Pare! Não se aproxime escrita por Apiolho
Notas iniciais do capítulo
Boa tarde galeeera!
Quero agradecer a Sparkly Dark Angel (que me acompanhava antes), Senhorita Foxface, Le, Lady Ires e Brendafpaz por comentar no anterior, mesmo. Muito! Fiquei mega feliz com o número de leitores. *-*
Espero que gostem.
Capítulo quatro
As inimigas fazem um acordo
“É curioso: sou um isolado que conhece meio mundo, um desclassificado que não tem uma dívida, uma nódoa - que todos consideram, e que entretanto em parte alguma é adimitido...(...) Nos próprios meios onde me tenho embrenhado, não sei por que senti-me sempre um estranho...”
(Mario de Sá Carneiro)
Eu não quero ir para a escola. Não quero.
Desejo ficar com meu ursinho Sinistro, lembrando-me do tempo que meu pai era vivo. Em que a outra parte da minha família me amava e cuidava de mim.
— Amélia, acorde para ir para ao colégio, não criei filha para ficar matando aula! — Exclamou enquanto batia na porta de forma rápida.
Agora lembrou que existo, mas apenas para me humilhar. Desejava dizer que praticamente me abandonou e raramente mostrou o que é educação era grande.
Levantei-me em dois pulos e minha cabeça girou. Como quando você brinca naquelas xícaras do parque de diversões e fica tonto, quase com vontade de vomitar.
— Estou indo. — Gritei sem vontade.
Foi nossa primeira troca de palavras em semanas.
Fui no banheiro e passei uma água no rosto. Coloquei o moletom da mesma cor de sempre com a estampa de uma aranha. O capuz encaixou certo e fiz um coque. A franja desgrenhada quase pegava no olho, constatando que estava na hora de cortar. E com isso dava de chegar com dez minutos de antecedência lá.
Parada. Pegar ônibus. Ouvir pessoas escutando funk. Idosas pedindo para sentar em um assento ocupado e eles fingindo que estão dormindo. Conversas aleatórias e muitos risos. Descer dele e entrar no portão escolar. O que acontece nos dias que estudo.
Olhei para o horário e a primeira aula era: literatura. Espero que ela não mande trabalho em dupla. Meus passos eram lentos e dificultosos por causa de ontem.
— Verifiquei o jornal hoje para ver se não teria alguma notícia da sua morte. Pena que isso não se concretizou. — Alfinetou Thalia.
Vontade de gritar, fazer uma loucura e ser expulsa. Fugir de casa e viver nas ruas. Mas se eu quiser realizar meu sonho de ser redatora de uma revista famosa, ser cientista ou publicar um livro tenho de continuar. Até porque era a melhor instituição do Estado.
— É muda por acaso? — Berrou.
— Não. — Gaguejei.
— Vou te dar umas bofetadas para aprender a falar direito. — Revidou Lorena.
Então protegi meu rosto e fiquei esperando o que acontecia diariamente. Sem defesa. Mas quando nada veio abri os olhos. Elas tinham parado e cochichavam uma com as outras. E então fitaram uma pessoa. Era o Nagel.
— Ela é sua amiga, Megan? — Questionou ao chegar até nós.
— Colega. Estou a ajudando com uma matéria. — Mentiu enquanto dava tapinhas em minha bolsa.
Que sorriso mais medíocre.
— Vocês sabem por que Amélia chegou toda quebrada? — Continuou.
— Não, lindo, mas como sabe ela é meio suicida e pode ter tido outra recaída. — Respondeu enquanto piscava e mascava chiclete ao mesmo tempo.
Então ele não sabe do que acontece? Será que elas são tão discretas ao ponto de conseguir esconder dele algo como isso?
— Isso é verdade? — Disse de maneira triste ao me fitar.
O que respondo? A expressão da três já diz tudo o que eu tenho de falar.
— Sim, eu tenho esse problema. – Declarei.
Conversaram mais um pouco enquanto Thalia estava concentrada em algo. Quando o sinal bateu fomos todos juntos e o grupo me jogou um papel. Ao chegar no meu lugar seguro, precioso e desconfortável Henry parou na frente da minha carteira. Ignorei-o e abri o bilhete escondida.
"A cada vez que nos defender estará a salvo, então hoje nada te ocorrerá Não aproxime-se do nosso amado, senão o que foi combinado anteriormente será anulado. OBS.: Muito menos no intervalo, se for trabalho tem que ser depois. Se vira" – 3 BFF”
Escrevem isso no final, mas devem falar mal delas mesmos pelas costas. E é por esse motivo que eu não gosto de todos daqui. Capaz de nem saberem o aquela sigla significa.
