Eu Gosto Desse Abraço [HIATUS] escrita por Yas


Capítulo 5
The Dark Mark


Notas iniciais do capítulo

Amigos, colegas, PARTY PEOPLE WOOHOO
Voltei com mais um capítulo porque me empolguei ontem a noite e fiquei escrevendo até as seis da manhã.
Aí eu cometi o erro de falar sobre o capítulo pra minha boa amiga (puta) Júlia, que me disse pra postar e cá estou eu.
(SPOILER ALERT!) ~momento drama fofo Frederico~



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The Dark Mark

— Não conte à sua mãe que andaram apostando — implorou o Sr. Weasley a Fred e Jorge, quando juntos descíamos, lentamente, as escadas forradas com carpete púrpura. E então virou-se para mim — E você, mocinha, não conte à sua mãe. Mas conte a seu pai, é, ele pode gostar.

— Gostar? Ele vai amar! Vai me achar um gênio, isso sim! — exclamei levantando as mãos com os galeões.

— E não se preocupe, papai — disse Fred feliz — temos grandes planos para esse dinheiro, não queremos que ele seja confiscado.

Por um instante, pareceu que o Sr. Weasley ia perguntar que planos eram aqueles, mas em seguida, pensando melhor, decidiu que não queria saber. Mas eu queria, e iria perguntar mais tarde.

Logo fomos engolfados pela multidão que saía do estádio. Os Leprechauns nos sobrevoavam, rindo felizes com a vitória. Quando nosso grupo finalmente chegou às barracas, ninguém estava com vontade de dormir e, dado o nível da barulheira, o Sr. Weasley concordou que podíamos tomar, uma última xícara de chocolate, antes de nos deitarmos.

Logo estávamos discutindo prazerosamente a partida, o Sr. Weasley se deixou envolver por Carlinhos em uma polêmica sobre jogo bruto, e somente quando Gina caiu no sono em cima da mesinha e derramou chocolate quente pelo chão que o pai deu um basta nas retrospectivas verbais e insistiu para todos nós irmos nos deitar.

Eu, Hermione e Gina nos dirigimos para a barraca vizinha para colocar os pijamas. Do outro lado do acampamento nós ainda ouvíamos muita cantoria e uma batida que ecoava estranhamente.

— Então, meninas, o que acharam do jogo? — perguntou Gina para nós, quando estávamos nos deitando nos beliches.

— Foi bem emocionante, devo dizer, apesar de odiar aquelas Veelas malditas. — falei para as duas, que assentiram.

— Concordo, elas são najas. Viram como os meninos se comportaram na presença delas? — disse Hermione.

— E se vi, tive que impedir os gêmeos e Harry de se tacarem no estádio para beijarem os pés das drogas das Veelas — resmunguei para elas, que riram.

— Devo dizer que seu ataque de raiva em cima deles foi muito engraçado — Disse Gina rindo, eu e Hermione acompanhamos ela.

— Ah, isso foi mesmo. "É CLARO QUE EU IMAGINO TODOS VOCÊS USANDO TUTU ROSA, MAS POR FAVOR!" — falou Hermione em uma imitação ridícula de minha voz que provocou mais uma onda de risos.

Logo estávamos cada uma deitada em sua cama, somente falando sobre coisas banais. E então, eu senti que finalmente tinha amigas (além de Fred e Jorge, claro, até porque se eles ouvirem que eu falei isso eu apanho).

Fiquei me imaginando naquele campo de Quadribol, sobrevoando a multidão, ouvindo os gritos do meu nome. Era uma sensação ótima. Se dormi ou não, eu nunca cheguei a saber, porque tudo o que me lembro foi de ouvir o Sr. Weasley me chamar.

— Gina, Jamie, Hermione, acordem! Agora, é urgente! Levantem! — dizia ele.

Rapidamente me sentei, e meu cocoruto bateu na lona do teto.

— O que houve? — perguntei desnorteada, assim como as duas meninas abaixo de mim.

Vagamente eu percebi que alguma coisa não estava bem. O barulho no acampamento tinha mudado. A cantoria parara. Eu ouvia gritos e um tropel de gente correndo.

Desci do beliche e antes que pudesse pegar minhas roupas, Sr. Weasley já intervira:

— Não há tempo para roupas, peguem uma jaqueta e andem depressa! Estamos esperando lá fora. — e então ele saiu, provavelmente indo avisar os meninos.

Saí do beliche e coloquei minha jaqueta por cima da camisola, Hermione e Gina imitaram meu gesto.

— Que será que aconteceu? — perguntou Hermione preocupada.

— Não faço ideia, mas coisa boa é que não é. — disse e nós três saímos da barraca.

À luz das poucas fogueiras que ainda ardiam, vi gente correndo para a floresta, fugindo de alguma coisa que avançava pelo acampamento em sua direção, alguma coisa que emitia estranhos lampejos e ruídos que lembravam tiros. Caçoadas em voz alta, risadas e berros de bêbedos se aproximavam, depois uma forte explosão de luz verde, que iluminou a cena.

Segurei as mãos de Hermione e Gina para saber que elas ainda estavam ali, apertamos as mãos uma da outra com força. Um grupo compacto de bruxos, que se moviam ao mesmo tempo e apontavam as varinhas para o alto, vinha marchando pelo acampamento. Apertei os olhos para enxergá-los... Não pareciam ter rostos... Então eu percebeu que tinham as cabeças encapuzadas e os rostos mascarados. Comensais da Morte. No alto, pairando sobre eles no ar, quatro figuras se debatiam, forçadas a assumir formas grotescas. Era como se os bruxos mascarados no chão fossem titereiros e as pessoas no alto, marionetes movidas por cordões invisíveis que subiam das varinhas erguidas.

