Chegando lá constatei com sorte que o estabelecimento não estava lotado. Alguns poucos casais se acomodavam a luz de velas e uma mulher de uns trinta e poucos anos dividia um creme brûlée com uma garotinha. Logo avistei Pierre, um garçom idoso e muito charmoso que, provando conhecer-me como ninguém, cumprimentou-me com um sorriso enquanto conduzia-me à minha mesa favorita que, felizmente, estava vaga.

– Obrigada, Pierre. Você é um doce – meio a contra gosto também acrescentei- Estou esperando um homem de cabelos escuros e olhos verdes, será fácil reconhecê-lo. Será que pode avisá-lo onde estou, s’il vous plait?

– Mais oui! Claro! Oh, l’amour....

Fiquei tentada a discursar que não havia nada de amor naquela história, mas preferi deixa-lo com suas ilusões acerca de minha experiências românticas. Enquanto isso, peguei uma pequena agenda meticulosamente organizada e rascunhei o início de um organograma de tarefas enquanto esperava. Por algum motivo alheio a meu controle, não conseguia focar na lista em meu bloco de anotações, então, com o lápis suavemente apoiado na mão direita, espalhava arabescos pelas bordas da página.

Meus ouvidos captaram um suave tilintar que indicava a chegada de um novo cliente. Inclinei o rosto para vê-lo e a única ideia que preencheu minha mente ao notar que Poseidon era quem adentrava o recinto foi o quanto, incrivelmente, sua presença me soava familiar e causava conforto. Pierre facilmente identificou-o como meu acompanhante, guiou-o até mim e lhe entregou um exemplar do cardápio enquanto nos desejava um bom apetite.

– E ai, Loira? Já resolveu alguma coisa? – indagou, indicando o bloquinho com um aceno de cabeça.

– Não muita, mas estava pensando e acho que menos é mais. Quanto menos detalhes intrincados, menor a chance de algo sair do planejado. Eu rabisquei esse croqui de como pode ficar o salão... – mostrei para ele, apontando com o lápis – Tudo em tons de preto e branco, para realmente parecer um filme antigo. Acho que poderíamos reaproveitar parte do material do Ano Novo organizado por Perséfone, que foi todo montado usando essas cores e hey, por que está me olhando assim?

Seu riso era sutil, assim como o brilho presente em sua mirada.

– É inspirador te ver falando assim, toda envolvida, sabia?

Senti-me enrubescer com tal comentário, entretanto tentei permanecer focada ao prosseguir – Enfim, tem algo que deseja mudar, ou alguma sugestão, enfim...

– Está excelente, só tenho uma ideia: que tal, para contrastar com esse cenário bicolor, colocarmos balões vermelhos com formato de coração como centro de mesa?

– Perfeito! – exclamei, animada, enquanto o garçom nos servia um delicioso cappuccino.