— Não tem nada para me falar? — Questionou enquanto levantava uma sobrancelha.
Por que tudo nele soa como galanteio?
— O que era importante eu já contei. — Sussurrei olhando para baixo.
Pegou no meu queixo e me fulminou profundamente. E eu tirei suas mãos dali rapidamente, estava queimando.
— Não acredito em você. — Rebateu.
— Problema seu. — Estava mais que irritada.
— É...
— Nagel, faça o favor de sentar e parar de tentar pegar o dever de outra matéria da Amélia. — Gritou a professora ao parar na frente da mesa.
Para todos apenas esse seria o motivo. Apesar de eu não ser nenhum pouco nerd. Só em duas matérias me dou bem.
— Desculpa. Mas ela é encantadora, não? — Berrou. E apertou minha bochecha.
Mentiroso, falso, salafrário. Empurrei o braço dele e por sorte me obedeceu. Confesso, até que eu fiquei um pouco corada. Mas consegui disfarçar.
— Cala a boca, Henry. – Gritaram os alunos.
Ele só riu. Como sempre. Não sei o que esse guri tem para se alegrar tanto. Talvez seja por conta do baixo Q.I, ser rico ou saber que sairá hoje com alguém.
— Depois dessa declaração os dois farão dupla no próximo trabalho e o resto pode escolher em quantos quiser. É fazer um comentário de cada sobre o livro “o tempo e o vento”. Vou dar para cada a folha com as perguntas que terão de responder obrigatoriamente. – comentou e começou a entregar.
A educadora fez uma brincadeira, pois sabe do nosso acordo com o diretor. Eu já tinha lido ele e não teria dificuldade para pegar na biblioteca. As aulas passaram rápido e o recreio chegou. Mesmo sendo tão detestado por mim está mais perto de acabar a aula de uma quarta-feira.
Feriado, vem logo.
— Amélia, tenho que falar contigo do trabalho. — Disse ao me pegar pela cintura.
Eu só dei uma cotovelada fraca em sua barriga, mas foi o bastante para afastá-lo.
— Olha aqui, se quiser saber disso liga para a casa, mas só após as sete. E não encoste em mim, você nunca terá essa liberdade comigo. — respondi rapidamente e corri até a biblioteca.
Espero que elas não tenham visto. Por favor.
Escondi-me entre uma das prateleiras e fiquei procurando o livro desse bimestre. Achei-o rapidamente já aproveitei e peguei dois. Quem sabe ele é uma pessoa que se interesse por leituras.
Saí do local um pouco antes de acabar o intervalo e lanchei o resto do bolo de quatro leites no pneu do velho parque. Estava delicioso. Lagrimas saíram ao me lembrar de Dona Diná e sua bondade.
— Por que está chorando? Tome um lenço. — Voz feminina.
Era aquela garota do primeiro dia, que me emprestou um band-aid. Parecia estar sozinha e tinha a expressão da minha chefe.
— Obrigada. Lembranças. — Expliquei em poucas palavras ao pegar o papel.
— Aliás, chamo-me Jully. — Apresentou-se.
E eu fiquei calada.
— Elas te machucam muito, não é? — Questionou em um tom chateado.
Não quero que sinta pena.
— Quem? — Fiz-me de desentendida.
— Megan e suas comparsas. — Declarou.
Comparsas? Essa é nova.
— Não. —Menti.
Então ela tentou tocar em mim para ver algum ferimento e eu não deixei. Ser boba pela segunda vez é burrice. Henry fez isso e agora está desconfiado.
— Eu vi, não precisa ter medo de contar. — Confidenciou.
Nessa hora o sinal bateu. Fui em alta velocidade e nem me despedi dela. Seu nome e jeito era doce, mas as aparências enganam. Poderia ser alguma amiga das três disfarçada. Nesse colégio eu sou o elo fraco, a minoria.
Quase que eu contei, o que provavelmente pioraria a minha situação. Só o sinistro sabendo está de bom tamanho. Ao ir em direção aonde sento tinha “diaba” e “666” escritos na cadeira. Eu simplesmente tentei ignorar e comecei a olhar a apostila ao morder os lábios. Quando vi já estava com a cabeça abaixada, entretanto não iria dar o gostinho a eles de chorar.
— Amélia eu... — Era o meu "parceiro".
