My Dream escrita por Susan Salvatore


Capítulo 6
Nada para se envergonhar




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É possível que sonhos perturbadores sejam capazes de acordar alguém? Não pesadelos, sonhos bons. Sonhos dos quais Hayley não devia ter. A primeira coisa que fez ao acordar foi se envergonhar. Ela confessara. Mais uma vez se abrira e só Deus sabe o que teria acontecido se não fossem os trovões.

A segunda coisa que fez foi envergonhar-se por estar envergonhada. Sua bipolaridade a confundiu – mas talvez amar alguém que não se deve amar seja tudo sobre confusão. O que seria pior: conquistá-lo e vê-lo sofrer pela impossibilidade de ficarem juntos ou afastar-se e sofrer por sua covardia?

A terceira coisa que fez foi suspirar e cair da cama.

– Inferno! – gritou, quando seu sensível tornozelo dobrou-se num ângulo estranho.

– Hayley! O que aconteceu? – disse Elijah, que em menos de um minuto apareceu no quarto dela. Era curioso o quão rápido ele podia chegar lá.

– O que parece que aconteceu? Rolei da cama e caí – resmungou, lutando com todas as suas forças para não prestar atenção no perfume dele, enquanto este a levantava.

– Como pode alguém acordar zangada todos os dias? – respondeu ele, perplexo.

– Ninguém mais usa a palavra zangada. Pare de ser velho – falou a zangada Hayley.

– E que palavra devo usar pra descrever seu mau humor sem explicação?

– Puta da vida.

Elijah a encarou descrente. Às vezes parecia que ela o tratava mal de propósito. Que diabos, ele só estava tentando cuidar dela. Por que era tão avessa a isso? Então, não pela primeira vez, o pensamento de que talvez ela nunca tivesse recebido afeto antes o atingiu. Suspirou e engoliu sua irritação.

– Está com fome? – perguntou, tentando mudar de assunto.

– Não – respondeu a moça, exatamente na hora que seu estômago roncou como o de um elefante.

– Bem, eu estou. Vamos, deixe-me ajudá-la a descer.

– Não preciso de ajuda nenhuma.

– E como pretende descer as escadas com o tornozelo quebrado?

Hayley pensou por um momento.

– Estou muito bem aqui.

– Pare de ser infantil. Vamos, antes que seu estômago comece a consumir-se.

– Eu não sou infantil. E me obrigue a descer!

Revirando os olhos, ele a pegou no colo – sem muita resistência – e ignorou quaisquer reclamações. Mas não percebeu que ela estava vermelha de tanta vergonha. Como uma menininha, pensou, irritada.

– Só consegue a companhia de uma mulher levando-a a força?

– Não. Com as crianças é assim. E só com as mimadas.

– Eu sou mimada? Falou o verdadeiro playboy!

– Você não é mimada por ser rica, ou não. É mimada porque é mal educada quando as coisas não saem do seu jeito.

– Ou talvez eu só esteja irritada por você ser passivo demais! – disse Hayley, em voz bastante alta. Elijah encarou-a por alguns momentos, respirando furiosamente. Desceu-a de seu colo e coloco-a de pé.

– Passivo? – disse, prensando o corpo dela na parede. Não ligou pros gemidos de dor dela e não estava nem aí se seu tornozelo doía. Ele estava de saco cheio. Aproximando seu rosto, sussurrou em seu ouvido – E quem é que está subjugada agora?

Nada foi mais humilhante para ela do que ele a ter pegado no colo de novo depois disso. Bem, talvez só o fato de que, por alguns segundos, desejou ardentemente que ele fizesse outra coisa.

Comeram em silêncio. As bochechas da moça ainda queimavam – e não era só por ter sido humilhada. Pela primeira vez, vira o lado não tão cavalheiro de Elijah. O brilho malvado nos olhos dele era tremendamente sexy. E, quando devia estar com raiva, se sentiu mais atraída ainda. Por um momento desejou estar com um pijama mais feminino e sem as faixas que envolviam parte de seu corpo. Talvez estar penteada também fosse uma boa.

– Hm... Hei – disse, toda tímida. Sentia-se subjugada mesmo.

