Ressurgente escrita por Let B, Muh


Capítulo 49
Capítulo 49


Notas iniciais do capítulo

Olá. Aqui está um capítulo saindo do forno.
Gente, agora essa fic tem mais uma recomendação. S2
Sevastra, muito obrigada por tudo que você escreveu!! Sinceramente, foi muito emocionante. Nossa... Fiquei sem palavras... *_*
Muito obrigada!!! Capítulo dedicado, especialmente, a você.
E claro, agradecimento as pessoas que comentaram no capítulo passado:
—DM
—lover of sagas
—Star
—Kaah
—ANNE TRIS
—Debinha Fernandes



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P.O.V JOHANNA

O soldado a frente dela, ouvia suas reclamações parecendo entediado. Há dias, ela ia toda manhã, até o prédio perto a prefeitura, que os invasores haviam se apossado. Alguns deles estavam vivendo ali, enquanto outros vigiavam as cercas. Há dias, ela tentava inutilmente conversar com a autoridade daquele grupo, que ela nesse momento já sabia ser o Doutor Zank.

Havia tentado também entrar em contato com pessoas de fora da cidade, mas coincidentemente ou não, todos os meios de comunicação estavam inativos. Estavam presos na cidade. Ninguém entrava, ninguém saia. Johanna não conseguia entender como algo desse tipo podia ser aprovado pelas autoridades. Se bem que, eles já haviam vivido dessa forma antes. Mas isso foi antes. Agora as coisas eram diferentes, pelo menos, ela nisso que queria acreditar.

Outro soldado se aproximou de onde eles estavam. Parecia irritado.

– Vamos lá minha senhora, o doutor vai recebê-la. – Ele informou mal humorado.

– Jeremiah, o senhor Zank realmente concordou com isso? – O outro soldado perguntou surpreso.

– E isso importa? Já estou cansado de ficar nessa merda de cidade, e ainda ter que aguentar essa gente. – Vociferou. Essa gente era ela. – Isso é coisa deste cara, ele então que lide com essas pessoas.

Johanna ficou um pouco preocupada com a forma com que o soldado disse que o doutor que teria que lidar com ela. Ela ficou se perguntando o que ele queria dizer com isso. Mas não podia dar para trás agora, essa poderia ser a única chance que ela teria. Ela tentaria de alguma forma tentar negociar com este doutor uma forma de a cidade ser libertada.

Os dois soldados a acompanharam quando ela entrou no prédio antigo, que já conhecia. Lá dentro, havia outros soldados, a maioria descansando. Enquanto um ficou para trás, Jeremiah continuou a acompanhando, quando subiram pelas escadas, se dirigindo aos andares superiores.

Pararam após subirem três lances de escada. Ele a conduziu até uma das salas. Johanna deu de cara com um homem. Ele era alto, já havia passado dos quarenta anos, bem arrumado. Era até bonito.

– Ora. Uma visita. Eu não fui informado, e não me lembro de ter liberado. - Ele disse mansamente, sorrindo, apesar das palavras.

Jeremiah pareceu ficar nervoso, mas não retrocedeu. Informou quem Johanna era e saiu.

Ao olhar ao redor, Johanna percebeu que havia outras pessoas ali: dois outros soldados, que vigiavam as janelas, e um rapaz moreno, que Johanna havia conhecido anteriormente, Jacob.

– Sente-se. – O doutor disse num tom de voz de quem estava acostumado a ter suas ordens obedecidas. Se Johanna não tivesse acostumada a fazer o papel de líder equilibrada e amigável, teria jogado a cadeira nele. Mas ela era Johanna, a prefeita da cidade, e antiga líder da Amizade. As facções podiam ter caído, mas os velhos hábitos não.

– Fico muito feliz que o senhor pôde me receber. Gostaria muito de discutir com o senhor sobre essa desagradável situação em que a cidade se encontra.

– Eu não chamaria de desagradável, apesar de que devo confessar, tenho andando um pouco impaciente. – Ele disse, olhando de soslaio para Jacob, que se mantinha de fora da conversa. – Essa situação não agrada nem a mim, e nem a senhora. Mas não há nada que eu possa fazer, pelo menos não enquanto a criminosa que vim buscar finalmente apareça.

– Ah, claro. Claramente há um terrível engano acontecendo aqui. Você disse que procura Beatrice Prior, não é mesmo? O interessante nesta questão é que a mesma já faleceu há alguns anos.

