– Fico feliz em saber que ouviu tudo o que eu disse aquele dia...

– Você veio aqui antes ?- Christhian me perguntou confuso e nesse momento foi como se um balde de água fria fosse jogado sobre mim.

– Eu vim no mesmo dia do acidente - respondi tentando parecer indiferente, mas a vontade que senti de chorar era quase impossível de aguentar.

– Eu... Ally me desculpa, mas eu não lembro a primeira voz que lembro é a do meu pai - a sinceridade em sua voz é clara e isso me deixa ainda pior - Mas você pode repetir o que você disse aquele dia.

– Deixa para lá, é besteira.- digo tentando manter a voz neutra- Eu preciso ir, Arthur deu um trabalho para fazer e ainda tenho que terminar.

Me coloco de pé e dou-lhe um beijo no rosto, em seguida saio do quarto antes de ele falar qualquer coisa, as lágrimas turvaram minha visão e com isso bato de frente em algo caindo sentada no chão.

– Me desculpe eu...- começo a falar mas me interrompo quando vejo em quem eu bati.

Um homem alto de cabelos loiros, olhos cor de mel, a boca avermelhada, os ombros largos, um legítimo deus grego de jaleco.

– A Srta. machucou-se ? - ele pergunta enquanto me ajuda a me colocar de pé

– Não. Me desculpe eu estava distraída- digo e me sinto corar.

Ele sorri, mas não consigo sorrir de volta, me desculpo mais uma vez e saio rumo aos banheiros.

Já dentro do banheiro me olho no espelho e graças aos deuses meus olhos não estão inchados, lavo o rosto e saio do banheiro logo após seca-lo.

Quando chego onde na sala de espera vejo Willian sentado com o celular em mãos.

– Já?- ele pergunta realmente surpreso

– O Folses precisa descansar.- respondo e vejo ele erguer as sobrancelhas - Onde está o Sr. Folses ?

– Foi tomar um café.

– Hm legal. Eu vou indo, ainda tenho um trabalho de interação social para fazer- uso a mesma desculpa com Willian- Pode me dar dinheiro para o táxi ?

– Claro, mas temos que pegar sua mochila no carro.

– Não precisa, não vou usar nada dela.

Willian dá de ombros e me alcança uma nota de 50,00 dólares, dou-lhe um beijo no rosto e me despeço.

~*~

Eu estava deitada de costas na minha cama, minha cabeça pendia na beirada da mesma e meus pés estavam apoiados na parede, sim eu estava em uma posição esquisita, mas fazer o quê? Eu gosto de ficar assim

Meus fones estão nos meus ouvidos embora eu não esteja escutando nada. Ligo uma música qualquer e começa a tocar a música que simplesmente me faz fechar os olhos e cantar loucamente.

Sweet child o' mine- Guns N' Roses

Um clássico e uma das minhas músicas favoritas, a voz de Axl Rose invade meus ouvidos e meus olhos se fecham quase que instintivamente.

Sempre me perguntei o que há nessa música que me faz ficar assim, meio que fora do mundo real. A verdade é que eu não sei, eu simplesmente esqueço de tudo quando escuto essa música, é como se todos os problemas não existissem por alguns minutos, é como se tudo o que me machucou e que me machuca até hoje fique guardado na minha mente enquanto a voz de Axl toma conta de mim.

A conversa com Christhian hoje no hospital ecoa em minha mente. Saber que tudo o que falei foi em vão, saber que não conseguirei mais olhá-lo nos olhos, saber que ele sequer soube que eu havia estado lá, que eu morri um trilhão de vezes em quanto ele estava deitado inerte naquele lugar, tudo isso é como se fosse facas apontadas para pontos do meu corpo, é como se elas fossem cravadas em mim uma por uma de forma lenta e dolorosa, e depois retiradas com a mesma lentidão causando dores insuportáveis.

As lágrimas rolam livremente pela minha face num fluxo continuo, o qual eu não posso impedir.

Eu gostaria mais do que tudo, de não estar chorando porque alguém em coma não escutou o que eu disse, mas simplesmente não consigo controlar.

E é assim, ainda chorando, que adormeço.