– Sakura... – Tenten demonstrou um tom de preocupação em sua voz, que foi totalmente ignorado pela Haruno. Sasuke não era importante.

– Temos de encontrar meu primo irritante – disse, encerrando o assunto e começando a se locomover por entre as pessoas que não paravam de pular um segundo sequer na pista de dança.

Ino e Tenten concordaram por fim, e seguiram a Haruno. Não poderiam discutir com a mesma, afinal, não estavam a par dos sentimentos da amiga. Algumas semanas atrás facilmente podia-se afirmar que Sakura amava cegamente Gaara, e que aquele noivado estava sendo a pior das tragédias em sua vida.

No entanto, agora, ambas não sabiam se julgavam as ações de Sakura tão reprovadoras perante o casamento que estava por vir. A rosada parecia... Conformada.

As garotas se esgueiraram para trás da mesa de comes e bebes – certamente, Karin poderia ter sido bem mais original, na opinião de Ino -, agachando-se em seguida.

Ergueram as cabeças por cima da longa mesa, e Sakura conseguiu localizar seu alvo dentre os outros convidados.

Naruto estava rindo e conversando com os colegas do time de basquete, enquanto Emiko se aproximava por trás, com um sorriso malicioso nos lábios. Certamente pretendia “enlaçar” o loiro a partir de sua chegada, e tal coisa não poderia acontecer.

– Temos de agir agora! – sussurrou Sakura em urgência, encarando as amigas de modo que exigisse um bom plano.

– Deixem comigo – prontificou-se Tenten, com um sorriso maroto entre os lábios, e a piscadela suspeita indicando que tinha um plano.

Antes que Ino ou Sakura pudessem impedi-la, a morena já se levantara, e caminhava de modo sutil até a pista, com um copo de refrigerante de uva nas mãos.

– Oh my god! – sussurraram Ino e Sakura, prevendo o que a amiga (genial) faria.

Emiko ergueu as mãos, na intenção de tapar os olhos de Naruto, mas Tenten esbarrou na garota (“acidentalmente”) no momento certo, despejando praticamente todo o conteúdo do copo no vestido - antes impecável -, da ex-futura namorada de Naruto.

“Isso!”, comemorou Sakura, com certo alívio.

Ela e Ino deram um toque de mãos, comemorando o trágico acidente que interrompera aquele momento ridículo e garantira mais de mil chances para Hinata.

O grito histérico de Emiko despertou a atenção dos convidados para si, e o abanar de suas mãos, tal como sua expressão de perplexidade, serviram apenas para que Sakura e Ino gargalhassem. Naruto, que até então estivera conversando animadamente com os amigos, virou-se e deu um pulo para trás, surpreso e assustado com a garota bem atrás de si.

– Ai, como eu sou desastrada! – exclamou Tenten, em um tom exageradamente dramático.

– Sua louca! Esse vestido me custou os olhos da cara! – gritou Emiko, vermelha de raiva, trincando os dentes em fúria.

– E você ficou cega, cherry? – debochou Ino, se encaminhando sorrateiramente para o lado de Tenten, na intenção de defendê-la de um possível “ataque de menininha”.

Vários convidados riram com a ironia, fazendo com que Emiko se voltasse contra eles, cada vez mais irritada com a situação.

– O que é? Se esqueceram de quem eu sou? – Cerrou os punhos e os dentes, imitando perfeitamente um cão raivoso que apenas ladra, mas não morde.

Sakura aproximou-se de Naruto e apertou o braço dele com uma força além do necessário. Sussurrou próxima de seu ouvido, tomando o cuidado de não atrair atenções. De certa forma, o ocorrido com Emiko fora útil duas vezes.

– Vem comigo – a garota puxou o primo, sem dar chances para que o mesmo se defendesse.

Ambos saíram do alcance de serem ouvidos pelos convidados, parando em um conjunto de arbustos bem iluminado. Finalmente, Sakura soltou Naruto e começou a distribuir socos e tapas pelos braços do loiro.

– Ei! – reclamou Naruto, tentando se proteger do ataque repentino. – O que eu fiz?

– Você... Ia... Pedir... Emiko... Em... Namoro! – respondeu ela, pontuando cada palavra com um soco. – Qual é o seu problema?

Naruto elevou as mãos acima da cabeça, em um claro sinal de redenção.

– Era mentira! – confessou, quase desesperado.

Sakura parou por um momento, atordoada, esquecendo-se da fúria anterior. No entanto, ao processar corretamente as palavras do Uzumaki, semicerrou os olhos esmeraldinos, enquanto Naruto recuava alguns passos.

– O quê? – sussurrou entredentes. – E por que mentiu, projeto de idiota bobão? – elevou a voz.

