longo banho e lavar os cabelos que já se encontravam um pouco oleosos depois da correria do dia. Enquanto a água deslizava pelo corpo magro, imagens de tudo que vivera depois que saíra de casa passavam por sua cabeça, não pareciam ter se passado semanas, e sim meses desde que recebera sua Skitty. Uma lembrança amarga veio em sua mente e, mesmo em contato com a água quente, seu corpo tremeu.

                Fazia dias em que tentava não pensar nisso, algo como abstrair o pensamento de sua mente para que continuasse a seguir normalmente, mas hora ou outra a lembrança da existência da mãe a fazia perder o sono. Saber que ela estava por aí a fazia ter vontade de largar tudo aquilo, toda sua jornada como treinadora e ir atrás dela. Mas o que diria, afinal? Questionaria sobre o passado? Perguntaria por que nenhuma vez só tentara entrar em contato com ela? Poderia ficar por horas ali pensando e não chegaria a uma conclusão. A verdade é que lhe faltava coragem, por mais que o desejo de encontrar sua progenitora fosse enorme, suas pernas tremiam só de se imaginar cara a cara com ela.

                Passou a mão pelos cabelos para tirar o condicionador e enquanto se secava, decidiu deixar esse assunto para lá por hora, pensar naquilo deixava-a angustiada. Saiu do banheiro e vestiu um short jeans e blusa branca caída no ombro. Naquele momento o céu formava uma bela pintura em tons de laranja e roxo tocando as montanhas azuis ao norte. As luzes da cidade começavam a se acender, complementando ainda mais a paisagem de tons mornos. Sua mente estava tão concentrada na visão em sua frente que a menina acabou por se assustar com três batidas dadas na porta de seu quarto, fazendo-a pular na própria cama de susto.

                – Maay! – ela reconheceu a voz da amiga e foi até a porta para abri-la. Juliana estava esperando-a na entrada com um sorriso constrangido.

                – Tudo bem, Ju? Aconteceu alguma coisa?

                – Não, é que eu precisava da sua ajuda. Eu estava conversando com o pessoal lá na embaixo e fiquei sabendo que por aqui é comum os coordenadores usarem de roupas mais bonitas para participar dos concursos e eu ainda não tenho nenhuma.

                – Vixi, Ju. O que vamos fazer? Será que dá tempo de comprar alguma amanhã pela manhã?

                – Eu acho que não dá tempo, os coordenadores tem que estar na arena de apresentações bem cedo.  A enfermeira Joy me disse que aqui na cidade tem um shopping que talvez tenha algo que eu goste. Sabe, naquelas lojonas mesmo que tem um monte de roupa igual porque não sou rica. Você pode vir comigo?

                – Claro, vou com você sim – pegou a mochila que estava no chão do quarto e pôs no ombro – Você vai chamar o Brendan?

                – Ele estava lá embaixo mexendo em um dos computadores do centro, disse que não iria porque não tem a mínima paciência para esperar mulheres provando roupas – a negra revirou os olhos – Ele é um chato.

                – Pelo menos não contaremos com os ótimos comentários sarcásticos dele sobre tudo – a mais nova deu de ombros e saiu do quarto fechando a porta.

                Caminhando tranquilamente pelas ruas de Rustboro, as duas garotas observavam a maioria das lojas se fechando enquanto alguns bares e lanchonetes começavam a se abrir, preparando-se para o movimento da noite que estava perto de começar. No meio do caminho, May notou a amiga anormalmente quieta e presa em seus próprios pensamentos, ocasionando um silêncio quase incômodo. Decidiu tentar puxar assunto de alguma forma, mas não sabia o que dizer, então optou por começar pelo mais simples.

                – Já sabe o que vai comprar, Ju? – perguntou ela um pouco sem jeito, mas não obteve resposta da negra. Na verdade ela sequer parecera ter ouvido – Ju?

                – O que? O que você disse? – Finalmente pareceu voltar a si e deu um sorriso sem graça que não chegou a seus olhos.

                – Aconteceu alguma coisa? Você não parece bem.

                – Está tudo ótimo, não se preocupe – Deu um sorriso maior dessa vez, sorriso este que não convenceu a mais nova.

