Capitulo 16 – Zendaya Munroe

— Prima! — Evan me chama enquanto eu caminho distraidamente pelos corredores da mansão depois da minha última aula do dia.

Paro e rapidamente me encosto na parede a tempo de não ser atropelada pelo meu primo enquanto o mesmo passa por mim em seu skate.

— O que foi, Evan?

— Se sua mãe perguntar, diga que vou dar uma saída, ok?

— Vai sair agora?

— Esse é o melhor horário para se andar por ai. — Ele sorri e então coloca o skate novamente no chão e sobe em cima do mesmo. — Fico te devendo uma aula de skate por esse favor.

— Espera! — Grito quando ele pega impulso pelo corredor. — Mamãe pediu pra não andar de skate aqui dentro!

— Eu sei!

Suspiro pesadamente quando ele some de minha vista.

Evan sempre foi um cara complicado e ainda não se acostumou com a vida aqui no Instituto. Sei que ele tem muitos amigos do outro lado da cidade, então provavelmente é pra lá que ele vai. Quer dizer, é isso o que eu espero. Minha mãe não vai gostar se descobrir que ele anda arrumando confusão pela cidade.

— Ele nunca aprende né?

Dou um pulo de susto, quando sou surpreendida pela voz animada e agitada de Luna atrás de mim. Viro-me e vejo a garota loira, vestindo uma jaqueta da Força Aérea dos Estados Unidos (presente de seu namorado, Aiden) acompanhada de um garoto alto e forte, com cabelos negros e olhos azuis e uma postura um tanto arrogante para meu gosto.

— Luna?!

— Zen! — Ela me cumprimenta oficialmente. — Tá fazendo o que?

— Nada — Penso em perguntar aonde está Aiden, mas sei por Mayday que eles estão em alguma missão com sua própria equipe. Então me concentro no garoto desconhecido, que não tira seus olhos dos meus, assim como faço com ele. — Hã, quem é ele? Se importa em nos apresentar?

Luna ri enquanto enlaça seu braço com o do garoto.

— Este é Dominic Murdock. — Luna finalmente introduz o garoto sério, que esboça um leve sorriso ao ser apresentado. — Estuda com Aiden. Ele é filho do Demolidor e da Elektra, e você acredita que ele morou na Grécia?

Luna despeja as informações com seu jeito hiperativo que me deixa cansada só de tentar acompanhar, então decido corta-la, antes que seu falatório se estenda até a eternidade.

— Sou Zendaya Munroe.

— Filha do Pantera Negra?

— É, sou eu.

— Ele não é rei em algum lugar? — Dominic franze o cenho e constato na hora que ele é sim, um pouco arrogante. — Wakanda não é? Devo te tratar de forma especial por isso?

— Se quiser levar um soco na cara.

O garoto abre um sorriso, mostrando que a conversa não se passava de uma brincadeira, então Luna retorna a falar

— Estou mostrando a mansão a ele. Mas não, ele não vai vir morar aqui, O que na verdade, é uma pena, já que você é bem legal Dom.

— Interessante. — Digo sem interesse algum realmente.

— Seus olhos é que são interessantes. — Dominic fala de repente, fazendo-me corar. — Nunca conheci alguém com olhos dourados como os seus.

Olho para ele com descrença, pensando em algo para dizer.

— Você tem que ver os olhos dela quando está usando seus poderes, é de arrepiar. — Luna responde por mim, já que fico sem resposta. — Ela pode controlar a eletricidade, e pode te dar choques.

— Valeu, Maximoff. — Respondo meio sem graça. Procurando trocar de assunto — Vocês não têm um, sei lá, tour para terminar?

— Sim! Vem com a gente! — Luna passa seu braço livre pelo meu e me puxa.

Não estava nos meus planos gastar meu fim de tarde seguindo Luna e Dominic pela mansão, mas a loira não me dá a oportunidade para protestar, então não tenho outra alternativa que não ser arrastada ao lado dos dois.

Caminhamos até o corredor com Luna falando sem parar. Você se surpreenderia com a capacidade que ela tem de falar por horas quando está de bom humor. Quando ela finalmente dá uma brecha, Dominic se vira para mim.

— E então? Você já foi para Wakanda? — Dominic me surpreende com sua pergunta repentina.

— Aham.

— E como é lá?

— É um lugar maravilhoso. — Minto. — Muito bonito e...

— Não precisa mentir— Ele me corta.

Como ele sabia que eu estava mentindo?

— Eu não menti.

— Está mentindo agora.

— Como você...?

