Reach You – Chegar Até Você escrita por MariCross


Capítulo 5
Distancing Myself From You


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada caros leitores. Como uma autora muito responsável, cá estou eu novamente, quase três da manhã, postando mais um capítulo para vocês. Espero que aproveitem a leitura. Este capítulo é um pouco dramático e, a partir daqui, só tem isso. Então... Espero que estejam preparados se quiserem continuar, porque eu creio que ela talvez não tenha um final feliz. Estão avisados.
Boa leitura.



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“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos...”

Pablo Picasso

Daiki não sabia para onde olhar, então seu orbes voavam de Satsuki para Tetsuya repetidas vezes, de maneira nervosa e confusa. Não sabia o que pensar, muito menos o que falar, e aquilo o deixava tonto. O silêncio pesado engolia o lugar e o clima agora era tenso.

– Melhor parar com essa brincadeira, Dai-chan. Eu estou começando a ficar assustada. – A menina quebrou o silêncio dando uma risada nervosa, mas seus olhos que agora escaneavam todo o ginásio revelavam medo e preocupação.

Aquilo fez com que o moreno engolisse seco e começasse a suar frio. Ele enxergava o rapaz sem problemas, mas por que ela não? Era como se ele não estivesse ali ou nem ao menos existisse. Em vários momentos chegou a questionar a visão da menina, o que poderia ser quase uma heresia quando se tratava de Momoi Satsuki.

Finalmente deixou o seu olhar pousar no azulado e percebeu o quanto o rapaz estava perturbado. Seus olhos corriam de Daiki para Satsuki e de Satsuki para suas próprias mão, como se estivessem prontas para desaparecer de um momento para o outro. Quando concluiu que tudo estava normal, encarou o maior com um misto de confusão, preocupação e tristeza, como se questionasse “o que está acontecendo?”. Aomine infelizmente não saberia como lhe responder.

– Dai-chan! Por favor! O que está acontecendo?! – Finalmente a menina começou a tremer e sua voz agora só demonstrava medo – Pare de tentar me assustar, isso não tem graça!

– Eu não estou brincando, Satsuki! Se tem algo errado com os seus olhos, não me culpe! – Ele exasperou em resposta à reação da amiga.

– Aomine-kun... – O azulado tentou falar, mas sua voz ficara presa na garganta.

O fato de pessoas não o verem por sua falta de presença não era novidade e Kuroko já se acostumara àquilo. Mas nunca teve problemas para ser notado quando queria. Por isso estava começando a ficar assustado: A menina realmente não o via.

– Tetsu... Fale com ela, por favor. – Insistiu o moreno. Ele simplesmente se recusava a aceitar que aquela cena estava acontecendo. Com certeza, a rosada só podia estar brincando. Isso mesmo, uma brincadeira entre ela, Kagami e Kuroko, que estavam lhe pregando uma peça como punição por ele ser possessivo demais e não tê-los apresentado antes. Só podia ser isso.

– Eu... – Ele novamente tentou falar, mas não conseguiu.

Sem muito o que fazer, Daiki começou a caminhar na direção do menor, que instintivamente dava pequenos para trás a cada vez que o outro tentava chegar perto. Sua postura estava tensa e defensiva, como se estivesse pronto para enfrentar algum perigo de frente. Mas ao contrário do que sua linguagem corporal dizia, suas ações seguintes foram, em movimentos rápidos e precisos, correr para o mais longe possível dali, numa direção oposta à Aomine, e desaparecer nos vestiários.

– Tetsu! – Ele tentou correr atrás do amigo, mas suas pernas pareciam incapazes de fazer qualquer movimento para alcançá-lo.

Ele não sabia porque, mas tremia enquanto sentia calafrios passando por seu corpo. Sua respiração ficou acelerada, assim como os batimentos cardíacos. Suava frio. Engoliu seco.

Precisava se acalmar. Precisava sair dali.

Andou apressadamente rumo a porta do ginásio, passando reto pela menina de cabelos róseos que várias e várias vezes gritou pelo seu nome. Mas ele simplesmente não escutava.

De dentro do vestiário para fora do ginásio, Kuroko corria o mais rápido que podia. Para onde, ele não sabia, mas ele procurava por respostas.

Infelizmente, ele as encontrou cedo demais.

