Você Ainda Não Tem 15 escrita por Sunshine


Capítulo 3
28 de Janeiro


Notas iniciais do capítulo

O capítulo é recomendado para ler com Hot'N Cold, da Katy Perry. Espero que gostem!



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A semana até passou rápido, eu ficava o tempo todo com a Gabi, o Daniel, a Lizzie, o Josh e a Anne; os únicos que realmente conversaram comigo. Ignorávamos os idiotas — mais conhecidos como populares — e seguíamos a nossa vida. Eles meio que me acolheram e ensinam-me como as coisas são naquele colégio sempre, se continuar desse jeito provavelmente vamos criar uma amizade rapidamente. No sábado fui convidada para ir até a praia de Copacabana com todos eles, que usaram o argumento de que se eu iria morar por aqui, precisava começar a conhecer a cidade.

Mas como são educados... Acordaram-me às oito da manhã de um sábado... Quase que o mundo fica com menos uma Elizabeth nele, mas, em vez disso, fi-la me dar uma carona. Ficamos jogando vôlei por um tempo até que todos foram comprar água exceto eu que preferi ficar por lá mesmo. Estava com preguiça de andar, então sentei na areia e fiquei observando o mar. As ondas faziam um barulho reconfortante, vi o Pão de Açúcar de longe... Observei as pessoas, tinham pais brigando com os filhos, namorados, amigos brincando de guerra de água, criancinhas fazendo castelos de areia, comerciantes para todos os lados. Sempre achei interessante a forma como as pessoas agiam, sendo até previsível de certa forma. Existiam coisas que faziam todos se irritarem, assim como o contrário. Era lindo, embora lotado.

Senti inesperadamente algo pequeno bater na minha cabeça e logo veio um leve incômodo no local. Massageando a região com uma mão, usei a outra para pegar o objeto e analisá-lo. Era uma bola de frescobol. Procuro sua origem e deparo-me com a carência de humildade em pessoa. Sim, o ser vivo idiota que prefiro não mencionar o nome e que você sabe quem é, “sem querer” deixou a bolinha de frescobol com a qual jogava bater em minha cabeça. O garoto conseguiu me deixar com tanta raiva — algo que não é tão difícil — que joguei a bola na cara dele, não aguentava mais o idiota me enchendo o saco. A semana se passou com provocações entre nós dois. Comentários maldosos, indiretas e "acidentes" foram frequentes durante esse período. Ele pegou a bolinha no chão e me olhou irritado. E André ainda tem a ousadia de fazer isso?

— Eu ia me desculpar, mas parece que você não entende o significado de “sem querer”. – preferi ignorar e me virar para frente novamente antes que atacasse sua jugular. – E ainda é grossa.

— Você não me conhece para ter o direito de comentar algo sobre mim. – comentei, olhando em volta. Onde estavam todos? Nunca vi tanta demora em comprar água.

— Até porque você também me conhece bastante. Não seja hipócrita, Martins. — que interessante, ele sabia uma palavra difícil.

— No seu caso, não é preciso aprofundar para saber o que há por dentro. Você não é um ser muito complexo, Montez. — ok, utilizar sobrenomes é algo clichê e desnecessário, mas é melhor que os nomes que tinha em mente e simplesmente não conseguia chamá-lo de André.

— Ah, vai se f... — a clara falta de argumentos dele foi interrompida pelos meus colegas que finalmente voltaram da excursão para pegar água. — Ou melhor, vão todos vocês.

Assim, deu uma saída triunfal, merecia um óscar. É claro, qual o sentido de xingar alguém e não sair de forma inesquecível? Após ficarmos um tempo olhando uns para os outros, Daniel nos salvou do tédio:

— Então, a gente podia dar uma passada no McDonalds aqui perto. Estou com fome e não vale a pena comer a comida daqui. – todos nós assentimos e procuramos arrumar nossas coisas para ir. Logo estávamos rindo e nos divertido de novo, embora conseguisse perceber certas pessoas de apenas corpo presente, dando sorrisos nervosos. Não estava no meu direito questionar, portanto permaneci calada. Mas estava curiosa por isso, ele não era apenas mais um dos vários idiotas da escola?

Depois nos despedimos e fomos para casa, desta vez peguei carona com Gabriela e Anne.

— Sabe, ele era legal. – Gabs olhou para frente do carro enquanto eu a observava. Não entendi.

— Quem?

