Ressurgente escrita por Let B, Muh


Capítulo 46
Capítulo 46


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Eu sei que demorei, estava hibernando! Mas, mas, mas voltei e o próximo capítulo já está pronto. E ainda teremos um capítulo bônus bem diferentes.
Também estamos muito atrasadas em responder os comentários, mas até o fim dessa semana responderei todos.
Capítulo dedicado a todas as lindas que estão sempre comentando e que tem paciência com nossas demoras, e não desistem da fic.



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POV DAMON

Damon observava a tensão formada na sala, enquanto brincava distraidamente com sua arma. Ele tinha que confessar que Caleb havia o pego de surpresa, não só Damon, mas todos os que o conheciam, pareceram estarrecidos com a atitude dele. Por um momento o choque calou todos. Aproveitando o silêncio momentâneo, Beatrice mandou todos os outros saírem da sala. Damon, é claro, havia ignorado a ordem, mantendo-se na sala, junto a ela, Caleb e o outro, Charles. E era nessa situação que ele se encontrava nesse momento.

Beatrice fuzilava o irmão com os olhos que poderiam faiscar de tanta raiva. Caleb ainda se mantinha parado formando uma barreira entre eles e Charles, e parecia analisar como agir e o que falar. Já o tal de Charles, sorria discretamente, achando alguma graça em toda a situação.

– Caleb, você pode me dizer que merda você pensa que está fazendo? - Beatrice perguntou, mantendo o tom de voz normal, parecendo calma. Mas Damon sabia que calma era a última coisa que ela estava naquele momento.

– Beatrice... Sei que você deve estar confusa e preocupada com essa situação. - Damon diria que ela estava mais para raivosa e assassina. - Mas eu te explicarei tudo. Será que podemos ter um momento a sós...? - Caleb olhou para Damon pelo canto de olho. Beatrice também o olhou, como se notasse só nesse momento que ele ainda estava na sala, mas também, não parecia se importar muito com isso. Damon achou que esse era o momento dele se posicionar.

– Só a deixarei sozinha com você, se você estiver morto. Fique a vontade para escolher. - Isso era verdade, mas Damon também ver como aquilo iria terminar.

Beatrice não se manifestou contra Damon ficar, e Caleb pareceu enfim aceitar.

– Ok. Em primeiro lugar, preciso explicar por que eu vim para este hospital. Após você partir, eu fiquei pensando em uma forma de ajudar você. Então eu pensei nesse dispositivo que encontramos no seu cérebro e no de Jacob, e que concluímos ser o responsável pela sua amnésia. - Caleb falava rápido, receoso de ser interrompido. - E você sabe que eu sou um cientista... Achei que vir aqui pudesse me ajudar a descobrir uma forma de retirar isso da sua cabeça, para que você pudesse recuperar suas lembranças. E irmã... Eu acredito que agora sei como fazer isso. Vai ser necessário operarmos seu cérebro, e é por isso que preciso do Charles. Mesmo eu já sabendo o básico sobre o procedimento, tenho que admitir que é arriscado e me sentiria mais seguro tendo ao meu lado alguém que tenha mais experiência.

Ele terminou, parecendo satisfeito consigo mesmo e ansioso para ver a reação da irmã. Já Beatrice parecia em choque. Damon não entendia quase nada do que Caleb sabia havia dito, só sabia que aquilo parecia má ideia, uma grande má ideia. Ele sabia que uma parte era por ciúmes. Ciúmes de que Beatrice se lembrasse de seu passado, de seu relacionamento com Tobias. Mas outra parte, era menos egoísta, ele apenas não gostava da ideia de operações no cérebro, não parecia algo que costumava acabar bem.

Beatrice começou a rir alto e descontroladamente

– Você está brincando, não é? - perguntou com o rosto vermelho de tanto rir.

– Não estou, eu realmente sei como fazer isso. - O semblante de Caleb estava fechado, provavelmente nervoso pela reação dela.

– Isso só pode ser uma piada. Quer dizer, você não achou realmente que eu o deixaria mexer na minha cabeça? - Beatrice ainda ria, apesar de tentar se controlar.

