Duas semanas se passaram desde que Jake resolveu me dar um tempo para pensar.

Diferente de antes ele não se afastou completamente; levava Nessie a La push todos os dias para que Emy ou Rachel cuidasse dela enquanto eu trabalhava e a trazia de volta para mim a noite.

Algumas vezes ficava para jantar, mas eu via que ele queria realmente me dar espaço, ou talvez a necessidade dele de estar comigo fosse tão desesperadora quanto a minha, pois suas visitas eram rápidas, ele saia praticamente correndo.

Eu estava triste, mais via o quanto isso seria bom para nós dois, Jacob estava certo eu não podia pertencer a ele amando Edward.

As festas de final de ano passaram por mim como um borrão, não estava no clima para celebração e Charlie respeitou minha decisão — fizemos um pequeno jantar, apenas eu, Jacob, Nessie e Charlie.

Hoje teríamos uma festa da fogueira — Charlie foi convidado e pela primeira vez depois de descobrir toda a verdade vai está com todos nós juntos.

Eu ouvia o seu constante e acelerado batimento cardíaco enquanto subíamos o penhasco, Jake andava ligeiramente na frente com Nessie nos ombros ,eu não conseguia tirar os olhos dele mesmo o vendo evitar me olhar.

A festa da fogueira era feita todo ano, sempre no inicio.

Antes de chegarmos ao penhasco via o fogo mais brilhante e vibrante que o sol se pondo ao fundo dando a imagem um quadro mágico como as historias que seriam contadas hoje.

O bando inteiro tanto de Sam quanto de Jake estava lá — todos comendo exageradamente , rindo e se divertindo com piadas e provocações — mas, eles não eram os únicos,Billy,Sue,o velho Quil,Emy,Kim e Rachell também faziam parte da reunião.

Jake se sentou ao lado de Billy e Sam, eu pretendia me sentar ao seu lado mesmo lá sendo claramente o lugar dos membros do conselho, mas assim que me aproximei alguém grunhiu.

— Argh, Bella!Dá para sentar a favor do vento.Jacob pode gostar do seu cheiro mas eu ainda acho que você fede! —Paul como sempre,eu tinha a impressão que ele e Emmett se daria muito bem, ambos sempre tão inconvenientes!

Todos riram quando rosnei baixinho o encarando enquanto me sentava do lado oposto.

—Você tem sorte de ser a mulher do Alfa ... ninguém rosna para mim e fica  inteiro,principalmente uma sang... — Antes que ele terminasse de me provocar Jake jogou uma pedrinha nele com uma força exagerada o fazendo pular — a gargalhada foi geral.

Depois do momento descontraído olhei em volta só agora me dando conta que estava sentada ao lado de Leah, Charlie tomou meu outro lado e Nessie, claro, se sentou com Seth.

Leah,não olhava para mim,tinha seus olhos presos nas chamas do fogo,sua expressão impassível, — Imaginava o quanto era horrível para ela ver Sam com Emily todos os dias,sabendo que nunca poderia estar com ele e pior que ele verdadeiramente a amava quando teve suas escolhas tiradas — por um momento fugaz vi meu próprio rosto no dela imaginando minha dor ,minha amargura caso isso acontecesse comigo.

Era errado alguém sofrer assim — Leah deveria deixar para trás esse amor, tentar esquece-lo como eu fiz uma vez e estava tentando fazer de novo...

—Bella. — Charlie me cutucou interrompendo meus pensamentos.

—Humn? — Olhei para ele meio desnorteada,quase me esqueci onde estava, quanto tempo havia se passado enquanto estava perdida em pensamentos?

—Acho que é melhor irmos,Nessie já está dormindo.

Olhei Nessie, aninhada protetoramente nos braços de Seth, ressonando delicadamente enquanto ele a olhava quase de boca aberta de tanto carinho.

—Não tem problema Charlie,Seth fica com ela no colo... ele não vai se importar.E agora é a melhor parte... a parte das historias.

— Historias?

—As histórias que sempre pensamos que fossem lendas—Jake disse suavemente do outro lado da fogueira. —As histórias de como chegamos a existir. A primeira história sobre os espíritos guerreiros.

Era quase como se Jake estivesse sussurrando a introdução.

A atmosfera mudou de repente ao redor da fogueira baixa.

Todos se sentaram eretos ,Sam e Jake mudaram um pouco a posição do corpo ficando lado a lado com Billy,Sue e o Senhor Quil.

Leah, seu o rosto ainda uma máscara sem emoção, fechou os olhos.

A fogueira se agitou, mandando uma explosão de faíscas brilhantes na noite.

Billy limpou sua garganta, e, sem nenhuma outra introdução além do sussurro de Jacob, começou a contar a história com sua voz rica e profunda.

As palavras fluíam com precisão, como se ele as falasse com o coração, também com sentimento e um súbito ritmo.

Como uma poesia recitada pelo seu autor.

—Os Quileute têm sido poucas pessoas desde o início — Billy disse. — E ainda somos poucos, mas nós nunca desaparecemos. Isso é porque sempre houve  magia em nosso sangue. Não era a mágica de mudar de forma – isso veio depois. Primeiro, nós éramos espíritos guerreiros...

Me perdi nas lendas ouvindo a voz de Billy,ela me embalava como uma canção de ninar criando formas no fogo como magia...Magia da qual todos fazíamos parte.

—... Os lobos eram todos diferentes, porque eles eram espíritos lobos e refletia o que o homem era por dentro.