Duas das figuras eram muito pequenas. Mais bruxos foram se reunindo ao grupo que marchava, riam e apontavam para os corpos no ar. Barracas se fechavam e desabavam à medida que a multidão engrossava. Uma ou duas vezes eu vi um bruxo explodir uma barraca com a varinha para desimpedir o caminho. Outras tantas pegaram fogo. A gritaria foi se avolumando.

As pessoas no ar foram repentinamente iluminadas ao passarem sobre uma barraca em chamas, e eu reconheci uma delas — o Sr. Roberts, o gerente do acampamento. As outras três, pelo jeito, deviam ser sua mulher e seus filhos. Um dos arruaceiros virou a Sra. Roberts de cabeça para baixo com a varinha, a camisola dela caiu deixando à mostra suas enormes calças ela tentava se cobrir enquanto a multidão embaixo dava guinchos e vaias de alegria.

— Que coisa doentia — ouvi Rony murmurar, então vi a menor das crianças trouxas, que começara a rodopiar feito um pião, quase vinte metros acima do chão, a cabeça sacudindo molemente de um lado para outro. — Que coisa realmente doentia...

Eu, Hermione e Gina nos aproximamos deles com Sr. Weasley à nossa frente, ainda estávamos de mãos dadas, com medo.

No mesmo momento, Gui, Carlinhos e Percy saíram da barraca dos garotos inteiramente vestidos, com as mangas enroladas e as varinhas em punho.

— Vamos ajudar o pessoal do Ministério — gritou o Sr. Weasley para ser ouvido com aquele barulho, enrolando as próprias mangas. — Vocês... Vão para a floresta e fiquem juntos. Irei apanhá-los quando resolvermos este problema aqui!

Gui, Carlinhos e Percy já estavam correndo em direção aos baderneiros que se aproximavam; o Sr. Weasley saiu depressa atrás dos filhos. Bruxos do Ministério convergiam de todas as direções para o foco do problema. A multidão sob a família Roberts se aproximava sempre mais.

— Vamos — disse Fred, pegando na minha mão livre e me puxando para a floresta. Harry, Rony, Hermione e Jorge nos acompanharam. Todos olhamos para trás ao alcançarmos as árvores. Os manifestantes sob a família Roberts eram mais numerosos que nunca, nós vimos os bruxos do Ministério tentando chegar aos bruxos encapuzados no centro, mas encontravam grande dificuldade. Eu não conseguia falar nada. Já vira diversos comensais da morte, quero dizer, notícias sobre eles n'O Profeta Diário, mas nunca vira um ataque ao vivo. E isso estava me aterrorizando. Apertei a mão de Fred com mais força e ele retribuiu.

Muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo. Choros de crianças eram ouvidos, vultos pretos perdidos corriam pela floresta, ecoavam gritos ansiosos e vozes cheias de pânico por todo o lado no ar frio da noite. Me senti empurrada para todos os lados por pessoas cujo os rostos eu não conseguia distinguir. Ouvimos Rony dar um berro de dor.

— Que aconteceu? — perguntou Hermione ansiosa, parando tão abruptamente que eu quase dei um encontrão nela. — Rony, onde é que você está? Ah, mas que burrice... Lumus!

Ela iluminou a varinha e apontou o fino feixe de luz para o caminho. Rony estava esparramado no chão.

— Tropecei numa raiz de árvore — disse ele aborrecido, pondo-se de pé.

— Ora, com pés desse tamanho, é difícil não tropeçar — disse uma voz arrastada às nossas costas.

Eu, Harry, Rony e Hermione nos viramos rapidamente. Senti o aperto das mãos de Fred e Hermione se afrouxarem em minha mão. Draco Malfoy estava parado sozinho perto de nós, encostado a uma árvore, numa atitude de total descontração.

De braços cruzados, parecia ter estado a contemplar a cena no acampamento por uma abertura entre as árvores. Rony disse a Malfoy que fosse fazer uma coisa que eu sabia que o amigo jamais teria se atrevido a dizer na frente da Sra. Weasley.

— Olha a boca suja, Weasley — disse Malfoy, seus olhos claros reluzindo. — Não é melhor você se apressar? Não quer que descubram sua amiga, não é?

Ele indicou Hermione com a cabeça e, neste instante, ouviu-se no acampamento uma explosão como a de uma bomba, e um relâmpago verde iluminou momentaneamente as árvores à nossa volta.

— Meu Deus, vá a merda, Malfoy. Já não basta seu pai ter levado um chute na canela, você quer um na cara? — falei de modo agressivo. Mas o que quer que Malfoy fosse me responder, foi interrompido pela pergunta de Hermione.

— Que é que você quer dizer com isso? — perguntou Hermione em tom de desafio para Malfoy. — Granger, eles estão caçando trouxas — disse ele. — Você vai querer mostrar suas calcinhas no ar? Porque se quiser, fique por aqui mesmo... Eles estão vindo nessa direção, e todos vamos dar boas gargalhadas.

— Uma grande gargalhada viria de mim depois que eu chutasse você nas partes baixas. — vociferei para ele.

— E além do mais, Hermione é bruxa — rosnou Harry.

— Faça como quiser Potter — disse Malfoy sorrindo maliciosamente. — Se você acha que eles não são capazes de identificar um “Sangue Ruim”, fique onde está.

— Você é que devia olhar sua boca suja! — gritou Rony. Todos os presentes sabíamos que "Sangue Ruim" era uma palavra muito ofensiva a uma bruxa ou bruxo de pais trouxas.

— Não liguem para ele, meninos — falei olhando Malfoy com raiva. — Sabemos muito bem que papai e mamãe dele estão entre os mascarados, servindo seu precioso Lorde. Não é? — fiz questão de mencionar "precioso Lorde" com todo o desprezo que pude encontrar em minha voz.