– Mas... Você não quer recuperar suas lembranças? Voltar a ser quem você era? - Caleb agora expressava confusão em seu rosto.

– Ah. Então é disso que isso se trata: eu voltar a ser quem vocês querem que eu seja. Você preferiria arriscar minha vida em um procedimento desses do que me aceitar como eu sou agora? Você acha que eu escolheria passar por algo assim, que provavelmente me matará, só para atender as expectativas das outras pessoas? Sou tão detestável assim? - ela havia definitivamente parado de rir, e parecia furiosa e um pouco triste.

– Não, claro que não. Eu só achei que... Que isso deixaria você feliz, que era o que você queria. Além disso, como eu disse, faríamos da forma mais segura possível. Você não vai morrer, eu te garanto isso.

– Ela está certa. - Charles que se mantinha até esse momento calado, enfim se manifestou. - Ah, qual é. Existe um motivo para fazermos isso só em pessoas que já estão declaradas mortas. E é porque é arriscado, operações cerebrais sempre são arriscadas. A pessoa pode morrer, o que nesse caso nem seria o maior problema, já que há como ressuscitá-la. O pior problema é fazer algo errado e então ela será um vegetal pro resto da vida. Eu mesmo já vi isso acontecer antes com algumas cobaias. É claro que tivemos de nos livrar delas, já que não serviam mais aos fins do hospital. Não que eu ligaria muito se você virasse um vegetal, Beatrice.

– Obrigada pela adorável explicação, Charles. - Beatrice agradeceu sarcasticamente. Virando-se novamente para Caleb, continuou. - É isso o que sou para você? Uma cobaia? Achou mesmo que eu concordaria com essa estupidez?

– Não. Eu jamais pensei na possibilidade de que não pudesse dar certo e jamais pensaria em você como uma cobaia.

– Jamais? Ora, pelo o que ouvi você já me tratou assim antes. - Beatrice riu da cara atônita e surpresa do irmão. - Você achou mesmo que eu nunca saberia sobre isso? Engraçado que você diga que quer me ajudar a recuperar minhas lembranças e me esconde algo tão importante quanto isso. Ou você apenas esqueceu de me contar que me traiu porque queria me usar como cobaia? Eu nunca confiei em você, agora pelo menos eu sei que tenho motivos para isso. Mesmo que eu não conseguisse lembrar o que aconteceu, de alguma forma meus instintos lembraram e me alertaram contra você.

– Não foi assim... Quer dizer, é verdade que eu errei e traí você. Mas depois eu me arrependi. E então você preferiu se sacrificar no meu lugar. Podia ter me deixado morrer, mas ao invés disso, se sacrificou por mim Você não tem ideia em como em tenho vivido depois disso, a culpa, a repugnância que eu sinto pelo que fiz. Mas você me perdoou, você não lembra, mas antes de morrer você me perdoou. - Ele quase implorava, buscando de alguma forma ser compreendido.

– Provavelmente porque eu era uma estúpida! Nunca me senti tão feliz em não ser a mesma pessoa de antes como agora. Fique longe de mim, ou eu juro que não me responsabilizarei pelo o que possa fazer com você. E quanto a você- disse apontando para Charles. - Não pense que vai conseguir sair bem dessa. Ainda decidirei o que farei com você, mas pode ter certeza que você não terá uma vida muito longa. - Voltou-se para Caleb, suspirando pesadamente. - Me diga quem mais está envolvido nisso. Você teve essa ideia ridícula sozinho? Mas alguém concorda com essa merda?

– Como assim? Sim, fui eu que tive a ideia, mas eu achei que era algo que você queria. Quem mais estaria envolvido?

– Tobias sabia disso? Ele concordou com isso. - Ela perguntou num quase sussurro.

– Ah, entendo. É só a opinião dele que importa para você. Devo confessar que o encontrei quando estava saindo da cidade, e contei sobre os meus planos. Ele ficou animado e achou uma boa ideia, ele também quer que você volte a ser a pessoa que era antes. - Caleb passou a mão pelo cabelo, tentando se recompor. - Sei que está chateada e com medo agora, principalmente pelo o que Charles disse. Mas, convenhamos você acha mesmo que ele é uma pessoa confiável? Eu sei que consigo fazer isso. Acho que você precisa de um tempo para pensar, e talvez reconsiderar sobre sua decisão.

