Frozen Heart escrita por Charlie Haddock


Capítulo 1
Coração de Gelo


Notas iniciais do capítulo

Hijackeiros e Hijackeiras desse Brasil (WTF?) lol tava na hora da minha adorável pessoa escrever uma Hijack, não é? Do que adianta começar uma revolução mas não colaborar com ela? u.u Enfim, a gente se vê lá em baixo.Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/479540/chapter/1

A ressaca é, teoricamente, o que ocorre quando há uma intoxicação no corpo por conta de muita bebida alcoólica, portanto é uma reação natural do nosso organismo. Para processar todo o álcool ingerido e eliminá-lo, vários órgãos do corpo tem que trabalhar bastante, acima do que aconteceria se não houvesse álcool. Os sintomas são: dor de cabeça, desidratação, enjôo e cansaço. Talvez Jack pudesse ser considerado sortudo por apresentar apenas o primeiro.

Naquela manhã, sua cabeça latejava com qualquer som ao seu redor, fosse alto ou baixo, como o zumbido dos insetos, a buzina dos carros, as vozes excessivamente altas das pessoas... Pode parecer loucura, mas o moreno tinha certeza que sua audição ficava mais aguçada durante a ressaca. E o remédio que tomou antes de sair de casa não parecia fazer efeito. Talvez fosse uma boa hora de começar a ouvir sua mãe e pelo menos maneirar em festas que aconteciam aos domingos, sabendo que seria obrigado a ir para escola no dia seguinte.

E pra piorar ainda mais, o garoto mal se lembrava do que fez na noite anterior. Apenas alguns flashes lhe vinham em mente. Lembrava-se de Sandy dizendo que deviam ir embora, de John trazendo mais doses de tequila... A música enchia seus ouvidos e em algum ponto ele perdeu a noção do que estava acontecendo exatamente. E tinha quase certeza de que havia uma garota loira. Ou morena. Talvez fossem duas. Bom, já não importava. Sabia que a noite tinha sido boa.

Seria melhor ainda não ter que levantar da cama para ir a aula. Odiava segundas. Mas se não levantasse por vontade própria, sua mãe faria questão de jogar um balde de água gelada em sua cabeça ou levá-lo amarrado para a escola. Sophie não aprovava grande parte das atitudes do filho, e por muito tempo tentou mudar seu comportamento, o que não deu muito certo. Sabendo que proibi-lo faria apenas com que o adolescente fizesse as coisas por suas costas, ela estabeleceu algumas regras que Jack era obrigado a seguir, como:

1. Nada de chegar em casa depois das três da manhã;

2. Nada de engravidar alguma garota;

3. Nada de beber ao ponto de entrar em coma alcoólico.

Havia mais, porém o moreno julgava essas as mais importantes. Duas delas não eram tão difíceis assim de cumprir; sempre andava com seu celular para despertar uma hora antes do horário de voltar para casa e camisinhas na carteira, entretanto, se não fosse por Sandy, sabia já teria tido sérios problemas devido ao consumo de álcool umas três vezes. Não que se orgulhasse disso —porque não se orgulhava—, apenas perdia a noção das coisas as vezes.

Quando chegou na escola, foi direto para a sala ignorando os cumprimentos que recebeu pelos corredores. Não estava com humor para conversar. A sala costumava estar vazia antes do sinal tocar, e Jack nunca gostou tanto daquele fato como naquele momento. O silêncio do cômodo era um alívio. Jogou a mochila sobre a última carteira da fileira ao lado da janela e sentou. Estava considerando a ideia de tirar um cochilo antes da primeira aula quando seu nome foi chamado.

— Jack!

Sandy entrou na sala ofegante, suas bochechas vermelhas como se ele tivesse acabado de correr uma maratona.

— Não grita, Sandy. — Jack pediu, massageando as têmporas.

— Certo. — resmungou — Dor de cabeça, não é?

O moreno assentiu e Sandy suspirou.

— Eu bem que disse pra você parar de beber.

— E qual seria a graça disso? — sorriu de canto e o loiro revirou os olhos — Pitch estava atrás de você de novo?

Sandy bufou e se sentou ao lado do melhor amigo.

— Eu odeio aqueles caras. — murmurou — Aquele garoto parece um pesadelo vivo.

— E mesmo assim não faz nada. — retrucou — Eu já te vi lutando. Consegue apagar esses babacas em dois minutos se quisesse.

— "Eu prometo nunca fazer mal uso do Taekwondo". — Sandy recitou, sua mão direita erguida.

— E isso seria? — arqueou a sobrancelha.

— O juramento que temos que fazer toda aula. Isso quer dizer que não devemos usar nosso conhecimento em brigas desnecessárias.

Jack riu.