— Escuta aqui, Diggory... — começou Malfoy, mas logo foi interrompido por Hermione.

— Ah, anda gente — disse ela, com um olhar de repugnância para Malfoy —, vamos procurar os outros.

— Fique com essa cabeçorra lanzuda abaixada, Granger — caçoou Malfoy.

Dei um tapa mais do que forte no rosto de Malfoy antes de ser puxada por Hermione

— Anda gente — repetiu Mione puxando eu, Rony e Harry.

— Aposto qualquer coisa como o pai dele é um dos mascarados! — disse Rony indignado.

— Pois eu tenho certeza! — falei ainda com raiva, mas aliviada por ter batido em Malfoy.

— Bem, com um pouco de sorte, o Ministério vai agarrá-lo! — disse Hermione com veemência. — Ah, não dá para acreditar, onde foi que os outros se meteram?

Fred, Jorge e Gina não estavam em nenhum lugar à vista, e isso me deixou extremamente nervosa, embora o caminho estivesse apinhado de pessoas, todas espiando nervosamente a confusão no acampamento, por cima dos ombros. Um grupo de adolescentes de pijamas discutia em altos brados um pouco adiante no caminho. Quando viram eu, Harry, Rony e Hermione, uma garota de cabelos espessos e crespos se virou e disse depressa:

— Ou est Madame Maxime? Nous l’avons perdue...

— Hum... Quê? — perguntou Rony.

— Ah... — A menina que falara deu as costas para ele, e quando os garotos continuaram andando ouviram-na dizer claramente: — Hogwarts.

— Beauxbatons — murmurei.

— Como disse? — falou Harry.

— Devem estudar na Beauxbatons — esclareceu Hermione por mim. — Você sabe... Academia de Magia Beauxbatons... Li sobre ela em Uma Avaliação da Educação em Magia na Europa. — Ah... Sei... Certo — disse Harry.

— Elas estavam perguntando onde estava Madame Maxime, a diretora de Beauxbatons, até onde me lembro. Tinham se perdido dela. — traduzi para eles.

— Quando você aprendeu francês? — perguntou Rony, confuso em meio aquela multidão.

— Uma escola... Trouxa, acho eu... Isso não vem ao caso! — me interrompi, sacudindo a cabeça. — Fred e Jorge não podem ter ido tão longe assim — murmurei.

Puxei a varinha do bolso, acendendo-a como Hermione fizera e esquadrinhando o caminho. Pude ver Harry e Rony fazendo o mesmo, mas a expressão de Harry virou de puro choque.

— Ah, não, eu não acredito... Perdi a minha varinha!

— Está brincando!

Eu, Rony e Hermione erguemos bem as varinhas para projetar seus finos raios de luz mais à frente no caminho; Harry olhou para todo lado e eu o imitei, mas a sua varinha não estava visível em lugar algum.

— Talvez tenha ficado na barraca — disse Rony.

— Talvez tenha caído do seu bolso quando você estava correndo? — sugeriu Hermione ansiosa.

— Provavelmente.

— É — falou Harry —, talvez...

Um rumorejar fez nós quatro nos sobressaltarmos. Winky, a elfo doméstica, estava tentando sair de uma moita de arbustos ali perto. Movia-se de um jeito esquisitíssimo, com visível dificuldade; era como se alguém invisível estivesse tentando segurá-la. — Winky, o que houve?! — exclamei para ela. — Tem bruxos malvados aqui! — guinchou ela nervosa, ao se curvar para frente e se esforçar para correr. — Gente voando... Lá no alto! Winky está saindo do caminho! E desapareceu entre as árvores do outro lado da via, ofegando e guinchando enquanto lutava com a força que a retinha. — Que é que há com ela? — perguntou Rony, acompanhando-a com o olhar, curioso. — Por que ela não consegue correr direito? — Aposto como não pediu permissão para se esconder — disse tendo certeza de que sabia do que estava falando. Dobby costumava agir assim.

— Sabem, os elfos domésticos têm uma vida duríssima! — disse Hermione indignada.

— É escravidão, isso é que é! — exclamei concordando veemente com Hermione. — Aquele Sr. Crouch fez Winky subir até o topo do estádio, e ela estava aterrorizada, e a enfeitiçou dessa maneira para que nem possa correr quando eles começam a pisotear barracas! — Por que ninguém faz nada para acabar com uma situação dessas? — disse Hermione. — Ué, os elfos são felizes, não são? — admirou-se Rony. — Você ouviu a Winky durante a partida... "Elfos domésticos não devem se divertir...” é disso que ela gosta, que mandem nela...

— É gente como você, Rony — começou Hermione com veemência —, que sustenta sistemas podres e injustos, só porque são preguiçosos demais para... Um novo estrondo ecoou na orla da floresta. — Acho melhor irmos andando — falei tentando intervir uma possível briga entre Rony e Hermione. — Vamos. Recomeçamos a andar, Harry ainda revistando os bolsos, não sei porque, já que a varinha não estava ali. Seguimos o caminho que se aprofundava na floresta, atentos para avistarmos Fred, Jorge e Gina. Passamos por um grupo de duendes que davam gargalhadas à vista de um saco de ouro que, sem dúvida, deviam ter ganho apostando na partida, e que pareciam imperturbáveis diante da confusão no acampamento. Mais adiante, nos deparamos com um trecho iluminado por uma luz prateada e, quando espiamos entre as árvores, vimos três Veelas altas e belas paradas em uma clareira e cercadas por um bando de jovens bruxos barulhentos, todos falando em altos brados.

— Ganho uns cem sacos de galeões por ano — gritava um. — Mato dragões para a Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas.

