My Dream escrita por Susan Salvatore


Capítulo 5
Indomável




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Veja, entrar num local pequeno com Elijah Mikaelson e sentir seu cheiro amadeirado instalar-se por todo o ambiente era demais para Hayley. Como parar de olhar para aqueles músculos, tão mais proeminentes fora de ternos? A camisa de malha fina que ele usava delineava cada parte de seu corpo, produzindo pensamentos maliciosos demais nela.

Era uma tortura. Estavam naquele carro há horas e, lutando contra o tédio que ameaçava dominar a conversa deles – bem como disfarçando os olhares desejosos que lançava -, ela resolveu ser provocante e teimosa. Como sempre.

– Você realmente tem certeza de que isso é uma boa ideia? – perguntou pela décima vez. Com prazer, viu a expressão dele alterar-se com irritação.

– Sim.

– Quero dizer não quero quebrar uma unha nem nada disso – continuou Hayley, numa fingida voz anasalada, e, ao vê-lo suspirar, gargalhou – Fala sério, você acha mesmo que eu sou fresca assim?

– Na verdade, você tem todos os motivos do mundo pra se preocupar. Nem sei por que estou arriscando-a assim... – bem como disfarçando os olhares desejosos que lançava -

– Porque você é legal, porque sabe que vai me proteger e porque será divertido – disse a moça, animada. Não entendia por que Elijah estava sendo tão precavido.

– Hayley – disse, olhando-a seriamente -, não se preocupa nem um pouco com esse bebê?

Ela calou-se. Sim, respondeu a voz em sua cabeça, você devia estar terrivelmente preocupada. Não estava. A verdade é que havia uma parte de si que renegava qualquer mudança que ela tivesse que fazer em sua vida por causa da indesejável criança. Não possuía nenhum sentimento materno porque nunca havia tido uma mãe de fato.

Mas, assim como havia um lado “malvado”, era impossível negar que, bem lá fundo, Hayley tinha certa curiosidade para com o bebê. Como se sentiria? Dar à luz mudaria algo nela? Será que, ao ver os olhos de Klaus na criança, poderia sentir algum afeto? Ela esperava que sim... E esperava que Elijah sentisse mais afeto ainda. Na verdade, esperava que ele se lembrasse dela toda vez que pusesse os olhos no sobrinho.

– Acha que será o que? – perguntou finalmente o homem.

– O que?

– Seu filho. Menino ou menina?

– Não faço ideia. Mas – continuou e viu nisso a chance de se redimir com ele – pensei em alguns nomes. Ariella, Amelie... Gosto de Ariella, o apelido poderia ser Ariel, que nem a da Disney.

– Klaus não é gentil com garotas. Seria melhor se fosse um menino. – disse Elijah, odiando destruir os doces devaneios da moça, mas tendo que fazê-lo. É claro que Klaus só aceitaria um menino; temia sinceramente o que seu irmão pudesse fazer com uma garotinha.

– Você irá protegê-la. Ela não correrá risco algum.

E a partir daí, Elijah desejou ardentemente que fosse uma menina.

...

– Tem certeza de que quer fazer isso? – perguntou ele, cheio de preocupações.

– Absolutamente – respondeu Hayley, montada num belo quarto de milha palomino. Sentia-se feliz, finalmente realizando um de seus maiores desejos. Saber que aquilo era perigoso só aumentava ainda mais sua vontade.

– Certo. Fique perto de mim – respondeu Elijah, que cavalgava num enorme garanhão preto. É claro que a moça insistira para montar num cavalo mais majestoso, mas ele não era tão imprudente assim. Acima de tudo, tinha que lembrar que ela estava grávida.

Aos poucos começaram a trotar suavemente. Ela estava isenta de medo; ao sentir o vento bagunçar-lhe os cabelos, tudo o que pode pensar é que era livre, quase selvagem. O cavalo aceitou-a bastante bem. Sorrindo, viu a aprovação nos olhos de Elijah.

– Existe um lugar que quero mostrar a você – disse ele e a conduziu, muito lentamente para o gosto dela, até a um belo vale, onde brotava uma cachoeira e o cheiro de pinheiro tomava o local. As árvores eram imensas e não havia sequer um metro de terra que uma flor não se fazia aparecer.

– Você tem a tendência de achar lugares mágicos – sussurrou ela, encantada. A menininha inocente apoderou-se dela. Um bosque tão lindo como aquele não tinha lugar para acidez e mágoa.

– Eu vinha aqui desde que era criança. Esse lugar sempre me acalmou.

