POV Beatrice

Beatrice estava sentada encostada na mesma árvore onde antes havia atirado uma faca várias vezes. Ela não sabia quanto tempo havia passado desde Jacob havia partido dali, teria sido a uma hora? Talvez duas. Isso importava? Será que ele ainda estava na cidade ou já teria partido? Será que ele realmente a deixaria? E será que ela deveria fazer algo para consertar as coisas?

Era engraçado como a partida de Jacob a havia desestruturado mais que a de Damon. Talvez fosse o choque de ter percebido que havia conseguido realizar o incrível feito de perder as duas pessoas mais próximas que ela tinha em menos de 24 horas.

Não, isso não era exatamente verdade, ela pensou. Ela nunca se sentira realmente próxima de Jacob. Primeiro, porque eles eram muito diferentes. Depois da fuga do hospital, Beatrice descobriu o mundo que havia do lado de fora e decidiu fazer parte dele. Vivê-lo intensamente. Jacob não. Ele nunca fez questão de se envolver com nada e nem com ninguém, não de verdade. Para ele era preferível ficar trancado apenas em si, e se mostrava apenas para ela. Talvez pela tênue ligação que eles tinham de terem compartilhado a vivência daquele inferno que era o hospital. Segundo, porque ela reconhecia agora, sempre houvera uma vozinha dentro dela questionando-a se ela realmente poderia confiar em Jacob. Que estranho perceber isso agora, ela pensou, mas ela sempre tivera dúvidas sobre o caráter dele. Ele acreditava que era a pessoa mais próxima que ela tinha, mas para ela nunca havia sido assim. Jacob era apenas Jacob, uma presença constante, mas nem sempre agradável.

Mas Damon era diferente. Desde o primeiro contato que tiveram, no decrépito bar frequentado pelos membros da Revolução, havia existido uma certa intensidade entre eles... Ou seria necessidade? Naquele primeiro momento em ela nem sabia quem ele era, mas a presença dele ao seu lado era algo explosivo. Ele pareceu tão confiante e lindo, naquele primeiro momento. A verdade é que como ela, ele era absurdamente solitário e vazio. Mas depois que eles se conheceram não mais. Não importava o quanto, às vezes, as coisas ficavam feias e violentas entre eles, eles se sentiam sortudos de ter um ao outro. Pensando nisso agora, ela percebia o quanto isso era doentio. Esse tipo de dependência física e emocional não era bom para nenhum dos dois, mesmo que eles nunca houvessem percebido. Mas aquela era a única relação profunda que ela realmente tivera com alguém, e Damon não tinha um histórico muito bom em relacionamentos. Então como eles poderiam saber o quanto aquilo era prejudicial para ambos? Mas algo nela havia mudado agora. Aquele tempo que passara ali naquela cidade a mudara mais do ela gostaria de admitir. Ela não sentia mais dentro de si, a ânsia que sempre a acompanhara de que faltava algo e também conseguia enxergar mais claramente sua vida.

Uma coisa que percebeu agora era que desde que Damon havia aparecido atrás dela, ela estava furiosa com ele. Poderia parecer irracional para outras pessoas. Eles estavam juntos há algum tempo, e nesse tempo, houvera várias ocasiões em que tanto ela quanto ele precisaram de um tempo para si. Tempo para pensar, para lidar com outras coisas, para não se saturarem, não importava o motivo. Sempre que ele havia precisado se ausentar, ela havia respeitado e dado espaço a ele. Ele também sempre havia feito isso por ela, mas ela sabia que ele não gostava. Como líder, ele estava acostumado a saber sobre tudo o que acontecia e ter o controle, e era frustrante para ele não conseguir controlar o mistério que ela ainda era para ele. Então ela sabia, que não era apenas preocupação que o motivara a ir em busca dela, mas também a curiosidade, a vontade de controlá-la e a necessidade de decifrá-la. E saber disso foi o que a deixara tão perturbada e chateada com ele, ela não o queria ali e ele sabia disso. Ela queria e precisava viver aquilo sozinha. Tentou dizer isso a ele, tentou dizer que precisava de um tempo, mas ele havia ignorado e fingido não entender o que ela realmente queria dizer – Me deixe ser livre, Damon. Eu sempre o deixei ser. Se eu realmente for sua, eu voltarei. Do mesmo jeito que se você for meu, você sempre voltará para mim. – Mas ele insistira em ficar e em tentar obter o controle sobre ela.