— Mata nada — berrou seu amigo —, você lava pratos no Caldeirão Furado... Mas eu sou caçador de vampiros, já matei uns noventa até agora...

Um terceiro bruxo, cujas espinhas eram visíveis até à luz fraca e prateada das Veela, entrou nesse instante na conversa:

— Eu estou às vésperas de me tornar o Ministro da Magia mais novo de todos os tempos. Era só o que me faltava. Garotinhos estúpidos querendo ter a atenção de Veelas mais estúpidas ainda. Eu estava mais focada em achar Fred. Fred, Jorge e Gina, quero dizer, Fred, Jorge e Gina. Me virei para olhar para o trio que estava comigo. Harry estava dando risadinhas abafadas e o rosto de Rony se afrouxara estranhamente e no segundo seguinte Rony estava gritando:

— Eu já disse a vocês que inventei uma vassoura que pode chegar a Júpiter?

Meu olhar se encontrou com o de Hermione. Ambas compartilhávamos da mesma raiva.

— Francamente! — tornamos a exclamar juntas, nós duas puxamos Rony com a ajuda de Harry pelos braços com firmeza, o viramos e saímos andando com ele.

Quando a algazarra das Veela com seus admiradores se tornou completamente inaudível, nós quatro já estávamos no coração da floresta. Parecíamos estar sozinhos agora, tudo estava muito mais quieto. Espiei para os lados.

— Acho que podemos esperar aqui, sabe, dá para ouvir uma pessoa chegando a mais de um quilômetro.

Nem bem eu dissera essas palavras, Ludo Bagman saiu de trás de uma árvore um pouco adiante. Mesmo à luz fraca das três varinhas, eu vi que uma grande mudança se operara em Bagman. Ele já não parecia displicente e rosado; não havia mais elasticidade em seu andar. Parecia muito pálido e cansado.

— Quem está aí? — perguntou o bruxo, piscando os olhos, tentando distinguir os nossos rostos. — Que é que vocês estão fazendo aqui sozinhos?

Nos entreolhamos surpresos.

— Bem... Está acontecendo um tumulto — disse Rony. Bagman arregalou os olhos para ele. — Quê? — No acampamento... Umas pessoas agarraram uma família de trouxas...

— Comensais da Morte — esclareci.

Bagman praguejou em voz alta.

— Desgraçados! — Ele pareceu ficar muito perturbado e, sem dizer mais nada, desaparatou com um pequeno estalo.

— Não anda muito bem informado o Sr. Bagman, não é? — comentou Hermione franzindo a testa.

— Mas ele foi um grande batedor — disse Rony e, adiantando-se de nós, rumou para uma pequena clareira e se sentou em um trecho de grama seca ao pé de uma árvore. — Os Wimbourne Wasps foram campeões três vezes seguidas quando ele fazia parte do time.

— O que isso tem a ver com a situação? — perguntei franzindo a testa como Hermione. Rony deu de ombros.

— Sei lá.

Tirou, então, a pequena estátua de Krum do bolso, colocou-a no chão e ficou por instantes observando-a andar. Igualzinho ao Krum verdadeiro, o modelo andava com os pés para fora e tinha os ombros caídos, bem menos impressionante andando feito pato do que montado na vassoura. Escutei com atenção se vinha algum barulho do acampamento. Tudo parecia silencioso; talvez o tumulto tivesse acabado. Mas eu duvidava muito disso.

— Espero que os outros estejam bem — disse Hermione depois de algum tempo.

— Estão — disse Rony;

— Seria demais se o tio Arthur pegasse Lúcio Malfoy — comentei me sentando ao lado de Rony para observar a estatueta de Krum andando por cima das folhas secas. — Ele vive dizendo que gostaria de ter alguma coisa contra o Malfoy.

— Isso ia apagar aquele risinho na cara do nosso amigo Draco, ah, ia — disse Rony.

— Mas, e os coitados daqueles trouxas — lamentou Hermione nervosa. — E se não conseguirem trazer eles de volta ao chão?

— Eles vão conseguir, Mione — tranquilizei ela. — Vai ficar tudo bem.

— Mas é uma loucura fazer uma coisa daquelas com o Ministério da Magia em peso aqui hoje! Quero dizer, como é que eles esperam se safar? Vocês acham que eles andaram bebendo ou só...

Mas Hermione parou de falar abruptamente e espiou por cima do ombro. Rony, Harry e eu nos viramos rapidamente também. Parecia que alguém estava cambaleando em direção à clareira em que nós nos encontrávamos. Nós esperamos, prestando atenção ao ruído dos passos desiguais por trás das árvores escuras. Mas os passos pararam repentinamente.

— Alôô? — chamou Harry.

Silêncio. Tomei coragem e me levantei, espiando atrás da árvore. Estava escuro para ver muito longe, mas eu sentia que havia alguém logo além do meu campo de visão.

— Quem está aí? — perguntei. E então, sem aviso, o silêncio foi rompido por uma voz diferente de todas que tinham ouvido antes; e ela não soltou um grito, mas algo que lembrava um feitiço. Um feitiço que eu já lera sobre e que me aterrorizou.

— MORSMORDRE!

E uma coisa enorme, verde e brilhante, irrompeu do lugar escuro que os meus olhos se esforçaram para penetrar e voou para o topo das árvores e para o céu.

— Quem...? — exclamou Rony, ficando em pé de um salto e arregalando os olhos para a coisa que aparecera. Era a Marca Negra. A Marca Negra usada pelos servos de Lord Voldemort. E alguém a conjurara. Mas quem?

Eu esquadrinhei a escuridão à procura da pessoa que conjurara a marca, mas não consegui ver ninguém.

— Quem está aí? — chamei mais uma vez.

