Ressurgente escrita por Let B, Muh


Capítulo 45
Capítulo 45


Notas iniciais do capítulo

Faz um mês amanhã que o último capítulo saiu. Eu só percebi hoje.
Como acho que ninguém quer desculpas, só vou dizer que a vida aconteceu e uns vírus decidiram entrar no meio.
Bem, essa é a quinta vez que eu tento postar esse capítulo, portanto espero que funcione porque estou de saco cheio.
Enfim, quero agradecer a essas pessoas que comentaram no capítulo passado e que nos fazem querer cada vez mais escrever mesmo quando quase não temos tempo:
*Diih Vasconcelos
*bea prior eaton
*Kah
*Star
*Cahfeher ( desculpa por postar depois do que te falei, mas foi para acrescentar mais conteúdo e revisar).
*DM
*lover of sagas
*Tris Pond

Aproveitem!



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P.O.V CALEB

A primeira coisa que Caleb pensou foi em trocar suas roupas. Usava simples roupas de médico, brancas, iguais a de qualquer um no hospital. Imaginou a confusão que poderia arranjar caso fosse encontrado assim pelos "rebeldes", além do medo de ser morto aleatoriamente apenas por isso.

Eleonor o seguia silenciosamente, mas Caleb via seus olhos brilharem de curiosidade. Provavelmente, ela já havia percebido que Caleb sabia de algo pela reação que ele teve, entretanto, não falou nada.

Caleb não tinha uma sala, por isso ele deixava suas coisas encostadas em um sofá no andar de cima. Subiu as escadas agilmente, prestando atenção nos degraus para não tropeçar na frente de Eleonor. Pegou apenas uma blusa azul e o seu celular, deixando qualquer coisa para depois.

O lugar, felizmente, estava vazio, facilitando a pequena fuga dele. O alarme ainda tocava alto, fazendo seus ouvidos pulsarem. Virou de costas para Eleonor, que já tinha entendido tudo e ainda preferia não comentar nada. Essa situação estava começando a assustá-lo.

Sem mais opções, tirou seu jaleco e sua camisa verde clara padrão. O ar frio tocou suas costas de forma que o fez encolher os ombros. Colocou sua outra camisa, permanecendo com a calça que vestia por baixo do uniforme. Agora sim estava diferente da maioria dos médicos, o que ele esperava que fosse ajudar a mantê-lo vivo.

— Você vai sair ou nós vamos? — indagou Eleonor após alguns segundos.

— Não sei. — disse honestamente, mas ao ver o olhar dela corrigiu-se — Quero dizer, não sei se vamos sair, entretanto, é óbvio que não vou te deixar.

— Isso é bom. — sorriu balançando a cabeça— Muito bom.

O alarme soava pelos corredores ecoando pelas paredes. Ele tinha uma vaga ideia do que poderia ocorrer se continuasse soando: além do prédio ser evacuado, poderia chegar reforço da polícia ou exército, para conter a invasão. Principalmente, o exército,já que parecia haver uma forte ligação entre o exército e o hospital. Se isso acontecesse, o resultado poderia ser terrível para ambos os lados.

Coçando o queixo, decidiu que poderia ajudar de outra forma, e ainda ganhar créditos com sua irmã, se o objetivo que ela tinha fosse o que ele imaginava. Passou a mão no cabelo, enquanto observava Eleonor brincar com uma mecha de cabelo que caía sobre o seu ombro.

Alarmes. Caleb podia ajudar eles.

Lembrava-se vagamente de que uma vez que Charles disse-lhe que os alarmes, as vezes, pifarem ou "lerem" a situação de forma errada. Portando havia sido designado a tarefa de que, caso aquilo se repetisse, desligá-los antes que os reforços chegassem por causa de um alarme falso.

Desta vez, era sim uma emergência, e era extremamente importante a evacuação dos pacientes e colegas de trabalho. No momento, Caleb não pensava neles como sua prioridade, mais isso não diminuía a importância de conter o conflito, poupando o maior número de vidas, evitando uma tragédia.

— Vou desligar o alarme. — disse Caleb, ajeitando seus cabelos bagunçados pela camisa quando trocou-a — O exército vai chegar aqui logo. Serão acionados se o alarme tocar por mais de quinze minutos e chegarão aqui uns vinte minutos depois.

— Ok. Mas como sabe disso? — indagou Eleonor.