E então aquilo com Tobias aconteceu, e Damon... Ele ficou tão furioso. Ela entendia que o que fizera com ele havia sido errado, mas de certa forma o culpava por as coisas terem acontecido daquele jeito. E ele ainda havia tentado a provocar dizendo coisas sobre Connie, e ela simplesmente perdeu a cabeça e agiu friamente como se nem se importasse. Fazer isso havia doído tanto nela, mas a raiva a cegou. Meu deus, pensou, como eu pude ter sido tão cruel com ele?

E para piorar, ainda havia aquela coisa que ela não conseguia definir entre ela e Tobias. Era tão diferente de tudo o que já experimentara, e era tão incrível. Ele conhecera outra versão dela que era boa e corajosa, e ela sentia uma profunda vontade de ser novamente assim para ele. E não era uma dependência como era com Damon, ela não precisava de Tobias para manter-se de pé, ela o escolhia. Com ele, ela se sentia mais forte e livre do que jamais fora.

Mas ela tinha dúvidas. Para começar, ela pensava que ele queria alguém que ela não era mais. Porque não importava o quanto se esforçasse, ela nunca seria a mesma pessoa de antes. Muitas coisas haviam acontecido e haviam deixado marcas profundas nela. Será que ele ainda a amaria se houvesse visto a forma como ela havia tratado Jacob? Ou Damon? Ela havia sido egoísta e cruel com os dois. Ele conseguiria entender porque ela havia agido assim?

Ela levantou-se, saindo do estado de inércia que se encontrava. Ela precisava conversar sobre isso com alguém. Isso era algo novo, essa vontade de compartilhar seus sentimentos e pensamentos com outra pessoa. Pensou em ir conversar com Meg, mas ela provavelmente estava com Christina e Beatrice já tinha muita coisa na cabeça para lidar com Christina agora. E era óbvio que em algum momento era teria de fazê-lo, mas não hoje. E de todo jeito Beatrice desconfiava que algo poderia estar rolando entre elas, e ela não gostaria de se intrometer entre as duas.

Ela percebeu tristemente que não havia sobrado ninguém para ela agora. Mas talvez... E então sua mente se clareou. Ela sabia que só havia uma pessoa com quem ela poderia falar agora.

POV Tobias

Tobias não havia ido trabalhar. Zeke o havia convencido que o melhor que ele podia fazer agora era ficar quieto em casa, pelo menos hoje, até esperar a poeira baixar. E claro que ele estava no mínimo insatisfeito com isso. Como ele poderia não fazer nada, ficar parado logo agora? Tanta coisa havia acontecido em tão poucas horas.

Ele mal podia acreditar no que havia acontecido entre ele e Beatrice. Durante tanto tempo ele pensou que nunca mais a veria, nunca mais a tocaria. Que havia perdido ela para sempre. E agora, depois de tê-la novamente, ele nem sabia como havia conseguido sobreviver tanto tempo sem ela. Mas ainda havia muitos empecilhos entre os dois. E entendia, contrariado, que ela precisava lidar com Damon antes que eles pudessem se envolver, se é que isso realmente aconteceria.

Ele estava deitado distraidamente no sofá quando ouviu alguém a porta. Pensou em ignorar, mas estava entediado demais para deixar a oportunidade passar. Quando abriu, se surpreendeu com a visão de Beatrice. Ela estava ali, como se ele houvesse a conjurado em um sonho. E carregava um sorriso tímido e modesto no rosto, como se não soubesse bem como agir perto dele.

Ainda surpreso, abriu mais a porta. Ela não se mexeu e ele não conseguiu dizer nada. Ela mordia os lábios de forma nervosa, o que provocava nele lembranças da noite anterior e sentiu seu corpo se esquentar. A feição que havia no rosto dela, mostrava que ela também se sentia daquela forma.

Ela aproximou-se vagarosamente e segurou firme na blusa que ele vestia o puxando ao seu encontro. Beijou-o furiosamente e ele correspondeu na mesma intensidade. O beijo, apesar de intenso, fora rápido.

– Eu vim aqui porque eu queria... anh... Conversar com você- Ela disse com a testa encostada a dele. Respirava ofegante por causa do beijo.

– O que você quer conversar? – Eles tinham muitas coisas para conversarem, mas no momento nada conseguia aparecer em sua mente distraída pela presença dela.

– Eu tenho tantas coisas para dizer... Mas quer saber? Acho que isso pode esperar. Temos coisas mais interessantes para fazer do que conversar. – e o beijou novamente.

Ele puxou ainda mais o corpo dela contra o dele. Sem quebrar o beijo, puxou-a para dentro da casa e fechou a porta.