— Jamie, vamos, anda! — Hermione me agarrou pelas costas do casaco e me puxou para trás. Eu estava pálida, sabia disso, que nem Hermione. Nós duas sabíamos que era a Marca, mas Harry não pareceu saber.

— Que foi? — perguntou ele, espantado de, provavelmente ver a cara minha e de Mione tão branca e aterrorizada.

— É a Marca Negra, Harry! — gemeu Hermione, puxando-o com toda a força que podia. — O sinal do Você-Sabe-Quem!

— Do Voldemort...?

— Sim, Harry, agora vamos! — disse para ele. Rony estava recolhendo depressa a miniatura de Krum.

Nós quatro começamos a atravessar a clareira, mas antes que conseguíssemos dar mais de cem passos, uma série de estalos anunciaram a chegada de vinte bruxos, saídos do nada, a toda volta. Me virei e numa fração de segundo registrei um fato: cada um dos bruxos puxara a varinha, e cada varinha estava apontada para mim, Harry, Rony e Hermione. Sem parar para pensar, berrei:

— ABAIXA! — Eu agarrei os três e puxei-os para o chão.

— ESTUPEFAÇA! — berraram vinte vozes desencadeando uma série de lampejos, e eu senti meus cabelos ondularem como se um vento poderoso tivesse varrido a clareira.

Ao erguer a cabeça um centímetro, eu vi jorros de luz flamejante saírem das varinhas dos bruxos e sobrevoarem seus corpos, entrecruzando-se, ricocheteando nos troncos das árvores, saltando para a escuridão...

— Parem! — berrou uma voz que eu reconheci. — PAREM! É o meu filho!

— E a minha filha também! PAREM COM OS FEITIÇOS! — Tá, esse foi o meu pai.

Meus cabelos pararam de voar para todos os lados. Levantei a cabeça mais um pouquinho. O bruxo diante de mim baixara a varinha. Rolei o meu corpo e vi o Sr. Weasley vindo em direção ao ajuntamento, com uma expressão aterrorizada no rosto, meu pai o acompanhando.

— Rony, Harry... — sua voz tremia —... Hermione, Jamie, vocês estão bem?

— Jamie, você está bem? — perguntou papai me sufocando com um abraço assim que me levantei, sua voz tremia também.

— Estou bem, pai, estamos todos bem.

— Saiam do caminho, Amos, Arthur — disse uma voz fria e ríspida.

Era o Sr. Crouch. Ele e os outros bruxos do Ministério fechavam o cerco em torno de nós. Ajudei Harry a se levantar para encará-los. O rosto do Sr. Crouch estava tenso de cólera.

— Qual de vocês fez aquilo? — perguntou aborrecido, seus olhos penetrantes indo de um garoto para o outro. — Qual de vocês conjurou a Marca Negra?

— Nós não conjuramos aquilo! — respondeu Harry apontando o crânio.

— Nós não conjuramos nada! — disse Rony, que esfregava o cotovelo e olhava cheio de indignação para o pai. — Por que vocês nos atacaram?

— Não minta, senhor! — gritou o Sr. Crouch. Sua varinha continuava apontada diretamente para Rony, e seus olhos saltavam das órbitas, parecia um tanto maluco. — Vocês foram encontrados na cena do crime!

— Nós não conjuramos a Marca, seu maluco! — falei com os olhos estreitados para Crouch.

— Bartô — murmurou uma bruxa trajando um longo penhoar de lã —, eles são meninos, Bartô, nunca teriam capacidade para...

— De onde saiu a Marca? Respondam vocês quatro — mandou o Sr. Weasley depressa.

— Dali — respondeu Hermione trêmula, apontando para o ponto em que tínhamos ouvido a voz, a abracei de lado —, havia alguém atrás das árvores... Gritou umas palavras, uma fórmula mágica... — Ah, havia gente parada ali, é mesmo? — disse o Sr. Crouch, virando seus olhos saltados para Hermione, a incredulidade estampada por todo o rosto. —Disseram uma fórmula mágica, não foi? A senhorita parece muIto bem informada sobre as palavras que conjuram a Marca, senhorita...

— Morsmordre. Foi o que a pessoa falou. Morsmordre. Já li em vários livros. Somos inteligentes, não criminosas, seu estúpido! — falei de modo tão rude que deixou Crouch sem palavras. Não sei de onde saíra tanta coragem para enfrentar o futuro marido de Percy, mas foi do mesmo jeito. Eu tremia dos pés a cabeça.

Mas nenhum dos bruxos do Ministério, exceto o Sr. Crouch, achou nem remotamente provável que eu, Harry, Rony e Hermione tivéssemos conjurado o crânio, muito ao contrário, ao ouvirem as palavras de Hermione e minhas voltaram a erguer e apontar as varinhas na direção que ela indicara, procurando ver entre as árvores escuras.

— Tarde demais — disse a bruxa de penhoar de lã, sacudindo a cabeça. — Já devem ter desaparatado.

— Acho que não — disse meu pai. — Os nossos raios passaram direto por aquelas árvores... Há uma boa chance de os termos atingido...

— Amos, cuidado! — disseram alguns bruxos em tom de alerta, quando meu pai aprumou os ombros, ergueu a varinha, atravessou a clareira e desapareceu na escuridão. Fiquei nervosa. Levei as mãos à boca, Hermione imitou meu gesto, ao observar papai.

Alguns segundos depois, nós ouvimos meu pai gritar.

— Acertamos, sim! Tem alguém aqui! Inconsciente! É... Mas... Caramba...

— Você pegou alguém? — gritou o Sr. Crouch, parecendo muitíssimo incrédulo. — Quem? Quem é?

