A Vida Continua - Fase 01 escrita por Andye


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, quero agradecer imensamente a Tati Hufflepuff pela linda recomendação que me fez. Espero mesmo que continue gostando, e que a nova fase, que já está bem perto, não te faça mais esquecer desta fic. Obrigada.

Agradeço também CarolElenaSalvatore que chegou por aqui no capítulo passado e já me fez muito feliz com seus comentários. Também agradeço a chegada da Panda. Bem vindas e espero que gostem do que vem daqui para frente. Obrigada.

Mais um agradecimento, agora para a Samara Nascimento que tem acompanhado pelo celular e me dá o feed pelo facebook. Muito obrigada mesmo por estar lendo e agradeço o tempo dispensado a minha história. Obrigada!

Sobre o capítulo, este é, sem dúvidas, um dos momentos que mais gostei de escrever nesta fase da fic. Espero que gostem.



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Harry estava sentado na janela de sua nova casa. Acabara de chegar de mais um dia de serviços no Ministério e tinha combinado com Neville, que agora também era Auror, em patrulhar uma pequena cidade distante dali na próxima semana.

Se corroía por dentro sem saber o que deveria fazer. Não costumava ficar nervoso quando era convocado para alguma missão, mas este local o estava deixando de cabelos em pé.

Olhava atento para a rua lá fora. Estava escura e perfumada devido a grande quantidade de flores existentes. A gaiola de sua coruja, Larry, que havia ganhado da namorada em seu aniversário, estava vazia.

Há tempos que ele precisava de uma nova coruja, mas nunca teve coragem de comprar outra. A imagem de Edwiges era constante em seus pensamentos, mas a ruiva sabia surpreender e ele realmente não entendia como ela poderia conhecê-lo tão bem ao ponto de presenteá-lo com a coruja. Era sem dúvidas, uma bela coruja. Tinha uma plumagem alaranjada e preta. As asas abriam amarelas e belas ao levantar voo. Jamais substituiria Edwiges, mas Gina havia feito um ótimo trabalho.

O temor voltou no momento em que ele avistou novamente a rua escura adiante. Sabia o que deveria fazer, mas estava temeroso se era realmente o certo a fazer.

Resolveu então procurar a amiga. Buscou o pó de flú próximo à lareira e chamou a casa dos Granger.

– Mione?

Falou baixo. Harry sabia que a amiga costumava ficar até tarde lendo na salinha da lareira e achou que seria conveniente conversarem.

– Mione? – Ela não respondeu e quando estava saindo da lareira a morena apareceu apressada.

– Oi Harry, desculpe. Estava tomando um suco e não tive como responder.

– Sem problemas.

– Você está bem? - ela percebeu o semblante carregado do amigo.

– Na verdade, não muito.

Os muitos anos juntos fizeram com que se tornassem próximos demais. Entendiam as dores e medos um do outro e sempre estariam a postos para ajudar, independente da situação.

– Estou saindo em missão com o Neville na próxima semana. Temos uma patrulha. - o moreno continuou.

– E qual o problema, Harry? Até onde sei, o Neville é um excelente Auror.

– Não! O problema não é o Neville. Ele é realmente ótimo.

– E então?

– Sou eu, Mione. Não sei o que fazer.

– Harry. Saia da lareira.

– Por quê? - perguntou confuso.

– Como eu posso ir até ai com a sua cabeça flutuando?

– Não precisa se preocupar Mione...

– Cala a boca e sai dai.

A morena ordenara com tanta convicção que Harry obedeceu sem pestanejar. Achava incrível como as mulheres com as quais convivia tinham uma personalidade tão forte.

– E então Harry? – Ela limpava o pó que restara da roupa – Qual o problema?

– Sou eu, Mione.

– Isso eu já sei, Harry.

Sentaram-se no sofá e logo Monstro, que havia voltado a trabalhar com Harry, apareceu. A contragosto, é verdade, serviu um chá de maçã e biscoitos para Hermione. Em nenhum momento resmungou.