— Brigas desnecessárias. — imitou — Fala sério, Sand. Se eu fosse você já teria quebrado-os faz tempo.

— Você já fez isso. — lembrou.

— É verdade. — coçou o queixo, se recordando do dia — Fiquei com um olho roxo por alguns dias. Mas valeu a pena. Só eu posso te chamar de gorducho baixinho, Sand man.

O loiro fez uma careta.

— Não me chame assim.

— Não coma areia.

— Nós tínhamos quatro anos! — defendeu-se.

Jack riu divertido. Adorava irritar o amigo. Irritado, ele ficava tão vermelho que parecia que ia explodir. Sandy respirou fundo, ignorando a provocação do moreno.

— De qualquer forma, Jessica estava te procurando. — o loiro avisou, mudando o assunto.

O moreno revirou os olhos.

— Espero que não me encontre.

— Já terminou com ela? — perguntou entediado.

— Sabe o que acho engraçado? Não me lembro de ter pedido nenhuma dessas garotas em namoro. Tecnicamente, não é um término.

— Não é a toa que elas te chamam de coração de gelo.

Jack soltou uma risada sarcástica.

— Mas eu sou um cara romântico.

— Até conseguir levá-las pra cama. — resmungou.

Jack deu ombros.

— Vantagens e desvantagens.

O sinal ecoou pela escola e Jack cobriu os ouvidos. Maldito sinal. Ainda estava com dor de cabeça. Os alunos entraram na sala de aula aos montes, uns desanimados, reclamando sobre já terem que ia para a aula, e outros conversando animadamente sobre o fim de semana. Sinceramente, Jack tinha vontade de congelar a todos, por mais estranho que fosse esse pensamento.

Sr. North, o professor de história, foi o ultimo a entrar sem falar nada, dirigindo-se para a mesa onde colocou seus pertences. O estrondo dos blocos de papel envolvido em capas duras contra a madeira chamou a atenção de todos no ambiente. Cada aluno foi para seu respectivo lugar, permanecendo em silencio. Sr. North tinha um ar meio amedrontador, a barba comprida, sobrancelhas grossas e expressão dura que não passava muita simpatia. Sem contar todas as tatuagens que tinha no braço ou o porte forte para alguém de sua idade. Porém, apesar da pose intimidadora, Jack sabia que ele era um homem simpático e as vezes até mesmo uma manteiga derretida. Pois é. Sua mãe tinha amizade com o professor sabe-se lá há quanto tempo. Mas mesmo conhecendo o homem fora dos corredores da escola, o moreno sabia que não era sábio irritá-lo. North era realmente assustador quando você o tira do sério.

— Muito bem. — analisou a sala e sorriu — Primeiramente, bom dia. — começou — Espero que tenham aproveitado bem esse fim de semana, já que podem não ter muito tempo para se divertir no próximo, lembrando que teremos prova segunda que vem. Agora, abram o livro na página 164.

Em meio a resmungos, com os quais North já estava acostumado, os alunos obedeceram. Boa parte da classe reclamava sobre o futuro teste, o que o senhor achava engraçado. Pelo menos estava avisando, ao contrario da ultima vez que aplicou uma prova surpresa – que era muito mais divertido, na sua opinião. A expressão de desespero dos alunos era hilária. E sem contar que o conteúdo era fácil. Antiguidade, indo do povo cretense ao romano.

Seja lá o que North explicava, Jack não prestava atenção em uma única palavra. Estava, literalmente, dormindo de olhos abertos. Por mais que ele gostasse de prestar atenção nas aulas de história —pelo fato do professor ser um dos melhores daquela escola—, aquele dia realmente não estava disposto. Por sorte, notas nunca foram um problema pra ele. Geralmente conseguia assimilar bem a matéria apenas lendo os livros. Tudo que queria era que a aula finalmente acabasse para que ele ficasse livre e na paz durante o intervalo.

Infelizmente, naquele dia, as coisas não foram tão pacíficas assim. Apesar dos esforços para se esquivar de Jessica, a ruiva conseguiu encontrá-lo. Jack achava incrível como ela não se tocava. Só ficaria mais óbvio que Jack não estava mais interessado se o moreno andasse com uma placa acima da cabeça escrito "não estou afim". De qualquer forma, a garota já chegou se atirando em cima do moreno, parecendo ignorar o fato que ele a evitou a manhã toda.

Frost respirou fundo e afastou a garota de si, que o olhou confusa. Aquela sempre era a pior parte, dar um fora em alguém. Estava mais que acostumado a fazer isso, mesmo que não achasse a coisa mais legal de se fazer, e, apesar de sempre deixar bem claro que não procurava relacionamento sério, as garotas insistam em nutrir sentimentos pelo "garoto do coração de gelo" — apelido que odiava, mas sabia que fazia jus a sua personalidade. Jack era visto quase como um tal de desafio, que todas as garotas pareciam querer tentar, na expectativa de fazer o garoto se apaixonar, o que nunca aconteceu. E quando elas notavam isso, bom, as reações eram variáveis. Porém nunca boas.

