Reach You – Chegar Até Você escrita por MariCross


Capítulo 8
Falling For You


Notas iniciais do capítulo

Muito boa madrugada às minhas queridas leitoras e aos meus queridos leitores, caso estes (ainda) existam. Depois de ouvir muita reclamação sobre o meu sumiço, eu resolvi voltar. Gente, eu estava aqui, linda e maravilhosamente curtindo minhas férias depois de um fim de semestre mais do que conturbado. Eu jamais tive a intenção de abandonar esta história (sou preguiçosa mas não sou louca)! Mas não se preocupem, aqui estou eu, de volta a ativa. Acho que pelo fato de estar de férias e não ter porra nenhuma para fazer (mentira), o ciclo volta ao normal, então não se preocupem! Eu ainda coloco um fim nesta história neste mês (mais dois ou três capítulos por vir, galera. Talvez até quatro, mas não prometo nada. Se preparem). Enfim, aproveitem a leitura!



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“Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê.”

Luís de Camões

Para um morto, é muito difícil andar pelo mundo dos vivos: Logo para começar, têm-se as memórias bastante limitadas e é quase impossível de se lembrar onde estão as coisas ou onde o próprio morto se encontra naquele momento. Ainda tem o fato de ninguém enxergá-lo, o que dificulta, e muito, pedir uma simples informação. Sem contar com o fato de que a pessoa está morta e isso sozinho já é muito deprimente.

Vocês já devem imaginar que ele estava em uma situação muito complicada, afinal estava perdido. E o pior: estava perdido em um mar de pessoas que caminhavam apressadamente de um lado para outro, esbarrando uma na outras enquanto tentavam alcançar um objetivo do cotidiano, como chegar no trabalho a tempo.

Infelizmente para o nosso querido morto, ninguém poderia lhe dar atenção, até por motivos óbvios, então ele estava simplesmente frustrado. Não sabia para onde ir e já estava perdido demais para se lembrar de como voltar para seu ponto inicial. Acabou até andando em círculos ou em volta de si mesmo. Tentem imaginar o quão desesperado ele estava.

Ele realmente tentou captar algum sinal, por menor que fosse, de alguma pessoa vestida com o uniforme da escola que ele tinha visto na fotografia, mas infelizmente nenhuma viva alma estava usando-o. Ele não pensou que talvez fosse por causa do horário, no qual era o de todas as pessoas normais estarem em aula, mas acho que ele também não se lembrou disso.

Suspirou pesadamente e resolveu sair do meio da multidão, sentando-se em um banquinho afastado enquanto encarava aquela bagunça.

Começou a sentir-se entristecido por ter chegado tão longe, mas ainda parecer muito distante. Era quase como se talvez nunca fosse chegar. Lógico que ele não iria desistir, mas ainda sim estava desanimado.

Existia outro fato que também estava o deixando desanimado: ele não se lembrava de seu próprio nome ou do nome de seu amado. E como aquilo o incomodava... Definitivamente era perturbador não saber (ou não se lembrar) como era chamado em vida. Isso fazia com que ele se sentisse cada vez mais distante do mundo dos vivos.

“Eu não queria partir...” ele pensou deixando uma lágrima solitária rolar. Mas não podia se deprimir mais ainda naquele momento. Tinha que se concentrar e focar-se no que estava fazendo. Enxugou o rosto com as costas da mão e continuou a encarar o mar de pessoas que passava diante de si.

Até que captou alguma coisa.

Definitivamente não era o que estava procurando, mas o fato de estar sendo encarado era algo que chamou a sua atenção.

No meio da multidão, um rapaz que parecia ter a sua idade estava em pé, encarando-o diretamente de maneira séria. Aquilo fez até com que ele estremecesse. Olhou para trás rapidamente, tentando confirmar se era só impressão dele e se o rapaz estava olhando para outra pessoa, mas não tinha nada além de uma árvore atrás de si. Encarou novamente na direção do rapaz e ele continuava lá, observando-o atentamente.

Sentiu um impulso de correr até ele, mas ao mesmo tempo, um medo muito grande, quando o rapaz apontou em sua direção. Como o medo era mais forte, continuou imóvel, respirando lentamente e tentando entender o que estava acontecendo.