– Obrigada Monstro. – Ela sorria.

Monstro engoliu em seco, fez uma cara de dor de estômago e com uma reverencia forçada à moça, saiu em seguida.

– Que bom, Harry. Ele está com roupas limpas. Como fez?

– Eu o obriguei, na verdade. - Hermione olhou indignada - Como não poderia presenteá-lo e ele não quer salário, eu comprei uns tecidos no Beco Diagonal e mandei que ele fizesse roupas novas e usasse. E que também lavasse e se habituasse a tomar banhos.

– Que maravilha Harry – sorriu em seguida – Está de parabéns e me deu uma ótima ideia para a F.A.L.E.

Tomou um gole de chá e continuou.

– Agora me diga, Harry. Por que está assim tão aflito?

– Você lembra da carta que recebi do meu primo Duda?

– Claro que sim. Apenas não achei prudente comentar nada com você.

– Obrigado. Lembra que ele me mandou o endereço?

– Eu lembro sim. Não me diga que... - ela falou entendendo tudo. Harry confirmou com a cabeça.

– É na cidade onde onde os meus tios moram a missão que tenho com o Neville.

A morena olhou o amigo pensativa enquanto tomava um gole de chá e ouvia as palavras do amigo.

– Na mesma cidade, Harry?

– Sim. Kingsley tem sido muito atento. Não era para menos depois de tudo o que aconteceu. Temos feito rondas e patrulhamos cidades onde se tenha sabido de comensais ou artes das trevas.

– Querem manter tudo sob controle...

– Exato. O fato é que ele me escalou para essa patrulha e eu aceitei de imediato, mas foi depois de um tempo que notei que era o mesmo lugar que minha tia mora atualmente.

– E o que você pretende fazer?

– É exatamente isto que eu não sei. Tenho muita vontade de vê-los, saber como estão independente do que aconteceu, mas não sei se estou preparado.

– Harry. Sinceramente, eu não posso te ajudar. Essa decisão cabe única e exclusivamente a você, e só você pode saber se é o momento certo ou não.

– E o que você acha que devo fazer?

– Harry, eu aprendi que as escolhas que fazemos mostram quem realmente somos. Todos somos passíveis a erros, mas todos temos o direito de mostrar que mudamos de verdade.

"Você, melhor que ninguém, sabe que o nosso passado não afeta ou altera em nada o nosso futuro, porque o futuro é regido pelas escolhas que fazemos no presente e não cabe a nós tentar decifrar o futuro.

"Você deu uma oportunidade aos Malfoy, e pelo menos até agora não se arrependeu, pelo contrário. Mesmo que distantes, é verdade que nunca seremos os melhores amigos, mas temos aprendido a simpatizar com eles e entender as escolhas erradas que fizeram no passado.

"Só você é capaz de responder essa pergunta, Harry. Só você sabe se vale a pena tentar entender e dar uma nova oportunidade à sua família.

"E independente de qual seja a sua escolha, saiba que jamais vou criticar ou apontar você. Estarei do seu lado como a boa amiga-quase-irmã que sempre fui e serei sempre, e vou te ajudar no que você precisar.

– Obrigado, Mione. Você falou igual o Dumbledore.

Os dois riram e se abraçaram em seguida. O abraço foi reconfortante. Harry acertara: Hermione era a pessoa certa para conversar naquele momento. Sabia que a amiga teria as palavras certas, precisas, que ele necessitava ouvir.

– Agora, Harry. Pensa. Pensa muito bem no que você vai fazer. E Lembre-se bem que nossas escolhas ajudam a moldar quem somos.

Continuaram conversando por mais um tempo. Foi divertido. Se alegraram e ainda tentaram uma partida de xadrez bruxo, que Harry como sempre perdeu.

Harry estava decidido. A conversa com a amiga confortou o seu coração. Decidira arriscar.

Levantou cedo na manhã seguinte e rapidamente pegou um pergaminho e uma pena e escreveu breves palavras.