– Para salvar a pele do Teme – suspirou Naruto. Decidiu contar a verdade de uma vez, afinal, aquela sua “mentira construtiva” tinha ido longe demais, rendendo uma grande confusão. – Ele está tendo um lance com a Karin desde o começo do ano. Para poder ficar com ela hoje, o Teme decidiu que você não deveria saber de nada.

– Eu não ligo! – retrucou Sakura, balançando a cabeça em sinal de reprovação. – Mas gostaria que você tivesse dito de uma vez! Pelo menos eu poderia ter arrumado um amante também e sairíamos todos felizes!

Dizendo isso, deu as costas para o primo, retornando para a pista de dança a passos ágeis. Não havia nem sinal de Ino ou Tenten, o que a fez arquear as sobrancelhas, voltando os olhos para todos os cantos. Suspirou, encolhendo os ombros.

Com tudo isso, merecia um pouco de diversão, mesmo que a festa pertencesse à sua arqui-inimiga.

(...)

Sasuke voltava para a pista de dança, quando viu Sakura conversando animadamente com RockLee.

– Ah, finalmente arrumei outro vestido para a Nakamura – resmungou Karin, abraçando o Uchiha pelas costas, despertando-o para o que acontecia ao seu redor. – Vamos continuar de onde paramos?

Sasuke afastou-se de Karin, e a encarou de soslaio.

– Vou embora – disse, com rispidez, dando as costas para a ruiva.

Karin franziu o cenho, atordoada e exasperada com o estranho comportamento do moreno. Avançou alguns passos, tentando equilibrar-se nos saltos finos.

– Quê? Mas... – começou, entretanto, Sasuke já caminhava para a saída, sem nem ao menos olhar para trás.

Ver Sakura naquela festa acabou com o “espírito” de diversão do jovem Uchiha para aquela noite.

Puxou-a pelo braço, e ela o olhou assustada, mas sorria por dentro. Não sabia que Sasuke ficaria tão ofendido por ela estar apenas conversando com um colega. Lee quem a parara, pois Sakura já planejava ir embora.

– O que está fazendo aqui? – perguntou Sasuke, apertando seu braço com força. Ela estava estragando sua festa e seu humor, definitivamente.

– O que? Acha que eu ficaria em casa sem fazer nada enquanto uma festa legal tá rolando? Não seja ingênuo, Sasuke...

– Sakura Haruno, não me provoque. Você pode não aguentar as consequências – ameaçou-a, com seu típico tom arrogante e superior.

– Estou pagando para ver – Sakura falou, com um sorriso provocativo. Com um movimento brusco, soltou seu braço que ele ainda prendia.

Deu-lhe as costas e felizmente, localizou Ino e Tenten juntas, próximas do portão.

– Vocês vão embora? – fitou as amigas, de modo inquisitivo.

– Está brincando? Claro que não! – Tenten abanou uma das mãos em claro sinal de desinteresse, imitando perfeitamente uma patricinha.

– Pode ser a festa da “Vakarin”, mas tá muito... Top! – Ino deu um pulinho, batendo palmas.

– Vamos comemorar nossa vitória! – Sakura riu repentinamente animada. – Contra a Nakamura!

Tenten começou a rir, logo que elas iniciavam o caminho de volta para a pista de dança.

– Ela ficou com muita raiva. – As garotas começaram a gargalhar, divertindo-se com a lembrança do fato. Havia sido realmente hilário.

Ino olhou ao redor, parecendo procurar por alguém. Tenten e Sakura entreolharam-se, mas nada disseram.

– Vou procurar pelo Sai. – murmurou, decidida, saindo sem acrescentar qualquer outra coisa.

Quando estava distante, Tenten soltou um baixo resmungo, cruzando os braços.

– Ela não se toca, mesmo?

Sakura tocou o ombro da morena, sorrindo com solidariedade pelos sentimentos de Ino. Era claro que ela realmente gostava de Sai, portanto não perceberia o que ele era nem se estivesse piscando diante de sua face.

– Ela está cega de amor – disse, sabiamente.

Tenten balançou a cabeça.

– Espero nunca ficar assim – E afastou-se, deixando a rosada para trás. Talvez fora procurar por sua própria diversão, ou por algo interessante que pudesse comentar depois.

Sakura resolveu beber alguma coisa e foi até a mesa de comes e bebes. Pegou uma latinha de energético, e a abriu, distraidamente.

– Você é, com toda certeza, a garota mais bonita da festa – sussurrou uma voz ao pé de seu ouvido.

Virou-se e deu de cara com um ruivo de olhos castanhos. Avaliou-o de soslaio, antes de virar-se, com um sorriso irônico entre os lábios, bebendo mais um gole do energético.

– Você bebeu demais ou tem algum problema de visão? – questionou, arqueando a sobrancelha, cheia de desconfiança.

– Nenhum dos dois. – o ruivo afastou uma franja rósea do rosto da garota. – Sou amigo do Itachi. Sei que você o conhece. – Acrescentou perante o olhar surpreso Haruno.