— Hey, Jack. Eu estive te procurando. — a garota disse com um sorriso.

— É, eu... Estava ocupado. — respondeu com cuidado.

— Tão ocupado que não pode nem responder minhas mensagens? — arqueou a sobrancelha — Tentei falar com você o fim de semana todo!

— Sobre isso... — começou, e Jessica já fez uma cara de quem não estava gostando de onde a conversa estava indo pelo tom de Jack — Eu não sei como te dizer isso, mas... Isso. — indicou entre os dois — Não pode ir pra frente.

Jessica piscou lentamente.

— Está terminando comigo? — perguntou incrédula.

— Tecnicamente, não há o que terminar já que nós nunca...

A fala de Jack foi cortada quando a ruiva desferiu um tapa na bochecha direita do moreno. O rosto do garoto virou com o impacto, a área atingida ardendo.Tapa na cara é falta de educação. O moreno respirou fundo e contou até mil para não perder a paciência. Deixou Jessica gritar o quanto quisesse, e a garota realmente estava possessa. Chamou Jack de tantos nomes que alguns ele nem sequer conhecia, reclamou de tudo e mais um pouco.

— Eu sabia que você era um problema! Minhas amigas bem que avisaram, disseram que você não presta, mas eu realmente achei que você fosse diferente! — continuava esperneando.

— Acabou? — Jack questionou entediado.

— Você nunca vai achar uma garota como eu, Jack! — ela disse por fim, seu rosto vermelho de raiva.

— Eu realmente espero que você esteja certa.

A garota ficou de queixo caído, e antes que pudesse voltar a gritar, Jack saiu o mais rápido possível, querendo se afastar daquele pesadelo ruivo. Quando finalmente se viu sozinho no terraço da escola, Frost sentou no chão, massageando a bochecha direita. Estava frustrado. Seria tão mais fácil se elas entendessem que apesar de gostar de desafios, Jack não era um.

Sandy, que assistiu a todo o show, seguiu o amigo até o terraço e não pode deixar de achar a situação engraçada.

— Está rindo de que? — o moreno perguntou irritado.

— Ficou nervosinho, é? — debochou – Ninguém pode encostar no rostinho perfeito de Jackson Overland Frost. — brincou — Como se essa fosse a primeira vez que isso acontece.

Jack resmungou algo que o loiro não conseguiu entender e virou a cara.

— Larga de ser ranzinza. Amanhã você já vai estar com uma nova. — revirou os olhos — Agora levanta, o intervalo já vai acabar.

— Ficou doido? Eu não quero saber dessas malucas por um bom tempo. — Jack respondeu.

— Sei, sei. Você sempre diz isso mas também sempre muda de ideia depois de alguns dias. — resmungou.

E realmente, talvez não no dia seguinte, mas o moreno sabia que Sandy tinha razão. Nunca passava muito tempo sozinho, não importava em qual enrascada tinha se metido na experiência anterior.

Não levem Jack a mal, ele apenas era assim. Em seu conceito, garotas eram como sabores de sorvetes. Você pode ter seu favorito, porém, repeti-lo várias vezes acaba tornando-o enjoativo. O melhor era experimentar todos, um de cada vez. Não que fosse dizer isso em voz alta, sabia que realmente soava um pouco machista e imbecil de sua parte. Mas não era como as mulheres fossem santas. Conhecia várias que tinham o mesmo estilo de vida que ele.

Todavia, Jack sabia que as coisas não seriam assim pra sempre. Claro que pretendia casar no futuro — bem distante, de preferência — e formar uma família. Até lá, tinha muito tempo para aproveitar sua juventude no máximo que ela permitia.

Uma semana depois do “término” com Jessica, Jack estava se sentindo extremamente entediado. Não tinha acontecido nada de interessante nos últimos sete dias, e se tinha uma coisa que o garoto odiava, era quando sua vida entrava em um modo monótono. Foi quando ele começou a buscar por alguém novo que chamasse sua atenção. Seu olhos estavam mais atentos nos corredores da escola, na quadra ou no refeitório. A maioria dos rostos eram conhecidos e não lhe despertavam o menor interesse.