"Olá Duda,

Fiquei muito feliz em saber que estão bem. Sinto o fato do tio Valter ter sido atacado por comensais, mas esteja certo que, enquanto eu puder evitar, isto jamais voltará a acontecer.

Eu também estou bem. Vivendo conforme consigo e estarei a serviço em sua cidade no dia 23 desse mês. Caso não seja incômodo para vocês, gostaria de revê-los.

Caso queira, pode enviar a resposta por essa mesma coruja. Se preferir usar outra, apenas diga para ela que envia a resposta depois.

Parabéns por seu filho.

Abraços.

Harry Potter

– É! Acho que está bom. - falou consigo enquanto relia o pequeno bilhete - Agora, Larry, por favor, preciso que entregue essa carta nesse endereço, para meu primo Duda. E gostaria que esperasse a resposta. Se eles preferirem mandar por outra coruja, pode voltar ok.

A coruja apenas estendeu a patinha direita muito satisfeita e voou pela janela até desaparecer entre as nuvens.

Harry havia contado a decisão que tomara a amiga, também a Rony e a Gina no almoço de domingo na Toca. Conversavam agora no banquinho de madeira que existia em baixo de uma enorme cerejeira carregada de frutos, os quais Rony retirava esporadicamente.

– Que bom, Harry – Hermione estava feliz – Acredito que essa tenha sido a decisão mais sensata a tomar.

– É mesmo, Harry – Gina continuou – Espero que tudo ocorra bem e que pelo menos, os maus entendidos sejam explicados.

– Você quer que a gente te acompanhe? – Rony falara finalmente.

– Ah não, Rony, obrigado. Acho que é algo que tenho que fazer sozinho. Não sei como vai ser esse primeiro encontro e é melhor não forçar muito.

– Tem razão – Hermione concluiu.

– E como se sente? - Gina preocupou-se.

– Na verdade, eu nem sei. Estou ansioso. Não recebi nenhuma resposta e o Larry também não voltou.

– Então – Hermione concluiu – Só nos resta esperar.

– Não por muito tempo – Rony se precipitou – Olha lá o Larry.

As entranhas de Harry se contorceram ao ver a ave. Estava nervoso, embora tentasse mostrar o contrário. Larry vinha graciosamente em sua direção. Pousou em seu ombro e estendeu a pata direita para o dono.

– Obrigado, Larry.

A coruja piou satisfeita e levantou voou.

– Não vai abrir, Harry? – Hermione quebrou o silêncio após observar que o amigo estava paralisado. Ele apenas assentiu com a cabeça e abriu o envelope.

"Olá Harry,

Para nós será uma honra que venha nos visitar.

Está ótimo no dia 23.

Esperamos sua visita.

Abraços.

Duda Dusley"

– Nossa, Harry – Hermione apressou-se – Que maravilha.

– Harry, - Gina falou – não fique assim, não adianta. Não dá pra ficar imaginando o futuro, temos apenas que vivê-lo como ele é.

– Eu sei Gina, mas...

– É difícil. Eu entendo que seja.

– Sabemos o quanto é complicado para você, Harry – Rony se adiantou – Mas você já enfrentou o maior bruxo das trevas três vezes e sobreviveu. Tenha coragem...

Ouvir o amigo falar aquilo realmente era frustrante. Como poderia ter medo de seus parentes depois de tudo o que viveu nos últimos anos. Havia sido difícil a convivência, mas estava disposto a deixar para trás.

Os dias passaram correndo e o esperado dia 23 havia chegado. Já tinha combinado com Neville. Fariam a ronda e no fim da tarde ele visitaria os tios. Neville ficou chocado. Sabia como os tios o tratara mal, mas entendeu os motivos de Harry e achou justo que fosse concedida uma chance a quem desejava mudar.

Fizeram a ronda normalmente e não encontraram nada de anormal. Despediram-se para que Harry enfrentasse mais uma batalha.

– Boa sorte, Harry.

– Valeu, Neville.

