Capitulo 27 — Henry Pym

Eu só percebi que passei a maior parte do meu dia no meu quarto, concentrado na tarefa de concertar meu traje que - depois da minha última missão - havia ficado um pouco avariado, quando meu pai aparece na porta.

— Nem parece que você está em casa, filho. — Sua voz faz com que eu levante os olhos, observando-o, enquanto ele se senta em minha cama. — Por um momento, achei que você tinha saído para ir ficar com seus amigos.

Sorrio para ele, deixando parcialmente de lado minha tarefa.

— Não, não...Só estou tentando concertar isso aqui. — Olho para a tarefa em minhas mãos outra vez. — Estou demorando mais do que o costume por causa disso aqui.

Mosto a ele o problema.

Ele faz um sinal com a cabeça, e então estendo a parte de cima do meu uniforme para ele, que começa a analisa-lo meticulosamente.

— As asas do meu traje foram as que mais se danificaram. — Explico. — Mas acho que eu já consegui resolver. Ai, aproveitando que eu já estava tendo que mexer nelas, eu estava pensando em tentar deixá-las melhores, sabe? Calibrar o modo de voo, atualizar algumas coisas, deixa-las mais...não sei. Melhores, talvez?

Meu pai ri com divertimento, me devolvendo o colete.

— Acho que não preciso perguntar, mas...Quer a minha ajuda com alguma coisa?

Dou de ombros

— Uhm... É mais divertido fazer isso sozinho.

Meu pai concorda levemente com a cabeça.

— Imaginei que não precisasse, seu trabalho está impressionante. — Ele comenta, me fazendo parar de prestar atenção em minha tarefa mais uma vez. — De qualquer maneira, eu acho que posso usar sua ajuda, e é por isso que vim aqui. Se importa em me ajudar com uma experiência lá em baixo?

Abro um sorriso animado, deixando tudo de lado.

Desde seis meses atrás, quando ajudei a trazer Aiden, Logan, Scarlett e Rachel, de volta do passado, meu pai tem confiado ainda mais em mim e em minha capacidade de ajudar em alguns projetos.

Já nos dávamos bem, mas isso, de certa forma, nos uniu ainda mais.

— Não, claro que não. — Respondo, já de pé, pronto para descer até o laboratório com meu pai. — O que vamos fazer?

— Vem comigo, vou mostrar.

Desço ao encalço de meu pai até nosso laboratório, animado quando entro e ele me oferece um de seus jalecos brancos.

Me visto e olho ao redor do lugar.

O laboratório estava cheio de experiências espalhadas por todos os cantos já que meu pai está constantemente fazendo mais de uma por vez. As lousas brancas que cobriam o lugar, estavam lotadas com a caligrafia do meu pai, com equações e anotações.

— Coloca isso aqui — Meu pai joga um dos óculos pra mim. — E venha cá.

[x]

— Como anda sua parte, filho?

Desvio minha atenção do microscópio quando percebo a aproximação do meu pai, e vejo-o olhando para os papéis com rabiscos e anotações espalhados na minha bancada.

— Nenhum progresso significativo. — Murmuro, um pouco irritado. Faz quase uma hora que estou analisando as amostras que meu pai me deu, sem nenhum novo resultado. — Não consigo identificar a estrutura orgânica dessa ...

Meu pai ri, me impedindo de continuar e bagunça meu cabelo.

— Ei, campeão, relaxa. Isso leva tempo. — Ele pega minhas anotações em suas mãos. — Mas o que escreveu aqui é uma ótima ideia, Henry. — Meu pai me parabeniza. — Acho que poderíamos aplicar isso na...

Ele para de falar assim que seu celular toca. Olho por cima do ombro, mas meu pai logo se levanta e vai para a porta

— Tenho que atender.

E então, ele some sem mais explicações. Suspiro, voltando a analisar o microscópio.

Meu pai sempre foi assim, meio estranho, por isso já não me importo mais.

Passo os minutos seguintes concentrado na pesquisa, e logo o barulho da porta se abrindo, indica que meu pai retornou, fazendo-me perder o foco para visualiza-lo entrando no ambiente.

Ao contrário do que eu esperava, ele passa por mim apressado, pegando alguns papéis em sua bancada.

— O que aconteceu? — Inquiro, curioso como sempre. — Quem era? Aonde vai?

Meu pai não me dá atenção, ignorando todas as minhas perguntas, e apenas me dá uma ordem.

— Henry, quero que vá para a casa da Carol. — Sua resposta é apressada, enquanto ele tira o jaleco branco e joga-o em cima da cadeira. — Não sei se vou demorar para voltar, então quero que passe a noite lá

Mesmo acostumado com esse jeito excêntrico dele, pisco confuso.

— Mas pai, a tia Carol não.... — Tendo argumentar em vão que provavelmente a tia Carol, assim como o os outros vingadores, estavam em missão, e não em casa.

Porém, meu pai não me deixa terminar a frase.