                – Ju, eu sei que a gente não se conhece há tanto tempo assim, mas quero que você saiba que já te considero minha amiga. Você pode contar comigo para o que precisar e mesmo que você não queria me falar nada agora, eu estarei aqui pra ouvir quando quiser.

                Ela deu um pequeno suspiro e voltou seus olhos para o céu num olhar distante. Parecia estar tentando compreender seus próprios sentimentos.

                – Acho que é esse concurso, não sei se estou realmente preparada para ele. Sinto que meu treinamento não parece suficiente e que eu talvez não deva fazer esse tipo de coisa.

                May parou de andar e segurou o pulso da amiga firmemente. Nunca imaginou que ela fosse demonstrar algum tipo de insegurança, pois sempre demonstrou bastante confiança. 

                – Não diga mais esse tipo de coisa. Você treinou bastante esses dias, estudou sobre concursos e se informou bastante sobre os costumes da região. Na competição terão muitos competidores fortes, talvez muito mais do que a gente imagina, mas sei que você fará algo incrível.

                A negra deu um sorriso e se aproximou da amiga para abraçá-la.

                – Obrigada, é muito bom ouvir isso de alguém – segurou a mão da amiga e puxou-a – Vou parar de bobagem. Vamos lá, temos trabalho a fazer!

                Algum tempo depois elas chegaram ao local desejado. Apesar de ter boas dimensões, o shopping de Rustboro era pequeno se comparado aos demais da região. Possuía apenas três andares, sendo o andar mais inferior usado em boa parte como estacionamento. Alguns carros podiam ser vistos nesse, bem como pessoas andando em direção à saída, algumas em pequenos grupos conversando animadas e outras poucas carregando sacolas.

                Elas caminharam até a entrada onde se deparam com um belo local com iluminação suave e uma bela decoração em tons de marfim e marrom. No centro erguiam-se pequenas palmeiras verdejantes e, no teto, a hera bem cuidada descia delicadamente de pequenos canteiros do topo plantados cuidadosamente para receberem a luz solar.

                – Onde você quer ir? – perguntou May um pouco confusa pela quantidade de lojas com tantos itens atrativos para as garotas.

                – Ah, vamos só ir dando uma volta por aí – respondeu a outra dando de ombros.

                Por algum tempo elas andaram apenas observando os itens ao redor, sem nada captar tanto a atenção da mais velha. Até que finalmente a mesma parou para olhar em um manequim que exibia um simples e delicado vestido rodado nas cores preta e branca com detalhes em flores pintadas em tons vermelho e salmão.  Os olhos da garota brilharam diante do modelo.

                – Esse é bonito, quer dar uma entrada pra experimentar?

                – Eu... Acho que não... – Disse a negra dando um suspiro triste e virou-se para continuar a andar.

                – Espera... Mas, por quê? – questionou a mais nova sem entender, pelo olhar da amiga podia ver que ela havia gostado bastante do modelo.

                Juliana virou-se para a amiga, em seu rosto havia uma expressão de tristeza misturada com outra que May não soube identificar. Parecia ponderar em sua mente se deveria falar algo ou não. Por fim, apenas olhou para o chão e deu um suspiro antes de olhar novamente para a amiga.

                – Esse tipo de loja... Eles geralmente não atendem bem a todos os tipos de pessoas... Não estão certos, mas existem certas situações que prefiro evitar.

                – O que você quer dizer? – perguntou a mais nova, ainda sem entender. Juliana deu de ombros.

                – Ah... Você já deve ter notado que...

                – May? – Uma voz feminina falou ao lado delas fazendo ambas virarem os rostos para verem quem era sua dona.

                A garota que a chamara vinha de encontro a elas, de início May não a reconheceu, mas logo veio a lembrança de alguns dias atrás e do encontro na frente do ginásio de Petalburg. Aquela era Lunna, a filha de Norman, líder do ginásio da cidade. Naquele dia a morena estava diferente, ao invés do look formal que a vira usando naquela tarde, hoje a garota vestia apenas um short jeans e uma blusa preta sobreposta por uma camisa azul turquesa. O cabelo negro como a noite estava jogado lateralmente preso em uma trança frouxa e, no pescoço, um colar quase da mesma cor de seus olhos brilhava. May mais uma vez a achou linda e mais uma vez sentiu seu rosto a-avermelhar-se.