Então, involuntariamente, Hayley imaginou um pequenino Elijah correndo pela grama alta, ralando o joelho nas pedras ásperas e mergulhando imprudentemente nas águas da cachoeira. E, sem perceber, associou a imagem com a de um outro menininho, mas este com os cabelos cor de chocolate como o dela. Mamãe, sussurrava ele com um sotaque infantil.

Se o mundo não fosse injusto, o bebê poderia ser de Elijah. Se naquela noite tivesse sido ele, tudo poderia ser diferente. Provavelmente estariam escolhendo o enxoval do bebê, enquanto sorriam e se beijavam. Se ela tivesse sido inteligente, se tivesse procurado por ele... Eram “se” demais. Tristeza apoderou-se dela.

Só aí é que percebeu o quanto tinha se aberto para ele. Novamente, ela entregou seus sentimentos a alguém – sentimentos aos quais ela não podia dar nome. E se ele só estivesse brincando com ela? Não, isso não. Ele era honroso demais para isso, tinha certeza. Mas Elijah não a via com os mesmos olhos. Era só uma menina burra e infeliz que tivera o azar de ficar grávida.

– Hayley? – chamou o homem – Qual o problema?

– Por quê? Por que me trouxe aqui? Por que se importa? Pare de fingir que não sentirá alívio em se livrar de mim! – gritou, com lágrimas ardendo em seus olhos.

Ah, ela sabia por que estava assim. A palpitação em seu coração não era pela raiva. Hayley sabia. De certo modo, sempre soubera e, por mais que agora tentasse negar, nada poderia mudar isso. Ela pôde dar, então, nome àquele sentimento.

– O que aconteceu? – perguntou Elijah, confuso. Tentou se aproximar dela, mas a moça afastou sua mão com um puxão.

– Não me toque! – gritou.

Então, puxando as rédeas do cavalo, saiu num galope veloz para o mais longe dali. A raiva que sentia de si mesma não a permitia ver que estava indo pelo caminho oposto ao que viera.

Uma tempestade se aproximava e tampava os últimos raios de sol. Ela, sem saber para onde ir, deixava que o cavalo a guiasse. Não podia pensar – era doloroso demais. Ah, Deus, onde foi que ela se meteu? Já não estava cansada disso tudo? Já não sabia o que vinha depois?

Quase duas horas depois, ela recobrou a realidade. Agira como uma imbecil e precisava arrumar aquela situação. Por isso, ficou muito surpresa ao ver que seu cavalo absolutamente não obedecia a seus comandos. Quando mais estreitava as rédeas, mais o animal ficava furioso. Então, numa tentativa desesperada, bateu com os calcanhares na barriga do cavalo e este saiu galopando com fúria.

A chuva caía torrencialmente; Hayley tinha água demais em seus olhos e não podia ver para onde estava indo. Sua montaria permanecia determinada a correr até o fim do mundo – os trovões só o deixavam mais furioso.

Aproximavam-se do sopé de uma montanha quando ela teve uma ideia. Imaginando que isso fosse mostrar ao cavalo que estava tudo bem, a moça tentou desatar as rédeas dele. Mas, com os solavancos que ele produzia, a única coisa que fez foi dar nós nas cordas. O súbito aperto fez o cavalo inclinar-se, derrubando-a no chão. Porém, seu pé ficou preso no fecho da sela e ela começou a ser arrastada montanha acima.

Sabia que ia morrer, tinha certeza. Se ao menos pudesse gritar por Elijah... Ia pensando, até que sua cabeça bateu numa pedra qualquer e desmaiou.

...

Ele estava furioso. Sabia que era imprudente cavalgar na chuva, ainda mais num terreno tão íngreme, mas não podia abandoná-la. Pensar nela só fez com que golpeasse seu cavalo mais furiosamente. Este, impecavelmente disciplinado, dobrou de velocidade.

Ah, como fora estúpido! Devia tê-la parado... Mas não. Só ficou lá, com cara de idiota, observando o quanto seu objeto de desejos proibidos podia magoar quando queria. Só muito depois que ele lembrou-se de que Hayley não tinha ideia do que estava fazendo.

Desespero se apoderou dele. Iria matar duas vidas, as duas mais preciosas vidas do mundo. Se ao menos ele não tivesse inventado aquela história idiota de equitação... Mas como podia negar um desejo tão inocente àqueles olhos doces? Hayley era sua perdição e, por isso, ele estava sendo a dela.

