Pare! Não se aproxime escrita por Apiolho


Capítulo 4
4 - As inimigas fazem um acordo


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde galeeera!

Quero agradecer a Sparkly Dark Angel (que me acompanhava antes), Senhorita Foxface, Le, Lady Ires e Brendafpaz por comentar no anterior, mesmo. Muito! Fiquei mega feliz com o número de leitores. *-*

Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/479958/chapter/4

Capítulo quatro

As inimigas fazem um acordo 

“É curioso: sou um isolado que conhece meio mundo, um desclassificado que não tem uma dívida, uma nódoa - que todos consideram, e que entretanto em parte alguma é adimitido...(...) Nos próprios meios onde me tenho embrenhado, não sei por que senti-me sempre um estranho...”

(Mario de Sá Carneiro)

Eu não quero ir para a escola. Não quero.

Desejo ficar com meu ursinho Sinistro, lembrando-me do tempo que meu pai era vivo. Em que a outra parte da minha família me amava e cuidava de mim.

— Amélia, acorde para ir para ao colégio, não criei filha para ficar matando aula! — Exclamou enquanto batia na porta de forma rápida.

Agora lembrou que existo, mas apenas para me humilhar. Desejava dizer que praticamente me abandonou e raramente mostrou o que é educação era grande.

Levantei-me em dois pulos e minha cabeça girou. Como quando você brinca naquelas xícaras do parque de diversões e fica tonto, quase com vontade de vomitar.

— Estou indo. — Gritei sem vontade.

Foi nossa primeira troca de palavras em semanas.

Fui no banheiro e passei uma água no rosto. Coloquei o moletom da mesma cor de sempre com a estampa de uma aranha. O capuz encaixou certo e fiz um coque. A franja desgrenhada quase pegava no olho, constatando que estava na hora de cortar. E com isso dava de chegar com dez minutos de antecedência lá.

Parada. Pegar ônibus. Ouvir pessoas escutando funk. Idosas pedindo para sentar em um assento ocupado e eles fingindo que estão dormindo. Conversas aleatórias e muitos risos. Descer dele e entrar no portão escolar. O que acontece nos dias que estudo.

Olhei para o horário e a primeira aula era: literatura. Espero que ela não mande trabalho em dupla. Meus passos eram lentos e dificultosos por causa de ontem.

— Verifiquei o jornal hoje para ver se não teria alguma notícia da sua morte. Pena que isso não se concretizou. — Alfinetou Thalia.

Vontade de gritar, fazer uma loucura e ser expulsa. Fugir de casa e viver nas ruas. Mas se eu quiser realizar meu sonho de ser redatora de uma revista famosa, ser cientista ou publicar um livro tenho de continuar. Até porque era a melhor instituição do Estado.

— É muda por acaso? — Berrou.

— Não. — Gaguejei.

— Vou te dar umas bofetadas para aprender a falar direito. — Revidou Lorena.

Então protegi meu rosto e fiquei esperando o que acontecia diariamente. Sem defesa. Mas quando nada veio abri os olhos. Elas tinham parado e cochichavam uma com as outras. E então fitaram uma pessoa. Era o Nagel.

— Ela é sua amiga, Megan? — Questionou ao chegar até nós.

— Colega. Estou a ajudando com uma matéria. — Mentiu enquanto dava tapinhas em minha bolsa.

Que sorriso mais medíocre.

— Vocês sabem por que Amélia chegou toda quebrada? — Continuou.

— Não, lindo, mas como sabe ela é meio suicida e pode ter tido outra recaída. — Respondeu enquanto piscava e mascava chiclete ao mesmo tempo.

Então ele não sabe do que acontece? Será que elas são tão discretas ao ponto de conseguir esconder dele algo como isso?

— Isso é verdade? — Disse de maneira triste ao me fitar.

O que respondo? A expressão da três já diz tudo o que eu tenho de falar.

— Sim, eu tenho esse problema. – Declarei.

Conversaram mais um pouco enquanto Thalia estava concentrada em algo. Quando o sinal bateu fomos todos juntos e o grupo me jogou um papel. Ao chegar no meu lugar seguro, precioso e desconfortável Henry parou na frente da minha carteira. Ignorei-o e abri o bilhete escondida.

"A cada vez que nos defender estará a salvo, então hoje nada te ocorrerá Não aproxime-se do nosso amado, senão o que foi combinado anteriormente será anulado. OBS.: Muito menos no intervalo, se for trabalho tem que ser depois. Se vira" – 3 BFF

Escrevem isso no final, mas devem falar mal delas mesmos pelas costas. E é por esse motivo que eu não gosto de todos daqui. Capaz de nem saberem o aquela sigla significa.