— Ah, manual de segurança. — deu de ombros — Todo mundo sabe disso, procedimento de praxe.

—Sim, todos sabem. — Eleonor respondeu ríspida — Até mesmo nós, o grupo de loucos!

— Eu não quis...

— Óbvio que não. — ela virou a cara e estalou seus dedos — Vamos logo.

Caleb assentiu e saiu na frente, pois, obviamente, era o único que sabia onde ficava a central de segurança. Eleonor seguia com uma expressão passiva, o que o surpreendeu, já que ela tinha acabado de "explodir" com ele. Não sabia muito bem o que dizer para melhorar a situação, ele havia entendido o motivo da raiva dela. Já havia percebido que muitas pessoas ali, depois de ficarem trancafiados por tanto tempo naquele lugar, realmente enlouqueciam um pouco mais a cada dia.

— Por aqui. — chamou Eleonor, que parecia absorta na situação das outras pessoas, em especial os pacientes, que corriam desesperados assistidos por enfermeiros e alguns poucos seguranças para se proteger. Caleb perguntava-se o que passava na cabeça dela naquele momento, olhando com seus olhos verdes brilhando para os outros. Mesmo com todas as coisas que ela lhe havia contado, ele se perguntava se ela teria ocultado algo. Algo que a assombrava. De qualquer jeito, não hora era hora para pensar nisso.

Sentiu o olhar de alguns seguranças sobre si, apenas balançou a cabeça para dizer que estava tudo bem, tentando demonstrar confiança e que sabia o que estava fazendo. Não era mentira, apenas não era o que eles esperariam que ele fizesse. Em algum momento, pegou a mão de Eleonor, andando a passos apressados, mesmo consciente que as condições físicas dela eram limitadas, por causa dos anos que passou no hospital sem nenhum exercício físico adequado.

Não demorou mais de dois minutos para que chegassem à sala, onde o alarme soava desesperado. Era estranho que o lugar estava vazio. Mas talvez nem tanto. Afinal, com a confusão todos os seguranças deveriam ter sido enviados para deter os rebeldes e não ficar vigiando os botões. Quem iria desligar o pedido de ajuda?

A porta estava semiaberta, por isso, Caleb empurrou-a cuidadosamente com a ponta dos dedos, esperando que alguém aparecesse de surpresa por trás da porta, mesmo que o local estivesse quieto. Os únicos barulhos que ouvia, além do irritante alarme, era o da porta sendo aberta e a respiração ofegante de Eleonor ao seu lado.

— Está tudo bem. — disse mais para si mesmo do que para Eleonor. Virou-se para ela batendo na porta levemente com o dedo mindinho — Pode ficar vigiando as coisas por aqui?

— Claro. Por que não?

Caleb riu nervoso, passando a mão no braço dela, e Eleonor retribuiu o sorriso.

— Não vou demorar e tudo ficar bem.

— Como você sabe? — murmurou de cabeça baixa. Caleb queria responder naquele momento sobre a sua teoria. Explicar o que, antes, não achava ser muito importante para ela, entretanto, não havia tempo agora. Ele sabia o quanto ela ficaria feliz de, finalmente, sair daquele hospital.

Por isso olhou-a nos olhos, num pedido silencioso que ela confiasse nele. Tentando transmitir pelo olhar tudo o que não podia explicar agora. Os olhos verdes esmeralda brilhavam por causa da luz, e após míseros segundos houve certo entendimento neles.

A sala era pequena e apertada, as paredes cinza pareciam sufocá-lo, respirou fundo seguindo em direção do painel. Claro que Caleb não entendia muito sobre como aqueles equipamentos de fato funcionavam, pois era diferente de tudo o que já tinha visto em Chicago. Porém, sabia o primordial: como desligar o alarme.

Lembrou-se dos botões em ordem específica a serem apertados, uma sequência de senhas pré determinadas e conhecida apenas pelos funcionários, o que visava evitar que intrusos pudessem desligá-los. Digitou-os cuidados. Seus ouvidos gritaram aleluia quando o alarme parou. O silêncio foi tão grande que chegou a relaxá-lo, apertou instintivamente os ouvidos que estavam meio entupidos. Assim, ouviu Eleonor suspirar alto atrás de si, provavelmente por causa do mesmo motivo.

