Reach You – Chegar Até Você escrita por MariCross


Capítulo 7
Coming Back To You


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, queridas leitoras e queridos leitores. Do Canadá para o Brasil, bonitos: Estou falando (escrevendo) diretamente de Montreal, mandando para vocês, meus queridos brasileiros, mais um capítulo emocionante. Eu realmente espero que vocês gostem deste capítulo, no qual eu criei com tanto carinho e ANTECEDÊNCIA. Gente, senti até orgulho de mim mesma: Eu geralmente começo e termino o capítulo um dia antes da postagem. Desta vez, eu fui distribuindo cada cena por dias. Foi mágico. Exatamente por isso, sem reclamações sobre este capítulo. USSUAHUAS Brinks, bonitos. Comentem como quiser, se comentar vocês quiserem. Aproveitem o capítulo e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/481969/chapter/7

“...O mundo está nas mãos daqueles que tem a coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos...”

Paulo Coelho

Se alguém perguntasse a ele naquele exato momento de suas memórias em vida, era provável sair decepcionado, pois ele se lembrava muito pouco. Ele não se lembrava da escola, na qual passava horas e horas dos seus dias; ele não se lembrava dos pais, que sempre estavam com ele quando ele precisava; ele não se lembrava do rosto de seu amado, cujo sorriso iluminava as suas manhãs, tardes e noites.

Não. Ele realmente não se lembrava de nada disso, o que o frustrava bastante. Mas o pouco que se lembrava, já era necessário: tudo o que sentia ou sentiu estava gravado em sua memória e talvez nunca fosse embora. Ele se recordava de cada sentimento que teve com seu amado, e isso era o necessário.

Mas ele também se lembrava de algumas coisas além de sensações, e uma delas era o caminho de casa. O que não deveria ser estranho, já que era algo que fazia parte da sua rotina, mas o fato de não se lembrar dos pais e do amado fazia com que algo como lembrar do caminho de casa se tornasse um fato, no mínimo, curioso.

Por esse motivo, percorria a rua em silêncio, perdido em seus pensamentos e memórias, nas quais tentava de todo jeito recuperar. Toda a fadiga e cansaso de seu corpo sumira completamente e fora substituída por sono. Era exatamente por isso que estava sendo tão difícil pensar.

Não imaginava ter que ver sua rua vazia daquele jeito, mas supôs que os pequenos estavam na escola e os maiores estavam a trabalhar naquele momento. Imaginou o que seus pais estariam fazendo naquele momento.

Quando chegou em frente a sua casa, no final da rua, um sentimento nostálgico o envolveu instantaneamente. Abriu um pequeno, mas significativo sorriso e sussurrou para si mesmo “Estou em casa”. Aproximou-se da porta e tentou tocar a maçaneta, mas percebeu que seus dedos simplesmente passavam através dela. Por lógica, pensou que seu corpo também fosse assim, e passou pela porta de entrada com se ela não estivesse ali.

O interior de sua casa parecia estar do mesmo jeito do pouco que se lembrava. O carpete longo por todo o chão, com a pequena mancha roxa desbotada perto do sofá grande, mesa de centro e televisão pequena. Lembrou-se que ele mesmo causara aquela mancha numa noite de Natal, que parecia longínqua, na qual derrubara suco de uva, fingindo que era vinho para assustar os pais. Riu repentinamente com a lembrança. Percebendo que a casa estava vazia, deixou-se adentrar sem medo.

Aproximou-se do aparador enconstado na parede e observou os vários porta-retratos empoeirados, finalmente recordando-se dos rostos carinhosos de seus pais, que sorriam para ele nas fotos. Em algumas o casal aparecia sozinho, abraçados ou se beijando (o que rendeu uma expressão enojada do rapaz), e em outras ele aparecia. Ou com os pais, ou sozinho, ou com os amigos. Ficou se perguntando se esses amigos sentiam sua falta.

Abandonou a visão das fotografias e caminhou pela casa. Todas as portas estavam abertas, menos uma ao fundo. Supôs que era a de seu quarto, e foi para que foi.