— Seus batimentos cardíacos. Eles aumentam quando mente. O de todo mundo é assim. Quer dizer, de quase todo mundo. Só conheço duas pessoas que consegue burlar isso.

— E como você ouviu meus batimentos cardíacos?

— Desculpa, eu não consigo evitar. Tenho uma audição muito boa.

— Isso não é legal? Ele é tipo um detector de mentiras ambulante. — Luna diz sorridente.

Processo a informação por um momento e então decido dizer a verdade.

— Wakanda é um lugar horrivelmente chato. — Admito. — Chato e entediante. É o pior lugar para passar as férias.

Ou qualquer outra época do ano, penso, mas omito essa parte.

Eu detesto Wakanda, mas guardo essa informação apenas para mim. Não confundam odiar Wakanda com odiar meu pai. Eu amo meu pai, mas não suporto o lugar aonde ele vive. Passo as férias lá, e sempre conto as horas para voltar pra cá, afinal, o Instituto é meu lar.

— Eu sou como você. — Dominic quebra meu pensamento, forçado minha atenção para ele novamente. — Morava com a minha mãe, e preferia muito mais minha casa do que aqui em Nova-York. Você pelo menos continua no lugar que gosta.

— Er... — Luna pigarreia chamando nossa atenção. — Fico feliz que vocês dois encontrem um assunto em comum, mas estão me excluindo da conversa. E odeio ser excluída. A minha genética já me excluiu de muita coisa.

— Como assim? — Dominc faz uma cara confusa enquanto volta a olhar para Luna.

— Eu não sou uma mutante de verdade. — A loira diz, com um tom frustrado

Ao ver a cara de ponto de interrogação que o garoto apresentava, Luna resolve se explicar melhor

— Eu não tenho poderes. Sou filha de uma Inumana e de um mutante, e por incrível que pareça, essa mistura dá em um humano normal. Sou a garota mais azarada daqui.

— Isso não é verdade, você tem super poderes. — Começo, sorrindo de lado. — É a única pessoa que eu conheço que consegue cantar qualquer música do Eminen, ou da Iggy Azalea sem se enrolar na letra.

— É sério? — Dominic arregala os olhos em falso espanto, sorrindo, mudando minha imagem de arrogância dele. — Tá ai um poder interessante.

— Droga, Zen! Era segredo!

Luna completa a brincadeira assim que chegamos ao corredor, onde encontramos vários alunos trocando de sala, indo para suas aulas da tarde.

— Mas continuando com o Tour. — Luna recomeça, gesticulando com as mãos e falando rapidamente. — Não somos diferentes de qualquer outro internato no mundo. Ah, Dom, você vai amar o jardim daqui! Melhor ainda, você vai amar a piscina! Ela é sensacional, não é Zen? Diga a ele.

— É, nossa piscina é tão magnificamente igual as outras, que chega a ser chocante.

Fazíamos nosso caminho até o jardim, quando ouvimos alguém gritar.

— Raven!

Nós três viramos a cabeça de modo sincronizado a tempo de ver Alex se aproximando a passos largos e irritados.

— Não sei vocês, mas tenho a impressão de que isso vai dar merda.

Luna nem termina sua frase para que definitivamente, as coisas deem errado.

Alex passa por nós furiosamente, sem olhar para nossa cara e empurra Olivier – que conversava com alguns amigos - com brutalidade, fazendo o garoto perder o equilíbrio e cair de cara no chão.

— Mas, o que foi isso?! — Ollie não se levanta do chão, apenas olha para Alex com uma careta confusa.

— Você sabe o que fez para merecer isso!

Ollie continua a encarar a mais velha com o olhar totalmente confuso.

— Você é louca?! Eu não fiz nada!

— Vai pro inferno, Olivier! Não adianta mentir!

Alex avança contra Ollie que se esquiva.

— Quem é a loira agressiva?

— Alexandra Rasputin. — Não tiro meus olhos da briga para responder.

Mesmo sendo mais novo, Ollie é mais alto que Alex, mas isso não parece ser um empecilho para a garota.

— Ah, já ouvi sobre ela. — O tom de Dominic é carregado de puro desprezo. — Scarlett me disse que ela é uma psicopata. Já odeio ela.

— A Scarlett não estava errada. E relaxa, você não está sozinho. A Alex não é a miss popularidade por aqui.

— Devemos fazer alguma coisa? — Luna me pergunta começando a se agitar.

A resposta de alguém sensato é Não.

Ninguém nunca quer se meter em uma briga com Alex. A não ser Scarlett e Olivier. Eles definitivamente não têm um bom senso como o das pessoas normais. Ou são apenas idiotas o suficiente para continuar insistindo no erro.