O seu trabalho ainda não estava pronto, pois como aquele era o único meio de se comunicar com o exterior para pedir ajuda (por motivos de prevenção de segurança), alguém certamente viria para ligá-lo novamente, e esse alguém, não deveria demorar. Caleb tinha que estragar o equipamento o suficiente para inutilizá-lo por pelo menos algum tempo, de modo sutil.

Agachou para alcançar a parte dos fios, onde demoraria certo tempo para alguém olhar. Achou o fio verde que ligava o equipamento e desconectou-o na tomada como uma pegadinha. Enrolou partes nos fios nas mãos para puxá-los com toda sua força, para dar a impressão de que estavam danificados. Aquilo chamaria a atenção de quem fosse religar o alarme, ignorando que o verdadeiro problema era que o equipamento simplesmente estava desligado. Escondeu o fio principal, fora de vista. Sorriu satisfeito esperando que aquilo funcionasse, ou pelo menos, fosse o suficiente para retarda-los.

Por um momento, levantou o olhar para os monitores que havia em cima do painel. Seu olhar foi atraído feito imã para os inconfundíveis cabelos loiros de sua irmã, no monitor que mostrava a recepção. Sorriu. Passou rapidamente o olhar pelos outros monitores, encontrando algumas pessoas que não reconheceu, em um tiroteio com os seguranças. Em outro monitor, viu enfermeiros, que largaram os pacientes, e tentavam fugir; em outro, observou vários pacientes confusos vagando sozinhos pelos corredores, provavelmente, por pensarem que estava tudo bem se o alarme tinha parado. Caleb sentiu um aperto no coração, mas deixou isso passar, dizendo a si mesmo que tudo ficaria bem.

Enxugou o suor da testa com as costas da mão virando-se para Eleonor, que sorria sem mostrar os dentes, ela não tinha visto Beatrice.

— Vamos sair daqui antes que alguém apareça. — ela disse, simplesmente. Olhou para fora da sala, chamando-o com a mão.

— Sim, vamos lá embaixo. Para os portões.

— Por quê? — questionou longos segundos depois,quando já estavam no corredor, a caminho da escada.

— Porque é lá que os rebeldes estão.

— Ficou louco? —indagou, elevando o tom da voz — Aqui pode não ser o paraíso, mas os rebeldes são ruins!

Caleb virou o rosto para que Eleonor não visse o pequeno sorriso que surgiu em seu rosto de forma involuntária.

— Quem te contou isso?

— Apenas são, ok? — bufou raivosa — Ninguém precisa me dizer isso, afinal as histórias...

— Tudo bem. Mas eu conheço estes daqui. Confie em mim.

Eleonor o encarou procurando qualquer traço de mentira nas palavras de Caleb e no seu olhar, parecia que ela desejava encontrar. Mas não, Caleb estava mesmo dizendo a verdade. Ou, pelo menos, a verdade que ele acreditava. Os olhos dele encaravam-na com intensidade, questionando-a sem palavras.

— Conhece eles, hein? Por isso queria desligar o alarme?

— Claro que sim. — exclamou — Eles não são super-heróis, mas é mil vezes melhores do que algumas pessoas daqui.

— Eu não sei...

— Por favor, acredite em mim. Não quero sair daqui sem você.

Caleb abraçou-a de lado porque estavam em movimento, uma de suas mãos acariciou o braço dela e ela deixou seu toque confortá-la. Soltou um suspiro, como fazia ás vezes ao sorrir, e sabia que Eleonor já tinha percebido isso.

— Eu sei, eu sei. — suspirou — É só que, fugir daqui sem levar os outros... Só parece errado...

Caleb trincou os dentes por um momento. Como Beatrice havia feito? Quis perguntar, porém não o fez sabendo que não era nisso que Eleonor quis dizer. Encostou seu nariz no pescoço dela, quente e macio.

— Não se preocupe. Sei que eles não têm a intenção de deixar ninguém para trás.

— Por quê? Combinou com eles ou algo assim?

— Não. — admitiu — Minha intenção aqui, inicialmente, era apenas pela minha irmã, sabe? Não tive contato com eles desde que cheguei.

— Tudo bem. Mas é melhor você estar certo.

— Estou certo. — ouviu Eleonor murmurar "modesto" e riu — Se eu te contasse que Beatrice está lá agora, entre eles?

Os olhos de Eleonor saltaram e ela parou de andar por alguns segundo, Ele sentiu seus ombros mexerem quando ela ria sem emitir nenhum. Estranhou a reação dela e estava prestes a perguntar, porém, como ela seguiu em frente, ignorou.