Depois do que ocorreu de manhã não quero mais ouvi-lo.
— Não fale agora, preciso me concentrar. — Respondi o cortando.
— Está bem, te ligo as sete. — Isso enquanto arrastava sua carteira para perto da minha.
— Pare! Não se aproxime. Não é uma aula de química para fazer isso. — Argumentei.
— Como você sabe que eu ia ficar colado em ti? — Curioso.
É muito burro mesmo. Bem, mais ou menos. Às vezes até acho que ele finge ser. Será que é um quesito obrigatório para ser popular?
— Não sabe o quão barulhento é quando alguém mexe a mesa. Agora deixe-me em paz.
— É muito fofa mesmo. — Confessou.
— Não sou meiga, eu uso preto, capuz por cima e muito menos transmito gentileza. — Contrapus.
— Um dia provarei o contrário. — Desafiou.
Isso está com cara de aposta. E o que me lembrou que talvez esteja falando bastante comigo por causa de alguma proposta que recebeu de um amigo. Só podia, algo como ser o melhor pegador da escola se ser meu amigo. Ou pior, beijar-me.
Biologia e matemática passaram voando, praticamente de vassoura por ter sido horripilante. A primeira ficou falando sobre o meu moletom e em como as aranhas ajudam o ecossistema e que sem elas teria muito mais cupim, mosquito e mosca nas casas. Então não era para mata-las. Um debate se formou e houve uma separação na sala.
Já o segundo é aquilo: lógica, contas e clima de enterro. Henry ficou respondendo e acertou algumas, nas outras uma sabichona o corrigia. Até houve uma troca de olhares. Só da parte dela, claro.
A tarde também passou rapidamente, e hoje eu aprendi a fazer carne ao molho madeira com champignon. Vieram algumas pessoas diferentes e uma criança ficou escutando música na nossa cabine.
— Aposto que ele está ouvindo rock. — Disse.
— E eu sertanejo. — Contrariou-me.
Só fazíamos isso, mas nada que gaste dinheiro. Dona Diná ganhou e ficou falando disso o meu turno inteiro. Parecia uma adolescente novamente. E acho que era minha única amiga. Quando acabou fui na academia que a mãe tinha colocada há tempo. E as sete em ponto o telefone despertou.
— Alô. — Comecei, já sabendo quem é.
— Alô, fofa. — Devolveu.
Esse apelido não.
— Que dia podemos fazer o trabalho? — Questionei.
— A questão é: na sua casa ou na minha? — Rebateu.
— Não podemos fazer na biblioteca? — Curiosa.
— Minha praia não é. — Confessou.
Queria brigar, espernear, entretanto a vontade de terminar logo essa conversa falou mais alto. E com isso pensei nas opções anteriores dele. Na dele eu teria de ver seu cômodo, seus pais e seria vergonhoso demais.
— Então pode ser na minha casa. — Conclui.
— Quer me levar para conhecer seu quarto é? — Malicioso.
Tem o poder de me deixar vermelha em um pulo.
— E vai ser no sábado, as três. — Mudei de assunto.
— Então é melhor anotar o meu número, para quando haver alguma emergência. — Aconselhou.
Estava nervosa e engolia em seco por ser a primeira vez que teria isso de alguém da escola.
— Espero que vou pegar papel e caneta. — Argumentei.
Fui correndo encontrar os objetos e ao acha-los voltei ao aparelho.
— Pode falar. — Disse.
— É ********, agora tenho de ir, adeus. — Despediu-se.
No fundo uma voz feminina saiu.
— Tchau. — Desliguei.
Hoje o dia dele vai ser bem aproveitado, mentalizei enquanto ia no banheiro. Na verdade penso que essa vida de ficar com uma por noite é vazia e quase sem emoção. Não deve ter aquela paixão que eu presenciava com meus pais.
Quando fui fazer o lanche da manhã e jantar vi um bilhete na geladeira: 1 de março – Sophie vai ficar aos cuidados de Amélia. Então no próximo sábado virarei babá da minha irmã. Eu e minha progenitora comunicávamos assim, e por isso tinha de olhar direto.
Esse foi o meu meio de semana, sem apanhar e rezando para que amanhã seja assim também.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E ai, gostaram? Espero que sim, eu fiz para vocês! *-*
A imagem não é minha, desculpem se tiver erro de português. Como na edição os (-) somem eu não poderei arrumar, infelizmente, mas já contatei sobre isso.
Beijos.