                – O-oi Lunna! Não... Não esperava t-te ver aqui – falou e imediatamente se sentiu ridícula por está gaguejando. A mais velha apenas riu e abraçou a garota para cumprimentá-la.

                – Bem, eu já esperava que você estivesse aqui. Já desafiou a Roxanne? – perguntou animada.

                – E-eu consegui ganhar a insígnia.

                – Já? Bem, não é menos do que esperava da minha rival, não é mesmo? – deu uma piscada para May que em resposta deu um sorriso tímido.

                – Oiiii – pronunciou-se Juliana com um brilho de curiosidade e humor nos olhos.

                – Nossa, que falta de educação a minha. Prazer – estendeu a mão para a negra – Sou Lunna Palmer.

                – Meu nome é Juliana Harley. O prazer é meu – respondeu enquanto aceitava o aperto de mão da garota.

                – Então... Vocês decidiram dar um passeio por aqui?

                – N-Na verdade a gente veio procurar uma roupa para a Ju participar do Concurso amanhã.

                – Você é Coordenadora? Eu vim para ver as apresentações também. Não faz meu estilo participar, mas adoro assistir esse tipo de competição.

                – Ah, então vá mesmo lá amanhã pra me ver brilhar – a negra estava rindo.

                – Estarei sim, pode deixar – Ela colocou as mãos no bolso e deu um pequeno sorriso – Bem, eu estou só de boa rodando por aqui e não quero atrapalhar vocês. Foi muito bom te ver de novo, May.

                – Ah, mas... T-tá bom. Foi bom ver...

                – Você quer vir com a gente? – interrompeu a negra, animadamente – Sempre é bom ter opiniões para ver esse tipo de coisa.

                – Se eu não for incomodar...

                – Claro que não! Se você é amiga da May já é bem vinda. Não é, May? – A mais nova assustou-se com a menção de seu nome e seu rosto voltou a tingir-se de um tom escarlate.

                – E-Eu... Er... C-Claro que sim. Pode vir.

                Lunna abriu um grande sorriso ao ouvir a fala da mais nova.

                – Tudo bem então. Só vamos sair daqui quando você estiver dentro da roupa perfeita.

                – A-A Ju viu um vestido ali que gostou, mas não quis experimentar... – disse May apontando para a loja.

                – Ué... Por que não? – perguntou a mais velha e Juliana apenas deu um pequeno sorriso sem graça.

                – Ela tava falando algo sobre o tipo de loja, não entendi bem...

                Algo passou rapidamente pelos olhos verdes da mais velha e diferente de May, parecia ter compreendido uma situação que não havia sido dita em palavras.

                – Se tiver algum problema mandamos eles à merda. Anda, vamos lá experimentar seu vestido – Saiu andando e fez sinal com a cabeça para as garotas seguirem-na.

                Por dentro, a loja mantinha a beleza do exterior com móveis de aspecto moderno e cadeiras bem dispostas. Uma música ambiente tocava em tom baixo para trazer um clima relaxante ao lugar. Uma das atendentes foi até elas e a negra pediu para provar o vestido da estante enquanto as garotas sentavam-se nas cadeiras para esperar. Enquanto esperavam, May contou à mais velha mais sobre sua batalha de ginásio, estando esta bastante curiosa em saber a estratégia da garota, visto que ela tinha dois pokémons com desvantagens.

                A conversa se estenderia por muito tempo se não tivesse sido interrompida pela saída da negra dos provadores, ganhando a atenção das duas. O rosto da mais nova se iluminou de alegria ao ver a amiga, ela estava realmente linda.

                – Você está linda, Ju. Ficou muito bom em você – elogiou ela.

                – Realmente, o vestido ficou incrível – concordou Lunna.

                Juliana também aparentou estar bastante satisfeita com o aspecto da roupa em seu corpo. Após experimentar mais algumas outras peças, ela optou por comprar o vestido que tinha atraído seu amor à primeira vista. Por sorte, todas as peças da loja estavam em promoção e ela conseguiu um belo desconto na roupa.

                – E ai, o que vocês querem fazer agora? – perguntou Lunna após saírem da loja.

                – Bem, eu não sei... Mas não posso gastar mais dinheiro depois desse vestido – riu a negra enquanto exibia a sacola animadamente.

                – Porque não vamos à sessão de jogos? Não se preocupem com o dinheiro, fica por minha conta hoje – fez a proposta para as meninas que se entreolharam.