P.O.V BEATRICE

Beatrice tinha que confessar que esperava bem mais do ataque. O problema não haviam sido eles, os atacantes. Na verdade, eles foram rápidos e eficientes. Surpreendeu-se um pouco com a agilidade e preparo de Christina, não esperava que a garota tivesse tanta prática. Era engraçado comparar a guerreira que ela se mostrava com a garota falante e aparentemente pacífica, mas lembrou-se que a mesma já havia passado por esse tipo de coisa antes. Várias pessoas em Chicago já haviam passado. Esperava que Tobias estivesse tão preparado quanto Christina, algo a dizia que ele iria precisar.

O que, de fato, a havia surpreendido foi a patética defesa do hospital. Eles tinham guardas armados, mas nada que eles não pudessem lidar. Viu Damon atirando sem misericórdia em vários deles, enquanto Daniel era mais bondoso, tentando apenas imobilizá-los. Meg era prática, fazia o que era mais fácil e possível. Beatrice não estava prestando muito atenção no que os outros faziam, mas viu Jordan, um dos que os acompanhavam da Revolução, levar um tiro de raspão.

Um alarme tocou por alguns minutos, mas estranhamente foi silenciado.

Era estranho pensar que aquele lugar que ela sempre temeu fosse... Apenas isso, um lugar. Nada de extraordinário. Sentia-se um pouco estúpida de nunca ter tido coragem de fazer aquilo antes. Ela poderia ter ajudado os outros que ainda estavam presos antes, mas o medo que sentia a havia travado. Isso só a fez pensar em como ela fora egoísta, e lembrar o quanto estava longe de ser a pessoa que Tobias queria que ela fosse.

Displicentemente, ela mais observava que atirava, meio aérea por estar ali. Então, rapidamente viu Caleb, quando este surgiu no seu raio de visão. Ele corria em direção a onde ela estava, e junto tinha a companhia de uma garota que Beatrice lembrava-se vagamente. Aquilo foi tão fora do contexto que ela esperava que não conseguiu esboçar reação. Só olhou enquanto Caleb e a garota, que ela não lembrava o nome, cruzava o caminho que levaria até ela, desviando dos guardas e do embate que se travava. O que não era tão difícil nesse momento, já que a maioria dos seguranças já estava abatida ou fora de ação.

– Bea. - Daniel chamou sua atenção. Ela não havia percebido ele se aproximando. - Quem são aqueles dois?

– Humm. Aquele ali é... Meu irmão e a outra é paciente, se não me engano.

– Seu irmão?- Daniel perguntou estupefato. Ela não havia mencionado Caleb antes para ele. Daniel fez uma carranca. Ela sabia que ele estava com um pouco de ciúmes, pois sempre dizia que ela era como uma irmã para ele, e bem mais agradável que seu verdadeiro irmão. - E o que ele está fazendo aqui?

Beatrice não respondeu, já que não fazia a menor ideia do que Caleb poderia estar fazendo ali, mas tinha certeza que não devia ser nada de bom.

Caleb se desvencilhou do último guarda, chegando até ela. Nesse momento, todos os guardas que estavam do lado de fora, já estavam fora de combate. Caleb abriu os portões, possibilitando a entrada deles.

– Beatrice. - Caleb chamou-a, se aproximando. Ele sorria, parecendo feliz. Pelo canto de olhou, viu que Damon o olhava com ódio, Christina com uma mal disfarçada desconfiança, enquanto os outros pareciam apenas confuso. - Você já conhece a Eleanor.

Aquilo era uma afirmação. Beatrice voltou a olhá-la e lembrou-se.

– Sim, já nos conhecemos. Quantos outros guardas ainda há lá dentro? - ela perguntou prática, deixando as interrogações sobre o motivo para ele estar ali para depois. - Quem está responsável pelo hospital?

– Não sei exatamente quantos, mas não muitos, a maioria estava aqui. - Ele murchou, devia estar esperando que ela dissesse outra coisa. - Charles quem está no comando, mas eu não sei onde ele se meteu, não o vi durante a confusão.

Beatrice viu Eleonor encolher-se ao ouvir o nome de Charles. Ela sabia bem o porquê. Já Caleb, parecia alheio a isso.