Uma curta pausa, em que os olhos esmeraldinos de Sakura o avaliaram com atenção. Por fim ela quebrou o silêncio, a música alta servindo apenas de empecilho para uma clara conversa.

– Quem é você? – Sakura estreitou os olhos.

– Sasori. – esclareceu ele, com um sorriso, e a rosada baixou sua guarda. – E moro na república que o Itachi está.

– Sakura – apresentou-se ela, mais tranquila. - O Itachi está bem?

– Ótimo – respondeu Sasori, encarando-a. – Talvez um dia você possa ir a nossa república.

– Talvez um dia – concordou a Haruno, bebendo mais um gole de seu energético.

(...)

– Aquela ali não é a Sakura? – perguntou Kiba, fazendo com que Sasuke ficasse alerta, procurando-a com o olhar.

– Onde?

– Ali, conversando com aquele ruivo. – Apontou para onde eles estavam e então Sasuke a achou.

Parecia animada e envolvida no papo. Isso o incomodou. Não levaria fama de chifrudo de jeito nenhum. Com passos rápidos e punhos cerrados, se dirigiu até ela.

– Temos de ir, amorzinho – a puxou pelo braço, fazendo-a reclamar.

– Ei, ei, calma! Deixa eu me despedir do meu novo amigo. – sorrindo, virou-se para Sasori e beijou sua bochecha. – Tchau, Sasori. Depois a gente se vê. – E com uma piscadela, se deixou ser levada por Sasuke, que a puxava a todo o instante.

Não tinha uma expressão amistosa, e isso deixou Sakura extremamente satisfeita.

Sasuke ligou seu BMW. Dirigiu para longe da mansão de Karin, fazendo o percurso velozmente e em completo silêncio, deixando a rosada com um largo sorriso por dentro. O irritara, e isso valia mais do que qualquer bem material.

– Isso é guerra? – Sasuke parou em frente à casa dos Uchiha, e quebrou o silêncio utilizando seu tom mais calmo, embora este fosse o mais desafiador e irritante.

– Não meu bem. Eu odeio sangue – ironizou Sakura, rindo em seguida.

Sasuke segurou-a pelo queixo com uma das mãos e com a outra, agarrou seus pulsos.

– Você está se divertindo, não é? – o Uchiha se aproximou dela, com um sorriso enviesado, mas que indicava sua raiva.

– Como adivinhou? – A Haruno fingiu surpresa.

Sasuke mordeu o lábio inferior da garota, lentamente. Ela se arrepiou.

– Não tenho vocação para ser chifrudo, rosinha – encarou-a, com seriedade em seu semblante.

– Engraçado, porque estou vendo um chifre começar a crescer bem aqui – Ela soltou uma de suas mãos e tocou a testa do moreno com a ponta dos dedos, sem deixar de encarar seus olhos negros. – Será que a Vakarin está te traindo, amorzinho?

– Não me provoque – Sasuke desceu uma das mãos pela cintura da garota, analisando-a com seus olhos negros. Sakura estremeceu, mas não deixou transparecer. – Ou eu exijo meus direitos como marido e não como noivo.

– E quais seriam os seus direitos? – desafiou-o, em um sussurro, mantendo seus olhos extremamente verdes, fixos nos orbes negros do rapaz.

Sasuke a encarou por longos instantes, igualmente, desafiador. Por fim, puxou-a pela nuca de forma bruta, beijando-a.

Os lábios de ambos se moviam em perfeita sincronia, frios contra quentes. O Uchiha soltou os pulsos da Haruno, que agarrou seus cabelos negros dando leves puxões.

O moreno passou seus lábios pelo pescoço da garota, entrando em contato com sua pele macia. Sakura manteve os olhos fechados, acariciando os cabelos de Sasuke e desfrutando das sensações que estava tendo.

Entretanto, algo trouxe a razão para a garota, que empurrou o Uchiha logo que ele começava a subir seu vestido preto.

– Pare – Sakura se arrumou e colocou a mão no peito de Sasuke, parando-o a distância. – Por favor.

O Uchiha a encarou, com a sobrancelha arqueada.

– Por quê?

A garota baixou os olhos para o próprio colo, pensando em como falar o que estava havendo. Agradeceu pela iluminação ser precária, e sua face corada não ser tão distinguível dentre as sombras.

– Tenho... Tenho que ir – a garota fez menção de sair do veículo, mas Sasuke segurou seu braço, brecando seu movimento.

– Você nunca...? – questionou ele, surpreso.

– Tchau, Sasuke – Ela soltou-se do moreno e saiu do carro.

Já em seu quarto, trancou a porta e foi até sua mochila, cuidadosamente depositada na cadeira da escrivaninha. Abriu-a com os dedos trêmulos e pegou seu caderno de capa preta, sabendo exatamente o que poderia escrever agora.