– Isso está meio chato... – falou Lawrence, pela vigésima quinta vez, olhando para todos conversando e rindo, ao comerem suas sobremesas.

Olhou para o seu prato, e suspirou. Já comera um pedaço de sorvete de chocolate, mas tudo que queria mesmo era chocolate quente. Estava ficando mais frio naquele salão, e sem capa, somente com aquela blusinha, estava começando a sentir os efeitos do vento vindo das janelas. Seus pensamentos então voaram para Carrie, sentada bem na ponta da mesa, que usava somente um vestido. Riu. Que tola.

– Concordo... – disse Daniel, que também já comera sua sobremesa, e concordava com ela também pela vigésima quinta vez.

– Vamos para os dormitórios? Não é contra as regras, sim? – perguntou ela, se animando um pouco com a possibilidade.

– Não, claro que não. Com exceção dos alunos do primeiro, todos podem ir para o dormitório mais cedo se estiverem cansados ou indispostos. Só precisamos perguntar ao monitor a senha. E por sorte, o nosso monitor também está meio entediado, não é, Draco?

– Meio? Eu estou incrivelmente entediado. – murmurou com a cabeça apoiada na mão. - O único problema, é que se sairmos, chamaremos a atenção para a tão incrível Lawrence assunto do salão Potter. – continuou.

– Lawrence, é? Achei que era somente Lawren – falou Daniel – Bem, mais atenção do que ela já chamou... Não vejo problema. Vamos, Draco. Isso aqui está muito cansativo e repetitivo.

– Tudo bem. Tenham em mente de que eu não poderei ir com vocês. Os pirralhos terão que me seguir.

– Tudo bem. – falou a ruiva – Vamos, Draco, qual é a senha. Eu quero chocolate quente.

– Eu deveria mais é te deixar para o lado de fora, sem chocolate quente. Depois vai jogar na cara dos outros. Não é muito legal. – falou, se lembrando de repente do ocorrido.

– Se não fosse tão tarado, isso não aconteceria. Agora, vamos, a senha. – falou apressada.

– Godric Gryffindor. Essa é a senha. – a Potter franziu a sobrancelha.

– O que? Por que diabos...

–... Essa senha? – completou Draco – Por ser tão óbvia, acaba sendo difícil. Não pense que nos agradamos, mas...

– Tudo bem, tudo bem! – falou o loiro, se levantando, chamando a atenção de alguns – Vamos, Lawren. – murmurou – Antes que Hogwarts inteira decida olhar para cá.

A outra deu um sorrisinho de canto, deu um breve aceno para Draco, e se levantou. Estava gelada, e com muito frio. Andou sorrateiramente com o garoto, chamando a atenção somente de algumas pessoas da Slytherin, e lentamente, chegaram até a porta do salão de entrada. Foi então que o desastre aconteceu.

Não dera para entender muito bem o que ocorrera, mas os reflexos da ruiva captaram algo atrás de si, que com certeza não era Daniel, e por impulso, para não pegarem o garoto, ela tentou dar um chute girando novamente, como fizera com ele mais cedo.

Ele, mais uma vez, parou a perna dela no ar, mas visivelmente muito assustado. Arregalou os olhos para ela, e olhou para o pé dela, a uns dois centímetros de sua bochecha. Ela também estava muito assustada pelo que fizera. Iria bater no Surrey, achando que era outra pessoa. Onde estava com a cabeça?

– Você é louca ou o que? – falou um pouco alterado, chamando a atenção do salão – É a segunda vez hoje que você tenta me acertar! Qual é o seu problema?! E olha que eu nem mesmo estou contando com todos os outros dez golpes que você tentou!

Ela olhou para ele, inexpressiva novamente. Alguns da mesa da Gryffindor e da Ravenclaw já haviam se levantado para aparar uma possível briga, inclusive Harry. Mas a reação de Lawren foi inesperada. A garota simplesmente deu um sorrisinho, arqueando a sobrancelha, e olhando para a mão dele e para o seu pé.

– Só queria ver se os seus reflexos estavam bons. – o garoto a encarou sem compreender nada – Agora, se puder soltar meu pé, seria ótimo. Ou terei de torcer seu braço novamente.

Ele, lentamente, soltou o pé dela, que o pousou no chão delicadamente. Deu um giro com um sorriso, e saiu andando pelas portas, tendo a incrível noção de estar sendo observada. O loiro logo a seguiu, chegando rapidamente ao seu lado.

– O que foi aquilo? – perguntou, estressado – Se aquilo era uma maneira de chamar atenção, parabéns, sua meta foi alcançada com sucesso!

– Calado! Tinha algo atrás de você. Uma espécie de sombra. – falou pensativa.

– Está brincando! Essa é a sua melhor desculpa?!

Ela parou e se virou para ele, totalmente sem expressão. Olhou para os olhos dele, e calmamente falou.