Novamente, atravessou a porta como se ela não estivesse ali, e adentrou seu antigo quarto, surpreendendo-se com o fato que ele estava inctato. Deixaram-no praticamente igual de como ele o vira da última vez. Claro que tinha algo a mais ali, mas ele bem que imaginou que aquilo estaria ali.

No cantou do quarto, estava um pequeno móvel, como um armário, que tinha a sua foto no centro e alguns incensos apagados. Uma flor branca ainda cheia de vida estava encostada nele, indicando que alguém prestara suas homenagens recentemente a ele. Imaginara se fora seu amado, mas não poderia ter certeza.

Sentiu-se imediatamente triste, mas tentou não chorar, até porque ele sabia que seria daquele jeito. Ele sabia que não poderia desfazer o que já fora feito. Ele sabia que não poderia ir contra o curso natural da vida. Nada poderia ser feito quando o assunto era morrer. Por isso não se dava o direito de derramar uma lágrima sequer.

Mas ele ainda tinha uma última coisa a fazer antes de partir.

Começou a procurar em seu quarto por algo que poderia levá-lo a encontrar seu amado uma última vez, e foi aí que viu, em cima da escrivaninha, um porta-retrato empoeirado, mas ainda conseguia ver a foto que ele escondia. Era quase impossível não reparar ou reconhecer o enorme e brilhante sorriso de seu amado.

Foi quase como se uma onda de nostalgia tivesse o atingido e ele se sentisse naturalmente bem. Naturalmente feliz. Na imagem os dois estavam um do lado do outro, risonhos, cada qual com um dos braços passando pelo pescoço do outro, mantendo uma proximidade na qual podia-se ver de longe que eram amigos íntimos.

Não pode deixar de abrir o sorriso, como se estivesse sorrindo de volta para ele. Infelizmente, não pode admirar a imagem por muito tempo, exatamente porque tempo era algo precioso a ser gasto com cuidado. Por isso, ele tinha que correr e descobrir como achar o seu amado.

A resposta estava na própria fotografia, em que eles usavam uniformes da escola que ele costumava a frequentar. Gravou-a bem na memória e logo deixou a casa, sabendo que aquela seria a última vez que pisaria ali novamente.

. . .

Ele já estava ficando sem fôlego, mas simplesmente não conseguia parar de correr. Era como se suas pernas estivessem em um modo automático e se recusassem a obedecer qualquer ordem de descanso. Era como se caso parassem por um instante, o mundo iria parar.

E talvez fosse mesmo, mas ele não sabia dizer. O que ele sabia é que queria chegar o mais rápido possível no telhado e vê-lo. Apenas vê-lo ali, esperando por ele, seria o suficiente.

Sentia-se culpado, mas Aomine ignorava aquele sentimento naquele momento, concentrando-se apenas em chegar. Não saberia o que fazer quando lá estivesse e provavelmente ficariam em um silêncio no mínimo contrangedor, mas aquilo não importava.

E se ele não estiver mais lá?” sua mente gritava para ele.

Eu preciso ver com meus próprios olhos e só assim estarei satisfeito!” ele gritava de volta mentalmente.

E o que dirá para ele? O que tem a ser dito?” repetia-se em gritos, ecoando por sua cabeça.

Não sei, eu apenas quero vê-lo.” novamente respondia para si mesmo.

Deixe-o, está morto. Enterre o passado.” aquele impactante frase ecoava dentro de si.

Ele é meu amigo, meu companheiro. Isso é o que importa.” Daiki encerrou ali seu monólogo com aquela simples frase. As palavras 'amigo' e 'companheiro' podiam não ser as que melhor representavam seus sentimentos, mas como ele não sabia se explicar, eram elas que lhe cabiam.

Subiu as tão conhecidas e familiares escadarias que levavam ao telhado de maneira eufórica, como outrora fizera. Mas dessa vez, era diferente. Tinha de ser diferente.