— Ela deveria estar fazendo alguma coisa. — Olho diretamente para Madison, que está com as costas apoiadas na parede, apenas olhando com sua cara de “esse não é assunto meu”.

Maddie não faz nenhuma menção a ir separar a briga. E sei que ela realmente não vai fazer nada.

— Me solta! — Volto minha atenção novamente para os dois quando Olivier grita e chuta Alex, que bate contra a parede com um olhar assassino em seu rosto.

Ele realmente não deveria ter feito isso.

Se recompondo e sem dar chance para qualquer reação, Alex torce seu próprio pulso, fazendo o garoto urrar de dor.

Okay, todos ficam confusos e surpresos quando a loira resolve usar seus poderes, então melhor eu esclarecer algumas coisas sobre Alexandra Rasputin.

Alex possui graves problemas comportamentais. Isso é um fato que todos aqui conhecem. Alexandra é dona do pior gênio possível e nunca se deu bem no quesito “controlar sua raiva”.

Tá, mas ai você me diz: “Mas e daí? Muitas pessoas têm problema em controlar a raiva ou comportamento.”

Sim, eu sei. Mas nenhuma dessas pessoas pode fazer o que Alex pode.

O que quero dizer é que o destino concedeu um poder bem perigoso para alguém que é considerada — Na maior parte do tempo – Uma bomba relógio humana.

Mas que poder tão magnifico e perigoso é esse?

Bom, é meio complicado explicar o poder dela. Pra começar, Alex não sente dor. Não, ela é incapaz disso. E quase nunca se machuca.

Mas ela consegue causar muita dor em outras pessoas.

Fui muito dramática? Então, deixe-me explicar mais claramente: Tudo que Alex faz contra seu próprio corpo (Seja se arranhar, se queimar, se cortar) não causa danos a ela, mas sim a seu “alvo”. Mas que fique claro que ela mesma tem que se ferir. Se alguém a cortar, mesmo que ela não sinta, ela vai sangrar como qualquer um aqui.

Os únicos que conseguem ser “imunes” a ela são Nikolaj e Madison, já que eles conseguem transformar seus corpos em metal e cristal respectivamente.

Agora, não sei porque ela está com tanta raiva de Olivier. Bom, ele também não é nenhum santo, então deve ter violado todas as regras e avisos e pregado alguma peça em Alex, ou invadido seu quarto. Ou respirado perto dela, vai saber.

— Você vai ver só, seu peste nojento! — Alex grita, novamente avançando contra Ollie, que agora segura o pulso com uma cara de dor.

Então, antes que eu possa tomar a iniciativa de me enfiar no meio dos dois (provavelmente levando algum soco na cara, ou garantindo alguma fratura exposta em alguma parte do meu corpo) Rachel entra no ambiente com uma cara de poucos amigos e uma voz autoritária.

— Rasputin! Raven! Parem já com isso, agora!

Alex pode ser agressiva e tudo, mas nem ela é idiota o suficiente para desobedecer Rachel. Então, quando a ruiva manda, Alex para na hora com seu ataque desnecessário.

— Foi ele quem começou! — Alex grita apontando para um Ollie caído, espumando de raiva, mas isso, logicamente não abala Ray.

— Não me lembro de ter perguntado que começou. — Ray responde com a voz calma e controlada, porém firme.

— O que está acontecendo aqui!? — Minha mãe chega com Jason Summers em seu encalço

— Todo mundo que não for Olivier ou Alexandra, voltem ao que estavam fazendo! — Jason usa o mesmo tom autoritário de Rachel e literalmente todos os alunos somem de vista.

— Não se preocupe Ororo, já cuidei deles. — Rachel avisa. Então a ruiva se vira para o primo. — Jay, será que poderia levar Olivier para a enfermaria? Chame o Jimmy, ele vai ajudar a cuidar desse pulso.

Sem protestar, Jason ajuda o mais novo a se levantar e some com ele pelo corredor.

— Alex, você vem comigo. — Minha mãe chama e então se vira para mim. — Vocês duas estão envolvidas?

— Não! Claro que não! – Luna logo diz, nervosa e agitada como sempre.

— Estávamos mostrando a escola para o Dominic.

Minha mãe sorri de forma simpática para Dom

— Sinto muito que tenha presenciado isso.

— Não tem problema. — Ele ri descontraído. — Não seria uma escola se não houvesse uma briga, não?

Minha mãe concorda silenciosamente e então passa a mão pelo meu cabelo.

— Falo com você mais tarde, primeiro tenho que cuidar da sua amiga briguenta.

