Reach You – Chegar Até Você escrita por MariCross


Capítulo 6
Missing You


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, caras leitoras e caros leitores. Eu sei o que devem estar pensando (ou não): Que raios de horário é esse para fazer uma postagem? Você está quebrando seu ciclo?
A resposta é não. Veja bem, ainda estamos na quinta-feira, so no harm done. Infelizmente não consegui completar a história ontem devido à grande quantidade de trabalhos para entregar e provas para estudar. Mas algumas muitas horas não matam ninguém, certo? Espero que não.
Aproveitem o novo capítulo que eu fiz com tanto amor e carinho. Boa leitura!



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“O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz-se – basta a simples reflexão”.

Machado de Assis

Ele estava cansado, mas não conseguia parar. Até porque, parecia que estava em uma corrida contra o tempo. Sendo assim não poderia nem ao menos recuperar o fôlego, por mais que todo o seu corpo implorasse por uma pausa.

O que estava acontecendo era que desde que começara a nadar em direção à luz, a massa negra abaixo de si começara a ficar mais e mais perto dele, como se quisesse toma-lo contra sua própria vontade, envolvendo-o com as sombras da inconsciência.

Frustrou-se várias e várias vezes por não conseguir fazer com que suas pernas fossem mais rápidas, ou que seus braços não alcançassem o mais longe. Às vezes, sentia até que estava se movimentando em câmera lenta. Talvez até estivesse, mas não tinha forças para aumentar o ritmo, apenas para mantê-lo, o que já era difícil.

Aceitar a morte é muito fácil, mas lutar contra ela é lutar com uma dama muito experiente. E essa experiência equivalem a milênios. O rapaz nem ao menos completara os seus dezoito anos, então estava indo muito bem para um iniciante. Não que aquilo o animasse, mas mantinha um certo nível de motivação nele.

Entre uma braçada e outra, sentia a massa negra chegando cada vez mais perto e via a luz se afastando cada vez mais. Aquilo o deixou até um pouco irritado por saber que, por mais que tentasse, talvez nunca chegaria aonde queria.

Talvez irritação não o definisse, mas desespero. O puro desespero encoberto pela raiva.

Subitamente, começou a forçar ainda mais os movimentos, sabendo que aquilo acabaria com toda a sua força. Mas ele não se importava: ele só precisava tentar.

Mais um pouco.

Só mais um pouco.

Tão perto...

Seus olhos se fecharam quando sentiu sua mão tocar algo: uma fina camada transparente, uma parede que o impedia de chegar a luz. Sentia que poderia quebrá-la, mas não sabia se tinha força para tanto. Tentaria de qualquer jeito: talvez aquilo fosse a sua única chance de escapar.

Com o mínimo de energia que lhe restava, ele socou com as duas mãos a camada, que demonstrou ser mais grossa do que ele pensava, até elas sangrarem. Pelo menos, ouviu o barulho de algo se rachando, e aquilo foi o suficiente para continuar.

A cada soco, a cada rachadura, sua esperança aumentava. Não poderia parar.

Foi aí que sentiu a camada se quebrando e seu braço passando através dela. Em questão de segundos, abrira um buraco suficientemente grande para passar todo o seu corpo.

Finalmente, submergiu. E aquilo deixara-o confuso.

Quando abriu os olhos, percebeu que não estava mais no vazio incolor, mas agora estava em um lugar muito colorido. Mas era uma paisagem familiar.

Estava dentro de um lago fundo, de onde podia ver de longe uma floresta, algumas casas e, por cima de si, uma ponte. Lembrava-se daquele lugar, porque era perto de sua casa.

Eu estou de volta.” pensou deixando um sorriso escapar.

. . .

Tédio. Puro e simples tédio, mas este vindo acompanhado de algum sentimento obscuro que não podia ser nomeado. Aomine suspirava e bocejava o dia inteiro. Nada chamava o seu interesse, e as aulas, que já eram maçantes, tornaram-se simplesmente insuportáveis.

Não sabia quantas semanas tinham se passado desde aquele incidente no telhado acontecera. Podem ter sido uma semana ou vários meses, mas ele realmente não tinha certeza. A única coisa que tinha certeza era que estava evitando botar os pés nos lugares que lembravam o rapaz de cabelos azuis, como a biblioteca, o telhado, os jardins da escola, e às vezes até o ginásio... Exatamente por causa disso, tornara-se difícil matar as aulas.