– É melhor entrarmos. O garoto-ciência pode seguir na frente, já que aparentemente conhece tudo por aqui. - Damon disse irônico e Caleb olhou com raiva para ele. Beatrice se perguntou como eles podiam se odiar, se nem ao menos conheciam-se de verdade.

Como Damon sugeriu Caleb os conduziu, com Eleonor ao lado. Beatrice aproximou-se de Christina, queria saber por que ela havia olhado para Caleb daquela forma. Meg estava próxima a elas. Apesar de Christina ter mostrado que sabia muito bem se defender sozinha, Meg parecia achar que precisava cuidar dela.

– Se eu te perguntar uma coisa sobre Caleb, você me falaria a verdade? - sussurrou. Christina olhou-a e balançou a cabeça incerta. - O que foi que ele fez? Quero dizer, você não parece confiar nele, e outras pessoas em Chicago também não. Uma vez Zeke comentou algo sobre Caleb... Mas não esclareceu.

– Caleb nunca te contou? Humm, isso é interessante. Bem, é complicado. - Beatrice olhou-a exasperada. - Ok, ok. Você sabe um pouco da história que vivemos há alguns anos atrás, não é? Você também sabe que seus pais foram mortos juntos com a facção que faziam parte, a Abnegação, por ordens da líder da facção da Erudição, certo? - Beatrice confirmou, já ouvira aquilo algumas vezes, nada muito especifico só o básico. - Você também foi usada pela Erudição e quase morreu, não sei se você sabe disso.

– Acho que essa parte esqueceram de me contar - respondeu sarcasticamente - Essa Erudição era a grande vilã, então?

– Não exatamente, digamos que existiam pessoas lá dentro que estavam dispostas a tudo para atingir seus objetivos. E Caleb era uma delas. Ele traiu sua própria família, seus pais e você, por causa da Erudição. - Meg permaneceu em silêncio, mas era notável o horror em seu rosto. Damon, que estava logo a frente delas, estancou por alguns segundos, o suficiente para Beatrice perceber que ele ouvia a conversa. - Jamais iria defendê-lo, mas ele acreditava que estava fazendo o certo. Facção antes do sangue, esse era o lema que tínhamos. Tudo pela facção, ou seja, no caso da Erudição, tudo pela ciência e pelo conhecimento, algo assim.

– Não sei se consigo entender isso. - Beatrice confessou.

– É complicado, como eu disse. As coisas eram diferentes naquela época. Mesmo assim, não é justificável o que ele fez. Mas depois que tudo acabou, até mesmo antes do fim, Caleb sempre pareceu ter se arrependido muito pelo que fez e que havia mudado. É só que vê-lo aqui é, não sei, um pouco confuso para mim. Faz-me pensar.

– Que talvez ele não tenha mudado tanto assim?

– Sim. Não. Não sei. Quer dizer, o que ele está fazendo aqui? Fico pensando se essa história de trazer os mortos de volta a vida, possa ter o interessado. De modo científico, sabe? Só fico preocupada com o que ele possa estar planejando.

– Entendo. Obrigada por me contar. Entendo o porquê de ele mesmo não ter contado isso antes.

Beatrice acelerou o passo, deixando as duas um pouco para trás, caminhando ao lado de Damon. Ele a olhou, mas ela fingiu não perceber. Não queria conversar sobre nada daquilo agora. Damon com certeza iria se aproveitar da situação, num estilo "eu bem que te avisei que não confiava nele”, e ela não estava com paciência pra isso agora.

Apesar do alvoroço dos pacientes, enfermeiros e até mesmo algum médicos, eles puderam caminhar tranquilos. Trombaram com alguns guardas, mas tirando estes, ninguém mais ousou tentar impedi-los. Alguns outros pacientes olhavam curiosos para ela, pacientes antigos que já a conheciam.

Caleb os guiou até a sala da diretoria, local onde antes, era possível encontrar o Doutor na maior parte do dia. Mas não hoje, já que esse estava em Chicago. A porta estava trancada por dentro, o que necessitou que uns dos membros da Revolução que os acompanhavam, Josh, a arrombasse.

Quando finalmente abriram a porta, não foi nenhuma surpresa encontrar Charles lá. Este se encontrava abaixado atrás da mesa, somente com o tronco a vista. Escondido, como um maldito covarde. - ela pensou. Em um das mãos, segurava uma arma, apontada em direção a eles. Ele olhou primeiramente para Caleb.