– Ele não é confiável, mas você também não. Não perca seu tempo achando que mudarei de ideia.

Beatrice saiu sem se despedir, aturdida e parecendo mais infeliz do que nunca. Damon mesmo querendo, não a seguiu. Sabia que ela precisava de um tempo sozinha. E após tudo o que ouviu Caleb dizer, tudo o que ele conseguia fazer era olhar com nojo para ele.

– Para de me olhar desse jeito! - Caleb gritou irritado quando percebeu que Damon o observava. - Quem você pensa que é para me olhar dessa forma, me julgando? Pelo o que já ouvi dizer, você não é exatamente um modelo de perfeição.

– Ah, você está certíssimo. - Damon respondeu irônico. - Posso ser cruel, atroz, às vezes violento, e segundo algumas pessoas, egocêntrico, brutal e tirânico. Mas ora, ora quem diria que você com esse semblante de bom rapaz iria me superar. Porque eu posso ter feito coisas terríveis durante minha vida, mas, pelo menos, nunca trai meu próprio sangue. E olha que meu irmão, Daniel, pode ser extremamente irritante. Mas nem eu consigo ser tão frio assim. E sobre Tobias, excelente jogada. Não o conheço muito, entretanto, até eu percebi que ele não morria de amores por você. Duvido muito que ele ache boa ideia qualquer coisa que venha de você. Não que eu me incomode muito pela sua mentira, na verdade, acho que ela é até vantajosa para mim. Acho que devo agradecer a você por ser um completo cretino. - riu sem humor. - Vou pedir que um dos homens entrem para vigiá-lo- disse, fazendo um meneio de cabeça em direção a Charles. - Sabe Caleb, você deveria descansar um pouco, afinal os próximos dias não serão nem um pouco fáceis para você.

POV CALEB

Caleb cruzou o comprido corredor, em direção contrária a sala, onde minutos antes foi sumariamente desprezado e humilhado pela irmã. Ele estava com raiva de Beatrice, em nenhum momento achou que ela agiria daquela forma com ele. Por que ela não conseguia ver que ele estava fazendo aquilo por ela? Ele acreditava que ela iria ficar feliz, principalmente porque ela havia demonstrado interesse de permanecer em Chicago. Ele achou que ela queria a vida antiga dela de volta. E não era isso que ele estava oferecendo a ela?

Ele sabia que não deveria ter mentido sobre Tobias, mas achou que a opinião dele poderia a fazer mudar de ideia, na verdade, ainda esperava que pudesse fazer. Mesmo assim, havia sido golpe baixo.

Encontrou Eleonor no fim do corredor. Ela estava pensativa, olhando para lugar nenhum, perdida em pensamentos. Ao vê-lo se aproximar, deu um pequeno sorriso tímido.

– Ei você, estava te esperando. O que aconteceu? Você não parece bem. - perguntou preocupada.

– Beatrice aconteceu. Tentei explicar a ela o porquê de eu estar aqui e sobre Charles, e ela teve um ataque.

– Anh, ela deve estar nervosa, voltar para esse lugar deve ter deixado-a estressada. Dê um tempo a ela. E quanto a Charles, confesso que eu também fiquei surpresa. Porque você o defendeu? - Ela perguntou desconfiada.

– Eu ainda preciso dele. Mas confesso para você que acho um desperdício matá-lo. Eu sei que a forma como é realizado essas experiências nesse hospital é errada. Entretanto, acredito que os resultados atingidos aqui, referente às ressuscitações e memória são extremamente importantes para a ciência. Isso poderia mudar o mundo, consegue imaginar? Uma vida onde a morte não seja mais o fim? É claro, que o ideal seria usarmos os conhecimentos do doutor Zank, mas Charles possuiu conhecimento suficiente sobre isso. - Caleb respondeu fascinado com as possibilidades que aquilo poderia trazer.