Para a carteira atrás de si, ele nunca olhava. Ele sentia que se olhasse, estaria encarando um cadáver, e a ideia em nada o agradava.

Durante aquele tempo, o rapaz isolara-se completamente. Recusava qualquer contato com Taiga ou Satsuki, que estavam bastante preocupados. Falando nisso, ele pedira para a menina não comentar nada com o ruivo sobre o que acontecera no ginásio. Ela parecia estar cumprindo sua palavra, mas aquilo não acamava sua preocupação e só aumentava a de Kagami.

Estava também evitando aparecer nos treinos de basquete, aqueles que eram tão esperados por ele durante os dias normais de aula. Basquete parecia deixá-lo ainda mais irritado ao invés de distrai-lo como usualmente.

Ouviu o sinal tocando, anunciando o término de mais uma aula e o início do intervalo, o que o pegou de surpresa. O tempo parecia passar rápido e ao devagar. O seu estado parecia até um pouco surreal, fora daquele mundo estranho.

Observou seus colegas saindo da sala, sem fazer nenhum movimento para acompanhá-los. Estava bem sozinho e pretendia continuar assim.

Sentiu o celular vibrando em seu bolso, anunciando uma nova mensagem, mas questionou-se se era o caso de verificar. Não queria ter que falar com ninguém naquele momento, porém também não queria que a outra pessoa ficasse esperando horas por uma resposta. Ele mesmo detestava quando aquilo acontecia. Então, por pura pena, resolveu dar uma olhada.

Você está sumido. Aconteceu alguma coisa? Momo está preocupada. -KT” era o que estava na mensagem. Aomine deixou escapar um sorriso, porque sabia que quem estava mais preocupado era o próprio remetente, Kagami Taiga, que era muito orgulhoso para admitir isso. Respondeu rapidamente um “Estou OK.” e desligou o celular. Não queria ter que conversar sobre aquilo com o amigo, por mais que confiasse nele. Estava com medo de ser chamado de louco.

Infelizmente, seu próximo passo era sair da sala, pois sabia que o ruivo correria para falar com ele quando percebesse que o celular do moreno estava desligado e tentaria tomar algumas satisfações.

E era aquilo que Aomine estava evitando ao máximo.

Levantou-se de sua cadeira e caminhou em direção a porta da frente em silêncio. Não sabia para onde iria, só sabia que estava andando por ai.

Estranhamente enquanto caminhava, algumas memórias inoportunas invadiam-lhe a mente, deixando-o extremamente irritado. A cada lugar que passava, algo o lembrava dele, e um sentimento de pura melancolia tomava conta de si. Não gostava daquilo, porque fazia-o sentir-se culpado por algo que não fizera.

Queria nunca tê-lo conhecido.” era o que mais passava por sua cabeça nos últimos dias. Arrependia-se de pensar daquele forma momentos depois, mas logo tomava o seu arrependimento e a raiva voltava. Teve crises de consciência várias e várias vezes. Chegou a chorar até. O que era estranho, porque ele jamais chorava. Podia contar nos dedos quando alguma lágrima caiu, mas ainda sim tinha boas justificativas.

O fato era que ele estava completamente perdido. Ele simplesmente não sabia o que fazer. Sentia-se com raiva, mas ao mesmo tempo triste e profundamente magoado. Culpava Tetsuya, culpava Taiga, culpava Satsuki, culpava os professores, culpava o sistema... Mas acima de tudo, culpava a si mesmo. Sobre o que estava se culpando, nem ele mesmo tinha certeza. Talvez de ter se apegado demais ao azulado, talvez por sentir sua falta...

Eu não sinto falta dele. Eu não preciso dele.” dizia para si mesmo várias e várias vezes. “Ele está morto e também não precisa de mim.”.

Foi aí que percebeu para onde suas pernas haviam o guiado: estava em frente a porta que dava para a escadaria que levava-o ao telhado. Sentiu seu coração apertar e sua respiração ficar descompassada. Socou e chutou a porta subitamente, várias e várias vezes, sentindo seus punhos ficarem doloridos. Não sabia o porque fizera aquilo, mas sentia raiva de si mesmo. Muita raiva.

Saiu correndo dali, sem olhar para trás. Precisava ir para longe dali.

Correra com a mente em branco, evitando pensar em qualquer coisa. Nem percebera quando chegara nos jardins da escola, sentindo o calor invadir seu corpo. Respirou fundo várias vezes, tentando acalmar-se. Não conseguia, porque existia uma pequena tempestade dentro de si que não queria se aquietar. Aquilo só conseguia deixá-lo ainda mais nervoso.