Quando abriu a porta, sentiu-se decepcionado a não ver nada além do céu azul aberto, que antes era acolhedor, mas agora parecia zombar do rapaz. Encarou onde o telhado terminava, envolto pela grade de proteção alta, sem enxergar nada.

– Tetsu...? – Chamou pelo amigo de maneira baixa e indecisa. Em resposta, o silêncio se vez presente, o que não podia ser um bom sinal.

Lembrou-se que, quanto queria, o rapaz podia ser muito difícil de ser encontrado, o que necessitava de uma maior concentração. Exatamente por isso, Aomine vasculhou o terreno com calma e muita atenção, passando minutos parado, simplesmente observando.

Foi aí que avistou a cabeleira azul clara. Quase que aquela aparição escapou-lhe, mas sentiu-se aliaviado ao notar que seu amigo ainda estava ali. Infelizmente, aquele momento não durou muito quando ele notou onde o dono das madeixas azuis estava.

Do lado externo da grade de proteção.

Aomine predeu a respiração quando viu o rapaz dar mais um passo, deixando seu corpo cair precipício abaixo. Correu para a grade e tentou observar o térreo, procurando por algum sinal de Kuroko. “Ele não pode morrer de novo, pode?!” foi o que se passou pela cabeça de Aomine, mas ele logo rejeitou a ideia quando ouviu um choro quase mudo vindo detrás de si.

Virou-se e reparou o mesmo corpo, que a segundos atrás estava em plena queda livre, se encolher todo no chão, como se estivesse se fechando para o mundo. Não conseguia ver o rosto do amigo, mas só aquela visão já era simplesmente triste demais.

Aproximou-se cautelosamente, tentando não assustar o azulado, e quando já estava perto o bastante, agachou-se ao lado dele e pousou a mão em seu ombro delicamente, como se estivesse tocando em uma peça de cristal que pudesse se quebrar a qualquer momento.

– Tetsu, você está me ouvindo? – Ele chamou o rapaz novamente, mas nada veio do rapaz – Por favor, fale comigo.

– Vá embora. – A voz do azulado saiu abafada e trêmula em resposta.

– Eu não vou te deixar... De novo. – Completou segundos depois, lembrando-se de suas últimas ações. Podia até não parecer muito confiante em suas palavras por causa disso.

– Não importa mais, eu não pertenço ao seu mundo.

– Mas eu quero ter você ao meu lado, Tetsu. Olhe para mim, por favor. – A voz de Aomine agora tinha um leve tom de desespero.

– Viva a sua vida em paz e me deixe aqui, por favor.

– Eu já disse que não vou te deixar! – Aomine pegou bruscamente os braços do rapaz e o levantou sem muita dificuldade, e pela primeira vez pôde observar o rosto do amigo contorcido de tristeza, enquanto lágrimas incessantes rolavam pelo seu rosto. Não conseguiu não sentir culpa por ele estar naquele estado.

– O que você quer de mim? Tudo aquilo que você disse não já foi o suficiente? – Kuroko disse baixinho, entre soluços.

– Eu quero ficar com você! Eu quero te ajudar! Eu... Não sei o que eu quero, mas eu não posso te deixar sozinho! – A mente do moreno estava simplesmente uma bagunça.

– Por que você está fazendo isso? – A voz dele saiu rouca e ainda mais baixa.

– Porque você é importante para mim. E eu estava errado. Estava com medo. – Preferiu não comentar que seu orgulho também o impediu várias vezes – Mas não mais. Eu quero estar ao seu lado.

– Eu estou morto e não consigo encontrar o meu caminho. Você ainda tem uma vida, não precisa ficar comigo. – Kuroko tentava rebater o que Aomine dizia, ainda chorando.

– Preciso sim. E estarei do seu lado até você partir. – Ele abraçou o menor – Eu não vou mais te abandonar, Tetsu.

– Mas uma hora eu irei te abandonar. – O azulado tentou empurrar o maior, porém ele era muito mais forte.

– E um dia eu irei te reencontrar. – Aomine respondeu afundando o rosto no ombro do meno.