“Alguém está realmente me vendo? Mas... Como?” ele se questionou, sem acreditar realmente. “Não... Eu só posso estar enganado...”.

O estranho abaixou a mão que apontava para o rapaz no banco, o encarou por mais um tempo e começou a caminhar para o lado oposto. Aquilo fez que, em um pulo, o morto se levantasse e começasse a caminhar em sua direção, quase instintivamente, como se estivesse hipnotizado.

Teve que passar entre a multidão, e muitas vezes se perdeu no caminhos, mas logo encontrava-o de novo e recomeçava a seguí-lo.

Seguiu o desconhecido por bastante tempo, desde que saíram do meio do mar de pessoas até um parque que ficava ali perto. Simplesmente não sabia o porque estava fazendo aquilo, mas sentia que era o certo a ser feito. Se é que existia certo ou errado quando se está morto.

Ei! Você! – O rapaz chamou, incerto de que o outro poderia escutá-lo.

Resposta alguma veio, e o desconhecido continuou andando. Aquilo fez com que o rapaz parasse e se desse conta do quanto fora uma atitude impensada de seguí-lo e agora estava ainda mais perdido. Aquilo não podia ser pior.

Por que parou de me seguir?

Uma voz atrás de si fez com que ele levasse um susto e virasse para trás rapidamente. Surpreendeu-se ao ver o mesmo rapaz que estava seguindo a momentos atrás, no qual deveria estar agora longe.

Você... Pode me ver...? – Ele murmurou incrédulo.

Se não o visse, não estaria falando aqui com você agora. – O desconhecido respondeu.

Quem é você...?

Isso depende. Para alguns, eu sou o fim, para outros, eu sou apenas o começo. Eu sou o tudo e o nada. Sou o que, um dia, chega para todos indistintamente. – Ele disse com um tom tranquilo, como se aquilo fosse normal.

O rapaz o encarou por alguns segundos, processando aquelas informações, mesmo já sabendo a conclusão que chegaria. Engoliu seco antes de pronunciar seus pensamentos em voz alta.

Você... É a morte...?

Sim, mas você também pode me chamar de Akashi.

. . .

Aomine não poderia se sentir mais envergonhado. Claro que estava, afinal acordara olhando para seu amigo, Kuroko Tetsuya, que dormia tranquilamente ao seu lado. Seus rostos estavam tão próximos que conseguia enxergar cada mínimo detalhe em seu amigo. Os cílios longos azulado encostados na parte superior de suas bochechas, a boca rosada semi-aberta, a ponta avermelhada do nariz, as finas sobrancelhas que expressavam total relaxamento...

De quem foi a ideia de dormimos juntos? Ah, foi minha.” pensou sem saber se realmente conseguia se arrepender de sua decisão. Até porque se eles não dormissem juntos, onde cada um dormiria? Não podia simplesmente deixá-lo em um sofá ou uma cadeira (não seria nada cordial com uma visita), e também não poderia estender um colchão em seu quarto, afinal morava com seus pais, e eles com certeza achariam aquilo muito estranho.

E por mais que aquela cena fosse muito estranha, ele sentia-se extremamente confortável com aquilo. Era quase como se fosse algo natural ou rotineiro.

Inconscientemente, levou a sua mão a face do azulado, aproximando-se um pouco do rapaz enquanto o encarava intensamente. Cada detalhe parecia ser gravado em sua mente como em rolos de filme antigos. Era tudo tão real e ao mesmo tempo não era.

Encarou longamente os orbes azuis que o encaravam de volta. Eram tão grandes e intensos. Quase hipnotizantes. Aomine jurava que se ficasse olhando por muito tempo, ele poderia ser carregado para uma outra dimensão. Mas ele também jurava que ficar olhando para eles o trazia uma sensação de segurança e paz.

Só depois de muito tempo encarando os orbes azuis, Aomine percebeu que Kuroko estava acordado, olhando para ele. Por causa disso, ele se afastou tão rapidamente que perdeu o equilíbrio e caiu da cama, assustando o outro rapaz.

– Aomine-kun, você está bem? – O rapaz disse com seu tom normal, mas seu olhar revelava preocupação.