Naquele momento, algo chamou-lhe a atenção: O som de risadas. Mas não eram aquelas risadas de algo que seja engraçado, eram aquelas de que revelam pura maldade e más intenções, nas quais te dão calafrios na espinhas. E o pior: elas eram seguidas de gemidos de dor.

Aomine já preparava-se para ir embora, afinal queria evitar confusões, mas algo o parou, como se num dejávu.

Um Tetsuya imaginário o pegava pelo braço de dizia com uma voz longuinqua, porém firme “Não, Aomine-kun. Nós temos que ajudar aquela pessoa agora. Já pode estar muito machucada. Pode até ser tarde demais.”. Quase que inconscientemente, o rapaz respondeu de volta “Isso não é problema meu”.

O azulado de sua imaginação o encarava com sua expressão vazia, mas os olhos repletos de profunda tristeza e decepção. Aquilo era simplesmente demais para o rapaz, que estalou a língua com uma expressão de derrota, e foi atrás dos delinquentes.

Seguindo o som, foi fácil achá-los: Não muito longe dali, encostado na parede, estava o mesmo grupo de típicos valentões que Aomine encontrara da última vez. Nem preciso dizer que a vítima era novamente a mesma, e que ela se desculpava enquanto os rapazes a espancavam e desferiam chutes aleatoriamente.

– Oe! Parem com isso agora mesmo! – O maior gritou, enquanto aproximava-se do grupo.

Dessa vez, para a infelicidade do rapaz, o grupo não se assustou e saiu correndo como da última vez, mas entenderam aquela aproximação como algum tipo de desafio e se viraram para lutar contra o moreno. Eram quatro contra apenas um.

Para a infelicidade do grupo, Aomine era muito mais forte do que todos juntos e, o pior, ele estava com muita raiva. Então aquela foi uma ótima maneira de estravazar. Aquilo lhe causou algumas poucas hematomas, mas o estrago que ele causou no grupo foi consideravelmente maior, e em poucos minutos eles bateram em retirada, deixando o herói e a vítima sozinhos.

– Você só sabe causar problemas... – Aomine disse estalando o pescoço depois do exercício.

– Desculpe... – Sakurai olhava para o maior ainda um pouco nervoso.

– Só fique quieto. Não quero ouvir desculpas agora, por favor. – Disse aquilo sentando-se ao lado do menor, sem olhar em sua direção – Você está bem?

– Desculpe... – Sussurrou – Eu estou bem, você chegou bem na hora, Aomine-kun. Agradeço muito. – O rapaz sorriu de leve.

Os dois caíram no silêncio, o que era algo muito anormal. Mas se contar que não se viam há semanas (desde o incidente no telhado), talvez explicasse um pouco do estranhamento. Felizmente, não demorou muito para quebrar aquela mudez.

– Isso tem acontecido com frequência? – Aomine perguntou.

– Sim... Eles sempre me pegam no início dos intervalos e no final das aulas... Desculpe-me pelo trabalho. – Disse baixando a cabeça.

– Porque não pede ajuda? – Ele disse sentindo-se um pouco culpado por não ter ajudado das outras vezes. Não que ele pudesse ter feito algo, mas sentia-se mal pelo rapaz, por mais irritante que ele conseguisse ser.

– N-Não... Um verme como eu não m-merece ajuda... Desculpe-me... – Ele deu um sorriso torto para o maior, o que o deixou possesso.

– Jamais fale assim de si mesmo. É assim que aqueles caras encontram motivos para te bater. – Aquilo soou irritado, mas a reação de Sakurai foi uma cara surpresa seguida por uma leve risada – Do que está rindo?!

– Desculpe-me, mas por um instante você pareceu o Kuroko-kun... – Sakurai disse tentando conter o riso – Aliás, ele não está com você hoje. – Observou, procurando por alguns sinal da cabeleira azul clara.

Daiki instantaneamente sentiu-se mal: Se ficara triste ao saber que enxergara um fantasma, imagine como uma pessoa sensível como Sakurai reagiria. Talvez começaria a se desculpar para o nada, mas Aomine ainda sim decidiu não falar.

– Acho que o Tetsu não vai mais voltar... – Disse evitando olhar nos olhos do moreno.

– Ah... Espero que ele tenha encontrado o caminho para a luz, né? Tomara que não tenha sofrido muito... – O rapaz respondeu pensativo.