– Qualquer coisa, manda o patrono.

– Não acho que será necessário.

Harry encaminhou-se para o número 20. Era fim de tarde e o sol estava avermelhado por trás das muitas nuvens que adornavam o céu. Observou um menino muito loiro que brincava no jardim.

Certamente é o filho do Duda.”

Aproximou-se ainda temeroso e viu uma mulher muito bonita sair da casa. Tinha cabelos loiros e longos amarrados em um rabo de cavalo. Usava um avental que lembrava a tia Petúnia, mas realmente, era esta a única familiaridade.

– Boa tarde! – venceu todas as barreiras ainda existentes e se aproximou da jovem senhora.

– Boa tarde – Respondeu a jovem com o pequeno nos braços – Posso ajudar?

– Sim. É aqui a casa dos Dursley?

– Sim, mas aqui é a casa do Dudley Dursley. Aquela ali à frente – ela apontava uma casa verde – é a dos meus sogros. Valter e Petúnia Dursley.

Ele sorriu sem graça.

– Eu sou o Harry Potter.

A mulher arregalou os olhos ao lhe ouvir pronunciar. Lembrou-se de seu primeiro ano em Hogwarts e da cara que as pessoas faziam quando descobriam que ele era Harry Potter.

– Senhor Potter, o Duda realmente não imaginou que o senhor viesse.

– Por favor, me chame de Harry.

– Certo. Claro. Entre. - ela sorria animada lhe indicando a porta. - O Duda já vem. Ele foi à casa do Sr. Valter.

– Obrigado.

A casa era pequena e confortável. Com tons claros nas paredes e uma aconchegante lareira. Lembrava um pouco a antiga casa na Rua dos Alfeneiros, mas o ar era totalmente mais ameno.

– Sente-se. Vou buscar um chá.

– Não se incomode.

– Não é incômodo algum. Fique à vontade.

Ele sentou no sofá em frente à lareira e a mulher colocou o pequeno Damon em um cercadinho. Harry ficou surpreso ao ver um pequeno ursinho que estava sobre a estante da sala flutuar até o pequeno que tinha as mãos estendidas esperando receber o brinquedo. Sorriu em seguida e teve a certeza que o pequeno receberia uma carta de Hogwarts dali a uns anos.

– Aqui. Sirva-se.

A jovem havia sentado a sua frente. Trazia uma chaleira e alguns biscoitos. Harry se sentia deslocado, mas a mulher sorria graciosa e tranquila.

– Ainda não me apresentei. Que má educada que sou. – Tomou um gole de chá e sorriu para Harry. – Chamo-me Ágatha. Ágatha Dursley. Sou a esposa do Dudley.

– Muito prazer, senhora.

– Ah não, Harry, me chame de Ágatha. – Ela sorriu encantadora e feliz. – Você nem imagina o quanto o Duda e o Sr. Valter falam de você.

– Espero que bem.

– Ah sim, muito bem. O Duda se queixa muito em não ter percebido há tempos a boa pessoa que você sempre foi.

“Quando o Sr. Valter foi atacado por aquelas pessoas más, pensamos que não conseguiríamos mais fazer admiti-lo o quão bom você sempre foi. Pensamos que ele o amaldiçoaria para sempre. Aquelas pessoas maltrataram muito o Duda também, ele se contorcia, disse que sentia uma dor sem igual. Eu já estava grávida naquela época e ele fez de tudo para me proteger daquela dor.

“O sr. Valter tentou defendê-lo, mas o torturaram também. E depois ele ficou muito vermelho. Como se fosse obrigado a falar. E aquelas pessoas se convenceram.

“Pensávamos que tudo havia acabado, que iriam nos matar. Então, se olharam espantados e foram embora. O Duda fala que naquele momento, uma marca que eles tinham no braço ficou vermelha, como se queimasse e eles se olharam nervosos, partindo em seguida.

– Sinto muito que tenham sofrido por minha culpa.