Entretanto, quando estava andando pelo lado de fora da escola, uma garota capturou seu olhar. Não sabia nem sequer seu nome e não se recordava de ter esbarrado com ela em algum canto, mas a beleza da loira era... Peculiar. A julgar pelas roupas largas e de cores neutras que usava, Jack pode notar que ela aparentemente não era do tipo que gostava de se arrumar ou se destacar na multidão. O rosto estava quase sempre escondido atrás de grossos livros com títulos que moreno não entendia. Provavelmente não eram em inglês. A garota não parecia ser o tipo de Jack, e mesmo assim parecia ter algo nela que chamava sua atenção. Talvez os olhos azuis celeste, os traços delicados ou o ar de mistério. Seja lá o que fosse, Jack estava disposto a descobrir.

— Você só pode estar de brincadeira. — Sandy disse quando o melhor amigo perguntou se ele conhecia a loira.

— Qual o problema?

— Você realmente não sabe quem ela é?

Jack revirou os olhos.

— Se soubesse, não estaria te perguntando.

— O nome dela é Elsa Arendelle. — respondeu — Entrou na escola há uns dois meses. Não é como se eu soubesse muito sobre ela. Ela é estranha. Estamos na mesma aula de literatura.

— Estranha como?

— Não tem amigos, fala sozinha, vive lendo esses livros antigos em latim, ninguém sabe nada concreto sobre ela ou a família... — ia enumerando com os dedos conforme falava — Dizem as más línguas que é uma bruxa. E sinceramente? Eu acreditaria. Ela teve uma discussão com o professor de geografia e ele pediu demissão dois dias depois sem nenhuma explicação. O quão estranho é isso? Sério, Jack, essa garota me dá arrepios.

Jack riu.

— Ah, não seja medroso. Até parece que ela é uma bruxa ou sei lá o que. Onde estudamos agora? Hogwarts? — debochou — Ela é bem bonita.

— Emilly também é bonita e está te dando mole há dias.

— Fácil demais. — respondeu entediado — Gosto de desafios.

— Então que tal a Selena?

— Do time de vôlei? — Sandy assentiu — Bonita, mas paranóica. Capaz de cortar meu pênis fora se ficar irritada comigo.

— Bom, temos uma lista de desafios para você.

— E que tal começarmos pela Elsa? — sorriu de canto.

Sandy bufou.

— Não acho uma boa idéia. Ela pode jogar um feitiço em você.

— Sério que você acredita nisso? — olhou incrédulo para o loiro — O único feitiço que ela possui é o de fazer a minha varinha levantar.

— Aí meu Deus. — Sandy cobriu o rosto com as mãos — Essa foi ruim, cara. Muito ruim. — balançava a cabeça negativamente — Não tenho nem palavras para expressar o quão ruim foi isso que você falou. Nossa. Por que somos amigos mesmo?

Jack gargalhou.

— Foi boa, vai. — o loiro revirou os olhos — Veja e aprenda, Sand Man. Veja e aprenda.

O moreno levantou e foi até a mesa onde Elsa estava sozinha. A loira pareceu não notar sua presença quando sentou ao seu lado ou apenas preferiu ignorá-lo.

— O que está lendo? — Jack perguntou, seu melhor tom simpático enquanto tentava entender as palavras escritas nas paginas amareladas.

Elsa ergueu o olhar do livro por um momento, analisando o garoto. Jack se arrepiou com a intensidade dos olhos azuis penetrantes da garota. Tinha de admitir que adorava olhos claros, mesmo preferindo verdes aos azuis.

— Não creio que você vá querer saber. — respondeu entediada, voltando sua atenção ao livro.

— Você se surpreenderia. — disse com um sorriso — Elsa, não é?

— Jack, não é? — rebateu.

O moreno franziu o cenho.

— Como sabe meu nome? — questionou.

— Como você sabe meu nome?

Arisca, Jack pensou.

— Touché. — sorriu de forma nervosa — Meu amigo me contou.

A loira olhou para onde Sandy estava sentado observando os dois discretamente.

— Steve, o loirinho? — perguntou e Jack assentiu — Acho que estamos na mesma aula de literatura ou algo assim.

— Ele mesmo. Mas pode chamá-lo de Sandy.

— Por causa do apelido Sand Man? Por que ainda o chama assim, a propósito? Não creio que Steve ainda coma areia.

Jack ficou desconfiado. Quase ninguém sabia daquela história.

— Como sabe disso?

— Já ouvi falar de vocês. — respondeu prontamente, dando ombros — Nada demais.

— Certo...

Elsa sorriu de canto, finalmente fechando o livro.

— O que quer, Jack?

— Nada demais. Só te vi aqui sozinha e achei que um pouco de companhia seria bom.

— Estou muito bem com meus livros, obrigada.

Elsa esperou que o moreno fosse embora depois dessa, entretanto, não foi bem assim. Aparentemente, a cada cortada que a loira dava, mais interessado Jack ficava.

— Ainda não me contou do que se trata o livro.

— Histórias antigas. Nada que você vá gostar.

— Eu gosto de história!

Elsa apertou os olhos.