O moreno agradeceu pela tonalidade de sua pele, já que assim ele poderia corar e esse fato passaria despercebido. Mas outros detalhes em seu comportamento revelavam o quão envergonhado ele estava, como por exemplo sua voz, que afinava vergonhosamente.

– T-Te-Tetsu! Há qua-quanto tempo está a-acordado?! – O rapaz gritou com uma voz fina. Kuroko teve que lutar muito para não rir daquilo, pois sentia que seu amigo ficaria ainda mais sem graça.

– Há alguns minutos. – Ele disse sem dar muita importância – Mas estou confirmando minha teoria que o seu passatempo é me observar, Aomine-kun.

– Eu não estava te observando! Só estava pensando profundamente, não estava realmente te enxergando! – Mentiu descaradamente enquanto tentava se levantar.

– Claro. – Kuroko fingiu acreditar, segurando o riso.

Os dois se aprontaram para a escola (ou melhor, o moreno se aprontou para a escola enquanto Tetsuya esperava por ele), tomaram café da manhã (Daiki tomou café da manhã e o menor ficou olhando) e partiram juntos indo de bicicleta.

– Sabe, você não precisa ir para a aula. – O maior comentou, querendo ter a sorte de não precisar mais ir para a aula. No caso de Tetsuya, ele sabia que era um infortúnio o motivo não poder ir para a escola, mas ainda sim ele não precisava ir.

– Mas eu quero ir. Não é como se eu tivesse algo melhor para fazer no meu dia a dia. – O menor respondeu enquanto tentava se ajeitar no banco de carona na bicicleta – Além do que, você não tem muitos livros na sua casa. Na escola eu tenho a biblioteca.

– Ah, quer matar o segundo tempo na biblioteca? É matemática.

– Até onde me recordo, suas notas não estão tão boas para matar aulas, Aomine-kun.

– E precisa ter notas boas para escapar das aulas? É algum tipo de pré-requisito?

– Aomine-kun deveria se preocupar mais com o futuro.

– Meu futuro é o basquete. Serei um jogar profissional e nunca precisarei estudar matemática novamente. – Resmungou – Aliás, Tetsu. Vamos jogar basquete hoje? Passamos no ginásio ou em uma quadra qualquer depois da aula.

– Só se você prometer que não vamos matar a aula de matemática hoje.

– Claro, claro... – Aomine respondeu cruzando os dedos. Daria um jeito de matar aula e ainda arrastar o amigo com ele. Depois iriam jogar basquete. Com certeza.

Aomine Daiki estava simplesmente determinado a aproveitar cada segundo que tinha com Kuroko, por isso não deixaria nada passar. Obviamente estava pronto para sacrificar suas notas na escola.

Chegando na sala de aula, ambos sentaram-se nos lugares de sempre. O moreno não pode deixar de se sentir aliviado e feliz ao sentir que Kuroko estava ali novamente, perto de si, de onde ele nunca deveria ter saído. Por isso, não podia deixar de olhar por cima do ombro a cada minuto, verificando se ele ainda estava ali. Sentia-se até meio paranóico, mas não importava muito.

– Aomine-kun, você está me assustando. – Kuroko disse depois de várias vezes que viu o moreno olhando para ele por cima do ombro – Tem alguma coisa no meu rosto?

O rapaz preferiu não responder, afinal seu comportamento obviamente era estranho e ele simplesmente não sabia o que responder. E o que ele diria? “Quero ter certeza de que você ainda está aqui”? Aquilo com certeza deixaria o menor triste. Quanto menos lembrasse o rapaz que ele estava morto, melhor.

As aulas estranhamente passaram rapidamente. Assim que viu uma oportunidade, Aomine arrastou o azulado para biblioteca. Primeiramente, Kuroko reclamou com seu amigo, pois daquele jeito ele perderia matérias importantes, mas assim que chegou ao paraíso de livros, ele logo se esqueceu de qualquer coisa. Assim que pisou na ampla sala, o rapaz correu para a seção de Literatura Clássica, sem se preocupar em ser visto. Aomine não tinha essa vantagem, então demorou um pouco mais para chegar onde queria.