– Não foi por sua culpa, Harry. – uma voz grossa falou e Harry espantou-se, levantando com o susto. O homem jovem, com feições mais responsáveis, não lembravam em nada seu primo Duda. Estava mais magro, porém ainda forte e bem mais alto do que Harry se lembrava, com os cabelos bem cortados. Tinha uma feição mais tranquila e menos abobalhada que a época em que eram crianças.

Harry o acompanhou com os olhos. O Duda mais responsável seguiu até o cercado onde se encontrava um menino saltitante, tentando ficar de pé, estendendo os braços para o pai.

"Merlin amado, Duda é pai" Harry pensou assustado, e se assustou ainda mais ao ver o seu primo tão briguento e mal-educado pegando e afagando nos braços aquela criança que quase sumia em seu peito.

– Olá, Damon, - Duda falou – Já conheceu seu primo. É... Esse é Harry Potter.

Harry sorriu ao ver a criança fitá-lo com aqueles olhos azuis enormes. Era muito parecido com o primo Duda, não tão gordo como o primo era, mas tinha a feição parecida. Duda voltou com o menino nos braços e após dar-lhe um beijo no alto da cabeça, colocou a criança de volta em seu cercadinho. Encaminhou-se até Harry que ainda estava de pé, sem saber como agir, e estendeu a mão direita.

Harry entendeu aquilo como o levantar das bandeiras brancas. O primo sorriu para ele e ele retribuiu, apertando-lhe a mão, sorrindo também.

– Sente-se, Harry. – Duda apontou o sofá – Acredito que já conheceu minha esposa, Ágatha.

Harry assentiu com a cabeça. Ainda não conseguia falar.

Aquele Duda era muito diferente do Duda com o qual passara 17 anos convivendo na Rua dos Alfeneiros. Estava intrigado e esperava que a qualquer momento fosse espancado pelo primo, como ocorria quando eram crianças.

– Fico feliz que esteja bem, Duda. – Harry conseguiu pronunciar.

– Graças a você. – Duda respondeu, um pouco envergonhado, mas com uma certeza nos olhos que Harry estremeceu. - Antes de qualquer coisa, Harry, preciso pedir desculpas. Nunca imaginei que você realmente viesse nos visitar. Estava ansioso sem saber o que falar com você.

“Sempre fui um ogro com você. Sabia o quanto sofria e era mal tratado e me alegrava ao ver tudo aquilo. Sempre te humilhei e nunca me sentia mal por isso. Gostava de ver as pessoas sofrendo, e gostava ainda mais de saber que as pessoas sofriam por minha causa.

Harry suspirou fundo e tomou um gole do chá enquanto Duda continuava.

– Não me orgulho disso. Aqueles monstros na rua que nos atacaram mostraram um Duda que eu não queria ver. Uma pessoa feia, sem escrúpulos, que se alegrava com a desgraça alheia. Harry, aquele foi o pior momento da minha vida. Eu me vi como eu sou e aquilo me assustou de verdade.

“Quando partirmos com aquelas pessoas do seu Ministério, depois de um tempo tudo melhorou. O papai conseguiu um novo emprego e eu comecei a trabalhar com ele. Depois de um tempo conheci a Ágatha e ela logo engravidou. Decidimos comprar uma casa, o papai nos ajudou, e nesse meio tempo aqueles homens nos encontraram.

“Não poderia permitir que fizessem mal a Ágatha ou a mamãe, e eles nos torturaram. Era uma dor muito forte e eu me vi novamente como eu era, acho que esse será meu maior remorso, para sempre. Não sei se vou conseguir me perdoar por todo mal que fiz não só a você.

Ele respirou fundo antes de continuar, como se relembrasse os momentos ruins que viveu no passado.

– O papai, depois da tortura, também caiu em si. Acho que serviu da mesma forma com ele. Ele reconheceu a pessoa má que sempre foi e o modo cruel que sempre te tratou sem que você merecesse.

