“Longe da confusão de fora

O momento perfeito

Parece estar aqui

E depois evapora

Longe da confusão de fora

Basta uma centelha

E pega fogo como gasolina

[...]

Por mais que eu tente

Me acertam em cheio Por mais que eu tente

É como um carro sem freio” Noite e Dia (É Sempre Assim)

Capital Inicial

...

—O que? Por quê? – perguntou Jacob.

Beatrice observou fascinada a mão de Tobias em seu braço. Quanta petulância, ela nem sabia quem ele era pelo menos não exatamente. Mas mesmo assim... Ela sentiu seu corpo queimar com o contato. Meu Deus, ela pensou, o que está acontecendo comigo? Virou-se meio confusa para Jacob, tinha curiosidade em saber o rapaz dos brilhantes olhos azuis tinha a dizer, porém outra parte de si não dava à mínima e pensava na possibilidade de o Doutor já saber seu paradeiro. Voltou-se novamente para o outro e ele tinha um olhar tão... Decidiu-se. Uma conversa não vai fazer mal, pensou, olhando aqueles profundos olhos azuis. Tudo o que ela conseguia enxergar era azul

— Não tem problema Jacob. – sorriu pelo canto dos lábios – Quero ouvir o que ele tem a falar. - Virou para Tobias tentando manter uma expressão séria e disse friamente: - Seja rápido, tenho que partir o mais rápido possível. Você não entende como é o doutor!

—Veremos. – Tobias sussurrou para si mesmo sorrindo.

Beatrice revirou os olhos, descrente que ele a convenceria a ficar ali. Jacob e Meg saíram com certa relutância e não tiraram os olhos dela até fecharem a porta. Eles pareciam indignados e decepcionados que ela preferisse um estranho a eles. Beatrice suspirou, ainda teria uma conversa com aqueles dois. Principalmente Jacob, ela não esqueceria tão cedo que foi ele que começou a revirar seu passado.

Virou-se para Tobias, ele sorria timidamente, com os olhos brilhando e a boca tremendo de nervosismo. Beatrice relaxou e abriu um ligeiro sorriso. Ele começou a passar a mão pelo cabelo de forma trêmula. Ela achou aquilo engraçado. Ela pelo menos conseguia disfarçar o tão ansiosa estava. Ele parecia nem saber por onde começar.

— Sou Tobias. – mordeu o lábio – Já sei que você não se lembra de mim, mas eu me lembro de você, muito bem na verdade. Você foi, e provavelmente é a pessoa mais importante da minha vida e eu acho que eu era a pessoa mais especial para você também. – Ele disse aquilo de forma rápida, tal como estivesse arrancando um band-aid.

Ela fez uma careta de uma mistura de surpresa e negação. Ela não podia negar que ele a atraía. Mesmo com tão pouco contato, ela sentia como se houvesse uma eletricidade percorrendo entre o corpo dos dois. A mente esquece, mas talvez o corpo não. E o corpo dela naquele momento parecia arder. Mas mesmo assim, ele não parecia o tipo de cara com quem ela se relacionaria.

— Você morava aqui, nessa cidade, com seu irmão e seus pais desde pequena. Você nasceu aqui. – ele continuou a explicar. - Nós vivíamos de forma diferente aqui, antes tínhamos facções.

— Sim, eu li algo sobre isso antes de vir para cá.

— Você era de uma facção chamada Abnegação – ela olhou para ele descrente. Abnegação, sério isso? –Mas você se transferiu para a Audácia. Fui seu instrutor por algum tempo, quando você chegou- Ele parecia emocionado. – Você...você era especial e diferente dos outros. Eu me apaixonei por você, por sua força, por sua coragem...Por tudo o que você é. Lutamos muito juntos, um do lado do outro. E foram tempos tão difíceis, mas sinto falta desse tempo. Porque apesar de tudo, você estava aqui comigo. E depois quando... Isso não importa agora. Meu Deus, eu nem consigo acreditar que você esteja realmente aqui

—Nós éramos..? – perguntou Beatrice para ter certeza, não era burra, mas queria ouvir da boca dele.

—Namorados. Mas definir apenas dessa forma é tão pouco. Você era, é e sempre será uma parte de mim – assentiu suspirando, como se dizer tudo aquilo houvesse tirado um peso de suas costas. – Eu te amava e você me amava, eu era seu e você era minha. Tris eu... – Tobias tinha lágrimas traiçoeiras se juntando em seus olhos.

—Não me chame assim! – irritou-se. Toda aquela estória parecia uma piada cruel, seguiu até aquele lugar esperando encontrar algo. Algo que ela não sabia exatamente o que era, mas não aquilo. Ela sonhou noites e noites com aqueles olhos, mas aqueles olhos queriam alguém que não existia mais. Aquela pessoa não era ela. Sentiu uma dor estranha dentro de si, percorreu um longo caminho apenas para ver que aquele nunca mais seria seu lugar. Porque por mais que ela não admitisse ela havia sonhado que poderia recomeçar, voltar para sua vida. Deixar tudo o que ela havia feito para trás, mas aquilo era demais. Como pude ser tão estúpida! Sentiu-se furiosamente com ela mesmo e com Tobias. – É Beatrice! Sabe essa pessoa que você conhecia? Aquela pessoa que amava você e você amava? Então, você tem que saber que ela morreu! Está morta há muito tempo. – completou com um sorriso frio estampado no rosto. Ela era muito boa em esconder emoções. Teve que aprender a ser em sua vida.

—Desculpe. – Tobias olhou em seus olhos. Ele não pareceu com raiva, apenas triste. – Mas tecnicamente você ainda é a Tris.

— Não sou a mesma. – Ela pensou que tal como ele, ela devia dizer a verdade como se tivesse arrancando um band-aid. – E nunca mais voltarei a ser.

O silêncio tomou conta do local, não era o que nenhum dos dois espera daquela conversa. Os corações dos dois estavam acelerados, a respiração ofegante, a adrenalina ainda dominava os seus corpos.

—Você não quer nem saber um pouco mais sobre sua vida? – Tobias quebrou o silêncio, apertou as mãos na cabeça. Beatrice deu ombros e cruzou os braços, se ela estava lá ao menos saberia um pouco mais sobre a outra Beatrice tão diferente desta. - Participamos de uma grande revolução na cidade, depois do que fizemos tudo mudou. Foi uma incrível aventura que tivemos juntos com aqueles que estão no outro cômodo. Tenho certeza que eles também te amam. Você não quer ao menos conhecê-los?

Beatrice ajeitou o corpo, não tinha ouvido muito o que ele tinha dito, mas uma coisa chamou atenção, uma coisa muito importante. Perguntou: -Uma revolução? – Beatrice pensou que aquilo sim era que se parecia minimamente com ela.

—Sim. Mudou muito Chicago, tivemos participação direta e indireta. – Tobias pareceu ficar radiante com o interesse dela.

—Conte-me mais.

—Uma mulher queria matar muitas pessoas como você e foi mais ou menos assim que começou nossa revolução para a liberdade da cidade.

—Como assim pessoas como eu? – indagou inclinando a cabeça.

—Divergentes. Você deve saber o que é. - Beatrice abriu sua boca pronta a responder, porém a porta foi aberta interrompendo os dois. Um rapaz passou correndo pelo cômodo e sua expressão era uma mistura de felicidade, incredulidade e nervosismo. -Beatrice! – Disse o estranho se aproximando com a intenção de abraçá-la, porém ela esticou o braço o afastando. Olhou para Tobias em dúvida, questionando com olhar quem era esse. Tobias bufou de indignação, resmungou e apenas disse: - Caleb.