– Primeiramente, dizer que as coisas aqui são erradas nem chega perto do verdadeiro horror do que realmente acontece aqui. E segundo, não acho que essa história de ressuscitação é uma boa ideia. - Eleonor respondeu considerando a ideia. - Quer dizer, existe um motivo para que o mundo seja como é, e para que as pessoas morram. Você não acha? E para terminar, deixar Charles vivo é uma ideia pior ainda, não importa o motivo. Ele merece morrer.

Caleb foi pego de surpresa, Eleonor nunca havia dito nada disso antes, e muito menos dessa forma. Ela quase parecia sentir prazer ao pensar na morte de Charles. Pensando agora, Caleb percebeu que ela sempre pareceu um pouco incomodada quando Caleb falava sobre Charles.

– Você o odeia. - Não foi uma pergunta, e sim uma constatação. - por quê?

– Por quê? - Ela perguntou exasperada. - Você acha que já não tenho motivos suficientes pra isso? Vivemos trancafiados aqui, sem sabermos nada sobre quem somos e da onde viemos, tratados como cobaias

– Sim, é verdade. Mas tem algo mais, não é? Me diga.

Eleonor o guiou pelos corredores, em direção ao quarto dela. As celas que antes estavam cheias e trancadas, agora se encontravam com as portas escancaradas e o ambiente estava desértico. Ele se perguntou onde estariam os outros.

– Todos os pacientes foram reunidos em um salão que há no andar abaixo. Parece que haverá uma reunião daqui a alguns minutos, não sei qual o tema. Os outros médicos e enfermeiros estão trancados em quartos do andar de cima. - Ela disse percebendo a dúvida nos olhos de Caleb. - Vamos, precisamos conversar.

Ela disse isso enquanto entravam em seu pequeno quarto. Ela sentou na cama, enquanto ele preferiu-se manter de pé.

– Você tem razão quando disse que tem algo mais. Eu poderia ter te contado antes, mas não é algo sobre o que goste de conversar. Você já esteve em outros lugares como esse antes?´- A pergunta pegou Caleb de surpresa e ele apenas negou, silenciosamente.

– Eu também não, pelo menos, que eu me lembre. Mas, você sabe, as pessoas falam, principalmente, enfermeiros entediados. Alguns deles, já trabalharam em outros hospícios antes e contam historias. Primeiramente, você deve saber que certas coisas acontecem nesses lugares, não em todos, claro, apenas em alguns. Já ouvi dizer que há hospícios que chegaram a serem fechados, após denúncias.

– Por quê? De que coisas você está falando?

– As denúncias quase sempre são feitas por algum enfermeiro ou médico. - ela disse, ignorando a pergunta de Caleb. - Abusos, assédio, tratamento desumano, agressões. Algumas dessas denúncias não dão em nada e são abafadas, mas não é isso o que importa nesse momento. Só quero que você entenda que existem pessoas, ou melhor, monstros, que se aproveitam da fragilidade mental e física dos pacientes.

– Eleonor, não acho que estou entendendo o que você está querendo dizer.

– Aqui, também ocorre isso. - ela prosseguiu. - Não denúncias, pelo menos, ninguém que é esperto o suficiente quer se meter em briga com o doutor. E além de tudo, ele tem uma reputação intocável e contatos no governo. De toda forma, ninguém ia acreditar mesmo, no que um enfermeiro rancoroso ou algum doente mental poderia acusá-lo. Entende onde estou tentando chegar?

– O que você está me dizendo é que aqui ocorriam práticas irregulares e ilegais. - Caleb respondeu, finalmente começando a entender.

– É, pode se dizer isso. Mas nem todos os pacientes passaram pelas mesmas coisas. A maioria dos caras é deixado em paz no quesito abuso, mas não todos. Já a grande maioria das mulheres já sofreu algum tipo de abuso ou assédio. Caleb... - Ela olhava para baixo, constrangida. - Vários médicos e até alguns enfermeiros estupravam as garotas, e Charles era o pior deles. Ele sempre escolhia uma garota, até que outra nova chegasse e aí ele trocava. Durante o tempo que ele passava com alguma garota, os outros médicos e enfermeiros a deixavam em paz. Mas depois que ele trocava, aí as coisas mudavam. Existem algumas garotas aqui que foram abusadas por cinco, seis ou até mais homens.