“Depois disso, a mamãe finalmente entendeu que o problema nunca havia sido você, mas a inveja que ela sempre teve da tia Lilian. Quando o Diretor da escola negou o pedido dela para entrar também, ela começou a nutrir uma fúria desmedida de todo o seu povo e te usou como expiatório para isso e eu sinto muito, Harry, de verdade, e depois que a Ágatha nos contou tudo sobre esse tal Lord e de como você era importante para o mundo bruxo...”

– Harry, disse Ágatha percebendo o quanto ele havia ficado confuso – Minha irmã, Ametista, que era dois anos mais velha que eu, frequentou Hogwarts. Era da Corvinal. Provavelmente você não a conheceu, estava a dois ou três anos na sua frente. Nossa família se acostumou facilmente com a ideia de ter uma bruxa na família e eu adorava e venerava minha irmão mais que tudo.

“Graças a Ametista, eu conheci o mundo bruxo. Meus pais tinham amigos bruxos e sempre nos demos muito bem com todos.

“Ela foi trabalhar no Ministério após se formar e, infelizmente, depois da volta do Lord das Trevas, por ser nascida trouxa, ela foi torturada pelos comensais e morta depois disso porque acreditava em você, Harry Potter. Nossa família, assim como a do Duda, foi protegida por Aurores.

“Eu sempre conheci o seu mundo muito bem. Minha irmã sempre falou de você e da sua importância para os dois mundos e ela foi torturada por ser uma sangue ruim e morta por acreditar em você, no eleito. E antes que você possa falar alguma coisa, eu digo logo, não é sua culpa que um homem tivesse a ideia de dominar os dois mundos. Sei que ela não foi a única a ter esse fim, mas muitos como ela serão lembradas por não terem se entregue aos comensais.

– Quando conheci a Ágatha – Continuou Duda - ela estava muito triste porque tinha perdido a irmã recentemente.

“Ela temeu em me contar o que havia acontecido, mas ela falou alguns nomes como Ministro da Magia ou Lord ‘Valtimort’ e eu reconheci que se tratava do seu mundo mágico, Harry.

“Conversamos a respeito e ela me contou sobre você de uma forma que eu não conhecia. Eu não tinha falado ainda que era o seu primo e ela me disse como você havia sobrevivido, dos seus pais e da importância que você tinha. Depois confirmei que sou seu primo e ela ficou encantada em saber que eu faço parte da família daquele que seria o único capaz de acabar com essa guerra. Que eu era primo do Eleito.

“Eu já te admirava pelo que você me fez. Poderia ter me deixado morrer, mas me salvou, e quando eu descobri as coisas que você havia passado, me senti o pior dos homens.

“Sei que você deve estar achando tudo muito estranho por aqui, Harry, mas é a verdade. Meu pai e minha mãe ficaram com medo de vir te esperar. O papai acha que você não gostaria de vê-lo depois de tudo o que te fez passar, e nós entendemos que se sinta assim.

“Queremos apenas que você nos perdoe por toda maldade que te fizemos e se um dia você quiser revê-los, será uma grande alegria para nós.

– Duda – começou Harry – não vou mentir que estou achando tudo isso muito estranho. Jamais imaginei um dia em reencontrar vocês e muito menos que vocês entendessem o que eu sempre passei.

“Não sou ninguém para perdoar. Isso não cabe a mim, mas acredito que todos necessitam de uma segunda oportunidade para mostrar que realmente mudaram. Espero que dessa vez possamos ser mais felizes, de verdade.

Harry estendeu a mão direita para o primo novamente e ele a apertou e logo em seguida se abraçaram. Duda não conteve as lágrimas enquanto agradecia ao primo pela oportunidade concedida.

– Gostaria de ver o tio Valter e a tia Petúnia – as palavras de Harry surpreenderam Duda e Ágatha.

– Claro Harry – o primo falou prontamente – Vamos agora.