Horas haviam se passado e nada dela. Mas ele não ia desistir. Sabia que as possibilidades de que ela estivesse bem eram quase nulas, mas mesmo assim insistiu. Se ela morresse por sua culpa, ele jamais se perdoaria. Seria quase como morrer também.

Então viu. Só um lampejo de trovão e ele viu. Há alguns metros à frente, perto da base da grande montanha, havia um corpo jogado precariamente sobre um tronco. Impondo mais velocidade ainda à seu cavalo, ele rapidamente chegou lá.

E seu coração parou por um momento.

Hayley jazia ali, na sua frente, com um horrível corte logo acima de sua sobrancelha. Estava pálida e sua boca perigosamente branca. Ao tocá-la, frio transpassou por seus dedos.

– Hayley, não! – sussurrou, sem forças. Lágrimas se misturavam à chuva. Tentou sentir o pulso dela, porém suas mãos tremiam demais para que tirasse qualquer conclusão. Elijah arquejou.

Segurou sua mão, trazendo-a junto ao peito. Alguns batimentos cardíacos depois, belos olhos de carvalho abriam-se lentamente, conforme o ritmo de sua respiração. Então, sem se importar com mais nada, ele a tomou em seus braços.

– Você veio – sussurrou ela, fragilmente.

– Eu sempre virei – disse, olhando-a profundamente. Poucas emoções se comparavam àquela que ele sentiu naquele momento.

Seus rostos estavam a centímetros um do outro, ambos os lábios se entreabrindo e deixando escapar irregulares respirações. Sem pensar, sem sentir. Por um momento, Hayley esqueceu-se da colossal dor de cabeça que sentia e a única coisa que fez foi enrubescer.

Então uma gota de sangue escorreu por seu rosto e Elijah despertou. Sem dizer mais nenhuma palavra, colocou-a nos braços e montou no cavalo. Se fosse rápido o bastante, podia chegar ao centro eqüestre em minutos. Lá, graças a Deus, vivia um casal de médicos.

Encabulada, Hayley apenas observou os músculos do peito dele enrijeceram a cada contato com ela. Mas seu corpo venceu. Finalmente as bordas negras da inconsciência dominando sua mente. Fez um último esforço.

– Acho... Que estou apaixonada por você – disse com uma voz fraca. Nesse momento, um poderoso trovão retumbou, impedindo o homem de ouvir qualquer uma daquelas palavras.

...

Aos poucos, o beep do aparelho a seu lado a acordou de irritação. Tinha certeza de que as pessoas morriam por causa daquele barulho infernal. Sentia-se sonolenta, quase drogada, e sua língua pareceu pesada demais quando falou.

– Alguém desliga essa porra.

Uma risada rouca ecoou pelo quarto.

– Elijah? O que... – ia dizendo confusa, quando se lembrou – Oh, meu Deus! O que eu fiz? Meu bebê está bem? Por favor, diga que ele está bem?

– Seu filho está absolutamente saudável. O único problema mesmo foi a contusão na sua cabeça e seu tornozelo quebrado.

– Ah – disse aliviada. Pelo menos seu bebê não ia morrer por causa da burrice dela. Se bem que ele só iria nascer por causa de sua burrice também...

– Hayley, nunca mais me passe um susto desses! Não quero saber o porquê, só prometa que nunca fará isso de novo!

Ele parecia tão desesperado... Imaginou o sofrimento que infligiu àquele doce homem. Isso era imperdoável de sua parte.

– Eu prometo.

– Nunca mais me faça pensar que a perderei de novo – sussurrou ele, abraçando a mão da moça.

– Eu prometo – repetiu ela, enquanto o calor que vinha de sua mão espalhava-se por todo seu corpo.

Não sabia se Elijah tinha escutado aquilo, mas não importava. A partir daquele dia, ela também iria cuidar dele. Era tudo o que restava. Apaixonar-se pelo homem errado só causaria mais dor. Mas o que fazer quando seu coração suplica pela melhor pessoa do mundo?

Percebeu que se sentia aliviada de ter dito aquilo. Finalmente, permitira-se ser livre, dar voz à seus sentimentos. Uma cálida felicidade instalou-se nela. Por mais que a única coisa que pudesse fazer era desejá-lo em segredo, sentia-se verdadeiramente feliz. Se era assim que as coisas deviam ser, iam bem.

Sorrindo, afagou os cabelos meio molhados dele. Naquele momento, tudo o que pode desejar é que o bebê em seu ventre fosse parecido com ele.


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Notas finais do capítulo

Oe, leitores! O que estão achando? Curtindo? Alguma sugestão? Comentem; quero falar com vocês u.u kk



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