– O que é? – respondeu ele, com irritação; a expressão mal humorada nele só o tornava ainda mais absurdamente lindo.

– Pode me levar lá pra cima? Está ficando desconfortável aqui. Por favor.

– Assim que eu terminar de comer – falou, mastigando vagarosamente. Boa parte de si sentia-se cruelmente satisfeito com o fato de que ela dependia dele para sequer andar. Gostou dessa dependência. Hayley o perturbara além do limite e era hora de aprender a se comportar um pouco.

Quando terminou, pego-a sem dizer nada, apertando-a contra si mais do que o necessário. Podia estar irritado, mas não era inconsciente ao fato de que ela estava inocentemente sexy naquele pijama folgado. Não deixou isso transparecer.

– Obrigada – disse ela, quando ele a deitou na cama. Ficou intrigada ao perceber que o homem não fazia menção de sair; pelo contrário, ajustou-se confortavelmente no lado oposto da cama – Hm, quer alguma coisa?

– Apenas me certificando de que não irá cair novamente.

Foi muito difícil para ela dormir com aquele belo par de olhos claros encarando-a. Mas, por fim, cedeu à inconsciência. Era bom que estivesse desacordada; Hayley nunca soubera do hábito que tinha de falar enquanto dormia. Contorcendo-se no sono, ela sussurrava o nome dele inúmeras vezes.

Elijah sentiu-se derreter ao ouvir a voz dela, livre de sarcasmo e acidez, dizendo seu nome, como num pedido. Ela não formulou nenhuma frase reveladora; apenas chamava por ele. Quando seus lábios curvaram-se num sorriso, ele lembrou-se da bela garotinha que era sua amiga.

Com curiosidade, foi até ela e puxou a manga de seu pijama. Sim, estava lá. Meio gasta pelo constante uso, mas estava lá. A pequenina pérola ainda brilhava. Ele não aguentou mais. Beijando seu pulso, deitou-se ao lado dela e foi embalado pelos sussurros suaves de seu nome.

Nem o mais frio dos homens conseguiria resistir à doçura daquela cena e Elijah não era nada frio.

...

Em algum lugar distante, alguém a chamava. Sentiu que devia despertar, mas não conseguiu. O pesadelo sempre a dominava. Chorava enquanto o dono do perverso sorriso se divertia enquanto ela sangrava. Os olhos dele brilhavam com ódio e com prazer ao mesmo tempo – prazer por ver sua barriga sangrenta. A dor a consumiu e tudo que pode fazer, mais uma vez, foi gritar e implorar. Tudo só piorou quando o assassino assumiu o rosto de Klaus. Doeu tanto que quis morrer.

– Hayley, acorda! – gritou Elijah, sacudindo seus ombros com força.

– O que... – ia dizendo ela quando percebeu a umidade em seus olhos. A mesma umidade que manchava a camisa dele.

– Foi só um pesadelo, coração – disse ele, abraçando-a. Não sabendo o porquê, Hayley se sentiu perdida e novas lágrimas surgiram. Lembrou-se do pesadelo e soluçou baixinho. Nem mesmo nos sonhos a vida era gentil com ela.

– Não... Não vá.

– Eu prometo.

Elijah fazia muitas promessas, mas, incrivelmente, ela se sentia mais segura a cada uma delas. Agarrando-se à gola de sua camisa, ela aninhou-se no peito dele e deixou a sensação de calor e segurança dominá-la.

Dessa vez, nada de vergonha ou medo passou por seu coração. A irritação e teimosia se foram, deixando-a em sua essência: uma garota doce e intrigante, inconsciente dos efeitos que causava nele. Só se sentia protegida. Aquele devia ser o melhor lugar do mundo, assim como as batidas no peito dele deviam ser a melhor música. Fechou os olhos.

Uma diferente sensação de calor o fez levantar o rosto dela, fazendo-a encará-lo. A respiração de ambos falhou. Só poucos centímetros afastavam-os e não parecia haver nada mais magnético no mundo. Aquela proximidade... Era como se o sol estivesse entre os dois.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu fiz de maldade :3 Como esperam que será o próximo capítulo (na semana que vem)?



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