Enquanto se encaminhavam para a porta, Ágatha pegou o pequeno Damon do cestinho e acompanhou os dois. A casa do Tio Valter não era muito diferente da casa na Rua dos Alfeneiros. Harry tinha as entranhas contraídas novamente. Havia relaxado um pouco enquanto conversava com o primo e a sua esposa, mas não sabia como seria encontrar o tio e a tia.

Duda nem ao menos bateu na porta e já foi abrindo. O tio estava sentado em frente à TV vendo o telejornal.

Velho hábitos não mudam” Harry pensou.

O tio olhou para a porta e arregaçou os olhos ficando muito vermelho em seguida. Harry já conhecia aquela cara frustrada e por um momento pensou que seria amaldiçoado e expulso ali mesmo.

Enganou-se. Os olhos do tio encheram de lágrimas. Harry assustou-se. Jamais tinha imaginado aquela situação. O tio abriu os braços e Harry ficou sem saber o que fazer. Era uma situação inusitada, mas ele decidiu correr o risco.

Aproximou-se e retribuiu o abraço. Estava bem mais alto que o tio agora e por cima do ombro vi sua tia Petúnia chorosa e alegre. Nunca tinha imaginado sequer que aquelas pessoas que tanto o mal trataram fossem capazes de chorar.

– Oh, Harry – a voz empastada do tio assustou – me perdoe pelo que te fiz. Não sei porque o tratei daquela forma. Meu egoísmo e minha falta de fé me fizeram cegar...

– Não Valter – agora era a tia que falava – A culpa sempre foi minha. Sempre tive inveja da minha irmã, via como os meus pais eram orgulhosos por ela e ter o Harry em casa era como ter aquela situação de volta.

“Eu que fiz com que você o detestasse, graças ao meu mau-caráter e minha inveja desmedida sobre a minha irmã. Você nunca teve culpa Harry, e mesmo diante de nossos maus-tratos se tornou um homem exemplar. Sei que não poderei jamais reparar todo o mal que te proporcionei, mas caso você ache que eu mereça, gostaria de mostrar que me arrependo.

– Er... Eu nem sei o que dizer – Harry estava muito confuso – Mas sei que a família é e sempre será a base de tudo e que nossas escolhas ajudam a moldar quem somos. Vocês fizeram escolhas erradas, mas acredito que agora estão fazendo as escolhas certas. Não sei como será daqui por diante, mas depois de tudo o que passei, não tenho mágoas sobre vocês.

“E agradeço que tenham lembrado de mim e por terem tentado me proteger. Sinto por todo o mal que sofreram, mas realmente não era o meu interesse. Infelizmente eu também não tenho como mudar o passado, mas podemos tentar fazer um futuro diferente...

Harry agora já não controlava as lágrimas. Não sabia se era devido a ver todos chorando ou se realmente porque a situação o levou a isto. Estava feliz de verdade. Sentia que um peso havia sido retirado de seus ombros e agora sorria feliz por finalmente está conseguindo ter uma conversa amistosa com a família.

Aquilo realmente era estranho para Harry. Estar sentado no sofá junto com os Dursley, contado tudo o que havia enfrentado nos últimos anos e de como estava agora. Sentiu-se bem e se lembrou das palavras de Hermione. Ela tinha razão. Ele estava realmente feliz.

O pequeno Damon retirou a atenção de todos ao fazer uma porcelana quebrar. Aparentemente o peso da porcelana foi muito para seus quase 1 ano de idade.

– É Harry – Duda falou enquanto sorria – Parece que teremos mais um bruxo na família e isso me agrada muito.

Harry apenas sorriu e um pouco mais tarde aparatou em casa.

O dia seguinte foi cansativo. Estava realmente imaginando se aquilo tudo havia sido um sonho, mas percebeu que não assim que Rony e Hermione apareceram no ministério querendo saber o que havia acontecido.

Logo em seguida ele enviou um patrono a Gina contando como tudo aconteceu e no próximo fim de semana na Toca explicou a todos como havia sido maravilhoso encontrar os Dursley e que, certamente, o filho já tinha uma vaga reservada em Hogwarts.


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