. . .

Na manhã seguinte, Kuroko não apareceu na aula. Aomine vez ou outra olhava para a cadeira vazia do rapaz, com certa esperança de se deparar com o rapaz lendo algum livro ou dormindo, como geralmente fazia. Imaginou até ele lhe dizendo que estava ali o tempo todo, como já acontecera várias e várias vezes. Infelizmente, ele não estava lá.

O rapaz suspirou pesadamente, enquanto encarava o quadro da aula com bastante desinteresse. Geralmente ele já não tinha muita paciência para as aulas, e naquele dia tudo parecia pior devido a noite mal dormida.

Sim, mal dormida: Aomine Daiki, que simplesmente morria ao invés de dormir, teve a primeira noite de insônia em sua curta vida. Nem ele mesmo acreditava, afinal será que o acontecimento do dia anterior era para realmente ser levado tão a sério?

Pensando sobre isso novamente, ele não entendeu a reação do amigo: Por que correr? Era só ter falado com Momoi que ela com certeza o veria, certo? Talvez o sol estivesse batendo no rosto dela ou a menina não estava enxergando direito.

“Falando em Satsuki, ela não está falando comigo...” Daiki recordou-se de que quando tentou falar com ela naquela manhã, ela o evitara. Taiga parecia não saber de nada, só disse por mensagem que a namorada estava agindo de maneira estranha e perguntou se o moreno sabia de algo. Em resposta, o rapaz mentiu que não estava sabendo de nada.

Vez ou outra, olhava para o quadro para se lembrar em que aula estava e como aquilo o deixava entediado. Talvez se Kuroko estivesse ali, o tempo passaria mais rápido.

Novamente, estava pensando do rapaz e lembrando de suas reações. A cada momento, ele se recordava no rosto do amigo se contorcendo de confusão e medo, de sua postura tensa e defensiva, de sua figura correndo na direção oposta a ele. Aquilo estranhamente o deixava triste demais. E com certeza precisava ter uma conversa séria com Kuroko.

Seguindo a linha de pensamentos, não percebeu quando a aula acabou. E quando percebeu, a sala estava vazia e só restara ele e o professor, que arrumava seu material tranquilamente, indiferente à presença do aluno.

Olhou para o relógio e percebeu que já era hora do primeiro intervalo. “Por quanto tempo eu fiquei voando?” pensou o rapaz, preparando para sair de sala.

Quando estava prestes a cruzar a porta, escutou uma voz o chamando.

– Aomine Daiki-san. Poderia vir aqui um momento?

Quando se virou, percebeu que seu professor o encarava sorrindo de maneira acalentadora. Apesar de ser um professor regular, o moreno nem ao menos se lembrava qual matéria ele ministrava. Olhou para o quadro, esperando por alguma dica, mas este já tinha sido apagado.

– Pois não, professor? – Ele caminhou em direção ao homem, que era de uma estatura baixa, com cabelos castanhos claros e olhos da mesma cor, escondidos pelos óculos.

– Por que não se senta um pouco? – O professor indicou-lhe a sua própria cadeira. Daiki sentiu-se um pouco desconfiado, mas ainda sim fez o que lhe foi pedido, com certa relutância.

– Eu fiz algo errado? – Perguntou colocando-se numa postura completamente defensiva.

– De maneira alguma. Apenas relaxe, estou aqui para conversar. – Respondeu tentando descontrair o aluno. O que não deu muito certo – Na verdade, queria elogiar o seu desempenho nas minhas aulas. – Admitiu sorrindo.

Aquilo fez com que Daiki levantasse uma sobrancelha, agora completamente desconfiado e confuso: Até onde se lembrava, ele não tinha um desempenho considerado bom em aula nenhuma.

– Sabe, os professores vivem fazendo queixas sobre o seu comportamento em sala e suas notas baixas no meu departamento. – O professor continuou sem se abalar com a expressão do rapaz –Devo admitir que inicialmente tive uma impressão errada de você, até porque você quase nunca presta atenção nas minhas aulas, mas não há nada que eu possa reclamar.

– Então... Você está simplesmente me parabenizando? – Perguntou ainda confuso.