Sem perceber, prendeu a respiração quando chegou entre as estantes de Literatura Clássica e Ficção: a visão de um Kuroko concentrado devorando algum livro era tão nostálgica e especial que ele ficou imediatamente... emocionado. Inconscientemente, um sorriso brotou em sua face, o que era incomum. Teve que ficar observando aquela cena por algum tempo, como se quisesse queimá-la em sua memória para que nunca mais saísse.

– Aomine-kun, você tem certeza que isso não é um hobby? – Kuroko de repente se pronunciou sem tirar os olhos do livro que estava lendo, arrancando o moreno de seus pensamentos.

– Hobby? Do que está falando? – O maior questionou, ainda um pouco distraído.

– Me observar. Você faz isso bastante, sabe? – O tom provocativo era evidente. O azulado até deixou escapar um de seus raros sorrisos.

– Calado, já disse que isso é impressão sua. – Talvez o moreno fosse considerado um tsundere por isso, então resolveu mudar de assunto – O que está lendo?

– Memórias Póstumas de Brás Cubas. – Respondeu passando uma página.

– É sobre...? – Disse tentando espionar o conteúdo das páginas por cima.

– Um morto contando sua história “miserável”. O autor é muito bom e o personagem principal é bastante ácido e sarcástico. Aprecio muito essa história. – Kuroko deu os ombros, agora fechando o livro e encarando o amigo – Não quer se sentar?

Aomine nem respondeu e deslizou as costas na estante, caindo ao lado do amigo. Os dois ficaram em um silêncio confortável, cada qual olhando para frente, sem realmente estarem se sentindo desconfortáveis com a presença um do outro. Aquilo na verdade era bem normal de acontecer e era um dos motivos no qual o moreno adorava a companhia de Tetsuya: ela era relaxante e não havia a necessidade de trocar palavras.

De repente, o menor encostou sua cabeça no ombro do maior e simplesmente dormiu. Aomine não pode deixar de corar violentamente, já que foi pego de surpresa. Até pensou em acordá-lo, mas quando olhou para a face completamente relaxada de seu amigo enquanto cochilava, ele simplesmente não teve coragem de fazê-lo.

Aomine se perguntava como ele conseguia tocar Kuroko ou como só ele o enxergava. Era algo que para ele ainda não estava claro. “Talvez Kami-sama tenha feito isso porque eu não tenho medo de fantasmas. Imagine se aquele Bakagami fosse o único que pudesse vê-lo? Tetsu com certeza ficaria abandonado para sempre...” Pensou ao lembrar de várias cenas em que Kagami gritava de medo ao ver um filme de terror. Mas ainda sim, nada estava explicado.

Desistiu de pensar sobre o assunto, sentindo-se um pouco cansado. Encostou a cabeça na estante, fechando os olhos e inspirando profundamente. Naquele momento, antes de ser embalado pelo sono, ele podia jurar que sentiu o cheiro suave de baunilha.

. . .

– Kuroko-kun, você voltou!

Aomine não pode deixar de se sentir mais do que irritado ao ouvir a voz de Sakurai Ryou. Não importava se ele era um dos motivos de Tetsuya estar agora ao seu lado, a companhia dele continuava sendo uma pedra no sapato para o moreno. Ainda mais quando ele queria aproveitar o tempo com seu amigo sozinho e ele ficava rodeando o azulado.

– Sim, estou de volta, Sakurai-kun. Espero não tê-lo preocupado. – Kuroko era, como sempre, muito educado e gentil com o rapaz, e aquilo tirava o maior do sério.

– Oe, Sakurai. Tem algum assunto importante a ser tratado por aqui? – “Se não, pode ir embora” Aomine completou mentalmente.

– De-desculpe-me, Aomine-san! Eu não queria atrapalhar, só queria ver se você estava bem! Um verme como eu... Por favor, perdoe-me! – Disse o moreno fazendo várias e pequenas reverências, com os olhos marejados.

– Pare de implicar com ele, Aomine-kun. Não vê que ele tem boas intenções? – Imediatamente o menor repreendeu o comportamento de seu amigo, que apenas fez uma careta de reprovação – E também não fique se colocando tão para baixo assim, Sakurai-kun.

– Desculpe-me, Kuroko-kun.

– Está tudo bem. E o que acha de ir jogar basquete conosco agora? Estávamos indo para o ginásio agora... – O menor deu um pequeno sorriso ao rapaz, que fez com que todos a sua volta corassem. Aquela era, com certeza, uma visão rara e extremamente revigorante.