– Essa é a minha melhor verdade. Se não acredita, é uma questão sua. Eu estou pouco me lixando para o que você pensa ou deixa de pensar. Entenda uma coisa: não somos amigos. Somente colegas de casa. Eu não tenho amigos. O único motivo pela qual você ainda me chama de Lawren é porque eu tenho raiva do meu sobrenome. Se não fosse por isso, seríamos somente Surrey e Potter. Então não pense que pode vir me dando lição de moral, ou gritando comigo, porque isso não funciona. Somos somente duas pessoas, conversando. Não é por causa disso que seremos amigos. Nunca seremos. – e assim se virou, continuando a caminhar, logo parando – Ainda preciso saber onde é o dormitório, se não se importa. – ele suspirou.

– Na porta a sua frente. – ela abriu a porta, se deparando com uma escada que ia para baixo, e baixo, e baixo. – É nas masmorras. – murmurou, tomando a frente.

Andaram por mais um tempo, até chegarem a uma porta. Falaram a senha, que se abrira para um grande salão comunal, com poltronas de couro. A garota rapidamente se afastou, achando os dormitórios. Pegou uma roupa, e se mandou para o banheiro.

***

– Então está me dizendo que essa garota viu uma sombra atrás de você? – perguntou Draco – Louca. Hogwarts já não era normal antes dela, não quero nem imaginar agora. – Daniel concordou. – Falando da débil, olha quem está vindo aí.

Ao longe a Potter vinha andando calmamente. Ela usava uma calça de malha cinza. Era folgada ao longo de toda a perna, e nos tornozelos havia um elástico que deixava justo. Na parte da cintura, um fio para atar. Usava na parte de cima um moletom cinza surrado, com bolsos e um capuz com a mesma cordinha para atar. Nos pés uma pantufa branca e peluda. Ela estava com os cabelos meio úmidos, provavelmente porque tomara banho e em algumas partes pegara água. Trazia calmamente nas mãos, uma xícara grande e branca, com o desenho de um gatinho de gravata.

– Olá, garotos. – disse se sentando cautelosamente em uma dos sofás pretos, de couro. Juntou as pernas e colocou uma almofada em cima, bebericando um pouco do conteúdo da xícara na boca.

– Atenção Slytherin! Atenção Slytherin! – gritou Draco, chamando a atenção de todos na sala – Atenção para a ruiva mais gata, poderosa e ninja da parada! Atenção Slytherin! Atenção para a nova integrante da nossa casa! Atenção para a ruiva mais sexy do momento! – falou ele, já de pé no sofá, ao lado de Lawrence, que o olhava chocada – Passamos agora a palavra para o nosso querido Daniel Surrey, que dará as devidas vindas a essa linda garota!

– Isso não está acontecendo... – murmurou Lawren, olhando para o outro loiro, que subira em uma espécie de mesa.

– Hoje, nesse lindo ano, meus senhores e senhoras! Recebemos uma grande surpresa, com uma nova integrante para a nossa linda casa! Aproveitando que as crianças já estão na cama, podemos dizer uma integrante pra lá de gata! Nós queremos lhe desejar, Srta. Lawrence que odeia seu sobrenome, um ano maravilhoso! Ficamos todos um pouco chocados com sua identidade, mas como Slytherins, devemos mais é que aceitar sua aparência, espiritual e física! Então, senhoras e senhores, uma salva de palmas para essa linda!

O salão se rompeu em palmas e risadas, enquanto os loiros faziam uma espécie de reverência engraçada, e Daniel pulava da mesa, e se direcionava novamente para o sofá, onde a ruiva ria com vontade. Ela não tinha o costume de rir, mas às vezes simplesmente acontecia.

– Vocês se esqueceram de Carrie. – falou, depois de se acalmar – Acho que ela não ficou muito feliz com a ideia de que eu sou o centro das atenções. – falou meio fria.

– Para sermos verdadeiros com você, nós da Slytherin nem reparamos muito nela. – falou Draco, quando o salão voltou ao seu assunto normal – Não costumamos dar muita atenção para gente insignificante.

– Tudo bem – deu uma risadinha – A ideia de vocês foi linda, fofinha, bonitinha, receptiva, mas não façam isso de novo comigo. Por favor.

– Tudo bem. – eles riram.

De repente apareceram dois garotos do lado de Lawren e se sentaram do lado dela, que simplesmente arqueou as sobrancelhas e bebericou mais o chocolate.

– Então, Potter... Eu sou Blaise. Este é Goyle. Viemos aqui para dizer, que você precisará de aliados, nessa sua jornada. E nós estamos do seu lado.

– Aliados? – perguntou, tomando mais um pouco do chocolate, e deixando parado – Por que eu precisaria de aliados?

– Bom você é uma Potter. Terá muitos desafios, e é sempre bom ter alguém para lhe defender.