— Não tem nada para me falar? — Questionou enquanto levantava uma sobrancelha.

Por que tudo nele soa como galanteio?

— O que era importante eu já contei. — Sussurrei olhando para baixo.

Pegou no meu queixo e me fulminou profundamente. E eu tirei suas mãos dali rapidamente, estava queimando.

— Não acredito em você. — Rebateu.

— Problema seu. — Estava mais que irritada.

— É...

Nagel, faça o favor de sentar e parar de tentar pegar o dever de outra matéria da Amélia. — Gritou a professora ao parar na frente da mesa.

Para todos apenas esse seria o motivo. Apesar de eu não ser nenhum pouco nerd. Só em duas matérias me dou bem.

— Desculpa. Mas ela é encantadora, não? — Berrou. E apertou minha bochecha.

Mentiroso, falso, salafrário. Empurrei o braço dele e por sorte me obedeceu. Confesso, até que eu fiquei um pouco corada. Mas consegui disfarçar.

— Cala a boca, Henry. – Gritaram os alunos.

Ele só riu. Como sempre. Não sei o que esse guri tem para se alegrar tanto. Talvez seja por conta do baixo Q.I, ser rico ou saber que sairá hoje com alguém.

— Depois dessa declaração os dois farão dupla no próximo trabalho e o resto pode escolher em quantos quiser. É fazer um comentário de cada sobre o livro “o tempo e o vento”. Vou dar para cada a folha com as perguntas que terão de responder obrigatoriamente. – comentou e começou a entregar.

A educadora fez uma brincadeira, pois sabe do nosso acordo com o diretor. Eu já tinha lido ele e não teria dificuldade para pegar na biblioteca. As aulas passaram rápido e o recreio chegou. Mesmo sendo tão detestado por mim está mais perto de acabar a aula de uma quarta-feira.

Feriado, vem logo.

— Amélia, tenho que falar contigo do trabalho. — Disse ao me pegar pela cintura.

Eu só dei uma cotovelada fraca em sua barriga, mas foi o bastante para afastá-lo.

— Olha aqui, se quiser saber disso liga para a casa, mas só após as sete. E não encoste em mim, você nunca terá essa liberdade comigo. — respondi rapidamente e corri até a biblioteca.

Espero que elas não tenham visto. Por favor.

Escondi-me entre uma das prateleiras e fiquei procurando o livro desse bimestre. Achei-o rapidamente já aproveitei e peguei dois. Quem sabe ele é uma pessoa que se interesse por leituras.

Saí do local um pouco antes de acabar o intervalo e lanchei o resto do bolo de quatro leites no pneu do velho parque. Estava delicioso. Lagrimas saíram ao me lembrar de Dona Diná e sua bondade.

— Por que está chorando? Tome um lenço. — Voz feminina.

Era aquela garota do primeiro dia, que me emprestou um band-aid. Parecia estar sozinha e tinha a expressão da minha chefe.

— Obrigada. Lembranças. — Expliquei em poucas palavras ao pegar o papel.

— Aliás, chamo-me Jully. — Apresentou-se.

E eu fiquei calada.

— Elas te machucam muito, não é? — Questionou em um tom chateado.

Não quero que sinta pena.

— Quem? — Fiz-me de desentendida.

— Megan e suas comparsas. — Declarou.

Comparsas? Essa é nova.

— Não. —Menti.

Então ela tentou tocar em mim para ver algum ferimento e eu não deixei. Ser boba pela segunda vez é burrice. Henry fez isso e agora está desconfiado.

— Eu vi, não precisa ter medo de contar. — Confidenciou.

Nessa hora o sinal bateu. Fui em alta velocidade e nem me despedi dela. Seu nome e jeito era doce, mas as aparências enganam. Poderia ser alguma amiga das três disfarçada. Nesse colégio eu sou o elo fraco, a minoria.

Quase que eu contei, o que provavelmente pioraria a minha situação. Só o sinistro sabendo está de bom tamanho. Ao ir em direção aonde sento tinha “diaba” e “666” escritos na cadeira. Eu simplesmente tentei ignorar e comecei a olhar a apostila ao morder os lábios. Quando vi já estava com a cabeça abaixada, entretanto não iria dar o gostinho a eles de chorar.

— Amélia eu... — Era o meu "parceiro".