– Isso é... Horrível. - Caleb não sabia o que dizer. - Eu não havia imaginado que algo assim pudesse estar ocorrendo aqui.

– Você é novato, não era considerado confiável ainda. E nem todos tem conhecimento de que essas coisas acontecem. Provavelmente, a maioria do pessoal que trabalha aqui, sabe ou desconfia. Mas não falam nada, tenho certeza que eles têm medo o suficiente do doutor para mantê-los calados. Bem, agora que você já sabe sobre isso, preciso te contar uma coisa. Durante algum tempo eu fui uma dessas garotas, quero dizer, uma das garotas do Charles. Foi logo que eu entrei aqui. Algum tempo depois, outra garota nova apareceu, e ele me deixou em paz. No começo, eu fiquei aliviada por aquilo ter parado. Na época, eu não imaginava que iria piorar. Depois de algum tempo, outro médico, que se chamava Jenkins, veio até o meu quarto durante a noite e eu pensei “ai meu deus, vai começar tudo de novo”. Ele era tão sádico e cruel, e eu achei que ia morrer, achei que ele iria acabar me matando. Um dia, eu tomei uma decisão, eu já não aguentava mais, e quando ele começou a… Eu mordi a orelha dele com toda força que eu consegui juntar. Mordi tão forte, mas tão forte, que quando vi tinha um pedaço da orelha dele entre meus dentes. Ele ficou louco, e começou a me espancar. Mas eu já estava tão cansada daquilo tudo, que revidei. Eu não sabia que podia ser tão forte assim, tudo o que eu sentia era ódio, e continuei batendo, batendo, batendo. Ele gritava, e depois de alguns minutos, alguns enfermeiros entraram e me seguraram para que eu parasse de agredi-lo. Quando olhei para ele, tudo o que vi era sangue. Os enfermeiros me colocaram numa camisa de força e o levaram. Eu acho que ele ainda estava vivo, mas, sinceramente, isso não me importa. Não sei o que aconteceu a ele, depois desse dia nunca mais o vi.

Caleb não sabia como deveria se sentir sobre isso, não conseguia sentir nada. Ainda estava em choque. À sua frente Eleonor chorava baixinho.

– Eu não sei o que dizer. - Conseguiu dizer.

– Eu sei, eu também não. Te contei isso para que você entenda porque quero Charles morto. Para que você entenda porque sua irmã também quer. Não que Charles ou outros médicos tenham algum dia posto um dedo nela. É horrível dizer isso, mas ela teve sorte. O doutor garantiu que só ele poderia fazer isso.

Caleb endureceu.

– Você está dizendo que este cara, o doutor, fazia a mesma coisa, essa barbaridade, com minha irmã?

– Oh, eu não deveria ter dito isso. Achei que pelo menos sobre ela você já pudesse saber, ou desconfiasse. - Eleonor respondeu constrangida. - Eu não sei por que, mas ele era um pouco obcecado nela, ainda é, eu acho. Eu entendo que você tenha seus motivos para querer que Charles fique vivo por enquanto, mas não me peça para ajudar você nisso.

X-X

Um turbilhão de pensamentos passava pela cabeça de Caleb. Após conversar com Eleonor, preferiu ficar um pouco sozinho, para tentar digerir o que ela havia contado. Em nenhum momento, ele achou que algo assim pudesse ter ocorrido a ela, muito menos, a sua própria irmã. Ele sentia raiva, do doutor, de Charles e de todos os outros que trabalhavam naquele lugar e nunca as ajudaram. Ele agora também entendia, em parte, a reação de Beatrice quando ele defendeu Charles.

Decidiu procurar ela para se desculpar por isso. Entretanto, ainda acreditava que era possível recuperar as memórias dela e que isso era o certo a ser feito.

Encontrou-a no salão, junto aos outros que haviam invadido o hospital. Surpreendeu-se quando viu que todos os pacientes também se encontravam ali.