— Não, você não gosta.

— Ei, você não sabe nada sobre mim. — defendeu-se.

— Será mesmo?

O sinal ecoou pelo pátio e a loira guardou o livro na mochila, levantando-se em seguida.

— Vou voltar para a aula. Deveria fazer o mesmo.

— Nos vemos depois? – o moreno perguntou com um sorriso galanteador no rosto.

— Acho que não.

Elsa pegou suas coisas e se foi, voltando para o prédio. Frost ficou observando a garota se afastar, sorrindo de canto. Misteriosa e bonita, foi a conclusão final que chegou. E, obviamente, o garoto ficou ainda mais disposto a conquistá-la.

Jack definitivamente adorava desafios.

~*~

Sandy estava preocupado. Há mais de um mês seu melhor amigo parecia obcecado naquela garota estranha da aula de literatura. Elsa assustava o loirinho. Talvez fosse o olhar gélido ou as palavras estranhas que ela murmurava às vezes, não tinha certeza. Só sabia que havia algo errado sobre aquela garota e Jack deveria ficar longe dela. Mas o moreno deu atenção aos avisos do amigo? Claro que não.

Sem contar que agora Jack parecia não ter mais tempo para Sandy, já que um novo troféu em sua prateleira parecia mais importante que o garoto. Isso o irritava profundamente. Mal se lembrava da ultima vez que Jack foi em sua casa para jogarem vídeo game, algo que faziam quase todo dia no período pré-Elsa. Queria tanto que Elsa tivesse simplesmente continuado a rejeitar Jack ao invés de ter dado uma chance a ele.

Em um dia se fazia de difícil e no outro estava aos beijos com Jack nos corredores vazios da escola. Sandy sabia que nesse ritmo, não demoraria muito para o garoto conseguir o que queria. Sandy nunca aprovou a forma como o melhor amigo tratava as garotas, porém, naquele caso, estava até ansioso para que o moreno a dispensasse logo.

De qualquer forma, as últimas semanas de Sandy se resumiram em ficar vagando pela escola sozinho. As vezes parava em algum canto e ficava ouvindo música em seu iPod —o qual estava considerando seriamente dar o título de novo melhor amigo.

Por algum tipo de milagre, Jack chegou cedo na escola naquela manhã e se dirigiu direto a sala, sabendo que encontraria o melhor amigo lá. Precisava compartilhar as novidades com o loiro, que apenas revirou os olhos ao vê-lo passar pela porta. Foi até seu lugar e jogou a mochila. Sentou-se na frente do mais baixo, mas nada disse.

— Olha, talvez eu devesse perguntar o por quê desse seu sorriso presunçoso, mas quer saber? — o loiro perguntou irritado — Eu não quero saber.

— Nossa, alguém acordou de mau humor hoje. — Jack respondeu divertido.

— E seu bom humor está me incomodando. — rebateu — O que aconteceu?

— Bom, meu caro Sandy, Elsa me convidou para entrar ontem quando a levei para casa. – seu sorriso aumentou.

Finalmente. — Sandy jurou que podia ouvir anjos cantando "aleluia" há distancia.

— Meu amigo, valeu a pena passar um mês investindo.

— É bom ter valido a pena mesmo você ter passado o ultimo mês me ignorando. — o loiro reclamou.

— Ah, que isso, Sandy. Eu não te ignorei.

— De qualquer forma, — fez um gesto de desdém — quando vai dispensá-la?

— Dispensá-la? —Jack franziu o cenho — Por que eu faria isso?

Sandy o olhou incrédulo.

— Jack Frost, não me diga que você se apaixonou por essa garota.

— Eu? Me apaixonar? — riu — Claro que não. Só quero aproveitar um pouco mais. Sério, cara. Você não tem idéia de como ela é boa na...

— Não quero saber, obrigado. — interrompeu o outro, cobrindo os ouvidos — Sério, cara. Sua vida sexual não me interessa.

Jack deu ombros.

— Vídeo game hoje? — sorriu.

Sandy apertou os olhos.

— Então você acha que é assim? Me ignora por dias, não dá sinal de vida, acha que é só voltar aqui, fazer essa cara de inocente, me chamar pra jogar vídeo game e estamos de boa? Nem pensar, Jack!

O moreno piscou os olhos.

— Por favor?

— Ah, eu odeio você. — resmungou — Espero que a sua alma queime no inferno.

— E você iria comigo que eu sei.

Sandy mostrou a língua para o melhor amigo, que riu divertido. O sinal tocou e a sala encheu-se de alunos num piscar de olhos. Jack voltou para seu lugar e passou a manhã toda distraído, observando o céu pela janela. Estava literalmente nas nuvens.