Depois do que ocorreu de manhã não quero mais ouvi-lo.

— Não fale agora, preciso me concentrar. — Respondi o cortando.

— Está bem, te ligo as sete. — Isso enquanto arrastava sua carteira para perto da minha.

— Pare! Não se aproxime. Não é uma aula de química para fazer isso. — Argumentei.

— Como você sabe que eu ia ficar colado em ti? — Curioso.

É muito burro mesmo. Bem, mais ou menos. Às vezes até acho que ele finge ser. Será que é um quesito obrigatório para ser popular?

— Não sabe o quão barulhento é quando alguém mexe a mesa. Agora deixe-me em paz. 

— É muito fofa mesmo. — Confessou.

— Não sou meiga, eu uso preto, capuz por cima e muito menos transmito gentileza. — Contrapus.

— Um dia provarei o contrário. — Desafiou.

Isso está com cara de aposta. E o que me lembrou que talvez esteja falando bastante comigo por causa de alguma proposta que recebeu de um amigo. Só podia, algo como ser o melhor pegador da escola se ser meu amigo. Ou pior, beijar-me.

Biologia e matemática passaram voando, praticamente de vassoura por ter sido horripilante. A primeira ficou falando sobre o meu moletom e em como as aranhas ajudam o ecossistema e que sem elas teria muito mais cupim, mosquito e mosca nas casas. Então não era para mata-las. Um debate se formou e houve uma separação na sala.

Já o segundo é aquilo: lógica, contas e clima de enterro. Henry ficou respondendo e acertou algumas, nas outras uma sabichona o corrigia. Até houve uma troca de olhares. Só da parte dela, claro.

A tarde também passou rapidamente, e hoje eu aprendi a fazer carne ao molho madeira com champignon. Vieram algumas pessoas diferentes e uma criança ficou escutando música na nossa cabine.

— Aposto que ele está ouvindo rock. — Disse.

— E eu sertanejo. — Contrariou-me.

Só fazíamos isso, mas nada que gaste dinheiro. Dona Diná ganhou e ficou falando disso o meu turno inteiro. Parecia uma adolescente novamente. E acho que era minha única amiga. Quando acabou fui na academia que a mãe tinha colocada há tempo. E as sete em ponto o telefone despertou.

— Alô. — Comecei, já sabendo quem é.

— Alô, fofa. — Devolveu.

Esse apelido não.

— Que dia podemos fazer o trabalho? — Questionei.

— A questão é: na sua casa ou na minha? — Rebateu.

— Não podemos fazer na biblioteca? — Curiosa.

— Minha praia não é. — Confessou.

Queria brigar, espernear, entretanto a vontade de terminar logo essa conversa falou mais alto. E com isso pensei nas opções anteriores dele. Na dele eu teria de ver seu cômodo, seus pais e seria vergonhoso demais.

— Então pode ser na minha casa. — Conclui.

— Quer me levar para conhecer seu quarto é? — Malicioso.

Tem o poder de me deixar vermelha em um pulo.

— E vai ser no sábado, as três. — Mudei de assunto.

— Então é melhor anotar o meu número, para quando haver alguma emergência. — Aconselhou.

Estava nervosa e engolia em seco por ser a primeira vez que teria isso de alguém da escola.

— Espero que vou pegar papel e caneta. — Argumentei.

Fui correndo encontrar os objetos e ao acha-los voltei ao aparelho.

— Pode falar. — Disse.

— É ********, agora tenho de ir, adeus. — Despediu-se.

No fundo uma voz feminina saiu.

— Tchau. — Desliguei.

Hoje o dia dele vai ser bem aproveitado, mentalizei enquanto ia no banheiro. Na verdade penso que essa vida de ficar com uma por noite é vazia e quase sem emoção. Não deve ter aquela paixão que eu presenciava com meus pais.

Quando fui fazer o lanche da manhã e jantar vi um bilhete na geladeira: 1 de março – Sophie vai ficar aos cuidados de Amélia. Então no próximo sábado virarei babá da minha irmã. Eu e minha progenitora comunicávamos assim, e por isso tinha de olhar direto.

Esse foi o meu meio de semana, sem apanhar e rezando para que amanhã seja assim também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Espero que sim, eu fiz para vocês! *-*

A imagem não é minha, desculpem se tiver erro de português. Como na edição os (-) somem eu não poderei arrumar, infelizmente, mas já contatei sobre isso.

Beijos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pare! Não se aproxime" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.