                – Por mim tudo bem... – respondeu May com um sorriso.

                – Vamos lá, então. Sou ótima naqueles jogos de dança!

                O tempo foi passando rapidamente enquanto as garotas se divertiam entre os jogos. Num determinado momento, Juliana viu uma movimentação do lado de fora da porta e, vendo que as outras duas estavam entretidas em um jogo de tiro contra aliens, saiu para ver do que se tratava.

                Do lado de fora, dois dos seguranças do shopping fazia força para prender um Zigzagoon que se sacudia desesperado. Em sua boca, firmemente preso entre os dentes, estava um frasco que parecia ser algum tipo de colônia.

                – Mais um desses ladrãozinhos miseráveis por aqui. Não sei o que diabos esse shopping tem que atrai pokémons selvagens para cá.

                – Também não sei, mas só essa semana é o quinto. O pior é que eles sempre têm que aparecer para roubar algo.

                A negra ergueu uma sobrancelha, porque diabos um Zigzagoon roubaria um produto de beleza? Na verdade, porque qualquer pokémon roubaria qualquer item ali se não fosse por comida?

                Num movimento ágil que surpreendeu até mesmo Juliana, o guaxinim lançou o frasco que segurava no rosto de um de seus captores e mordeu com força a mão daquele que o segurava, fazendo-o dar um berro e soltá-lo no chão. Aproveitando-se disso, o Pokémon saiu em disparada na direção à sala onde a garota estava e passou direto por ela, indo em direção a um dos cantos do lugar.

                Curiosa, ela decidiu seguir o pokémon por entre os jogos até chegar a uma parede onde havia uma porta parcialmente aberta que deveria servir para manutenção do prédio ou uso particular nos funcionários. Aproveitando que não estava sendo observada, ela empurrou a porta e viu que a mesma tava travada; teria desistido naquele momento se a bisbilhotice não falasse mais alto e a fizesse se espremer pelo pequeno vão que a porta aberta deixava.

                Viu que estava em um pequeno corredor onde, ao seu lado direito, havia uma espécie de quadro de energia gigante ao lado de um medidor que devia controlar a eletricidade dirigida para a sala. Na frente, uma escada em espiral estreita e atulhada de subia em direção ao topo da construção.

                Com cuidado para não se machucar e nem quebrar nada, ela seguiu pela escada quase saltando por entre os objetos e as caixas e achou que nunca chegaria ao topo até finalmente chegar até um pequeno e estreito cômodo onde não havia nada exceto uma porta de metal, que se abriu facilmente com o seu empurrar.

                O ar frio tocou imediatamente o rosto que já estava levemente suado pela subida e ela notou que havia chegado ao teto da construção. O céu estava parcialmente coberto de nuvens, mas em alguns pontos estrelas teimosas insistiam em aparecer para observar a superfície do planeta. Um leve aroma adocicado atingiu suas narinas fazendo-a inconscientemente querer descobrir de onde vinha aquele perfume agradável. Colocou a sacola que ainda carregava dentro do pequeno quarto que protegia a escada dos ataques do tempo e andou calmamente na direção da fonte do perfume.

                A visão que teve seria engraçada se não fosse tão absolutamente estranha. Em uma tenta toscamente construída no teto da construção estava sentada uma exuberante Roselia e ao redor da mesma, uma grande pilha de itens diversos se erguia, desde comida à roupas e acessórios esportivos. Na frente da criatura, vários pokémons se amontoavam, estes sequer se mexiam, como se de alguma forma estivessem hipnotizados. Haviam diversos Zigzagoons, Pochyennas, Seedots e até mesmo um Machop. Rapidamente veio o em sua mente o esclarecimento sobre o que acontecia naquele lugar e ela teve vontade de rir.

                – Ei, bonitinha! – Gritou a garota – Detesto interromper seu reinado, mas você está causando problemas a esses pokémons e ao shopping, então é melhor parar com isso.

                A Roselia apenas a olhou e deu um sorriso torto, os pokémons por outro lado, não pareceram ficar nada felizes com aquela intrusa inesperada e se levantaram, já se posicionando para o ataque. A negra não se intimidou, outra ideia agora se passava por sua mente, aquela pokémon de planta parecia realmente forte e ela a queria para seu time.