Ele passa por mim, murmurando algo com: “Faça o que eu mandei” e “te vejo mais tarde.” E então desaparece mais uma vez, me deixando sozinho com meus pensamentos;

Carol sempre foi a pessoa para quem meu pai recorria quando precisava de ajuda comigo. Desde que minha mãe morreu há dez anos atrás, Carol me adotou como segundo filho. Ela sempre foi a melhor amiga da minha mãe, e bom, levava mais jeito para cuidar de mim quando eu era mais novo do que meu pai que, mesmo tendo se aposentado dos vingadores, ainda gastava a maior parte do seu tempo com as experiências.

O que eu posso dizer? Meu pai sempre se deu melhor com as pesquisas do que com as pessoas.

Claro que, quando fiquei um pouco mais velho e comecei a me interessar pelas mesmas coisas que ele, nossa relação ficou muito mais fácil. Mas ele ainda tem esses surtos de genialidade ou coisas pra fazer, e quando isso acontece, ainda passo um tempo na casa de Carol, com ela e Aiden.

Um tovão alto me faz voltar para o presente, onde eu concluo que não tenho muito mais o que fazer, a não ser ligar para Aiden e ver aonde ele está.

Subo até meu quarto e pego meu celular, esquecido durante o dia todo em cima da minha mesa, e ligo para Aiden, que atende rapidamente.

— E ai, irmão. — Ele me cumprimenta. — Tentei falar com você o dia todo! Porque não atendeu?

— Foi mal, deixei o celular desligado na muito parte do tempo. — Explico. — Mas recebi suas mensagens. Tudo tranquilo por ai?

— Sim, a situação já está sob controle. — Ele responde um tom ligeiramente cansado. — Mas diz aí, o que você quer?

— Meu pai acabou de sair e pediu para passar a noite na sua casa. Tem problema?

— Corta essa cara, você sabe a resposta. — Agora sua voz é mais animada. — Eu ainda estou na base, posso passar ai e....

— Não, eu te encontro aí, preciso pegar umas coisas por ai mesmo.

— Tem certeza? Você vai chegar aqui todo molhado.

Olho pela janela e vejo que ele está certo, mas mesmo assim dou de ombros.

— Eu me viro.

— Bom, você é que sabe. — Ele diz por fim. — Te espero por aqui então.

[x]

Chego a base da SHIELD tirando minha jaqueta molhada devido ao temporal que cai lá fora. Indo em direção a base da equipe, passo pelo laboratório dos Fitz-Simmons, onde ouço uma espécie de discussão vinda de dentro do lugar.

Tomado pela curiosidade, me aproximo mais para ter uma visão e audição melhores.

Me aproximo o suficiente para ouvir, mas não ser visto. As paredes são de vidro, por isso não tenho problemas em identificar dentro da sala, Leo Fitz em uma das cadeiras, com uma expressão preocupada, enquanto Jemma Simmons discute com uma mulher alta e loira.

— Jemma. — A mulher que não reconheço começa, com um tom apaziguador. — sei que deve ser bem difícil, de ouvir isso, mas...se eu não me engano, em duas semanas Hazel faz dezoito anos. Acho que sua filha já está bem grandinha pra ficar a noite fora. Deixe ela se divertir.

O silencio reina na sala por alguns segundos, enquanto Jemma olha para a mulher com um olhar incrédulo.

— Você não conhece minha filha, como eu conheço, Barbara. — Jemma retruca. — Hazel não é assim, ela nunca ficou até tarde fora, e muito menos deixou de avisar aonde estava!

Eu estava tão concentrado, tentando entender a situação, que só percebi a aproximação de Scarlett quando ela segura meus ombros com suas mãos absurdamente frias e quase me derruba no chão, fazendo-me quase pular com o susto.

— Júnior, eu já e falei que não é assim que se espiona! Porque não vira uma abelha pra ter um resultado melhor? Seria mais discreto — Ela ri de forma brincalhona, como sempre.

— Porquê você não fala mais alto, Romanoff? — Connor se aproxima de nós, com Sam, Logan e Aiden logo atrás. — Você fala em discrição, mas.... Eu me pergunto como a filha de uma espiã, consegue ser tão indiscreta como você as vezes.

Scarlett sorri de forma divertida para a provocação do mais velho, se jogando em cima dele e em um piscar de olhos, os dois estão brincando em uma luta de cocegas.

Desvio minha atenção para Logan, que começou a conversar com Sam, alheios a tudo, e depois observo Aiden, que se encosta desinteressadamente na parede, com um olhar de tédio.

— O que está acontecendo ali? — Questiono para o mais velho. —Quem é a mulher?

Aiden estreita os olhos, e então dá de ombros.

— Parece familiar, mas não sei.

Olho novamente para a mulher, que continuava a discutir com Jemma.

— Sabe por que elas estão discutindo?

— A Jemma está preocupada com a Hazel, só isso. — Scarlett diz sem interesse algum, arrumando seu cabelo, depois que Connor o bagunçou. — A mulher que está com ela deve estar tentando acalmar ela, eu acho.

Olho para os mais velhos, confuso e curioso.