– Um pouco mais do que isso: Estou aqui para te incentivar a fazer isso nas outras matérias. – Disse bastante decidido – Sabe, eu observei as suas notas dos anos anteriores em Literatura e vi que realmente você melhorou bastante.

“Ah. Literatura. A matéria preferida do Tetsu.” o rapaz conclui mentalmente, entendendo ao que o professor estava se referindo. Suas notas naquela matéria melhoram porque simplesmente começou a se sentir interessado no assunto graças ao seu amigo. Estranhamente, não tinha notado que suas notas começaram a subir. Pelo menos era algo positivo.

– Eu tive ajuda. – Deixou escapar com um sorriso.

– Ah, está sendo acompanhado de algum tutor ou professor particular? – O professor perguntou, genuinamente interessado no assunto.

– Não, um amigo daqui da sala. Tetsu. – Aomine disse, sem se dar conta que o chamou pelo apelido.

– Quem?

– Kuroko Tetsuya. – Ele corrigiu.

– Ahn... Kuroko Tetsuya? – O professor pareceu confuso. Aomine entendeu, afinal eram muitos nomes para o coitado lembrar. Além do fato de que lembrar do azulado era algo difícil.

– É, ele senta atrás de mim. – Disse casualmente.

O professor o encarou de maneira estranha, como se Aomine falasse outra língua.

– Aomine-kun, você está com algum problema em casa? – O homem subitamente perguntou com um toma mais sério.

– Não. Por que...?

– Talvez alguma briga com amigos próximos, ou indecisões sobre o futuro... Eu sei como esses assuntos são estressantes. Quer comentar sobre esse assunto comigo? – O professor o incentivou – Ou se quiser, temos ótimas psicólogas no colégio...

– Professor, eu estou bem! O que isso tem a ver com o Tetsu? – Aomine ficara bravo com a mudança repentina de assunto, levantando-se da cadeira.

– Aomine-san, eu conheço todos os meus alunos por nome, já que eu faço questão de conhecê-los desde os primeiros dias de aula. – O professor retirou os óculos, pausando a sua fala para encarar o moreno um pouco mais intensamente por cima dos óculos – Eu posso te garantir que não tem ninguém nesta sala com o nome “Kuroko Tetsuya”.

– O que está querendo dizer...?

– Não há pessoa alguma sentada atrás de você desde que começou o semestre.

. . .

Aomine corria a plenos pulmões com um único destino em mente: A biblioteca. Para alguém como ele, era definitivamente um lugar estranho para se ir se estivéssemos falando do rapaz há alguns meses atrás. Mas ainda que agora fosse normal ver sua figura naquele tipo de ambiente, era anormal vê-lo correndo tanto para chegar lá o mais rápido possível.

Depois de sua conversa com seu professor e a cena com Satsuki no dia anterior, o rapaz estava cada vez mais incerto sobre a sua sanidade mental.

Quem raios era Kuroko Tetsuya? Essa era a pergunta que simplesmente não saía de sua cabeça.

Chegando ao seu destino, o rapaz se debruçou sobre o balcão, com a respiração pesada tendo falar algo para a bibliotecária, que o encarava com espanto. Ela não ficava muito confortável com a presença dele em seu querido ambiente de amantes dos livros, mas como profissional da escola, deveria tratá-lo como um aluno, dando-lhe pelo menos algum respeito e cuidado.

– Aomine-san, acalme-se primeiramente. – Já o conhecia pelo nome porque ele vivia pegando livros por ali – Depois que estiver mais tranquilo, pode falar comigo. Estarei esperando.

Aquilo fez com que o moreno respirasse fundo, tentando se acalmar. O processo demorou um pouco, e a senhora até lhe ofereceu um copo de d'água para ajudá-lo, o qual ele aceitou com muito prazer. Assim que terminou de beber, sentia-se bem mais calmo.

– Como está se sentindo? – Ela lhe deu um olhar esperançoso.

– Melhor, obrigado. – Ele devolveu o copo para a mulher, que o pousou delicadamente no balcão.

– Ótimo. – Ela sorriu – Agora pode me dizer o que queria falar?

Para dizer a verdade, nem ele mesmo sabia: Estava querendo perguntar “Você já viu um cara de cabelos azuis claros e baixo chamado Kuroko Tetsuya pegando algum livro por aqui?!”. Mas estava com medo da resposta. Estava com medo de ter que ver em seu olhar algo como “Esse garoto precisa de ajuda” ou “Deve estar louco”.