– Ora, ora. Caleb! Não sei dizer se estou surpreso com isso. Sempre desconfiei um pouco de você, um pouco devo confessar por causa do seu sobrenome. E olha quem está com você, Eleonor. - Seu olhar seguir até Beatrice - E Beatrice! Mal me lembrava de você. Nós nos vimos o que, apenas umas três vezes?

– Duas, para ser mais exata.

– Ah sim. Devo alertá-los que atirarei em quem tentar entrar.

– Não seja tolo. Você está sozinho, estamos em maioria e também armados. Você atira em um e os outros atiram em você. Não seria mais inteligente se render?

– Ah sim, claro. Eu consideraria essa ideia se você puder me garantir que permanecerei vivo. Sei muitas coisas. - Olhou para Caleb. - Muitas coisas, poderia ajudar vocês, mas para isso teria que estar vivo. Matando-me, vocês não ganhariam nada.

–Ora, é claro. Ponha a arma no chão e garantiremos que você ainda possa viver mais alguns dias. Meses ou anos, já não posso garantir. - ela respondeu.

– Acho que posso viver com isso, por enquanto. - Ele abaixou ainda mais, colocando a arma no chão e empurrando para longe. Em seguida levantou-se vagarosamente, para mostrar que não iria tentar nenhuma gracinha contra eles.

É claro que ela havia mentido sobre deixá-lo viver mais alguns dias. Ela preferia tê-lo bem morto, mesmo que isso significasse perder a oportunidade de usá-lo contra o pai. Mas antes que ela pudesse apontar a arma para ele, Damon o fez.

Charles ainda deu um sorriso debochado, acreditando que Damon só estava tentando o amedrontar. Ele não conhecia Damon.

Após a surpresa de encontrar Caleb ali, Beatrice realmente achou que nada mais a surpreenderia. Ela estava enganada. Antes que Damon pudesse atirar, Caleb se jogou na sala, mantendo-se de frente para eles, posicionado de forma que Damon não conseguisse mirar em Charles. Protegendo-o com o seu próprio corpo.

– Nem pense nisso! Eu ainda preciso dele vivo. - Caleb disse, obstinado.

P.O.V JACOB

Jacob mordia o lábio inferior com tanta força que chegava a fazê-los sangrar. Fazia dias que estavam em Chicago e nenhum sinal de Tobias, ou Beatrice. O que preocupava tanto Jacob quanto o Doutor, e por ambos ficarem sempre juntos, piorava ainda mais o mau humor deles.

No momento, Jacob estava sozinho. Sentado na traseira de um carro, enquanto comia seu almoço com voracidade, afinal fazia umas boas cinco horas que não comia nada. Ele gostava de ficar um pouco sozinho nessa confusão de soldados, que sempre estavam perguntando coisas que ele não sabia responder, já que passava quase todo o tempo preso ao doutor. No último dia, Jacob estava tentando evitá-lo, e parecia que o outro tentava a mesma coisa.

Jacob não estava conseguindo encontrar Tobias e estava começando a preocupar com isso. Onde ele tinha se metido? Não o conhecia muito bem, mas não parecia ser do seu feitio abandonar Chicago, ainda mais, naquela situação. Todos os outros estavam fazendo esforços para encontrar Beatrice (O que Jacob sabia que era perda de tempo). Mas alguém procurava o que ele queria? Não.

Beatrice. Beatrice. Beatrice. Parecia que tudo o que Jacob ouvia nesses dias tinha o nome dela no meio. Bom para ela, certo? Quando ela for pega vai agradecer por ser tão famosa assim. É claro que ela vai.

Jacob ainda tinha aquela chama que queimava-lhe o peito ao pensar nela e em Tobias. Isso não era mais só pelo fato dele sentir-se um idiota por gostar de Beatrice, e por ter sido desprezado por ela. Agora era mais, muito mais. Todos sabiam o que sentia, todos conheciam um pouco dele. Mas alguém se importava com ele? Não, ninguém. Com quem se importavam no lugar? Surpresa, Beatrice!

Ninguém se importa comigo, pensou olhando ao redor.

Decidiu, por fim, que falaria novamente com o Doutor sobre Tobias. Talvez com aquela pressão, e com um bocado de insistência de Jacob, o médico finalmente fizesse alguma coisa efetiva.