                – Whismur, Niguel, saiam! – liberou seus pokémons. A rosada parecia pronta para o combate, já o pequeno azulado olhava para a cena com receio.

                – Roseelia – Grunhiu a pokémon e os que a veneravam iniciaram o ataque.

                Não foi trabalho para a negra e seus pokémons defenderem-se. Aqueles não eram pokémons de batalha, provavelmente eram apenas criaturas selvagens que por um infeliz destino caíram nas garras adocicadas da pokémon de planta. Com uma coordenação de ataques de Bubble Beam e Echoed Voice, Whismur e Azurill conseguiram derrotar a todos ali. Juliana parabenizou seus pokémons enquanto observavam a Roselia levantar nem um pouco satisfeita.

                – Não me leve a mal, achei você bem forte e não vou desistir até tê-la como meu pokémon – A Pokémon flor pareceu lisonjeada pelo elogio, mas isso não a impediu de se posicionar para a batalha.

                As rosas de seu braço atingiram uma coloração brilhante e várias folhas luminosas e coloridas saíram das mesmas, indo em direção aos dois pokémons.

                – Cuidado, vocês dois! Não sejam atingidos! – Os pokémons ouviram e desviaram-se na medida do possível, mas não conseguiram evitar todas as folhas e acabaram com alguns cortes provocados pelas lâminas afiadas.

                Juliana soube então que aquela era uma pokémon de alto nível e que teria trabalho para vencê-la, aliada também a um pouco de sorte.

                – Whismur, tente afastar as folhas de vocês com o Echoed Voice. Nigel, use o Helping Hand – A Pokémon rosada deu um poderoso grito que conseguiu por pouco evitar que algumas folhas atingissem-nos.

Juliana percebeu a eficácia do treinamento naquele momento, com trabalho conseguiram modular os gritos de Whismur de modo que não a incomodassem mais e sim apenas aos pokémons. Nigel espertamente havia tampado as orelhas no momento em que o movimento foi executado e logo em seguida liberou uma leve corrente elétrica de coloração azulada que se dirigiu à sua parceira, energizando seus músculos.

— Acerta-a com o Stomp agora, Whismur! – Ordenou e a pokémon saiu para o ataque, acertando um chute em cheio o rosto da Roselia com uma força aumentada em 50% devido ao auxílio de Nigel.

No entanto, os três mal tiveram tempo de comemorar o movimento bem sucedido. Um brilho azul-esverdeado recobriu o corpo de Whismur e ela imediatamente sentiu parte de suas forças se esvaindo. Esse mesmo brilho saiu de seu corpo e se dirigiu a Roselia, fazendo a mesma recuperar-se dos danos sofridos pelo golpe anterior.

— Merda, ela sabe o Giga Drain – comentou Juliana, surpresa – Agora sim que te capturo. Supersonic agora, garota!

Mais um dos gritos da rosada teve o efeito desejado, esse, porém de frequência incrivelmente alta. Os tímpanos de Roselia chacoalharam e ela imediatamente perdeu boa parte de seu senso de equilíbrio e orientação. Foi o suficiente para Juliana coordenar mais um ataque sincronizado de Helping Hand e Stomp de seus pokémons. A pokémon de planta no entanto, não se permitia resistir e a todo momento usava seu Giga Drain para recuperar-se do dano da luta, e, embora falha-se na maioria das vezes, quando acertava causava um dano imenso aos seus oponentes, que já se encontravam exaustos.

Um Giga Drain dirigido para Nigel o deixou fora de combate, agora restavam apenas as duas pokémons na partida, ambas exaustas e ambas se negavam a desistir. As flores da planta brilharam e delas saiu uma onda de espinhos venenosos num aquele conhecido como Poison Sting. Whismur ouviu o pedido de sua treinadora para se esquivar, mas não seria o que ela faria, sabia que aquele golpe não teria forças para derrubá-la e por isso correu na direção de sua oponente, levando-o de frente. O espanto da pokémon de grama foi tão grande que ela mal teve reação para o poderoso Stomp que mais uma vez-lhe atingiu, deixando-a fora de combate. Poucos segundos depois, o veneno mostrou seu efeito ardiloso e a rosada caiu debilitada.