– É, tem razão... – Aomine concordou cabisbaixo.

“Espera aí... 'Caminho para a luz'...?” o maior refletiu um pouco sobre aquelas palavras e a ficha demorou um pouco para cair. Mas quando caiu...

…Ele não poderia estar mais surpreso.

– Sakurai... Você sabia que o Tetsu...? – Não conseguiu terminar a frase, e ficou encarando o menor, incrédulo.

– …Que ele estava morto? Claro. – Sakurai simplesmente, como se não fosse nada de mais.

Na mesma hora, Aomine tomou o rapaz pelo colarinho, encarando-o intensamente com seus olhos em chamas, fazendo o menor se encolher e começar a pedir dez desculpas a cada segundo, mesmo não sabendo o que tinha feito.

– Porque você não falou nada?! – O maior berrou, sem conseguir conter sua fúria.

– Desculpe-me! Eu achei que você soubesse! Desculpe, desculpe! – Com uma voz fina e não usual, o menor respondeu, mostrando-se completamente desesperado.

– E ele sabia disso?! – Aomine continuava berrando.

– Não sabia! Eu achei que você estava ajudando-o a aceitar o fato! Desculpa, desculpa! – Sakurai disse à beira do choro.

– Como você tem certeza de que ele não sabia?!

– Desculpa! Eu jogava indiretas para ele para ver se ele respondia, mas ele não parecia entender.

Tetsu realmente não sabia...” Aomine pensou naquilo, soltando o rapaz e sentindo-se extremamente culpado. Lembrou-se do incidente no telhado, lembrou-se que o chamara de mentiroso e que o enganara aquele tempo todo. Só agora sentia um pouco do peso de suas palavras e o quanto elas foram cruéis.

– Aomine...San...? – O menor, ainda tremendo, chamou pelo rapaz.

– Desculpe-me, Sakurai. Eu não queria...

– Quando você descobriu, Aomine-san? – Toda a expressão do rapaz mudara completamente: estava mais séria e sóbria, talvez um pouco preocupada. Nem parecia ser o Sakurai.

– Acho que há uma duas ou três semanas... – O maior respondeu dando os ombros. Ele não tinha certeza para falar a verdade.

– E... como foi a sua reação?

– Eu briguei com ele e disse coisas... ruins.

– Que tipo de coisas ruins? – Ele insistiu.

– Eu não quero falar sobre isso. – Aomine disse, mantendo seu orgulho.

– Aomine-san... Você percebe o quanto você pode ter magoado ele e como ele deve estar agora?

Aquelas palavras atingiram-no em cheio. Desde o incidente, ele só pensara em como estava se sentindo, em como estava triste, ou como queria isolar-se de tudo. Em hora nenhuma parara para refletir o quanto aquela situação afetou o pequeno Tetsuya.

– Eu... Não tinha pensado nisso... – Ele disse sinceramente, sentindo o peso do mundo sobre seus ombros.

– Eu sei que não... Mas acho que todas as pessoas reagem assim quando a morte está envolvida. – Sorriu de maneira que Aomine pudesse se sentir menos culpado.

– Como... Você via o Tetsu...? – O maior perguntou subitamente, lembrando-se que não o questionara sobre aquilo.

– Eu... Meio que vejo essas coisas desde pequeno... Almas, sabe? – Ele disse coçando a parte de trás do pescoço. Não parecia ser um assunto que lhe agradasse muito – Minha mãe diz que eu deveria ajudá-las a encontrar o caminho certo, mas eu não quero me envolver...

– E-Entendo... – Aomine respondeu, mas para dizer a verdade, ele realmente não entendia.

– Ah... Eu Tenho que ir... Desculpe-me. – Sakurai respondeu levantando-se subitamente.

– Aonde vai?

– Enfermaria. É melhor tratar desses machucados antes que fiquem feios... – Ele concluiu olhando para as marcas por todos o seu corpo, algumas delas já arroxeadas.

– Quer que eu te acompanhe?

– Não, obrigado. Vou ficar bem. – Ele sorriu, envergonhado – Mas quero que você reflita um pouco sobre o Kuroko-san e o que vai fazer sobre ele.

– Ele já deve ter partido dessa para uma melhor... – Aomine disse, um pouco inseguro.

– Eu espero que tenha... Porque, se ainda não foi, ele deve estar sofrendo muito...

Dizendo aquilo, Sakurai partiu, deixando o maior encarando o vazio, com sua mente a mil por hora, ainda mais confuso sobre o seu estado de espírito do que quando chegara para conversar.