Os dois ficaram finalmente em silêncio, cada qual ouvindo apenas a respiração do outro. O moreno pôde notar que a respiração de Kuroko, que geralmente era leve e compassada, agora estava descontrolada e pesada, mas ainda sim quase inaudível. O azulado pôde notar as batidas do coração de Aomine, algo que ele mesmo descobrira não ter, que estavam aceleradas. Aquilo fez com que ele se sentisse um pouco mais vivo. Mais de volta ao mundo.

Kuroko não se sentia mais sozinho, porque ele tinha Aomine. E só ele bastava para preencer qualquer vazio. Sorriu minimamente com aquele pensamento e abraçou o moreno de volta.

– Quanto tempo se passou desde aquele dia...? – Aomine se perguntou, falou alto inconscientemente.

– Não sei... – Kuroko deu os ombros, admitindo com uma voz fraca – Talvez umas três semanas.

– É... Deve ter sido nessa faixa. – O maior concordou, tentando fazer as contas – Não me recordo, esse período parece estar em branco na minha memória. – Admitiu.

– Para mim ele foi negro. – O menor admitiu lembrando-se de algumas coisas que aconteceram. As várias vezes que ele se jogou do prédio, as perambulações pelo colégio de noite, as horas sentado na cadeira de Aomine enquanto chorava, após o término das aulas... Tudo aquilo parecia cravado nele, mas agora parecia um pouco mais suave, como se fosse uma cicatriz antiga. Claramente ele não falaria nada do que aconteceu para o moreno.

– Para onde você vai quando a escola fecha? – O moreno perguntou com um tom preocupado.

– Eu fico aqui. Eu sempre ficava, mas eu não me lembrava disso. – O menor admitiu.

– Então a partir de hoje, você vai comigo para a minha casa. – Disse sem pensar.

– O que? Claro que não. Eu não posso. – Kuroko disse, claramente envergonhado com o convite repentino.

– Eu não vou mais te deixar sozinho, Tetsu. Você vai comigo. – Dizendo aquilo, apertou o corpo do menor contra o seu ainda mais forte. Sentia que a qualquer momento, o azulado lhe escaparia entre os dedos, e aquele pensamento o deixava cada vez mais sem ar.

Em resposta o menor apenas balançou a cabeça positivamente, sem nada dizer, mas ainda sorrindo levemente e deixando que uma lágrima solitária escorresse por seu rosto. Desta vez, ela era de felicidade.

. . .

Estavam parados em frente ao portão da escola, incertos de qual seria o próximo passo, por mais óbvio que ele fosse. Eles sabiam que, naquele momento, eles deviam seguir para a casa de Aomine, mas nenhum dos dois parecia querer dar o primeiro passo.

Tetsuya queria ir, mas estava com medo: Medo da rejeição, medo de se perder, medo de desaparecer, medo de que tudo aquilo não fosse verdade... Chegava quase a tremer, mas a mão do maior envolvendo a sua fazia com que seus temores diminuíssem e acalmassem seu coração.

Daiki queria ir, mas estava com vergonha. Era engraçado como o motivo dele era tão superficial em comparação com o do menor, mas ainda era válido: Estava com vergonha de levar o azulado para a sua casa, para o seu quarto. Era algo íntimo demais. Taiga ganhou aquele privilégio com mais de um ano de convivência, e ainda foi para lá contra a vontade do menor. Satsuki também foi um caso parecido. As únicas pessoas que tinha acesso direto ao quarto de Daiki, além dele mesmo, eram a mãe e o pai, mas para eles o rapaz não podia simplesmente negar a entrada.

Encarou o menor por um tempo, esperando que ele desse o primeiro passo, mas percebeu que quem teria que fazer isso era ele se quisesse sair dali algum dia. Até porque teria que guiar o caminho. Apertou a mão do amigo, deixando suas inseguranças de lado, e finalmente movendo-se em direção ao seu lar.