Sakurai pensou seriamente em dizer sim, afinal queria obviamente passar mais tempo com Tetsuya, mas ao notar que Aomine estava o encarando com um olhar quase mortal, pensou duas vezes e recusou o convite do azulado.

– De-devo recusar o convite, desculpe-se! Eu tenho... Uma consulta no dentista! Desculpe! – Disse dando mais uma vez rápidas reverências com os olhos cheios d'água.

– Não é para tanto, Sakurai-kun... – Kuroko não pode deixar de se sentir desconfortável.

Assim que se acalmou um pouco, o moreno se despediu dos dois rapazes e saiu de cena. Ao longe, ele observou as duas figuras com uma expressão preocupada. Obviamente estava feliz que eles voltaram a ser amigos e que Daiki não abandonara Tetsuya, mas ainda não sabia se aquilo era certo. Imaginava que, quando o azulado partisse, era muito provável que o maior não reagiria bem.

Eles não podem se esquecer de que pertencem a mundos diferentes.” refletiu um pouco triste. Por mais que ele tentasse olhar para algum lado positivo, Sakurai só conseguia enxergar tristeza para um futuro próximo. Ele sabia que os dois sofreriam muito e também sabia que nada poderia ser feito a respeito disso.

. . .

– Foi um bom jogo. – Aomine disse sem pensar muito.

– Claro, o seu jogo contra o ar deve ter sido ótimo. – Kuroko respondeu imediatamente, sentindo-se mau humorado – Pena que eu não consegui nem tocar na bola.

– Ora, vamos! Você fez uma cesta, Tetsu. Às vezes nem Kagami consegue.

– Aomine-kun é, além de egocêntrico, mentiroso. E eu só fiz a cesta porque você me ajudou que nem da última vez! – O azulado respondeu claramente irritado, o que fez Aomine rir um pouco – E comparado a quantidade de cestas que você fez, isso não tem valor algum.

– Mas foi divertido, certo? – Disse com um sorriso de orelha a orelha.

– Se o seu significado para diversão é ficar correndo de um lado para o outro em uma quadra, então foi muito divertido. – Kuroko respondeu friamente, mas logo acompanhou o maior em uma risada baixa.

Os dois seguiram seu percurso para casa conversando sobre assuntos variados, desde jogadores de basquete a autores dos clássicos da literatura. Riram, se divertiram, argumentaram, brigaram e voltaram a rir novamente, assim como deveria ser.

Aomine pensou em como sentiria falta daqueles momentos quando o menor partisse. Por mais que quisesse aproveitar cada segundo que tivesse ao lado do menor, ele não podia deixar de pensar que aquilo era apenas temporário e que, um dia, ele não poderia mais vê-lo. Eram naqueles momentos que o rapaz deixava que uma onda de tristeza o abatesse, arrancando-lhe o sorriso da face.

– Oe, Tetsu... – O moreno disse com um tom mais sério, chamando a atenção do outro – Por que você acha que ainda está aqui? Não que eu quero que você vá embora, mas eu sempre imaginei que depois da vida vinha algo como um céu, um Nirvana, ou sei lá.

– Não sei, Aomine-kun. – Respondeu o menor, ficando imediatamente sério e melancólico – Talvez eu ainda esteja aqui por algo que ainda precise ser terminado para partir e descansar em paz...

– Como assim? – O moreno perguntou obviamente confuso.

– Eu li uma vez em um livro que quando uma pessoa tem assuntos pendentes neste plano, ela jamais poderá partir até que estejam resolvidos.

– Assunto pendente? E você tem alguma ideia do que seja?

– Não tenho nem metade das minhas memórias então seria difícil saber o que estaria faltando para partir. Mas sinceramente, não estou com pressa. – Disse com um sorriso fraco.

– E nem precisa ter. – Dizendo aquilo, o maior passou o braço pelo pescoço do menor e o puxou mais para perto de si – Gosto muito da sua companhia. – Aomine abriu um sorriso de orelha a orelha para o amigo.

– Aomine-kun sabe dizer coisas muito embaraçosas às vezes. – Kuroko disse tentando de livrar dos braços musculosos do maior.

