The Way You Look Tonight escrita por Clarisse Hugh


Capítulo 18
Silêncios que falam


Notas iniciais do capítulo

Rufem os tambores ♥



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Ao levantar-se tempos depois, totalmente desperto, Ártemis silenciosamente lhe ofertava uma xícara de café, e talvez fosse mesmo tarefa da Lua influenciar as marés. Poseidon queria retribuir-lhe pelo cuidado e atenção a ele dedicadas, mas tinha consciência de aquela garota ser por demais dona de si para buscar por palavras doces e, além do mais, não pertenciam a ele os lábios de quem ela apreciaria ouvi-las, de qualquer forma.

O moreno recomposto voltou a seu templo muito mais centrado e, enquanto resolvia detalhes administrativos com Delfin, pegava-se distraidamente desviando o olhar para as capinhas de DVD em sua mesa de cabeceira.

Expectativa, mas já não pressa, acumulava-se muito fortuitamente em seu estômago e, dessa forma, foi que aquele dia teve fim para deixar nascer com o Sol uma nova oportunidade.

Quando finalmente encontrou-se com Atena, a curva de seus sorrisos era pouco acentuada, embora muito verdadeira. Tocou-lhe suavemente o antebraço, num gesto com intenção de conduzi-la tranquilamente para dentro da sala de vídeo, mas que também não deixava de ser um transbordamento de ternura e gratidão.

A deusa era toda serenidade, seu coração muito leve ante a muda compreensão entre seus silêncios, a delicadeza no clima dos filmes antigos não podendo ser mais propícia.

Poseidon já deixara o DVD pronto no aparelho e seu esmero na arrumação do cômodo era por si só uma demonstração de afeto. Sentaram-se lado a lado no centro da sala e os créditos de Sinfonia de Paris resplandeceram na tela. Atena havia posicionado um bloquinho de anotações sobre o braço da poltrona para poder destacar quaisquer pontos do cenário ou do enredo os quais lhe inspirassem para a festa, mas, menos de dez minutos de filme se passaram e ela repousa mansamente a caneta sob o papel.

Desistia da racionalidade nos sentimentos vagarosamente. Seu inconsciente lhe advertia de que o homem sentado à sua esquerda lhe ensinaria muito mais sobre o amor do que qualquer análise científica que fosse capaz de conceber, caso lhe permitisse.

As falas embebidas num sotaque americano bastante acentuado ecoavam no fundo de sua mente, quase um ruído, pois era como estar hipnotizada, olhando-o com o canto dos olhos. A cada ínfima sugestão de humor, seu semblante exibia um doce riso de garoto, e este realmente lhe cabia bem, as maçãs do rosto elevando-se naturalmente.

Enquanto ela, furtivamente, só conseguia observar-lhe de esguelha, ele, por outro lado, encarava-a abertamente, o rubor nas bochechas femininas sendo o maior prêmio que poderia desejar.

Entre canções e passos de dança elaborados, uma linha do roteiro destacou-se em meio a tantas outras. Paris é como... o amor, ou arte, ou fé, a personagem proferiu e os expectadores podem entender que o lugar é como o transbordamento de sua própria emoção. Não pode ser explicada, somente sentida. E a cidade dos enamorados estava bem longe dali, mas o par podia senti-la em cada centímetro do espaço delimitado por aquelas paredes. Bastava fechar os olhos, e estavam lá.

Quando o primeiro filme terminou, Poseidon levantou-se logo para pôr o segundo. Sua impaciência costumeira levando Atena a um riso baixo e bochechas coradas como se usasse blush. Mas não usava.

O moreno ocupou de novo seu assento e ela logo lhe ofertou a vasilha com pipoca recém-estourada. Seus dedos se tocaram ao pescar um montinho do petisco salgado, a carícia foi morna, durando instantes além do necessário e os dois sabiam disso.

A Princesa e o Plebeu invadiu a tela com toda a beleza daquela espécie de conto de fadas. O filme era preto e branco, e esta última também era a cor da blusa de mangas compridas usada por Atena. Ela parecia ser muito macia e confortável, ou pelo menos essa foi a desculpa que Poseidon encontrou mentalmente para justificar o ato de tomar-lhe as mãos nas suas e acariciar suave o tecido que parecia nuvem, tão fluido e frágil em contato com sua pele rígida, marcada pelo sol.  Atena não se afastou e neste momento os dois já tornavam-se algo novo.

O enredo era leve e doce, a deusa já o havia visto por vezes suficientes para conhecer as falas de cor e fingia para si mesma ser esta a razão pela qual não desgrudava sua atenção de certos fios negros nos cabelos e cílios grossos, destacados pela camisa de um azul claro que lhe transmitia muita paz, ou talvez isso fosse responsabilidade do homem que a vestia.

O tempo de filme discorria fluente como a língua materna que nos abraça e cada momento daquele calar foi preenchido pelo significado daquela companhia e sensação boa que já se fazia tão familiar, até a televisão se escurecer por completo.

—Sabe, ver a Audrey me fez lembrar de um outro filme dela... Sabrina, acho que é esse o nome, e o quanto você me lembra a protagonista da história... – O comentário saiu como o soluço que escapa quando já não se pode segurar a respiração.

—Você acha? – disse Atena, franzindo o cenho enquanto ajeitava-se melhor na poltrona, virando-se para aquele que recentemente aprendera a amar – Por quê?

—Porque ela esteve lá o tempo todo, tão perfeita, bem diante dos olhos dos dois irmãos, mas eles eram simplesmente idiotas demais para perceber. Porque eu não consigo conceber – e quando se dá conta, estão mais próximos, os dedos já acariciando uma mecha de seus cabelos – Realmente não sou capaz de conceber quão cego eu devo ter sido para não notar uma coisa dessas.

Poseidon prolonga o gesto e toca-lhe os lados do rosto como quem tem nas mãos um presente e beija-lhe a testa como quem podia escorregar os lábios e juntar as bocas com devoção, mas é proteção e respeito que lhe dedica e Atena mais do que nunca sabe que ele a compreende. Dentro dele, quer que ela seja sua, mas, mais do que isso, ele próprio pertence-lhe.

Os dois corações compartilham as verdades implícitas em cada um dos gestos e já começam a entender. Uma declaração não era assim tão necessária para alguém acostumada a ler entrelinhas e a caligrafia de Poseidon sempre fora mesmo muito firme e clara.


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Notas finais do capítulo

Ai, deuses, como eu estava ansiosa por este momento ♥ A história está encaminhando-se para o gran finale e peço só mais um pouquinho de paciência a respeito da minha demora. Vou fazer o máximo para que não se repita.
Beijos ♥



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