. . .

– Eu acho que vai chover pregos...

A frase, carregada de sarcasmo, saía de ninguém mais, ninguém menos, que Kagami Taiga, que agora encarava surpreso o moreno enquanto ele fazia arremessos em direção à cesta e errava todos, sem exceção. Podiam chegar perto, mas em nenhuma vez a bola entrou.

– O que você quer, Bakagami? – Aomine gritou para o rapaz enquanto fazia outro arremesso que não adentrava o aro. E daquela vez, ele passara longe.

– Nada... Só estou aqui observando essa performance miserável. – Ele disse rindo sarcasticamente – Além do que, faz um tempo que você não aparece... E ainda aparecer em um dia sem treino... É só raro. Por isso repito: Choverá pregos no final desta tarde.

Ignorando o comentário, pegou outra bola no carrinho ao seu lado e a arremessou, vendo-a bater no aro e voltar quicando para o seu pé. Tentou novamente fazer com que a bola entrasse, mas não deu certo, e ela bateu novamente no aro e quicou agora até o pé do ruivo.

Ele a pegou e caminho quicando ela até o centro da quadra do ginásio da escola, onde agora Aomine estava.

– Vamos jogar um mano a mano. – Kagami disse. Aquilo não era uma pergunta se o maior queria, era uma afirmação de que ele iria participar, querendo ou não.

– E se eu não quiser? – Pegou outra bola e arremessou em direção ao aro, errando novamente.

– Eu vou julgar que você está com medo de perder.

Aquele era realmente um ponto sensível para o maior. Ele detestava ser subestimado e também detestava o fato de que Kagami o conhecia tão bem. Aquilo simplesmente o irritava demais.

Por isso, ele obviamente aceitou.

Os dois jogaram por horas, sem parar. Corriam de um lado para o outro na quadra, completamente absortos no jogo, ignorando qualquer problema do mundo lá fora. Por um momento, Aomine esqueceu até que estava triste e confuso, e que fora para lá para pensar um pouco.

Mas às vezes, o que precisamos é exatamente não pensar.

No final, os dois caíram exaustos no centro da quadra, com a respiração pesada e seus corpos ensopados de suor. O placar a muito não estava sendo contado, mas o resultado era, como sempre, óbvio: Aomine ganhara, com muitos e muitos pontos na frente. As vezes que Taiga derrotara o amigo o amigo podiam ser contadas em uma mão, enquanto as vezes que os dois jogaram um contra o outro eram realmente incontáveis durante aqueles três anos de amizade.

– E eu... Achando que finalmente... Ia ganhar de você, me aproveitando... Desse seu estado de espírito... Miserável... – Taiga comentou entre uma puxada de ar e outra.

– Vai sonhando... – Respondeu rindo um pouco. Sentia que não fazia aquilo há muito tempo.

Desde que brigara com Tetsuya.

Seu sorriso desaparecera tão rápido quanto chegara, e ele mergulhou em um silêncio pensativo. Aquilo não passou despercebido pelo ruivo, que finalmente decidiu quebrar o silêncio.

– Então... Qual é o problema? – Disse aquilo com um tom relaxado, mostrando que o maior podia contar com ele sem se preocupar.

– Eu estou assim há um tempo. Por que perguntar só agora? – Respondeu friamente.

– Não me entenda mal, eu já tinha percebido como você estava diferente nessas últimas semanas, mas preferi não falar nada e te dar um pouco de tempo e espaço para pensar. Como você deve ter percebido, eu te dei bastante tempo e espaço, já que pensar não é algo que você faça com muita frequência. – O rapaz lutou para não rir com o próprio comentário.

– Tem certeza de que não está falando de si mesmo, Bakagami? – O moreno rebateu quase imediatamente, cuspindo cada palavra – Eu penso até demais.

– Então transforme esses milhões de pensamentos em palavras e desembuche de uma vez, Ahomine. – Levantou-se em um pulo e estendeu a mão para o amigo, que a pegou um pouco relutante.

Assim que estavam de pé, um encarando o outro, o maior percebeu que não sabia o que falar, ou o que estava o assombrando aquele tempo todo. Então soltou para ele a primeira coisa que lhe ocorreu.

– Kagami, você acredita em fantasmas e coisas sobrenaturais? – Disse um pouco sério.

– Bastardo... Você sabe que eu não gosto de filmes de terror, então nem comece. – Num ato muito maduro, o ruivo tampou os ouvidos e encolheu os ombros.