Nós ouvimos gravetos se partirem, folhas farfalharem e, por fim, passos quando o papai reapareceu por trás das árvores. Trazia uma figura minúscula e inerte nos braços. Eu reconheci a toalha de chá na mesma hora com um assombro.

Era Winky.

O Sr. Crouch não se mexeu nem falou enquanto o meu pai depositava o elfo do Sr. Crouch no chão aos seus pés. Todos os bruxos do Ministério se viraram para o Sr. Crouch.

Durante alguns segundos o bruxo permaneceu paralisado, os olhos ardendo no rosto branco, olhando para Winky. Então, ela pareceu voltar à vida.

— Isto... Não pode... Ser — disse ele aos arrancos. — Não...

Contornou rápido meu pai e saiu em direção ao lugar em que o bruxo encontrara Winky. Tornei a ficar nervosa.

— Não adianta, Sr. Crouch — gritou papai para ele. — Não há mais ninguém aí.

Mas o Sr. Crouch não parecia disposto a aceitar sua palavra. Nós o ouvimos andar por todo o lado, as folhas rumorejarem ao serem afastadas para os lados, na busca.

— Meio embaraçoso — disse o papai sombriamente se postando em meu lado, contemplando o corpo inconsciente de Winky. — O elfo doméstico de Bartô Crouch... Quero dizer...

— Pode parar, Amos — disse o tio Arthur baixinho. — Você não acredita seriamente que foi o elfo? A Marca Negra é um sinal de bruxo. Exige uma varinha.

— É — disse papai —, e havia uma varinha. Olhe aqui. — Meu pai ergueu uma varinha e mostrou-a ao Sr. Weasley. — Estava na mão dela. Então, para começar, violação da Cláusula 3 do Código para o Uso de Varinhas. Nenhuma criatura não-humana tem permissão para portar ou usar uma varinha.

— Harry. Harry, olhe. Olhe ali, é a sua varinha. — sussurrei para Harry, que estava do meu lado, igualmente tenso.

— Mas... Mas como? — perguntou ele incrédulo, também sussurrando.

— Sendo, ué. A mais provável das hipóteses é que você deixou a varinha cair enquanto eu, você, Rony e Hermione corríamos, aquela pessoa achou a varinha, conjurou a Marca e deixou na mão de Winky, provavelmente para deixá-la como culpada. — murmurei de modo pensativo, só então fui notar que eu e Harry tínhamos perdido a maior parte da investigação. Winky já estava acordada.

— Você foi encontrada com uma varinha na mão! — vociferou meu querido pai de modo agradável, brandindo a varinha diante dela. E quando a varinha refletiu a luz verde, vinda do crânio no alto, que inundava a clareira, Harry finalmente a reconheceu.

— Ei... É minha mesmo! — disse.

Todos na clareira olharam para Harry.

— Perdão? — disse papai incrédulo.

— É a minha varinha! — repetiu Harry. — Deixei-a cair!

— Deixou-a cair? — repetiu ele incrédulo. — Isto é uma confissão? Você se desfez dela depois de conjurar a Marca?

Trinquei os dentes.

— Pai. Eu estava com Harry o tempo todo do momento em que saí da barraca. Harry não conjurou a porcaria da Marca. — disse para ele, com extrema raiva. — E, aliás, você acha realmente que Harry Potter iria conjurar a Marca Negra?

— Hum... Claro que não — murmurou papai. — Desculpem... Me empolguei...

— Em todo o caso, não a deixei cair lá — disse Harry, indicando com o polegar as árvores. — Dei falta dela logo depois que entramos na floresta.

— Então — disse o meu pai, seu olhar endurecendo ao se virar novamente para Winky que se encolhia aos seus pés. — Você encontrou a varinha, não foi, elfo? E você a apanhou e pensou em se divertir com ela, é isso?

Eu já estava por aqui com meu pai enchendo Winky. Eu sabia que não fora ela.

— Eu não estava fazendo mágica com ela, meu senhor! — guinchou Winky, as lágrimas correndo pelos lados do nariz achatado e grande. — Eu estava... Eu estava... Eu estava só apanhando ela, meu senhor! Eu não estava fazendo a Marca Negra, meu senhor, eu não sei fazer!

— Não foi ela! — afirmei junto de Hermione. Dava para ver que ambas estávamos nervosas. — Winky tem uma voz esganiçada, a voz que ouvimos era definitivamente masculina. Tenho certeza. — olhei para os lados, procurando apoio. E o achei rapidamente com Hermione.

— Não parecia nada com a voz da Winky, parecia?

— Não — confirmou Harry, sacudindo a cabeça. — Decididamente não parecia voz de elfo.

— É, era uma voz humana — disse Rony.

— Bem, logo veremos — rosnou meu pai, sem parecer se impressionar. O que é chato pra caralho, mas melhor não comentarmos. – Há uma maneira simples de descobrir o último feitiço que a varinha realizou, você sabia, elfo?

Winky estremeceu e sacudiu a cabeça freneticamente, as orelhas abanando, quando papai ergueu a própria varinha e encostou-a, ponta com ponta, na de Harry.

— Prior Incantato!— rugiu ele.

Eu e Hermione prendemos a respiração, apertando as mãos, quando um crânio com uma enorme língua de cobra surgiu no ponto em que as duas varinhas se tocavam, mas era uma mera sombra do crânio verde no alto, parecia até feito de uma espessa fumaça cinzenta: O fantasma de um feitiço.

Deletrius! — bradou papai, e o crânio difuso desapareceu transformado em um fiapo de fumaça. — Então — disse ele com um tom de furioso triunfo, fixando Winky, que continuava a tremer convulsivamente.

— Eu não estava fazendo isso! — guinchou o elfo, seus olhos revirando aterrorizados. — Eu não estava, eu não estava, eu não sei fazer!