Beatrice estava sentada em uma grande cadeira de madeira entalhada, de frente a todos. Na porta ao lado viu, um a um, os enfermeiros, médicos, e demais funcionários do hospital entrando. Eles estavam presos em camisas de força. Que ironia.

– O que está acontecendo aqui?- perguntou alto, tentando se fazer ouvir no meio daquela multidão de pessoas. Christina que estava sentada próxima onde ele se encontrava, respondeu:

– Um julgamento. Decidimos deixar que os pacientes decidam o que irá acontecer com eles. - Respondeu apontado com a cabeça o local onde os novos réus se encontravam. - Não temos muito tempo, precisamos chegar a Chicago o quanto antes, por isso, que o julgamento está acontecendo agora.

– Vamos começar. - Disse Beatrice. Ela parecia fria e implacável. - Cada um que está aqui poderá apresentar as acusações. Os réus terão direito a apresentarem sua defesa e, então decidiremos a pena que será aplicada.

Caleb ficou surpreso que Beatrice estivesse fazendo um julgamento. Ele havia achado que ela simplesmente ordenaria que todos fossem mortos. Não era uma ideia muito boa deixar que aquelas pessoas pudessem sair livres e vivos dali.

Rapidamente percebeu que aquela havia sido uma preocupação tola de sua parte. Mesmo que pudessem se defender, isso não bastava para aquelas pessoas. Um a um, todos eram julgados e condenados à morte por diversos motivos. Uma faxineira e algumas pessoas que trabalhavam na cozinha foram, enfim, poupadas. E aparentemente, não pareciam representar nenhum perigo para eles.

Quando todos que estavam na sala foram julgados, Beatrice pediu a um rapaz, que trouxesse o último. Caleb viu sem surpresa, quando Charles foi entrou na sala. Diferente dos outros, ele não estava preso a uma camisa de força e possuía um semblante calmo. Que perdurou mesmo enquanto vários pacientes apresentavam acusações contra ele.

– Acho que já ouvimos o suficiente. - Decretou Beatrice. - Agora seria o momento que Charles apresentaria sua defesa. Mas todos sabemos que isso não importaria, ele seria condenado a morte de qualquer jeito. Entretanto, infelizmente essa é uma decisão que terá que ser adiada. Nesse momento o doutor Zank, também conhecido como pai de Charles ou diretor desse encantador lugar, encontra-se atacando covardemente a cidade de Chicago. Decidimos mantê-lo vivo por enquanto, tendo em vista, que poderemos usá-lo contra o pai num futuro próximo. Sei que essa não é a decisão que a maioria queria, mas é por um bem maior. Os outros cumprirão sua pena o mais rápido possível. Os que foram inocentados deverão partir imediatamente, a menos que desejem se juntar a nós. Quanto ao resto de vocês, poderão decidir o que fazer em seguida. Se quiserem partir, sintam-se a vontade. Mas há outra opção. Como já disse, o doutor se encontra em Chicago, após invadi-la. Nós estamos indo para lá, tanto para ajudar os moradores dessa terrível ameaça quanto para capturarmos o doutor para que ele possa ser punido por tudo o que fez. Se algum de vocês tiver interesse em juntar-se a nós, serão bem vindos. Então eu pergunto: quem aí está disposto a ser juntar a nós e dar um chuta na bunda daquele merdinha?

Começou a gritaria, tal como Beatrice, os outros também desejavam pegar o doutor para fazê-lo pegar por tudo que fez. Queriam vingança. Beatrice havia ganhado o apoio de, praticamente, todos os pacientes. Caleb não sabia se aquela era uma boa ideia, levar um grupo despreparado para enfrentar soldados de verdade. Só poderia terminar em massacre. Mas então, lembrou-se da história de Eleonor. O ódio que ela sentia deu forças a ela para que pudesse ferir gravemente ou até mesmo ter matado um homem que era mais forte que ela. E notoriamente, havia muito ódio e desejo de vingança naquelas pessoas que pareciam tão frágeis. Talvez, isso pudesse dar certo.

– Partiremos amanhã de manhã, às oito horas. Recomendo a todos que desejam nos acompanhar, que se preparem. Esta batalha não será nada fácil.


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