Ficou um tempo calado, formulando uma pergunta, até que teve uma ideia.

– Gostaria de saber se tem alguém chamado “Kuroko Tetsuya” nos registros da biblioteca. – Disse quebrando o silêncio.

– Por que? – Ela perguntou desconfiada.

– Gostaria de conferir se ele alugou um livro que eu estou precisando. – Mentiu.

– Não é mais fácil perguntar do livro? – Ela disse um pouco confusa, mas ainda sim, começou a procurar no computador que continha os registros da biblioteca pelo nome do rapaz – Até porque, eu não estou encontrando essa pessoa. – Completou.

Daiki começou a pensar no último livro que o rapaz pegara emprestado na biblioteca, mas os nomes simplesmente pareceram desaparecer de sua cabeça, deixando sua mente completamente em branco.

– Então? Qual é o título? – A senhora o pressionou um pouco, parecendo impaciente.

– Eu me esqueci... Por isso queria conferir se ele tinha alugado nos registros. – Disse parecendo um pouco mais convicto. A senhora pareceu compreender e aceitar o argumento.

– Talvez você se lembre do autor? Ou do assunto? – Ela o incentivou.

Aomine forçou um pouco sua memória. Tentou recordar-se de seus momentos com Tetsu no telhado, ao fundo da biblioteca, durante as aulas, e ficou impressionado com a dificuldade que estava tendo para fazê-lo. Ainda sim, conseguiu visualizar o azulado lendo calmamente um livro, enquanto sua voz preenchia a mente do maior.

“Este é um dos tristes, sabe? Mesmo reencontrando-se com a amada, ela o rejeita no final, ele morre, e ela foge sem nem ao menos ir em seu enterro. E ele morreu por causa dela, mesmo que indiretamente.” lembrou-se dos olhos azuis caídos de compaixão pelo trágico final de Jay Gatsby.

– Ah! “O Grande Gatsby”! – Ele exclamou ao recordar-se de algum título.

Ela agora o encarou seriamente.

– Nós tínhamos esse livro na biblioteca no começo do semestre, mas ele simplesmente sumiu junto com vários outros. – Ela o encarou desconfiada – Se seu amigo anda pegando eles sorrateiramente por aqui, diga a ele que devolva-os imediatamente.

O livro sumira? Como assim?

– Que outros títulos sumiram? – Ele perguntou, demonstrando certo interesse.

– Ah, vários... Não tem nem como listar agora.

– Por favor, tente se lembrar. – O rapaz insistiu.

– Hm... – Ela se colocou a pensar, focando sua memória nos últimos meses – Alguns que eu me lembro são “A Cor Púrpura”, “Otello”, “Admirável Mundo Novo” e “O Retrato de Dorian Gray”... – Ela concluiu pensativa.

Todos aqueles livros passaram pelas mãos do azulado. Aomine agora lembrava-se de cada um deles. Lembrava-se até do momento em que ele os lia.

O moreno repentinamente agradeceu pela ajuda e saiu correndo daquele lugar, ignorando os chamados da bibliotecária, insistindo para que ele esperasse um pouco.

Correu para o único lugar onde sua mente poderia descansar: O telhado. Tentaria ali colocar seus pensamentos em ordem.

Estava tão eufórico que por pouco não percebeu Sakurai, chamando por seu nome. Ainda sim, não parou para dar-lhe atenção. Ficou imaginando se também era o único que conseguia vê-lo também. Para a sua sorte, o rapaz não o seguiu.

Subiu as escadas de emergência rapidamente, quase perdendo o fôlego, mas ainda sim se obrigando a aguentá-las até o final. Só se acalmou quando abriu a porta e se deparou com o céu azul acolhendo-o. Quase deitou-se no chão, mas percebeu que tinha companhia.

Uma companhia que ele conhecia muito bem.

Ao lado oposto ao seu, debruçado sobre a grade de segurança, “Kuroko Tetsuya” encarava o horizonte, aparentemente sem notar a presença do amigo. Daiki não conseguia chegar perto dele, como se houvesse uma força maior do que ele, impedindo-o de caminhar em sua direção.