Os olhos dele brilharam de divertimento.

– Prefeita, me parece desperdício de tempo insistir em ir por esse caminho. Você sabe que ela não está morta, e eu sei que a senhora sabe. Nenhum de nós dois é burro ou inocente, creio eu. Seria melhor para você e sua cidade, se você apenas me dissesse onde ela está.

– Ela não está na cidade. – Johanna respondeu com convicção. Ela não queria entregar Beatrice para aquele homem, mas também queria que ele sumisse dali o mais rápido possível. E afinal, Beatrice realmente não estava na cidade. - Ouvi que ela voltou para, anh, se não me engano, Seattle.

– Que interessante notícia. Mas veja, não há como eu ter certeza que isto é verdade. E, também, estive em Seattle há procurando alguns dias atrás e estou bem certo que ela não estava lá.

– Entendo sua desconfiança, mas não estou mentindo. Tudo o que quero é resolver isso tudo, e mentir para você só pioraria tudo. Ela pode ter dito que iria para Seattle, e no final, ter ido para outro lugar, não sei. Mas aqui ela não está.

– Mas enquanto isso não for totalmente esclarecido, sinto em dizer...

Uma movimentação ouvida dos andares abaixo, o calou. Jacob levantou-se parecendo ansioso e foi até as escadas. Johanna não fazia ideia do que poderia estar acontecendo.

Após alguns segundos, viu outros soldados chegando, carregando outra pessoa. Tobias. Johanna havia ouvido os anúncios, sabia que eles o procuravam, mais não imaginou que realmente pudessem acha-lo. Sentiu seu coração apertar.

Ele arregalou os olhos ao vê-la.

– Johanna o que faz aqui?

– Ah! Então esse é o Tobias, temos procurado por você há alguns dias. – O doutor disse calmamente, mas Johanna podia sentir o perigo. Aquele homem era capaz de qualquer coisa para conseguir o que queria. – Espero que enfim esteja satisfeito, Jacob.

– Bem mais que antes. – ele respondeu. - Acho que meu amigo aqui e eu teremos uma conversa, não é Tobias?

– O que? Espere. Tobias não...- Johanna começava a perder o controle. – Ele não é um criminoso, e ele também pode te dizer que Beatrice não está mais aqui. Isso tudo é um terrível engano. Não está certo, isso não pode continuar. Serei obrigada a informar o governo dessa situação absurda.

– Ah, duvido muito disso. A comunicação da cidade está cortada, não que isso fosse realmente necessário, ninguém viria ajudar vocês de qualquer jeito.

– Mentira. Aposto que eles nem sabem o que está acontecendo aqui. Mas tenha certeza senhor, que quando isso tudo acabar eu irei denunciar este absurdo.

– Senhora, você devia ter mais cuidado com o que diz. Isso me pareceu uma... Ameaça? Acho que você ainda não percebeu uma coisa. Quem faz ameaças aqui sou eu. – Abriu um sorriso, e Johanna por um segundo não percebeu o que iria acontecer. Só quando ouviu um barulho ensurdecedor, um som que não há muito tempo não ouvia, acompanhado de uma forte dor, percebeu. E viu a arma na mão do homem com quem conversava.

Enquanto caía, e perdia lentamente a consciência, e a vida, ouviu uma voz gritando seu nome.

P.O.V JACOB

Jacob permaneceu estático por muito tempo antes de processar o que estava acontecendo. O grito que Tobias soltou pareceu acordá-lo como um forte tapa no rosto, ele gritava o nome da mulher. O soldado que segurava o rapaz teve dificuldades, pois ele tentou andar em direção a Johanna.

Jacob engoliu em seco, sem saber o que fazer. O corpo da mulher encontrava-se no chão e uma poça de sangue formava-se em volta. O coração de Jacob estava tão acelerado que jurava que todos podiam ouvir.

— Mas que merda foi essa? — indagou Jacob, sem perceber o quão alto tinha falado. Os soldados em volta pareciam tensos, mas provavelmente, não ligavam muito.

— Ora, Jacob, não fique surpreso. — o Doutor bocejou e passou a olhar para Tobias que tinha os olhos raivosos e escorriam lágrimas pelo seu rosto. Apontou a arma para Tobias. — Você. Eu preciso de você vivo.

— Por que você fez isso? — gritou.