— Você foi apanhada com a mão na botija, elfo — rugiu meu pai. — Apanhada com a mão na varinha culpada!

— Amos — disse o Sr. Weasley em voz alta —, pense um pouco... Pouquíssimos bruxos sabem fazer esse feitiço... Onde ela o teria aprendido? — me senti imensamente agradecida, já que não gostava do jeito que papai estava tratando Winky.

— Talvez Amos esteja insinuando — disse o Sr. Crouch, a fúria reprimida em cada sílaba — que eu rotineiramente ensino meus criados a conjurarem a Marca Negra?

Seguiu-se um silêncio profundamente desagradável.

Meu pai pareceu horrorizado. E eu, obviamente, né, raivosa.

— Sr. Crouch... De... De jeito nenhum...

— Você agora já chegou quase a denunciar as duas pessoas nesta clareira que menos provavelmente conjurariam aquela Marca! — vociferou o Sr. Crouch. — Harry Potter... E eu! Suponho que você conheça a história do garoto, Amos?

— Claro, todos conhecem... — murmurou meu pai, parecendo extremamente sem graça.

— E espero que se lembre das muitas provas que tenho dado, durante a minha longa carreira, de que desprezo e detesto as Artes das Trevas e aqueles que a praticam — gritou o Sr. Crouch, os olhos saltando das órbitas outra vez.

— EI! Insinuar o elfo é diferente de insinuar seu senhor! Pare de falar assim com meu pai ou eu juro que enfio sua varinha em lugares que nem cirurgias do St. Mungus podem retirá-la de lá. Só porque meu pai acusou Winky, não signifca que ele acusou você! E também, não é porque eu sei o que significa Morsmordre que eu conjurei isso! Eu leio, sou inteligente! Ao contrário de você, pelo visto. E, ainda assim, Winky pode ter aprendido isso com qualquer um. — trovejei todas essas palavras sem nem parar para respirar. Todos me olharam estáticos e somente o Sr. Weasley conseguiu retomar a palavra. Crouch me olhava com raiva contida.

— Precisamente, Jamie — disse ele. — Ela poderia ter aprendido em qualquer lugar... — Winky? — disse ele bondosamente, virando-se para o elfo, que se encolheu como se este bruxo também estivesse gritando com ela. — Onde foi exatamente que você encontrou a varinha de Harry?

Winky estava torcendo a barra da toalha de chá com tanta violência que o pano se esfiapava entre seus dedos.

— Eu... Eu estava encontrando... Encontrando ela lá, meu senhor... — murmurou ela — lá... No meio das árvores...

— Está vendo, Amos? — disse o Sr. Weasley. — Quem quer que tenha conjurado a Marca poderia ter desaparatado logo em seguida, deixando a varinha de Harry para trás. Uma idéia inteligente, não ter usado a própria varinha, que poderia tê-lo denunciado. E Winky aqui teve a infelicidade de encontrar a varinha momentos depois e de apanhá-la.

— Mas, então, ela deve ter estado a poucos passos do verdadeiro responsável! — disse o meu pai com impaciência. O olhei de modo reprovador. — Elfo? Você viu alguém?

Winky começou a tremer mais que nunca. Seus olhos imensos piscaram indo de meu pai para Ludo Bagman e dele para o Sr. Crouch. Então ela engoliu em seco e disse:

— Eu não estava vendo ninguém... Ninguém...

— Amos — disse o Sr. Crouch secamente —, estou muito consciente de que normalmente você iria querer levar Winky para interrogatório no seu departamento. Mas vou-lhe pedir que me deixe cuidar dela. Papai fez cara de quem não achava a sugestão muito boa, mas ficou claro para mim que o Sr. Crouch era um funcionário tão importante no Ministério que o outro não se atreveria a recusar o pedido. OU SEJA, ELE É UM CUZÃO.

— Pode ficar tranqüilo de que ela será castigada — acrescentou o Sr. Crouch friamente.

— M... M... Meu senhor... — gaguejou Winky, olhando para o Sr. Crouch, seus olhos rasos de lágrimas. — M... M... Meu senhor, P... P... Por favor...

O Sr. Crouch encarou o elfo, seu rosto ainda mais agressivo, cada ruga nele profundamente marcada. Não havia piedade em seu olhar.

— Esta noite Winky se portou de uma forma que eu não teria imaginado possível — disse ele lentamente. — Eu a mandei permanecer na barraca. Mandei-a permanecer ali enquanto eu ia resolver o problema. E descubro que ela me desobedeceu. Isto significa roupas.

— Não! — berrou Winky, prostrando-se aos pés do Sr. Crouch. — Não, meu senhor! Roupas não, roupas não!

Eu não conseguia falar nada. Escondi meu rosto na curva do pescoço de Harry, sem querer ver o sofrimento de Winky. Eu sabia que a única maneira de libertar um elfo doméstico era presenteá-lo com roupas decentes. Era penoso ver como Winky se agarrava à sua toalha de chá enquanto soluçava sobre os sapatos do Sr. Crouch.

— Mas ela estava assustada! — explodiu Hermione aborrecida, encarando o Sr. Crouch. E eu me senti mais do que agradecida por ela ter falado. Porque se fosse comigo, eu com certeza falaria mais do que devia. — O seu elfo tem pavor de alturas, e aqueles bruxos estavam fazendo as pessoas levitarem! O senhor não pode culpá-la por ter querido sair de perto!

O Sr. Crouch deu um passo atrás, desvencilhando-se do contato com o elfo, a quem ele examinava como se fosse algo imundo e podre que contaminava seus sapatos muito bem engraxados.

— Não preciso de um elfo doméstico que me desobedeça — disse ele friamente, erguendo os olhos para Hermione. — Não preciso de uma criada que esquece o que deve ao seu senhor e à reputação do seu senhor.