– Aomine-kun... – O rapaz chamou-o pelo nome, sem se virar, como se escondesse algo dele.

– Quem é você, Kuroko Tetsuya? – O moreno cuspiu cada palavra, com certo medo, com certa raiva. Do que, ele não sabia.

O rapaz virou-se vagarosamente, mostrando-lhe a mesma expressão vazia de sempre. Aomine tentou guiar-se pelo olhar do amigo, mas pela primeira vez desde que o conhecera, ele não diziam nada. Não tinha nada ali.

– Acho que você não está fazendo a pergunta certa, Aomine-kun. Creio que você quer dizer “Quem foi Kuroko Tetsuya?”.

. . .

Não era sempre que ele penteava os cabelos azuis. Para dizer a verdade, não se lembrava da última vez que os penteara. No espelho, a visão dos fios rebeldes era quase assustadora. Para a sua sorte, eles eram curtos, e assim domáveis (pelo menos, um pouco). Com uma escova na mão, conseguiu fazer com que eles baixassem rapidamente, pela primeira vez no que seriam meses.

Encarou sua imagem novamente no espelho, agora de outro ângulo, não admirando nem um pouco a visão de seu corpo magro, que simplesmente não parecia se ajustar ao uniforme. Ele tinha de admitir que não era a das melhores. Estranhamente, aquilo não o frustrava ou deixava-o irritado. Muito pelo contrário, ele era simplesmente conformado com aquela aparência. Ou a falta dela. Não sabia dizer qual dos dois.

Fosse o que fosse, ele continuava sendo ele. E nada mudaria aquele fato.

Ajeitou o uniforme da escola, pronto para o último dia das aulas de verão. Vejam bem que aquilo não era necessário para ele, já que mesmo não sendo um aluno brilhante, tinha notas consideradas boas. Ainda sim, foi chamado para ajudar à ministrar as aulas durante o período das férias de verão. Qualquer pessoa ficaria revoltada com tal notícia, mas não ele. Afinal, ele realmente não fazia absolutamente nada durante aquele período.

Mas havia um motivo em especial para ele ir sem pestanejar ou fazer cara feia era que ele fez um amigo. Pode parecer algo fácil para alguém sociável, mas para alguém como ele, aquela era uma tarefa altamente complexa. Nem as piores questões de física e matemática o assustava tanto quanto ir para algum tipo de reunião escolar, com o intuito de se enturmar.

Enfim, o que importava era que ele tinha finalmente feito um amigo. Kuroko Tetsuya tinha feito um amigo! Aquilo sim era motivo para comemorar.

Eles passaram boa parte das férias de verão juntos e mesmo sendo bastante diferentes, eles não largaram um do outro. O rapaz achou que aquilo nunca aconteceria com ele, então agora ele só sabia sorrir.

Naquele dia, seu amigo iria lhe apresentar outras pessoas na casa dele após a aula, e o garoto não podia deixar de se sentir ansioso. Por isso, penteava os cabelos novamente, tentando deixá-los arrumados. Como queria passar uma boa impressão, passou bastante tempo se preocupando com sua aparência.

Quando finalmente se convenceu de que estava, no mínimo, apresentável, caminhou suavemente até a porta de casa e saiu ao sol da manhã.

Para ele, aquele era o tipo de dia perfeito: Ensolarado, mas não muito quente, acompanhado por uma brisa suave e o céu limpo. Aquele tipo de clima atraía crianças para fora de casa, então o que mais se via eram os pequenos correndo de um lado para o outro naquele horário.

Alguns brincavam com bola, outros de pega ou de se esconder. O rapaz sentiu-se saudoso de sua própria infância, pois lembrava-se dela com muito carinho. Bons tempos que ele queria que jamais passassem.

Observou garotinhos jogando e chutando uma bola uns para os outros, rindo e se divertindo. Ele realmente esperava estar daquele jeito dali a algumas horas: Rindo e se divertindo com seus amigos. Só de pensar, aquilo o fazia sorrir.

Percebeu que a bola escapou dos pés de um dos garotos e foi quicando até a rua, que geralmente era bastante vazia, já que era uma residencial e naquela hora, os adultos que andavam de carro trabalhavam. Observou o garotinho atrapalhado correr atrás da bola, até o meio da rua. O rapaz riu um pouco, porque aquilo lembrava-o muito do seu próprio jeito (ou falta dele) quando o assunto era exercícios e brincadeiras.