— Eu achei essa mulher muito audaciosa ao falar comigo... Não gostei do tom que ela usou. Bem, eu não precisava mesmo dela. — o homem moveu a mão, como se o assunto estivesse encerrado.

Jacob aproximou-se, ficando entre os dois. Ambos se encaravam. Pessoalmente, Jacob não ligava para certas pessoas morrerem pelas mãos do homem (como Tobias), mas aquela mulher, a prefeita de Chicago, não era como Tobias.

— Você disse que não machucaria nenhum inocente, ninguém além daqueles "ratos medrosos"! — Jacob disse tentando manter o tom da voz estável. Ele se referia a Tobias e seus colegas que estavam escondidos durante toda a confusão.

— Sim, eu disse que não mataria nenhum civil que não resistisse. Não quero arrumar problemas maiores ou causar um massacre. — apontou para o corpo da mulher — Mas como vocês sabem, ela não é, ou melhor, era uma civil normal.

Jacob trincou os dentes, calando-se. Sabia que teria consequências caso o enfrentasse dessa maneira. Por outro lado, Tobias parecia não se importar, xingando o homem de todas as formas que conhecia e se debatendo nas mãos do soldado. O Doutor olhava-o com brilho nos olhos, deveria estar relacionando Beatrice àquele rapaz e imaginando como era a relação deles.

Ele sabia que não deveria discutir com o Doutor, Jacob tinha plena consciência do erro que isso seria. Mas vê-lo tão calmo, ao mesmo tempo, que Tobias parecia tão descontrolado, o deixava com vontade de arrancar os cabelos. Seus sentimentos eram uma mistura de choque, raiva e confusão.

— Chega disso. — Jacob disse baixo — Ela só morreu. Vamos, Tobias, ainda tenho que falar com você.

— Só morreu? — Tobias disse indignado. — Você não tem ideia...

— Eu não sou um idiota. — Jacob o interrompeu com calma. — Vamos!

O Doutor se aproximou de Jacob silenciosamente, quase o assustando, quando colocou a mão em seu ombro e sorriu.

— É bom você estar certo, Jacob. Espero não ter gastado tempo nesse cara. — apontou com o queixo para Tobias — Se ele for tudo o que você diz ser... Só torça para que ele atenda minhas expectativas, Jacob.

— Eu estou certo. — respondeu confiante. — Você vai ver.

— Já que está pulando de alegria por causa disso, pode se concentrar no nosso principal objetivo. Pode fazer o que quiser com esse Tobias, só me traga respostas. Minha paciência já está se esgotando.

Jacob assentiu automaticamente, como um soldado faria. Nos dias que estava lá, convivendo com todos, aprendeu muito sobre ser um soldado. Claro que, por ser o único que não era militar, era constantemente ignorado pelos outros. Isso nunca o incomodou, pois estava muito focado no que tinha que fazer. Mas ali, com Tobias ao seu lado ainda resmungando, pensou brevemente sobre isso.

Os soldados na sala olhavam para o Doutor com os rostos inexpressivos. Daquela forma, pareciam não se incomodar sobre o que havia acontecido ali.

— Tirem-na daqui. E me tragam o soldado que a trouxe. Ele agiu contra minhas ordens, terei de puni-lo— o Doutor apontou para dois soldados que logo se moveram. Virou-se para os outros e Jacob — Vocês saiam daqui. E Jacob, eu te dou até amanhã para me dizer onde Beatrice está.

— Eu o faço falar. Não se preocupe.

Tobias, que parecia estranhamente quieto, soltou uma risada levemente sarcástica. Jacob rolou os olhos da estupidez dele. O Doutor consideraria isso uma afronta, pelo menos, era o que Jacob via nos olhos do homem.

— Eu não vou dizer nada. - Tobias afirmou.

— Ah, não se preocupe. Ele muda de ideia fácil. — Jacob tentou ajudar um pouco Tobias. Se o Doutor decidisse cuidar dele sozinho, Jacob perderia sua chance. Tobias deveria o agradecer, afinal, ele com certeza não iria querer ficar nas mãos do médico.

— Não conte com isso, Jacob. — Tobias murmurou, mas todos conseguiram ouvir.

Jacob girou os calcanhares para encarar os seus olhos azuis, a aura dele parecia diferente, apenas por poucos segundos. Jogou o punho para trás, acertando o queixo dele. Tobias gemeu mais de surpresa do que de dor, afinal, certamente não era o esperado vindo de Jacob. Sacudiu-se nos braços do soldado, pronto para reagir.