Os próximos meses —pois é, meses!— foram incríveis para o moreno. Jack nunca pensou que uma única pessoa pudesse segurá-lo por mais de duas semanas. Elsa era a garota mais interessante com quem ele saíra até o momento, ultrapassando suas expectativas iniciais. Ela era mais do que apenas bonita, mantinha conversas animadas sobre os mais diversos assunto com o garoto, e em algum momento do primeiro mês, Jack descobriu que ela eram também uma ótima adversária para alguns jogos, principalmente FPS*. Sandy não podia nem sonhar sobre esse fato, porque aí sim diria que estava sendo trocado. Mas Jack estava balanceando seu tempo. Não queria deixar o loiro de lado.

Por mais legal que Elsa fosse, às vezes, o garoto não podia deixar de notar algumas coisas estranhas sobre ela. Ele se perguntava o porquê dela nunca deixá-lo encostar em seus livros ou em alguns objetos espalhados por sua casa, como algumas pedras brilhantes sobre a lareira. Elsa era possessiva suas coisas, mas não se uma maneira egoísta, e sim protetora. Sem contar que Elsa quase nunca falava sobre sua vida pessoal, o que incluía família; e as poucas ligações que o garoto a viu receber —todas de sua prima, Elsa alegou—, a loira fazia questão de responder apenas quando estivesse sozinha. Jack aprendeu a não insistir com essas coisas.

Porém, o tempo passa e nada é perfeito para sempre. Ao final do terceiro mês naquele pseudo-relacionamento com a loira, a paciência de Jack estava chegando em seu limite. Elsa, que no começo não tinha exigências nenhuma e muito menos fazia perguntas sobre o que realmente eram, agora cobrava algo mais sério com o garoto, e um namoro firme era a último que queria. Jack podia até gostar da garota de certa forma, só que não servia para essas coisas. E foi então que decidiu por um ponto final na história.

No momento em que disse que precisavam conversar, Elsa soube que havia algo errado. Com calma, seguiu o garoto para uma parte mais vazia da escola e esperou que ele dissesse algo.

— Bom... — o moreno esfregou as mãos nervoso — Elsa, primeiramente, quero dizer que isso não tem nada a ver com você. O problema é comigo.

A loira arqueou a sobrancelha e cruzou os braços.

— Vá direto ao ponto. — pediu impaciente.

— Olha, você é uma garota incrível, sério. Qualquer cara seria muito sortudo em estar com você, mas...

Elsa revirou os olhos enquanto Jack respirava fundo. O garoto se sentiu patético. Desde quando era tão gentil na hora de dar um fora em alguém?

— Eu sei que você quer um relacionamento sério, só que esse tipo de coisa não é pra mim. Então, acho que devemos parar com — indicou entre os dois — isso. Foi bom enquanto durou. Amigos?

Frost sentiu como se um peso enorme saísse de suas costas, mas o alívio se esvaiu ao ver o olhar decepcionado da loira.

— Ah, Jack... Realmente achei que você pudesse ser diferente. Pelo visto me enganei.

A forma calma como Elsa falou causou arrepios no moreno. Talvez porque esperasse que ela surtasse como todas as outras. A loira não estava surpresa com aquilo, na verdade. Imaginou que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Pelo próprio bem de Jack, esperava que nem acontecesse. Para o azar do garoto, Elsa realmente gostava dele e não o deixaria se livrar dessa tão facilmente.

— As coisas podiam ser diferentes. — disse mais para si mesma do que para o outro — Sinto muito por isso, Jack.

A loira resolveu sair dali e passou por Jack, que tinha uma expressão confusa.

— Sente pelo que? — o moreno se virou, querendo entender melhor as palavras da garota — Elsa?

Ela já não estava mais ali.

~*~

Jack se lembrava de uma época em que gostava do inverno, mesmo que agora parecesse tão distante. Todas as boas memórias de diversão que tinha de quando era uma criança ou começo de sua adolescência tinham um gosto amargo quando ele se lembrava do que aconteceu com sua irmã dois anos atrás. Agora, o inverno não passava de uma estação fria e melancólica que lhe trazia péssimas lembranças. Nem mesmo as festividades pareciam ter graça para o garoto agora, e a única coisa que lhe vinha em mente com o recesso de fim de ano era a oportunidade de passar horas vendo filmes com sua mãe.

E, sinceramente, essa era a única coisa boa sobre aquele período do ano para o garoto. Nos fins de semana, Jack e Sophie sempre reservavam tempo para uma maratona, fosse de séries ou filmes, e ficavam horas debaixo das cobertas em frente à televisão comento besteiras. Era quase uma tradição. Mãe e filho sempre foram próximos, o que é normal me famílias pequenas, entretanto, desde a morte de Emma, o laço entre os dois tinham se fortalecido ainda mais. Afinal, eram a única família que ainda tinham. Jack não era um daqueles adolescentes que sentia vergonha dos familiares. Muito pelo contrário, estufava o peito para falar de Sophie. Ela era a mulher mais forte que conhecia. Sempre deu seu melhor na sua profissão e em casa, não se deixando abater por coisas ruins da vida como a morte do marido e da filha.