— Hazel saiu hoje à tarde e, por algum motivo, não deu notícias até agora. — Aiden explica melhor. — Acho que Leo e Jemma não conseguiram falar com ela até agora. Nenhum de nós consegui falar com ela também.

— Ah. — Resmungo, pensando que isso era realmente estranho. Se Aiden sempre foi como meu irmão mais velho, Hazel sempre foi como minha irmã. Somos praticamente melhores amigos, e eu conheço o jeito dela, por isso começo a concordar com a preocupação de Jemma.

— Não conseguimos falar com ele o dia todo também. — A conversa continua e Logan aponta para mim. — E olha só, ele está vivo e inteiro!

— Acho que Jemma está exagerando. — Connor diz, atraindo a atenção de todos, até de Logan e Sam.

— Eu também acho. — Logan comenta. — Eu conheço a Hazel, e acho que ela deve ter ido na casa do Teddy.

— Eu também a conheço, e ela não fica sem avisar os pais. — Retruco, com a repentina sensação de que algo pode ter acontecido com ela. — Já passou das dez da noite, a Hazel não é muito do tipo que curte ficar fora tão tarde, não acham?

Scarlly ri de forma irônica.

— Todos têm seu dia de rebeldia, Junior. — Ela começa. — E vamos ser sinceros, vocês viram o temporal lá fora? Ela não é idiota, deve ter visto que não iria conseguir voltar pra casa e por isso ela pode ter decidido passar a noite na casa do, quem sabe, novo namorado dela. E sim, me refiro ao Teddy.

Aiden e Logan a acompanham na risada.

— Mas, por que ela não avisaria? — Sam questiona, mas para contrariar Scarlett do que realmente interessado no assunto.

Scarlett revira os olhos.

— Baterias de celulares não são eternas, Sammy. Ou pode ser que ela esteja se divertindo tanto que nem se lembrou disso...

Scarlett abre um sorriso maroto, que logo foi compartilhado por Connor, que se apressa ao dizer.

— Tem razão, Scarlly. — O loiro aponta para o laboratório com a cabeça. — Não sei como ela ainda não colocou a SHIELD inteira atrás da Hazel. — Ele e Scarlett começar a rir de seu argumento.

— Aposto que se Fury não estivesse fora, ela teria colocado até ele atrás dela. E cara, como isso seria legal.

Eu estava pronto para contra argumentar a brincadeira dos dois, mas Connor me interrompe, subitamente passando por mim com um suspiro cansado.

— Bom, eu vou indo, galera. Tenho uma vida pra viver fora desse lugar. Se precisarem de mim, sabem onde me encontrar.

Com um breve aceno, o garoto nos dá as costas e some pelos corredores cinzas.

— Seria uma boa ideia irmos também. — Logan se aproxima da namorada, passando o braço pelos ombros dela. — A chuva não vai parar tão cedo, vou pedir pro Happy vir pegar a gente. — Ele então olha para nós. — Querem uma carona?

— Agradeceríamos muito, Logan — Aiden concorda.

— Não vai ser problema nenhum. — Logan olha para seu celular. — Ele já está a caminho.

Enquanto Aiden e Logan conversam, Scarlett vira seus olhos azuis despreocupados para mim.

— Henry, não precisamos nos preocupar com a Hazel, ok? Tivemos um dia cheio e ninguém pode culpa-la por querer dar uma aliviada desse lugar. Se ela precisar de ajuda, sabe como nos chamar.

Concordo silenciosamente.

— Essa é a última vez que eu vou concordar com você, ruiva. — Sam começa. — Mas você está certa.

Scarlett sorri vitoriosa

— Eu sempre estou certa, Sammy.

Sam sorri de forma irônica, passando a mão pelo cabelo, entediado.

— Bom, eu não vou a lugar nenhum, fico por aqui hoje. — Ele nos lança um breve olhar. — Nos vemos por aí, camaradas.

Assim que o garoto sai, lanço mais um olhar para o laboratório, onde as três pessoas agora estão conversando amenamente até que Aiden me dá um leve (para ele) empurrão, chamando minha atenção.

— Acorda, Junior. — Ele me chama, dando risada da minha distração. — Já está ficando tarde e eu realmente quero ir pra casa. Vamos indo.

— Foi mal. — Pego minha mochila, que até então estava esquecida no chão e a coloco em meus ombros. — Só vou pegar um negócio na base e já volto.

— Não demore! – Logan pede.

Olho uma última vez para os adultos na outra sala, e por um breve segundo, a mulher loura olha para mim. Desvio o olhar, fazendo meu caminho até a base.

Logo me vejo no lugar que usamos como nossa base de operações e logo desço até o pequeno laboratório que divido com Hazel, pegando o que fui buscar, quando puxo uma folha de papel e algo cai no chão.

Quando olho para o mesmo, percebo que é o comunicador de Hazel.

De repente, a sensação de que algo não está certo me invade outra vez, mas me forço a acreditar nas palavras de Scarlett e Connor.

Guardo o comunicador dela em minha mochila e então, volto para me encontrar com os outros.

Mas a sensação ruim não me deixa nem por um segundo.