Juliana rapidamente sacou a esfera bicolor e lançou sobre a Roselia caída. Uma onda de cor vermelha saiu de dentro da mesma quando ela se abriu e sugou a pokémon para seu interior. A esfera caiu solitária no chão e balançou algumas vezes, indo de um lado para o outro até finalmente parar de se mover, anunciando a captura feita com sucesso.

— Isso aí! – Ela deu um pequeno pulinho em comemoração, em seguida retirou da mochila um antídoto que fez sua pokémon beber – Sua teimosa! Não faça mais isso, não adianta nada vencer uma batalha e ficar desse jeito depois!

Após chamar de volta seus pokémons e pegar a pokeball com sua mais nova Roselia, ela observou as criaturas que havia vencido e aos poucos despertavam.

— É melhor vocês saírem daqui logo e devolverem as coisas que pegaram. Vão ter problemas se os seguranças, polícia ou sei lá o que chegarem aqui.

Depois de dito isso, a garota pegou seu vestido e seguiu de volta por onde tinha vindo. Após passar pela porta por onde tinha entrado e caminhar um pouco pelo lugar, encontrou as duas garotas na entrada da sala de jogos com cara de preocupadas. Aparentemente pareciam debater sobre alguma coisa. Ela se aproximou com um sorriso.

— Olá! Perdi algo? – May arregalou os olhos e suspirou de alívio ao vê-la.

— Como assim perdeu algo, sua louca? Você sumiu? Onde estava? Eu já estava indo procurar a polícia.

— Estava ajudando a segurança – Riu enquanto as meninas fizeram uma cara confusa – Deixem pra lá, vamos voltar para o centro. Ah, eu capturei um pokémon.

— Como assim, capturou um pokémon?

— No shopping?

— Vamos, eu pago um sorvete para vocês enquanto conto a história.

***

Já eram quase 22 da noite quando as garotas finalmente chegaram de novo ao centro pokémon. O clima entre elas era alegre, como se há muito tempo não tivessem esse tipo de momento. Lunna também estava hospedada no centro, para alegria das garotas que tiveram uma boa companhia para voltar para casa.

                – Por que você não foi de moto até o shopping? – perguntou May enquanto elas subiam as escadas, já com bem menos vergonha do que tivera inicialmente. Lunna deu de ombros.

                – Estacionamento nesses lugares sempre é caro pra cacete. Acaba que o caminho não é tão longe.

                – Entendi – Deu um pequeno sorriso.

                – Qual é o andar de vocês? – perguntou Lunna.

                – O meu fica no terceiro – respondeu Juliana.

                – O meu no quarto – foi a vez de May falar.

                – Ah, o meu também. Então acho que vamos continuar subindo. Boa noite, Juliana! Gostei muito de te conhecer.

— Boa noite, Ju. Até amanhã! – Despediu-se May.

— Boa noite, meninas. Muito obrigada por hoje. Foi um prazer te conhecer também, Lunna.

A morena deu um sorriso e continuou subindo as escadas com a mais nova enquanto Juliana continuou seu caminho pelo corredor. Mal acreditava que tudo tivesse acabado tão bem, fazia tempos em que não tinha um dia assim. Havia sido bom passar seu dia com amigos, apesar de Brendan não ter ido.

Ficou surpresa ao encontrar um papel preso com fita adesiva em sua porta, parecia ser uma folha arrancada de um caderno qualquer.

“Vocês demoram muito, fiquei com sono e fui dormir.

Não fique nervosa e durma direito.

                         Brendan”

                Ela ficou por algum tempo encarando o papel, sem saber o que fazer por achar aquilo engraçado e ao mesmo tempo fofo. Foi um movimento ao seu lado que a vez virar o rosto e notar que Lunna descia as escadas e andava pelo corredor, distraída. Quando percebeu a sua presença, ainda parada em frente à porta, viu-a paralisar e seu rosto corar levemente. A negra sentiu os olhos da outra inspecionarem seu rosto, como se tentando lê-la e, em resposta, deu apenas um sorriso e um piscar de olho. Isso pareceu suficiente para Lunna, que também sorriu e assentiu com a cabeça. Havia coisas que simplesmente não precisavam ser ditas.

                A noite já estava avançada e conforme as horas passavam, o concurso se aproximava. No dia seguinte seria o tão esperado concurso de Juliana. Estaria ela realmente preparada? Que emoções aguardavam por eles naquele dia?


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Notas finais do capítulo

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