Quando Tobias parecia estar recuperando-se, Jacob puxou a gola de sua camisa, dobrando-a na mão, machucando a nuca dele. O semblante de Jacob deveria estar realmente mostrando sua irritação, pois Tobias passou a olhá-lo diferente.

— Apenas comece a falar. — Jacob sussurrou.

Tobias permaneceu calado.

Jacob decidiu, então, cuspir em seu rosto na altura do olho, o que fez os olhos azuis dele fecharem e uma expressão de nojo surgir.

— Vai continuar calado?

Tobias, porém, ainda conseguiu sorriu.

— Quer saber alguma coisa? Tudo bem, eu digo: Ela não está aqui. — suspirou — Mas não é como se você já não soubesse.

— Ouça, ...

O Doutor pigarreou atrás de Jacob, fazendo os dois pararem imediatamente e passarem a encarar o homem com expressão neutra.

— Tudo bem, Jacob. Deixo isso com você.

—Certo — respondeu.

— Concordo contigo, ele vai mudar de ideia fácil. Mas se não mudar...

Jacob viu Tobias trincar os dentes, provavelmente, com uma resposta na ponta da língua.

— Não se preocupe, rapaz. Você a verá novamente, isso lhe garanto. — o Doutor aproximou-se.

"Como se sua palavra valesse algo". Pensou, porém permaneceu-se estático.

— Espero que goste de romances estilos Romeu e Julieta.

...

— Você é burro, Jacob.

Ambos estavam sozinhos em um pequeno quarto sem janelas. Tobias estava sentado no chão, enquanto Jacob mantinha-se em pé.

— Não. Isso é o que eu acredito, é o que eu quero.

— Isso é o que você acredita? Matar pessoas? Torturar? Trazer pessoas de volta a vida? Desde quando? Você não parecia particularmente feliz com os métodos desse homem quando chegou aqui.

Jacob ficou irritado e calado. Fingiu não ter ouvido.

— Ele vai te matar. – Tobias disse convicto.

— Não vai, Tobias. Nossa relação é boa, acredite. – Não era bem verdade, mas também, não era mentira.

— É, foi exatamente isso que eu vi.

Jacob virou-se.

— Cale a boca! – Até agora, Tobias só estava o irritando.

—Nós podemos nos ajudar!

— Não ajudaria você e nenhum de seus amiguinhos. Principalmente você. Eu causei isso, porque impediria agora?

— Não pense só em mim. Pense em você, nas pessoas...

— Ele não vai fazer um massacre de inocentes! — Jacob rebateu no mesmo instante.

Tobias rolou os olhos. Apertou as mãos.

— Ele vai te matar. — fez uma pausa — Você vai mesmo morrer nas mãos dele?

— Não vou cair nessa, Tobias. Ele não vai me matar. Nós temos um acordo. Ele ganha e eu ganho. É perfeito.

Não era a primeira vez que eles iniciam uma conversa sobre o tema: Doutor matar Jacob. Tobias parecia querer ajudar Jacob, o fazendo ver outra verdade, porém ele não cairia nessa, afinal, Tobias não tinha motivo para ser legal com ele.

Tobias bateu os braços contra o corpo.

— Divirta-se morrendo, idiota. — Jacob deu de ombros.

Mas Tobias realmente o deixou pensando. Por enquanto, o Doutor precisava dele, então estava seguro. Mas o que aconteceria quando o Doutor não precisasse mais dele?

P.O.V BEATRICE

Quando ela sugeriu que os outros pacientes se juntassem a ela e fossem a Chicago, ela obviamente havia ignorado os problemas de logísticas envolvidos na questão. Era um número considerável de pessoas, e veículos de menos. No hospital havia alguns veículos que poderiam servir, mas ainda não era o suficiente. Damon se encarregou de conseguir um transporte maior para eles, mas ela tinha que confessar que ficou extremamente surpresa e chocada, quando ele chegou com um ônibus. Ela preferia nem saber como ele tinha conseguido aquilo, só sabia que sua dívida com ele aumentava cada vez mais. E ainda iria aumentar estratosfericamente.

Quando enfim partiram, ela teve o desprazer de ir no mesmo carro que Caleb e Charles, afinal, queria ter certeza que nenhum dos dois iria aprontar nada. Apesar da necessidade, ainda era irritante. Ainda mais pelo fato de que Caleb não parava de olhá-la nem por um segundo, parecendo genuinamente preocupado. Provavelmente, com medo que ela pirasse e atirasse nele.