— André. Ele andava com a gente. Mas... sei lá. Ele mudou. Começou a andar com outras pessoas e a nos tratar mal. – ela fez uma careta como se lembrasse de coisas ruins. “Idiota...” cantarolei mentalmente. Que tipo de pessoa trata mal outras que a consideravam amigo?

— Vocês eram muito amigos. – não era uma pergunta. Estava bem perceptível.

— Melhores amigos. – ela concordou.

Gabi era uma menina legal. Ela vivia em uma casa estável e tinha uma família maravilhosa. Tinha o estilo que tinha, diferentemente de muitas pessoas, não para chamar atenção, mas sim porque realmente gostava. Eu admirava isso nela. Ela só era ela, sem ninguém interferindo e não importava o que acontecesse ela ia continuar sendo ela. Será que eu era assim? Odeio a ideia de mudar por alguém, mas... Será que eu fazia isso sem nem perceber?

Anne olhava para fora do carro perdida em pensamentos. Queria muito saber quais são. Não me parecia que algo precisava ser dito então eu apenas passei a observar as ruas do Rio em silêncio. E pensar que semana passada eu estava em Fortaleza, junto com minha família e amigos! Tinha muita saudade dos meus avós que me tratavam com tanto carinho, das minhas primas e primos que são meus melhores amigos, das minhas amigas da escola... De todos.

Continuei assim, perdida em pensamentos por um bom tempo. Só que eu ouvi a voz de Anne sussurrar:

— Ele sempre dizia que seríamos amigos para sempre, nos animava quando ficávamos tristes, dava bons conselhos, era realmente bem legal. Mas aí a mãe dele morreu. – ainda assim, sei que ficaria muito mal se perdesse minha mãe, mas não sairia por aí machucando todos por conta disso. – Ele hoje em dia não tem uma boa relação com o pai, virou amigo daqueles filhinhos de papai do Ensino Médio e só vive ficando com qualquer uma que encontra por aí.

Sua voz estava triste, imaginei acontecendo isso com algum de meus amigos mais próximos, então acredito que estou próxima de entendê-la. Ela não merecia perder o amigo que um dia aquele acéfalo fora. Suspirei e dei um sorriso triste desejando poder fazer algo.

— Eu acho que ele não mudou, apenas não está conseguindo lidar com tudo isso. – falou Gabi.

Queria dizer o quanto o acho retardado e infantil e falar que ele nunca voltaria a ser como antes porque é o que realmente acho, mas achei melhor ficar calada. Tenho que admitir que não o conheço a fundo. E a estúpida hierarquia não ajudava em nada. Porque nessa escola parece que estou em um filme adolescente americano, é meio estranho. Tem o grupo dos CDFs, o grupo dos nerds, o grupo das patricinhas, o dos mauricinhos e nós. Os grupos das patricinhas e dos mauricinhos se juntavam às vezes. Mas é muito estranho e babaca pensar dessa forma, ninguém se mistura. Na minha antiga escola em Fortaleza todos conversavam entre si e existiam pouquíssimas brigas. O pior é que eu não posso fazer nada para mudar isso.

Cheguei a minha casa e agradeci pela carona. Após me despedir, entrei no prédio, fui até meu apartamento e vi que minha mãe não estava no computador. O que foi meio estranho porque geralmente ela fica lá durante esse horário, trabalhando. Fui para o meu quarto e joguei minha bolsa em cima da cama e ouvi soluços vindos do quarto da minha mãe, fui correndo até lá.

— Mãe, o que houve? – sentei ao seu lado na cama e a abracei.

Ela soluçava alto o que não é muito comum. Fiquei acariciando seus cabelos escuros até ela conseguir se acalmar. Minha mãe era uma mulher depressiva, portanto procura-me (e eu me ofereço) sempre como apoio. Talvez fosse o trabalho, minha mãe é jornalista.

— Você que parece a mãe da relação. – eu ri baixo, ela tinha a voz triste. O que será que acontecera?

— O que aconteceu, mãe? – perguntei tirando o cabelo da frente de seu rosto. – Tomou os remédios?

— Tomei sim. Não é nada... Só saudades de casa. – percebi que ela estava mentindo, mas resolvi não pressionar. Só que com certeza eu irei descobrir o que ela tem. Senão, eu não me chamo Luna.


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo vocês acabaram sabendo mais um pouquinho da história de André, eu espero que vocês comecem a entendê-lo até o fim do livro. Mas e aí, deu para entender algo disso?



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