Ao dizer isso, minha mãe deixa o corredor, seguida por uma Alex ainda raivosa. Quando volto minha atenção para o corredor, vejo Rachel e Madison discutindo. Provavelmente sobre a atitude de Maddie, mas eu realmente não quero interferir.

— Quem é aquela com a Rachel?

— Madison Frost. — Luna diz cruzando os braços. — A soberana professora de literatura daqui.

— Ela é filha da Emma Frost? — Dom quase engasga com as palavras. — Isso quer dizer que ela pode...? Ah, você sabe. Fazer tudo o que a Emma pode? Ler mentes e tudo mais?

Solto um pequeno riso involuntário.

— Não, Maddie não é telepata com a mãe dela. — Revelo. — Ela pode transformar seu corpo em cristal, só isso.

— E se eu fosse você, não mencionaria esse fato perto dela. — Luna acrescenta. — Isso deixa ela puta da vida. É um trauma que ela não superou. Vai por mim.

Dominic se limita a olhar para nós com uma cara de quem está tentando processar tudo.

— Vamos, temos que terminar nosso passeio. — Digo puxando os dois para longe da discussão de Rachel e Madison.

[x]

Quase caio da cama ao acordar assustada e desnorteada, com meu coração quase saindo pela boca. Sento-me e me concentro em acalmar minha respiração, enquanto afasto as imagens do pesadelo ainda muito recente da minha mente.

“Foi só um pesadelo.” — É o que digo a mim mesma, enquanto tento me acalmar. O pior pesadelo que eu já tive, mas ainda assim, só um pesadelo.

No sonho, eu vi Wakanda sendo destruída.

Não consigo dizer ao certo o que estava acontecendo, mas obviamente era uma guerra ou invasão. Mas não é por isso que acordei quase tremendo de medo, afinal, não morro de amores por aquele lugar. Pode parecer cruel da minha parte, mas Wakanda poderia sumir do mapa, que eu realmente não iria me importar

Porém, o que me assustou neste pesadelo foi que, em meio a toda a confusão, eu vi meu pai sendo morto. E eu não pude fazer absolutamente nada para salva-lo.

Suspiro e agradeço por não ser nenhum tipo de vidente ao algo do gênero, pois do contrário, eu já estaria me preocupando.

Um clarão, seguido de um trovão fazem com que eu pare de reviver o pesadelo mais uma vez. Olho pela janela do quarto e posso observar que há uma grande ventania lá fora. Graças aos céus, aparentemente teremos uma tempestade em breve.

Devo ser a única pessoa aqui que fica mais tranquila no meio de uma tempestade.

Constato que não vou voltar a dormir tão cedo, então decido ir até a cozinha, tomar um copo de água, ou até a sala, procurar alguma coisa distrativa na televisão. Desço as escadas sem fazer qualquer barulho e logo que chego a sala, vejo Madison no sofá. Mesmo sem fazer nenhum barulho, ela nota minha presença.

— Ninguém mais dorme nesta casa? — Ela comenta, sem tirar os olhos da televisão.

— Aparentemente, não.

Ela finalmente me olha, me analisando com seus enigmáticos olhos verdes.

Você já teve a sensação de conhecer uma pessoa, literalmente pela vida toda, mas mesmo assim, não conhecer nem metade dela? Pois é, viver com Madison era assim. Cresci com ela, mas Maddie é como uma estranha para mim. O mais estranho, é que eu sinto que ela me conhece muito melhor do que Mayday - que é minha melhor amiga- e muitas vezes, melhor até que eu mesma.

É como se ela sempre estivesse um passo à sua frente, em tudo, apenas para superar o fato de ela não ser como a mãe.

E é por isso que, mesmo depois de dezesseis anos, eu nunca fico confortável ao seu lado.

— Só digo isso, pois seu primo acabou de passar por aqui. — Ela retorna a falar, voltando sua atenção para o filme que passava na televisão.

— Agora?!

— Sim, ele acabou de chegar.

São duas da manhã, será que ele ficou fora todo esse tempo? Ah, Evan, tomara que você não tenha se metido em nenhuma confusão.

— Ei, junte-se a mim. — Madison me puxa de volta para nossa “conversa”, segurando meu pulso. — Pelo visto, nenhuma de nós vai dormir tão cedo hoje.

— Eu não acho...

— Qual é Zen, eu não mordo. — Madison disse. — Vou ficar acordada até Jason voltar, pode esperar comigo.

Contrariada e ainda um pouco abalada com meu pesadelo, decido seguir Madison Frost em sua noite em claro.