— Doutor, eu queria falar com vo... — Jacob disse ao se aproximar do médico, mas este ergueu a mão de cara fechada, apontando para o aparelho celular em seu ouvido.

— Perguntas? Sei, sei. — o homem dizia no telefone com calma — Por que ele está desconfiado do Hospital? O que o levou até isso? Alguém deve ter dito algo, para que ele começasse a questionar tanto sobre mim.— houve uma longa pausa — Disso eu sei, Senador, mas... Tudo bem entendo, mas ele é o Presidente.

Jacob se moveu desconfortavelmente ao perceber a seriedade do assunto. Imaginou que isso teria algo haver com o presidente que assumiu que havia assumido o cargo no início daquele ano, e já demonstrava que tinha intenções de mudar muitas coisas no país. Um revolucionário e idealista. Apesar de saber que o doutor mantinha relações estreitas com o governo, nunca imaginou que isso pudesse chegar a afetá-lo. Principalmente, porque este parecia possuir muitos contatos com diversos governantes. Nesse momento mesmo, ele estava falando com um deles. Provavelmente, o mesmo senador com quem o doutor havia se encontrado, pouco tempo antes. Fora ele quem havia providenciado o serviço dos soldados que atacaram e mantinham cercada Chicago. Mas, o que será que estava acontecendo agora? Ficou quieto e intrigado com a situação.

— Bem, eu estou tentando. — mais uma pausa — Claro que Chicago atraiu a atenção dele! Como não? Estamos quase lá.

Jacob, silenciosamente, encaixava as peças.

— Como assim vão me abandonar? Você sabe que está tão envolvido nisso quanto eu, isso sem falar nos outros. Garanto que se eu cair, não serei o único, você sabe bem disso— a voz do Doutor estava tão elevada, que estava perto de gritar — Dê um jeito nisso. Preciso explicar o que é preciso fazer? -suspirou- estou cansado dessa conversa. Me ligue novamente depois que resolver o nosso problema. Ou será necessário que eu que terei de resolver?- desligou irritado.

Ao seu lado o homem bufou. Seu olhar frio, tão conhecido por Jacob, tornava-se enraivecido.

— Ah, Jacob, que bom. Eu precisava falar com você.

— Certo — deu um passo para trás, assustado com aquele tom de voz. — Eu queria te falar sobre Tobias.

— De novo, Jacob? Já conversamos sobre isso. Ele não me interessa.

— Mas...

— Sei que seu interesse por esse tal de Tobias é grande, mas nossa prioridade é outra. Beatrice é mais importante.

Jacob trincou os dentes e passou a mão no cabelo, nervoso.

— Está no nosso acordo! Tudo sobre o Tobias! — rugiu.

O Doutor deu passos largos pelo local onde se encontravam. Ajeitou a sua arma no coldre. Já havia um sorriso no rosto, e mesmo não conseguindo olhar em seus olhos, Jacob apostava que ainda estavam com as faíscas raivosas de antes.

— Ah, Jacob. Não sei se você percebeu, mas encontrar Beatrice também estava no nosso contrato. Mas cadê ela? Não estou a achando em Chicago.

— Eu juro que... — engoliu a seco.

— Sim, sim. Você tem a certeza que ela está aqui em algum lugar e que Tobias está com ela, certo?

— Claro que sim. Não tem motivo para eles ficarem separados. — respondeu com falsa convicção.

— E esse interesse em Chicago seria ocasionado, talvez, por esse tal de Tobias? E, por acaso, você não teria mentido para mim e me ferrado de vez? — o tom frio arrepiava a espinha de Jacob.

— Não menti para você. — disse — Não sou burro.

O Doutor aproximou-se de Jacob. Podiam ouvir as respirações um do outro de maneira tensa. O Doutor tinha aquele sorrisinho aparentemente inocente nos lábios enquanto Jacob mostrava-se inexpressivo. O bafo do doutor era quente e cheirava a carne quando falou:

— Isso é bom, Jacob. Você sabe o que acontece com aqueles que mentem para mim, não?

Não soube falar se era pelo puro prazer de manter a expressão que se encontrava agora, ou se talvez fosse para manter o seu tom ameaçador por horas. Mas o médico virou-se para o encontro com outro soldado com uma risada nasal. Jacob nem ousou olhar para trás.

– Que seja! Vamos encontrar esse maldito Tobias.


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam! Até o próximo!
;)



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