Winky chorava tanto que seus soluços ecoavam pela clareira. Seguiu-se um silêncio desagradável, que foi interrompido pelo Sr. Weasley, ao dizer baixinho:

— Bom, acho que vou levar o meu pessoal de volta à barraca, se ninguém tiver objeções a fazer. Amos, a varinha já nos informou tudo que pôde, se Harry puder levá-la, por favor...

Meu pai entregou a varinha a Harry e este a colocou no bolso.

— Vamos, vocês quatro — disse o Sr. Weasley em voz baixa. Mas eu e Hermione não queríamos arredar pé, nós duas ainda mirávamos o elfo soluçante.

— Hermione! Jamie! — chamou o Sr. Weasley com mais urgência. Nos olhamos rapidamente e acompanhamos Harry e Rony para fora da clareira, embrenhando-se entre as árvores.

— Que é que vai acontecer com Winky? — perguntou ela no instante em que deixamos a clareira.

— Não sei — respondeu o Sr. Weasley.

— O jeito como a trataram! — falei, furiosa. — O meu pai chamando-a de "elfo" o tempo todo... E o Sr. Crouch! Aquele maldito! Ele sabe que não foi ela e ainda assim vai despedir Winky! Não se importou que ela tivesse sentido medo nem que estivesse perturbada, era como se ela nem fosse humana!

— E ela não é — disse Rony. Hermione se voltou contra ele.

— Isso não significa que não tenha sentimentos, Rony, é repugnante o jeito...

— Hermione, Jamie, eu concordo com vocês — disse o Sr. Weasley depressa, fazendo sinal para nós duas continuarmos andando —, mas agora não é hora de discutir os direitos dos elfos. Quero voltar à barraca o mais depressa que pudermos. Que aconteceu aos outros?

— Nós os perdemos no escuro — disse Rony. — Papai, por que todo mundo estava tão nervoso com aquele crânio?

— Eu explico tudo quando estivermos na barraca — prometeu ele, tenso. Eu queria contar à eles agora, mas achei melhor que não.

Mas quando alcançamos a orla da floresta, nos deparamos com um obstáculo. Havia ali uma aglomeração de bruxas e bruxos assustados, e, quando viram o Sr. Weasley caminhando em sua direção, muitos foram ao seu encontro.

— Que é que está acontecendo na floresta?

— Quem conjurou aquilo?

— Arthur, não é... Ele?

— Claro que não é ele — disse o Sr. Weasley impaciente. — Não sabemos quem foi, parece que desaparatou. Agora, me dêem licença, por favor, quero ir me deitar.

Ele passou comigo, Harry, Rony e Hermione pela aglomeração e voltou ao acampamento. Tudo estava silencioso agora, não havia sinal de bruxos mascarados, embora várias barracas destruídas ainda fumegassem.

Carlinhos meteu a cabeça pela abertura da barraca dos garotos.

— Papai, que é que está acontecendo? — perguntou ele no escuro. — Fred, Jorge e Gina já voltaram, mas os outros...

— Estão aqui comigo — respondeu o Sr. Weasley, se abaixando pra entrar na barraca.

Eu, Harry, Rony e Hermione entramos atrás dele. Gui estava sentado à pequena mesa da cozinha, apertando um braço com um lençol, que sangrava profusamente. Carlinhos tinha um rasgo na camisa e Percy ostentava um nariz ensangüentado. Fred, Jorge e Gina pareciam ilesos, embora abalados. Os gêmeos pareceram acordar de um transe quando me viram.

— JAMIE! — Os dois gritaram e vieram correndo me abraçar.

— Eu sei que vocês me amam, mas não é pra tanto, panacas. — falei rindo e os abraçando de volta.

— Panaca é você, criatura! Que ideia foi essa de soltar da minha mão? Você poderia estar morta, ou sem uma perna, ou sem um braço ou... ou... Ah, eu sei lá! Nunca mais faça isso comigo! — Esse foi um pequeno surto de Fred Weasley. Ele parou rapidamente de me abraçar enquanto falava mas logo voltou a me apertar tão forte que eu quase morri sufocada.

— Ei, ei, ei, eu estou bem, Fred. Estou aqui, se acalma. — disse para ele, passando a mão em sua bochecha.

Wow, ele está muito perto.

Tentei ignorar o fato de que já podia sentir sua respiração e voltei a abraçar ele.

— Depois falam que eu sou um cupido ruim — cantarolou Jorge. Tenho certeza de que fiquei vermelha, mas somente chutei sua barriga. —AGRESSIVA! — exclamou ele apontando o dedo indicador na minha cara. Comecei a rir.

— Babaca. — disse e baguncei o cabelo ruivo dele.

Então, eu, Fred e Jorge resolvemos tomar parte do assunto que os outros estavam conversando. Eu e Hermione explicamos para Rony e Harry sobre a Marca Negra e os Comensais da Morte. Discutimos também sobre o por que de terem atacado na Copa enquanto contávamos sobre termos presenciado a Marca Negra ser conjurada com a varinha de Harry. Todos, exceto Percy, me parabenizaram de certo modo pela minha resposta para Crouch.

Ah, qual é, eu sou demais, fala sério.

Depois de muita conversa, Tio Arthur decidiu que era muito tarde e nos mandou de volta para as camas.

Eu, Hermione e Gina seguimos, conversando aterrorizadas, para a barraca vizinha. Discutimos por mais alguns minutos sobre os Comensais da Morte até que o sono se apoderou de todas nós.

E eu finalmente tive uma boa noite de sono.


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Notas finais do capítulo

ENTÃO ACHO QUE É SÓ ISSO, COMENTEM PQ SE NÃO NÃO TEM MAIS EGDA
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