Talvez Aomine era um dos poucos que sabiam sobre esse pequeno detalhe na personalidade do tigre. E ele tinha que admitir que era muito engraçado ver um cara grande e musculoso como Kagami gritando e chorando como uma criança pequena ao assistir filmes que davam o mínimo de susto. Era simplesmente algo para se rir o dia inteiro.

Mas o assunto realmente não era aquele!

– Não, seu idiota. Eu não estou falando disso! – Retirou a mão do amigo dos ouvidos e o fez olhar em seus olhos azuis escurecidos – Eu estou falando de pessoas que morreram mas não conseguem encontrar caminha para o Nirvana ou sei lá. Ficam flutuando por aí, sem saber o que fazer...

– S-Sei... – Kagami se ajeitou rapidamente, sentindo seu rosto queimar de embaraçamento por causa da cena que tinha feito – N-Não acredito m-muito... Por que? É algo coisa relacionada com o...

– Não, ele não tem nada a ver com isso. Eu já superei esse fato. – Aomine cortou o rapaz na hora antes que ouvisse certo nome – E se eu te falasse que eu vi um?

– Você... Viu um? – O rosto do ruivo estava numa mistura de incredulidade e confusão, porque esperava ter ouvido errado – Você viu uma alma penada...?

– É uma situação hipotética. – Adotou uma postura defensiva quase imediatamente.

– Claro... Hipotética. – Taiga logo ficou mais relaxado, mas ainda estava um pouco desconfiado – Isso é algum tipo de crise existencial? Não sabia que você era tão profundo.

– Eu te falei que eu penso muito. – Disse dando os ombros.

– Okay, voltemos a situação hipotética: Tá, você viu uma pessoa morta. E daí?

– Se fosse você, o que faria? – Aomine perguntou sério.

– Eu? Faria o que qualquer pessoa normal faria: Sair correndo, gritando e me internaria de uma vez. – Respondeu como se aquilo fosse óbvio.

– E se ao invés de simplesmente enlouquecer, você ficasse muito magoado e irritado com aquilo?

– Isso aconteceu com você na situação hipotética? – Kagami precisou confirmar.

– Sim. Aconteceu comigo na situação hipotética. – Aomine revirou os olhos.

– Bom, isso só pode significar que essa pessoa é importante, certo?

O moreno piscou várias e várias vezes, sem saber o que dizer, mas com sua mente a mil. Kagami estava certo: Tetsuya era uma pessoa importante para ele. Ele era seu amigo, seu companheiro, seu... “Céus, como eu não percebi isso antes?”.

– Então... o fato de que o meu comportamento esteja melancólico e irritadiço é porque... Eu sinto falta dessa pessoa? – Balbuciou, quase como se fosse uma criança.

– Hipoteticamente falando? – Tentou confirmar novamente.

– Porra, Kagami! Claro que é hipoteticamente falando! Para de interromper o meu momento de descobertas! – Gritou repentinamente, sentindo-se mais do que irritado e assustando um pouco o amigo. O ruivo conseguia tirá-lo do sério tão facilmente que era algo impressionante.

– Desculpa...? – Respondeu sem saber o que mais dizer.

– Ah... Não, tudo bem. Eu só... Acho que eu deveria agora ver uma pessoa.

– Tetsu? – Foi o nome que saiu dos lábios do ruivo, que agora sorriam como um menino travesso.

– É... – Aomine só pôde sorrir em resposta.

– Eu bem que imaginei que vocês tinham brigado, mas não nunca imaginei que você faria analogias tão profundas envolvendo morte e vida. – Kagami deu os ombros, e Aomine realmente não ia corrigir suas interpretações – Acho que você vai futuramente viver de Filosofia.

– Vai sonhando...

Sem se despedir do amigo, Aomine correu para longe do ginásio, com uma única rota em sua mente. Só esperava que ele ainda estivesse lá.


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Notas finais do capítulo

Eu estou tão cansada que estou com preguiça de falar aqui com vocês...
Mas não se preocupem, semana que vem a postagem vai ser no horário de sempre, para aqueles que ficam de mimimi (caso existam, o que eu duvido muito).
Espero que tenham gostado do capítulo! Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, ideias novas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, me mandar pro inferno, falar que está com vontade de morrer, de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a disposição de vocês, leitoras e leitores.
Então até o próximo capítulo, meus caros leitores e leitoras. Aguardo os remanescentes para a próxima semana.
Com muito carinho,
—MC