Até a metade, o caminho foi silencioso, mas nenhum dos dois parecia incomodado com a falta de diálogo. Pareciam até mais confortáveis daquele jeito. Mas não porque não queriam falar um com o outro, era porque simplesmente não sabiam o que falar. Era como se aquelas semanas de separação deixaram um estranhamento na relação dos dois, mas aquilo provavelmente tinha reparo.

“Tenho que compensar por essas semanas que eu o fiz sentir-se sozinho.” Aomine pensou sentindo o peso da culpa, encarando o menor de soslaio.

Reparou um pouco na figura a seu lado, percebendo coisas em Tetsuya que talvez nunca tinha visto (ou melhor, percebido): a suavidade de suas passadas davam a impressão de que ele estivesse flutuando; sua pele clara não refletia a luz como devia, e ao invés disso, passava por ela, fazendo com ele parecesse transparente, se é que ele não era; o seu toque era suave e sua mão era bastante macia. Ficou imaginando se ele conseguia atravessar paredes e outras objetos sólidos, já que ele parecia até bem consistente.

– Aomine-kun, eu estou ficando sem graça. – O menor disse, arrancando o moreno de seus pensamentos muito profundos.

Nem percebera que começara a encarar o amigo intensamente, quase o engolindo com os olhos. Quando notara, claramente ficou vermelho como um tomate, virando para frente e tentando fingir que nada acontecera.

– Você costumava fazer isso muito. – Kuroko disse, quebrando o silêncio novamente.

– O que? – Perguntou com uma voz mais aguda que o normal.

– Me observar. – Ele riu suavemente com a reação do amigo, que ficou ainda mais vermelho – Devo ser um objeto muito interessante para atrair sua atenção.

– E-eu não fico te observando. Deve ser impressão sua. – Forçou uma tosse para camuflar o embaraçamento, o que não adiantou muito.

– Claro... – Tetsuya sorriu – A cena de agora pouco também foi minha impressão?

– N-não sei do que vocês está falando! – Pigarreou – Então, o que você fez nessas últimas semanas? – Disse tentando mudar de assunto.

Logo se arrependeu em ter feito isso, porque teve que observar o sorriso de seu amigo sumir e a sombra da tristeza tomar sua expressão. Aquilo foi um golpe certeiro para Aomine. Tetsuya ainda tentou disfarçar, forçando-se a sorrir, mas este era carregado de lembranças infelizes.

– Não precisa falar sobre isso, se não quiser... – Corrigiu-se.

– Então prefiro não falar. – O menor disse, baixando o olhar.

– Eu senti sua falta nessas semanas, Tetsu.

Aquele comentário pegou o menor de surpresa e fez com que ele encarasse o amigo um pouco confuso. Aomine não conseguia olhar para ele, porque estava com um pouco de vergonha de ter falado aquilo, mas ele estava sendo sincero.

– Eu não quis admitir primeiramente. – Admitiu dando os ombros – Até evitei fazer qualquer coisa que me lembrasse você, lugares que frequentei com você, livros que lemos juntos... Acho que eu evitei até a quadra de basquete.

Kuroko encarava Aomine com atenção e total foco, tentando não perder cada palavra.

– Mas eu percebi que, meio que inconscientemente, meus passos e ações me levavam até você. Quando percebia, meus pensamentos estavam girando em torno de você, minhas pernas me levavam até os lugares que me lembravam de você, meus olhos procuravam por você. – Aomine nunca se sentiu tão sincero, e achou que nunca ia ficar quieto.

– Aomine-kun...

– Me desculpe por ter te magoado, Tetsu. Me desculpe por ter te deixado. Eu quero compensar o tempo que perdi, então deixe-me ficar ao seu lado.

Disse tudo aquilo olhando para frente, estranhamente sério. Mas aquilo tudo era verdade e aqueles momentos vindos de Aomine Daiki eram extremamente raros. Ficou em silêncio por um tempo, esperando alguma reação do rapaz, algum comentário, mas nada veio. Aquilo o obrigou a olhar na direção do amigo, fazendo-o surpreender-se com o que viu.