– E esse alguém, seria vocês...? – perguntou, soprando um pouco o chocolate, para esfriar um pouco mais.

– Sim... – sussurrou Blaise no ouvido da garota. Ela sorriu marota e se virou para ele também. Acariciou sua nuca, e aproximou seus lábios dos dele. Olhou em seus olhos, e sussurrou nos seus ouvidos de volta.

– Sei... Bom, mas eu acho que eu já tenho os aliados necessários. – olhou de canto para Draco e Daniel – E para falar a verdade, eu duvido muito que eles se importem com meu sobrenome.

– Ah, não faça assim gatinha... – sussurrou Goyle, em seu ouvido também. Ela sorriu.

– Gostam de chocolate quente...? – murmurou ao que os dois concordaram – Espero que não se importem se for chocolate pelando.

Pegou a xícara e derrubou o conteúdo na cabeça dos dois, que gritaram pelo líquido quente e contato com a pele. Ela sorriu satisfeita, vendo os olhares surpresos de todos da sala, menos de Draco. Ela sabia que ela faria isso, desde o momento que ela assoprara o chocolate.

– Ah, garotos, acho melhor fechar os olhos. Chocolate deixa pessoas cegas.

***

– Lawren, acorde! – gritou Carrie, jogando um travesseiro na ruiva, que tapou a cara com a coberta – Vamos, é o primeiro dia de aula!

“Ela só pode estar brincando com a minha pessoa. Não são nem mesmo sete da manhã.”.

Levantou-se devagar, se espreguiçando, e ainda meio zonza, desviou das camas e das garotas que se arrumavam botando maquiagens e salto alto. Revirou os olhos. Salto alto para que? Se houvesse algum ataque em Hogwarts, as primeiras a morrer seriam elas.

Aos poucos foi ajeitando o cabelo, lavando a cara, tomando banho, escovando os dentes e botando a roupa. Como ainda não tinha o uniforme, que chegaria somente no fim de semana provavelmente, ela teve de botar uma roupa normal. Ou seja, seria novamente diferenciada.

Pegou uma calça jeans surrada, bem clara e rasgada nos joelhos. Tanto fazia, mesmo. Pegou um moletom cinza, com a imagem do Batman na frente. Pegou um colar do mesmo estilo da camiseta, um Converse cinza e prendeu os cabelos em um coque. Estava mais normal do que o normal. Mais normal impossível. Pegou sua mochila de gatinhos, e botou sua garrafinha térmica do lado, e saiu do quarto, sendo observada pelas garotas com um olhar engraçado, do tipo: o que essa louca está fazendo? Ela vai mesmo sair assim?

Desceu as escadas calmamente, e ainda com sono. Ao chegar ao salão comunal, ouviu alguns gritos despertadores. Draco e Daniel então apareceram. Estavam mais parecendo as duas sombras que acompanhavam seu irmão, do que colegas de casa. Revirou os olhos, ainda com sono, e seguiu andando.

– Cara, você está muito gata. Assim, de verdade, você é a pessoa mais anormal que eu já vi, mas está muito gata.

– Ainda não consigo raciocinar direito para saber se é um elogio ou não, mas vou encarar como um comentário qualquer, que será ignorado e excluído com sucesso da minha mente. – disse abrindo a porta e saindo. Estava andando até as escadas, até que ouviram saltos apressados atrás. Pararam para olhar, dando de cara com duas garotas. Pansy Parkinson, com seu uniforme escolar, e salto. E Carrie McSimmons.

A garota estava usando um vestido azul soltinho e tomara que caia. Nos pés um salto azul e batom vermelho. Nas mãos, uma bolsa de couro branca com dourado. Usava alguns anéis e brincos que não foram notados pelos três. Assim que elas passaram correndo, os loiros murmuraram para Carrie:

– Sua amiga, de azul, tem algum problema? Sei lá. Vestido num dia frio. É meio estranho.

– Ela não é minha amiga. Mas acredite: ela é mais sã que muita gente por aí. – continuou andando sem emoção, saindo das masmorras e andando até o salão comunal. Durante o caminho, algumas pessoas a encaravam e apontavam, mas ela não se importava tanto. Estava quase dormindo pelo imenso sono. Estava tão desligada do mundo, que mal notara quando os garotos ao seu lado praticamente gritaram seu nome.

– Calma gente, não é necessário tantos gritos. Meus ouvidos estão meio debilitados por causa do sono... – murmurou, só então percebendo alguém a sua frente. Era alto e moreno de olhos verdes, com um cabelo bagunçado e uma cicatriz na testa. – Ah, então esse é o motivo da gritaria. – falou para os garotos, que riram do pensamento alto da garota – Eu realmente ache que era importante. Harry. Que surpresa lhe encontrar aqui – falou sarcástica – Então. O que posso fazer pelo meu irmãozinho?