Damon e Daniel davam cobertura a ela. Eleonor, mesmo a contragosto, teve que ir em outro carro, junto a Christina, Meg e dois outros pacientes. Beatrice tinha uma vaga noção de que carregar toda aquela gente despreparada e traumatizada poderia ser uma catástrofe total. Mas por ora, tentava ignorar essa possibilidade.

Quando chegaram próximo à cidade, tiveram que parar para analisar os próximos passos. Um grupo pequeno era uma coisa, poderiam passar despercebidos e tentar invadir a cidade. Mas agora, era totalmente diferente. Além disso, ainda tinha o fator Charles, que não estavam originalmente na equação. Tentariam usá-lo, se não desse certo, partiriam para uma ofensiva. Infelizmente, Beatrice não acreditava que Charles pudesse mudar alguma coisa. O doutor não iria ceder a esse tipo de chantagem, e se eles de fato chegassem ao ponto de ter que matar o filho dele, aquilo só o deixaria muito, muito, muito mais zangado. Péssima ideia.

Foi ela sugeriu que procurassem um abrigo na central, que anteriormente, controlava a cerca, uma sugestão que deixou os outros de cabelo em pé, e ela ouviu algumas pessoas sussurrando não tão baixo que ela era completamente maluca.

É claro, que se eles estavam controlando a entrada e saída das pessoas na cidade, a central e os arredores, estariam infestados de soldados. A questão era que ela conhecia o doutor muito bem, ele iria querer estar dentro da cidade, para controlar a população bem de perto. Obviamente, isso requeria que vários soldados tivessem que permanecer na cidade, para garantir a segurança dele. E outros deveriam estar vasculhando todos os cantos da cidade a procurando. E quanto aos que estavam vigiando as entradas, ela acreditava que estavam mais dispersados. Afinal, eram quilômetros de terra para vigiar, era humanamente impossível ter o controle de tudo.

Ela acreditava que deveriam ter poucos homens na central de controle, pois este era o lugar mais fácil de vigiar. E segundo Caleb e Christina, lá havia toda uma aparelhagem, com TVs que mostravam o que acontecia na cidade. Provavelmente, não era usado mais, mas mesmo assim... Talvez, essa ideia fosse um pouco maluca mesmo, mas ela sentia que ia dar centro, então talvez ela realmente fosse uma doida varrida.

Mas não, ela não era. E de fato, quando eles invadiram sorrateiramente o lugar, este estava quase vazio. Tiveram que lidar com alguns soldados, o mais silenciosamente e discretamente possível.

Quando ela entrou naquele lugar, sentiu-se estranha. Seus instintos todos gritavam para ela não ficar ali. Ela imaginou que isso poderia estar acontecendo, pois havia sido ali que ela havia morrido, em algum canto daquele lugar. Quanto mais adentrava no local, mais sua mente se tornava nebulosa.

Não ficou surpresa quando os flashes começaram a surgir. Lembranças fugazes de um tempo que ela tinha medo de lembrar. Mas o medo não impedia que as lembranças retornassem fortes e vívidas, alçando-a no passado. Viu Tobias, Christina, Caleb outros que ela conhecia, outros que talvez ela nunca mais pudesse conhecer. Viu, em choque, o rapaz que ela havia conhecido brevemente em Milwaukee. Sentiu todos os sentimentos que havia sentido naquela época: dor, raiva, amor, decepção... Tudo voltava até ela. Observava enquanto via a si mesma morrendo. Sentiu a dor de cada bala que penetrava em seu corpo. Odiou e perdoou o homem que havia provocado isso. Cada lembrança era linda e monstruosa e doída.

Agora ela compreendia. Não tudo, ela achava que nunca conseguiria compreender tudo. Sobre quem ela havia sido, sobre as pessoas que havia conhecido, sobre a vida que ela havia vivido. Mas sabia que conseguiria compreender o suficiente e era isso que importava.

Em algum momento, ela teria que lidar com isso, mas não agora. Estava se formando uma extensa lista de coisas que ela teria que lidar depois, mas não havia nada a fazer sobre isso. Por enquanto, tudo que ela podia fazer era lutar. E manter essas lembranças enclausuradas e em segredo. Pensou tristemente que se a situação não terminasse bem talvez ninguém nunca viesse a saber sobre isso.

...