O rosto de Tetsuya estava inexpressivo como usualmente, mas lágrimas incessantemente escorriam por seu rosto.

– Tetsu?! – Aomine esclamou sem saber o que fazer ou falar – Porque está chorando?! Está sentindo dor ou algo assim? – Aquilo era uma pergunta um pouco idiota, até porque ele achava que quem estava morto não podia sentir mais dor, certo? Não que ele estivesse pensando naquilo.

Kuroko levou a mão ao rosto, tocando delicamente a face e finalmente notando que estava molhado. Pôs-se a secá-las rapidamente com as costas da mão.

– Ah... Eu estava começando a me perguntar porque minha visão estava começando a ficar embaçada...

– Mas... Você está bem, certo? – Aomine perguntou preocupado.

– Estou... Acho que só estou feliz. – Sorriu minimamente.

– Idiota, não se chora de felicidade. – Respondeu aliviado, batendo levemente nas costas do menor.

– Claro que se chora de felicidade, assim como se chora de tristeza, já que são sentimentos muito fortes. Você nunca faz isso, Aomine-kun?

– Obviamente não. Eu sou homem, e homem que é homem não chora. – Ele disse com convicção.

– Então gostaria de saber o que eu sou... – Kuroko disse, achando graça naquela frase.

– Você... Ah, não sei. Só sei que eu não choro. – Disse com uma carranca. Não era bem mentira, já que raramente fazia. Mais do que raro, ele quase nunca fazia isso. A última vez que chorara, bem... Ele não contava aquilo como choro, porque podia ser sono e uma lágrima caiu. E só. Então continuava intacto o fato de que ele não chorava.

– Aposto que você é daquele pessoas que diz que jamais derrama uma só lágrima, mas é só assistir um filme com cachorrinhos que já vira uma cachoeira. – Começou a provocar.

– Então pode apostar. Quando chegarmos em casa, assistiremos o filme que você quiser. Quem chorar primeiro, perde. – Aomine finalmente riu.

– Interessante... Então eu quero o filme “Sempre Ao Seu Lado”. Quero ver se você aguenta.

A menção ao filme, que já fazia um tempo desde que fora lançado, fez com que uma pergunta surgisse subitamente na mente do maior. “Desde quando Tetsuya está morto?” ficou imaginando. Aquilo era algo que ainda não tinha passado por sua mente, mas talvez pudesse ver mais ou menos baseando-se em seus conhecimentos sobre filmes novos.

Ia começar um questionário sobre os novos filmes que iam aparecer nos cinemas, mas antes de começar, percebeu que chegara em casa. Teria que deixar aquela conversa para depois.

– Ah... Bem vindo a minha casa, Tetsu. – Disse se dirigindo a porta de entrada. Kuroko observou a construção de maneira curiosa, lembrando-se da sua própria casa, que por sinal era bem menor.

– Você mora com seus pais? – Perguntou seguindo seu anfitrião.

– Moro, mas eles quase nunca param em casa. Meu pai é professor em uma universidade e a minha mãe... Bem... Eu não sei muito bem o que ela faz, mas ela viaja bastante. – Falou casualmente enquanto procurava as chaves no bolso da calça – E o que os seus pais fazem? – “Ou faziam” completou mentalmente.

– Hm... Eu não lembro muito bem, para falar a verdade. – Kuroko parecia ter dificuldade para se lembrar de algumas coisas – Mas eu lembro que eu morava com meu pai, minha mãe e minha avó.

– Ah... Do que mais você lembra? – Abriu a porta e adentrou a casa, deixando seus sapatos na entrada, sendo seguido pelo azulado.

– Eu lembro da minha casa, mas não do caminho para chegar até lá. – Respondeu pensativo – Eu também lembro de um cachorro.

– Você tinha um cachorro? Como eu nunca soube disso? – Disse rindo.

– É que... Eu só me lembrei disso agora. Mas eu lembro que diziam que ele se parecia comigo. Pelo menos os olhos. – Kuroko dizia aquilo prestando atenção na casa simples e aconchegante – Sua casa é muito bonita.