— Então é por isso que Sam é preto? — Quil murmurou por baixo do fôlego, sorrindo — Coração negro, pêlo negro.

Não perdi minha concentração com a brincadeira de Quil,era como se eu estivesse preza em um sonho e só pudesse observar de fora,pois minha própria historia se misturava com todas as lendas.

— E o seu pêlo cor de chocolate reflete o que? —  Sam sussurrou de volta pra Quil. — O quanto você é doce?

Billy ignorou as piadas deles.

 — Alguns dos filhos se tornaram guerreiros...

O fogo jogou uma salva de faíscas para o céu, e elas tremiam e dançavam, fazendo formas que eram como desenhos ilustrando os momentos que passavam por minha mente.

— ...Foi assim que a mágica veio até nós, mas esse não é o fim da história. —

Ele olhou pra o Velho Quil Ateara, que mudou de posição em sua cadeira, ajeitando seus ombros frágeis.

—Essa foi a história dos espíritos guerreiros — o Velho Quil começou num voz de tenor. — Essa é a história do sacrifício da terceira esposa.

Sua voz tremendo não era tão majestosa como a de Billy, mas havia um estranho tom de urgência penetrante nela.

O meu pulso acelerou quando suas palavras formavam cada vez mais imagens... girando e se misturando com sonhos e memórias.

—... duas donzelas de Makah desapareceram de suas casas na mesma noite. Os Makah chamaram os lobos Quileute imediatamente, e eles encontraram o mesmo fedor doce em todo lugar no vilarejo dos Makah. Os lobos foram caçar de novo.

Apenas um retornou. Ele era Yaha Uta, o filho mais velho da terceira esposa de Taha Aki, e o mais novo no bando. Ele trouxe algo consigo que nunca havia sido visto antes pelos Quileute - um cadáver estranho, frio de pedra, que ele carregava aos pedaços. Todos aqueles que tinham o sangue de Taha Aki, até mesmo aqueles que não eram lobos, podiam sentir o cheiro forte da criatura morta. Esse era o inimigo.

“Yaha Uta espalhou os pedaços para os anciões examinarem. Uma mão destroçada que estava ao lado de um pedaço do braço de granito da criatura se tocaram e a mão foi em direção ao braço, tentando se unir novamente.

Aterrorizados, os anciões tocaram fogo no que restou.

Quando já não havia nada além das cinzas, eles separaram as cinzas em pequenos sacos e os guardou a grandes distancias uns dos outros.

Taha Aki usava um dos saquinhos em seu pescoço, pra que ele pudesse ser avisado se um dia a criatura tentasse se juntar de novo.”

O Velho Quil pausou e olhou pra Billy.

Billy puxou uma fita de couro do seu pescoço. Preso na ponta havia um velho saquinho, escurecido com o tempo.

Charlie ofegou do meu lado.

—Eles o chamaram de O Frio, O Bebedor de Sangue...

—... a terceira esposa caiu de joelhos aos pés da bebedora de sangue e enfiou a faca em seu próprio coração...

Mais imagens contraditórias dançavam por trás das minhas pálpebras me fazendo tremer ao imaginar o sacrifício da terceira esposa.

Seu sacrifício de amor.

Meus olhos tocaram Nessie nos braços de Seth e me lembrei de todo o horror da minha ultima hora como humana...

A certeza de que eu morreria—o alivio e a felicidade por pensar que tudo tinha acabado mesmo sabendo que iria morrer — incapaz de sentir o contrario, pois estava morrendo por alguém ... alguém que eu amo.

—O tempo passou, e os descendentes de Taha Aki já não se transformavam mais em lobos quando atingiam a idade adulta. Só muito raramente, se um frio estava por perto, os lobos retornavam, e o bando continuava pequeno.

Um grupo maior chegou, e os seus próprios bisavôs se prepararam pra lutar contra eles. Mas o líder falou com Ephraim Black como se fosse um homem, e prometeu não machucar os Quileute. Os seus estranhos olhos amarelos davam alguma espécie de prova do que ele dizia sobre eles não serem iguais aos outros bebedores de sangue.

As imagens de Jake comigo na praia complementavam a historia que eu ouvia:

Me lembrava da ânsia em saber o que Edward era,minha aceitação a sua natureza... eu já estava apaixonada por ele.

—Os lobisomens estavam em menor número; não havia necessidade dos frios pedirem um acordo sendo que eles podiam ter vencido a batalha. Ephraim aceitou. Eles cumpriram com a sua parte, apesar de que a presença deles tendia a puxar outros.

E o número deles forçou o bando a atingir um número que a tribo nunca havia visto...E possibilidades jamais imaginadas. —disse e seus olhos foram pra Nessie e Seth.

Charlie estremeceu ao meu lado ,seu coração batendo tão alto que me puxou de volta a realidade ao circulo em volta da fogueira.

Tudo ficou em silêncio por um longo momento.

Os descendentes vivos da magia e das lendas olharam uns para os outros através do fogo.

Algo cintilou no meu rosto caindo no chão ; Não tinha percebido que estava chorando.

Levantei meu olhar e encontrei Jake me fitando com uma expressão indecifrável.

Ele não desviou seus olhos negros dos meus, eu também não conseguir, eles estavam intensos me prendia com a força de um buraco negro — e mais uma lagrima me escapou descendo preguiçosamente por meu rosto até meus lábios.

Ainda presa no olhar dele descobrir que gosto tinha a tristeza da saudade.