O equipamento de TV, como ela supôs, não funcionava mais. Alguém na cidade havia destruído todas as câmeras, mas quando e por quem isso havia sido feito ela não sabia. Poderiam ter os soldados, poderia ter sido algum cidadão. Impossível determinar. Mas, mas, mas ela descobriu que havia como se comunicar dali com a cidade. Isso já era um grande avanço.

Cansados, todos concordaram em descansar antes de planejar os próximos passos.

Ela também queria descansar, mas tinha outra coisa que precisava fazer o quanto antes. Ela tinha que pedir algo a Damon, e não tinha a menor ideia de como ele iria reagir ao que ela iria pedir.

Esperou todos se acomodarem, e foi tentar encontra-lo. O achou do lado de fora da cerca, o outro lado que não era dentro da cidade.

– Oi. – Ela disse timidamente. Não havia estado com ele sozinha desde que ele a havia beijado. Era uma situação muito estranha.

– Ei. Alguém tem andado perdendo muito o sono ultimamente. – Ele respondeu irônico.

– Não. Não perdi, não. Eu estava esperando te procurando, preciso conversar algo com você, a sós.

Ele levantou a sobrancelha, curioso e deu um sorriso um pouco maldoso. Ela percebeu que o que havia dito poderia ser interpretado de uma forma errada.

– Damon... eu sei que você já está ajudando demais, mas eu tenho que te pedir algo.... Eu não queria e não deveria pedir algo assim a você, mas no momento, acho que você é a única pessoa que eu realmente confio para isso...

– Isso o quê?

– Bem. Você viu aquele lugar, o hospital, onde eu fiquei presa, e você sabe das coisas que aconteceram lá. Acho que você entende que eu não quero de modo algum ter que passar de novo por isso. – Ele a olhou confuso. – Mas, eu pensei muito nisso, e acho que não posso controlar isso. Quer dizer, se perdermos, mesmo que eu morra, eu posso não permanecer morta. E eu prefiro mesmo continuar morta a ter que passar por aquilo de novo.

– Entendo, mas não sei aonde você que chegar com isso.

– Bom, eu preciso de alguém, que caso eu morra de uma forma inesperada, possa garantir que não haverá como me ressuscitarem. Acho que se eu levasse um tiro na cabeça seria muito improvável que o doutor pudesse consertar. Charles mesmo disse que mexer no cérebro era algo arriscado, então é bem possível, que tentar reviver alguém que sofreu um dano tão extremo nele, tem grandes chances de dar errado. Eu não acho que possa controlar a forma que irei morrer, caso eu morra, mas outra pessoa poderia. Outra pessoa. Você.

– Peraí, você só pode estar brincando comigo. Você está mesmo pedindo o que eu acho? Como você... Como você ao menos acha que pode me pedir algo assim? – Ele estava transtornado.

– Eu sei que é horrível, e terrivelmente injusto com você. Mas eu não vou conseguir passar por tudo o que passei de novo. - Ela sentia que poderia chorar a qualquer minuto. Ela era muito cruel de pedir algo assim a ele. – Por favor, Damon, se você me ama ainda, me diga que fará isso se for necessário. Diga-me que garantirá que eu permaneça morta.

Ele ficou em silêncio. Beatrice sentiu o ar pesado que passava entre eles. Após alguns segundos, minutos ou talvez, horas, ele perguntou:

– Porque tem que ser eu? Porque você não pede isto para seu novo namorado? Você acha que ele não tem coragem, não é? Ou talvez, só ache que eu seja frio o suficiente para conseguir fazer algo assim, como se eu nem ao menos tivessem sentimentos. – Ela não respondeu. A verdade é que ele estava certo, ela o considerava frio o suficiente para fazer o que fosse necessário. Não acreditava que Tobias, ou seus outros amigos, fossem capazes de fazer isso. Mas Damon sim. – que seja, se é isso que você quer que eu faça, é isso que eu farei. Mas isso terá um preço, Beatrice. Você terá que me prometer algo em troca.

Beatrice apenas fechou os olhos. Sentia-se como se estivesse vendendo sua alma ao diabo. Mas não, era Damon. O que ele poderia exigir dela?


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Notas finais do capítulo

Pessoas, desculpa pela demora. Eu tive alguns problemas de saúde e foi por isso o atraso.
Mas não se preocupem com as postagem. Prometo fazer o melhor para acontecerem logo. E claro, responder os comentário.
Até o próximo capítulo!