– Ah, obrigado. – Daiki disse, surpreso com o comentário repentino – Meu quarto fica no segundo andar. Vem, eu te levo lá.

Subiram as escadas e, atravessando o corredor, chegaram ao quarto do rapaz. Antes que Tetsuya pudesse acessá-lo, Daiki se posicionou na frente dele, impedindo a passagem.

– Aomine-kun...? – Kuroko o encarou um pouco confuso.

– Ahn... E-Eu preciso verificar se está seguro. – Ele respondeu com um tom um pouco inseguro e embaraçado. O azulado apenas levantou uma sobrancelha, idagando-se o que significava “seguro” para o maior – Não entre antes que eu diga que está tudo bem.

Dito aquilo, Aomine entrou primeiro no quarto, batendo a porta na cara do menor, esquecendo-se de trancar. Kuroko não entendeu muito bem o porque daquela atitude e colocou o ouvido na porta para ouvir o que estava acontecendo. Escutou alguns barulhos de objetos caindo no chão e móveis batendo um no outro.

Não pode conter a curiosidade e vagarosamente abriu a porta, entendendo o porque Daiki entrara primeiro: O quarto estava uma bagunça. Tudo que era possível de se imaginar estava espalhado no chão, desde revistas com conteúdo levemente pornográfico e livros de poesia recomendos pelo menor, até cartuchos de videogames e latinhas de refrigerantes. A cama estava desarrumada e tinha uma pilha de roupas ali. A escrivaninha estava cheia de coisas aleatórias e algumas até não-identificáveis.

Kuroko obviamente só podia rir daquela cena: Era um quarto de um adolescente normal, qual era a vergonha naquilo. Adentrou o quarto silenciosamente, sentou-se na cama e ficou observando o amigo enquanto ele tentava empurrar as coisas dentro do armário desesperadamente.

– Sabe, o meu quarto também era bagunçado, então não precisa ter vergonha.

A reação exagerada do rapaz ao levar um susto enorme fez com que Kuroko lutasse demais para não rir: Ele literalmente caiu para trás, com uma face aterrorizada.

– Tetsu! Você quer me matar do coração?! – Aomine gritou, sentindo que ia desmaiar.

– Aomine-kun apenas se desacostumou com isso. Devo ajudá-lo a voltar ao normal. – Disse de forma provocativa.

– Ora seu...!

Aquilo foi o suficiente para se iniciar uma guerra de travesseiros que parecia duradoura. Se alguém observasse aquela cena, diria que Aomine Daiki era louco e mandaria interná-lo, pois não havia ninguém ali. Mas eu e você sabemos, caro leitor, que Kuroko Tetsuya estava ali, rindo e se divertindo com seu mais que melhor amigo.

Talvez, naquele momento em diante, as estranhezas entre os dois sumiram completamente. Mesmo tendo consciência de que Tetsuya não pertencia mais àquele, Daiki queria aproveitar cada segundo com ele, e que cada um ficasse intensamente gravado em sua memória.

A partir dali, ele decidiu que ajudaria Tetsuya a encontrar seu caminho, mas ele estaria com ele até o final. Ele estaria ali para dizer adeus. Por mais doloroso que fosse.

E foi assim que deu-se início a estadia de Kuroko Tetsuya, um morto, na casa de Aomine Daiki, um vivo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostaado! Nhe!
Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, ideias novas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, dicas de beleza (as quais estou necessitada), me mandar pro inferno, falar que está com vontade de morrer, de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a disposição de vocês, leitoras e leitores.
AAH! EU ESQUECI DE CONTAR >>> Gente, talvez eu vá postar uma omake (um capítulo extra). Basta saber se será sexta, sábado, ou no final da história.
Ah, sim. Acho que faltam uns três ou quatro capítulos para essa história acabar. Preparem-se emocionalmente, pls.
Espero os remanescentes para o próximo capítulo! RAWR~
—MC