– Idiota, eu só falo a verdade. Não tem nada de embaraçoso nisso. – A face de Aomine estava tão vermelha quanto um tomate e aquilo não passou despercebido – Mas bem que você podia ficar para sempre, Tetsu... – Completou baixinho.

– Ahn? Você disse alguma coisa? – O menor perguntou de maneira inocente.

– Não, eu não disse nada. – Aomine deu o assunto como encerrado, virando o rosto para que o menor não visse mais seu rosto com o tom avermelhado. Era demais para seu ego aguentar.

– Ah, Aomine-kun, veja.

Chamando a atenção do maior, ele apontou o dedo para a distância. O rapaz logo seguiu com os olhos a direção na qual Tetsuya apontava e percebeu que tinha uma figura observando-os. Ou melhor, uma figura canina de porte pequeno.

– É... Um cachorro. E daí? – O maior perguntou confuso.

– Os olhos, Aomine-kun!

Foi aí que Daiki percebeu do que ele estava falando. Eram olhos grandes e azuis, daqueles que pareciam escanear sua alma. Quase hipnotizantes. “Onde eu já vi olhos assim?” indagou-se mentalmente, mas não precisou de muito tempo para perceber, só precisou olhar para o lado. Eram idênticos aos olhos de seu amigo, Kuroko Tetsuya.

Espera aí...” Aomine lembrou-se da conversa que ambos tiveram no dia anterior, assim que entraram em sua casa.

“– Você tinha um cachorro? Como eu nunca soube disso? – Disse rindo.

É que... Eu só me lembrei disso agora. Mas eu lembro que diziam que ele se parecia comigo. Pelo menos os olhos.”

– Tetsu... Aquele não é o seu cachorro?! – Ele gritou, assustando o menor – Que coincidência mais estranha e assustadora... – O maior deixou escapar.

– É muito provável que seja ele mesmo, Aomine-kun. Acho que o nome dele é... Ni... Nig-Nigou! – Ele disse com um sorriso no rosto ao recuperar uma memória.

Assim que Kuroko disse seu nome, o cachorro correu na direção dos rapazes e ficou cheirando e pulando em cima de ambos, fazendo festa para eles.

– Ele se lembra de você, Tetsu. – Aomine disse com um sorriso no rosto enquanto acariciava o pelo do cachorro gentilmente.

– Nigou!

O grito de uma mulher chamou a atenção dos dois. Uma senhora baixa de cabelos azuis longos corria em direção ao cachorro, que agora parecia arrependido de algo.

– Nigou! Eu corri atrás de você pela cidade toda! Nunca mais faça isso, cãozinho mau! – Ela gritou com o cão, que abaixara as orelhas e recebia o sermão sem nem ao menos se mover – Perdoe-me, espero que ele não tenha te dado trabalho. – Ela sorriu para ele.

– Sem problemas, senhora. Ele só veio me cumprimentar. – Aomine sorriu de volta, imaginando o porquê daquele sorriso ser tão familiar.

Kuroko estava paralisado. Ele sabia exatamente quem ela era, por isso não pode impedir que uma lágrima solitária rolasse por seu rosto.

– Mãe...


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Notas finais do capítulo

Eu sei o que vocês estão pensando: "cacete, essa autora some por mais de um mês e vem com esse capítulo ruim?! Que insulto!". Eu sei que está uma merda. Mas tenho motivos: 1. Bloqueio criativo. Essa é geralmente a fase que eu não aguento mais escrever uma história e tenho a tendência ruim de abandonar. Então perseverei em ReachYou, mas saiu isso que vocês estão vendo. 2. Este capítulo antecede coisas ruins: Já ouviram aquele ditado "Antes da tempestade vem a calmaria"? Pois é. Criei exatamente o clima da calmaria. Então se preparem pois a tempestade está chegando. A intensidade dos próximos capítulos serão tremendas, então por favor, contenham o choro para o fim.
Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, ideias novas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, dicas de beleza (das quais estou necessitada), me mandar pro inferno, falar que está com vontade de morrer, de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a disposição de vocês, leitoras e leitores.
Espero os remanescentes para o próximo capítulo! RAWR~ Até o próximo! Com carinho,
—MC