Foi aí que ele ouviu o barulho de um carro em alta velocidade descendo a rua. E quando encarou o motorista ao longe, ele notou que estava distraído e não estava vendo a criança.

Imediatamente largou a mochila no chão e deixou que suas pernas se movimentassem sozinhas, correndo em direção ao garotinho, que parecia não perceber a situação ao seu redor.

As últimas coisas nas quais Kuroko se lembra após ter empurrado o menino para longe do perigo era a forte batida no vidro do carro, um choro agudo ao fundo, o barulho de sirenes e tudo ficando negro logo em seguida.

. . .

– Você... Está morto...?

Aomine estava em estado de choque.

Ele conseguia visualizar a cena do corpo magro do amigo estendido no chão, a enorme mancha de sangue apenas aumentando no asfalto, as crianças ao seu redor chorando... Era inacreditável e ao mesmo tempo era possivelmente real.

Esperou que tudo aquilo fosse uma brincadeira coletiva. Esperou pelo sorriso do amigo, esperou que dissesse que tinha combinado tudo com as pessoas, e esperou que ele gritasse algo como “Primeiro de abril!”, mesmo que estivessem em maio. Infelizmente nada daquilo veio e o menor nada disse.

– Você está brincando... – Daiki riu nervosamente.

– Eu queria estar. – Ele disse friamente, encarando o chão.

Finalmente notara algo na aparência do rapaz: Algumas partes do seu corpo eram menos visíveis que as outras, como as mãos. Quase transparentes.

Se bem que, agora olhando, o corpo dele era levemente transparente. Tanto que Daiki podia enxergar praticamente através dele sem muita dificuldade.

– Há quanto tempo você sabe disso? – Engoliu seco.

– Eu me lembrei de tudo ontem.

Aquilo explicava a sua reação.

– Você sabia o tempo todo, não? – Daiki agora disse com um gosto amargo na boca.

– Não, eu realmente não sabia. – Insistiu.

– Para que mentir agora, Tetsuya? Se é que esse era o seu nome em vida. – Ele riu nervosamente.

– Eu não estou mentindo para você. – Ele agora o encarava nos olhos, e estes estavam carregados de tristeza e incredulidade.

– E o que você quer de mim?! Já que virou uma alma penada quer que eu me junte a você?! – Daiki agora gritava para o menor, que se encolheu ao ouvi-lo falando daquela maneira.

– Eu não... – Ele começou, mas não conseguiu terminar.

– Ou talvez você achasse divertido me fazer falar com o nada, para que as pessoas ao meu redor pensassem que eu fosse louco? – Ele continuou, sem deixar o menor falar – Atormentar os vivos deve ser muito legal, ahn?!

– Pare... Por favor...

– Adivinhe? Eu sou agora o louco que vê espíritos! Que engraçado! Espero que esteja feliz, “Tetsuya”. – Ele cuspia o nome dele como se fosse uma palavra odiosa e repugnante.

– Aomine-kun...

Os olhos dos rapaz se encheram de lágrimas, mas Daiki não se deixou amolecer.

– Encontre a porra do seu caminho e me deixe em paz. – Ele disse, se virando e descendo as escadarias, abandonando o menor ali.

Encarando a figura do amigo deixar o ambiente, Kuroko nunca se sentiu tão abandonado. Tão sozinho.

Ele estava só.

Num ato de extrema loucura, correu em direção à grade, passando por ela como se nada estivesse em seu caminho, e se jogando do prédio, desejando morrer novamente.

Infelizmente, aquilo não era possível.


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Notas finais do capítulo

Espero que queiram continuar acompanhando a história.
Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, ideias novas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, me mandar pro inferno, falar que está com vontade de morrer, de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a disposição de vocês, leitoras e leitores.
As obras citadas hoje (que eu ainda não tinha citado adequadamente) são:
— "O Grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald
— "Otelo, O Mouro de Veneza" de William Shakespeare
Belíssimas obras. Trágicas, mas muito belas.
Eu estou muito trágica hoje. Melhor dormir.
Aguardo os remanescentes da semana que vem. Até o próximo capítulo.
—MC