Quando o filme que assistiam, uma comédia não tão engraçada assim, acabou, Sophie checou o horário e constatou que já era muito tarde para estarem acordados.

— Pro quarto, Jack. Não quero você acordando depois do meio dia amanhã só porque é domingo. — a mulher ditou.

— Eu sei, eu sei. — respondeu — Mãe, tudo bem se o Sandy vier aqui amanhã, né?

— Não sei porque você ainda pergunta isso. — Sophie sorriu — Sinceramente, às vezes eu acho que deveríamos dar uma cópia da chave pra ele.

— Não seja uma má ideia. — Jack concordou.

— Agora sério, vai dormir. — deu um beijo na testa do filho — Ai de você se eu descobrir que ficou até tarde na internet.

Jack sorriu, observando a mãe se afastar.

— E não se esqueça de escovar os dentes! — ela gritou já de seu quarto.

— Alguma vez eu já esqueci? — gritou de volta, indo para o seu próprio quarto.

O moreno foi direto até o banheiro escovar os dentes. Tirou a calça e a camiseta, jogando-as em qualquer canto do cômodo. Voltou para o quarto, ainda com a escova na boca, e foi até o armário pegar seu pijama. Sentiu um vento gelado bater-lhe as costas e olhou para trás. Estranho. Jurava que a porta da sacada estava fechada há um minuto. Vestiu uma camiseta qualquer e foi enxaguar a boca antes de voltar para fechar as portas de vidro.

Mesmo certificando-se de que estavam bem trancadas, bastou virar as costas para elas se abrirem novamente. Definitivamente havia algo de errado com aquelas trancas. Decidiu checar o lado de fora e percebeu que não era uma boa idéia sair na varanda no inverno de Maine apenas de camiseta e cueca. Estava um puta frio mesmo que a estação não tivesse começado há nem uma semana.

Olhou para os lados, procurando algo fora do comum. Não conseguiu evitar dar um pulo para trás de susto quando encontrou Elsa encostada no parapeito da sacada, olhando-o com um sorriso divertido.

— Desculpe pelas portas, mas eu precisava chamar sua atenção de alguma forma. — ela disse.

Jack ainda processava a imagem em sua cabeça, tentando decidir se era real ou não. Passado o choque inicial, o moreno ficou de queixo caído. Sabia que a loira não gostava muito de se arrumar, e encontrá-la daquela forma tão deslumbrante foi uma surpresa. Elsa trajava um vestido belo azul cintilante, uma capa quase transparente com detalhes de flocos prateados caindo sobre suas costas. A maquiagem leve destacava os olhos azuis com sombra roxa e marcava os lábios com um batom vermelho, enquanto o cabelo estava preso em uma trança que caia graciosamente sobre seu ombro.

Por um momento, Jack se questionou o porquê de ter terminado com a garota.

Wow. — murmurou — Elsa, você está... linda.

A loira sorriu e se desencostou do parapeito, aproximando-se do moreno. Passou os braços delicados em volta do pescoço do garoto, seus rostos a centímetros de distância.

Foi aí que Jack parou para pensar. Elsa realmente estava ali. Na sacada de seu quarto no apartamento do quinto andar. E ela não havia entrado pela porta. Como diabos chegara ali?

— Espera. — afastou a garota de si — Como você...

— Eu já estava começando a me perguntar quando você iria perceber algo diferente sobre mim. — sorriu divertida.

— Diferente como? — perguntou receoso.

— Vamos lá, Jack. Pense um pouco.

Frost não entendeu o que ela quis dizer a primeira momento, até que finalmente juntou as peças. Ela tinha livros em latim que ninguém podia encostar, sabia coisas sobre qualquer um sem nunca ter perguntado, simplesmente desapareceu no ar semanas antes e agora chegou magicamente na sacada de seu quarto.

— Não me diga que todos aqueles boatos são verdade. — suplicou fechando os olhos, como se não quisesse ver o que aconteceria a seguir.

— Adolescentes podem ser bem cruéis quando querem. Mas, às vezes, brincadeiras tem fundo de verdade. — admitiu — Steve tentou te avisar, não é? Ele é bom amigo.

Jack serrou os punhos, respirando fundo. Só podia ser uma brincadeira.

— O que quer? Vai me castigar por ter terminado com você? — apesar do tom de deboche, Jack estava com medo — Pretende me transformar num sapo?

Elsa riu.

— Não, um sapo seria muito clichê. — respondeu — O que vou fazer é para o seu próprio bem. Mesmo antes de você se aproximar de mim, eu conhecia sua fama. Jack Frost, o coração de gelo. Um garoto que nunca se apaixona e parece colecionar garotas.

A loira parou, esperando algum tipo de reação, mas o moreno nada disse. Continuava a observá-la, esperando o fim de seu monólogo.

— Imagino quantos corações você partiu com sua indiferença. Creio que o motivo disso seja o fato de que ninguém jamais se aproximou do seu a ponto de te deixar vulnerável, certo?

Elsa se aproximou novamente, colocando as mãos sobre o peito largo do garoto.

— O que acha de transformamos sua fama em realidade? — sussurrou em seu ouvido — Um coração congelado pode matar em questão de segundos. Mas vou lhe dar mais tempo. Lhe darei uma chance.

Jack, assustado com as palavras da loira, tentou afastá-la de si, entretanto, seu corpo já não correspondia aos seus comandos.

— Você tem um ano, Jack Frost. Um ano para se apaixonar e ser correspondido. Se ao fim do pôr-do-sol do próximo solstício de inverno um amor verdadeiro não for provado, o gelo em seu coração se expandirá para todo seu corpo. Sua pele se tornará fria e sólida, seu corpo sem vida. Uma perfeita estátua de gelo.

Dito isso, Jack sentiu a pior dor de toda sua vida. Seus olhos queimavam, a cabeça latejava e era como se seu peito estivesse sendo perfurado por milhões de agulhas. Elsa observou o garoto cair no chão, se contorcendo de dor e com dificuldade para respirar, mas mesmo assim nada vez.

Frost sentiu raiva da loira. Uma raiva tão grande que a empurraria do quinto andar sem pensar duas vezes.

— Não se esqueça, Jack. Somente um amor verdadeiro pode descongelar o coração de gelo.

Elsa sumiu no ar, deixando para trás pequenos flocos de neve que caíram graciosamente onde ela estava parada segundos atrás.

Jack tentou se levantar, apoiando-se no parapeito da sacada. Suas pernas estavam bambas e o frio lhe percorria até os ossos. Sentia como se fosse morrer e o medo e adrenalina estavam correndo em suas veias. Com dificuldade, foi até o banheiro da suíte e sua imagem refletida no espelho o apavorou ainda mais. Os cabelos rebeldes abandonaram o tom castanho e agora estavam brancos; os olhos, antes castanhos claros, quase mel, estavam azuis. Sua pele se tornou tão pálida que passava a impressão da ausência de sol há anos.

Seu tórax ainda pulsava de dor e arrancou a camiseta brutalmente, querendo saber o que havia de errado. Jack tinha que parar de achar que as coisas não piorariam. Sobre o lado esquerdo do peito havia uma figura em alto-relevo; um floco de neve perfeitamente desenhado, brilhando em um tom azul.

— Mãe! — gritou desesperado — Mãe!

Sua visão começava a embaçar e as pernas perderam totalmente força. Já não sentia o impacto do piso gelado contra seu corpo. Não sentia mais nada. E a última coisa que se lembra de ter visto antes de apagar foram os olhos violetas da mãe olhando-o assustados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

FPS* - First Person Shooter: gênero de jogo de computador e consoles, centrado no combate com armas de fogo no qual se enxerga a partir do ponto de vista do protagonista, como se o jogador e personagem do jogo fossem o mesmo observador
Uhu, alguém curtiu?
CÊS FALAM QUE EU NÃO GOSTO DE JELSA, MAS AI Ó! ESCREVI UMA FIC COM JELSA. Ah, não gosto mesmo :v quero mais é que esses dois briguem bastante. Tá, parei.
Então, a história vai ter três capítulos. O próximo será postado no domingo (02/03) e o terceiro na quarta (05/03). Reviews fazem bem, deixa a autora aqui feliz e, adivinhem só, não cai o dedo! Quero saber a opinião de vocês ~e saber se alguém leu, pq né~
Enfim, domingo tem mais :3
xoxo,
Charlie
EDITADO 04-11-2015: Bom, esse capítulo realmente não teve grandes mudanças. Eu mais corrigi erros[os mais gritantes, pq sempre fica alguma coisa, ainda mais agora que reescrevi o capítulo no celular] e mudei um elemento ou outro na narração, aumentei e acrescentei alguns diálogos, só que nada que realmente mudasse o rumo da história. Ah, tirando o fato de ter mencionado a Emma! Isso é importante, mas vou falar mais sobre isso no próximo capitulo. Bom, o número de palavras ficou na mesma faixa, o que é até bom pq eu meio que me empolguei no próximo capítulo hehe. Enfim, obrigada por lerem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Frozen Heart" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.