Capitulo 14 – Scarlett Romanoff

— Garoto enlatado na escuta?

Após alguns segundos de silencio, ouço a voz robótica de meu namorado com um leve tom irritado em meu comunicador.

— Já te pedi pra não me chamar assim, Rainha Elsa.

Não contenho um sorriso.

— Foi mal, me esqueci.

— O que foi? Não me chamou apenas pra ouvir o doce som da minha voz, não é? O que você achou ai em cima?

— O que eu não achei, você quer dizer. — Retruco, bufando de tédio. — Não há nada aqui em cima, nem aqui por perto. Nenhum sinal de Chase, Molly ou qualquer um dos nossos adoráveis inimigos.

— Já imaginava. Por mais que Hazel tenha nos avisado rápido, eles não ficariam muito tempo por aqui.

— Porque eles não são otários. — Concluo, suspirando pesadamente.

Não sei se foi muita sorte ou a mais pura coincidência, mas Hazel cruzou com Chase Stein e Molly Heyes quando voltava para casa. Logo depois encontrou Mayday inconsciente no terraço do prédio ao lado de onde estou agora.

Uma coisa é certa, Hazel sempre está nos lugares certos, nas horas certas.

De qualquer maneira, quando chegamos por aqui, Henry e Hazel logo levaram Mayday de volta para a base, enquanto eu e Logan vasculhávamos a área. A senhora “surto por qualquer coisa”também conhecida por Megan, ficou na base, por motivos óbvios, junto com Mason e Gary, que estavam ajudando ela a recuperar sua“paz interior” e tentando diminuir a vontade dela de “Socar a minha cara sem motivo algum”

— Conseguiu falar com Aiden? — Questiono para Logan.

— Ainda não. E você?

— Nem tentei. — Posso estar longe, mas tenho certeza de que ele revirou os olhos com minha resposta. — Enfim, Vamos voltar pra base? Ainda tenho que estudar pra prova do Sr. Harris de amanhã. E se eu tirar outra nota baixa, ele me reprova, você sabe que ele me odeia.

— Ele não te odeia.

— Não? Ele disse que se eu reprovar na matéria dele, sou expulsa do time de lacrosse. E eu sou a capitã, ele não pode fazer isso, pode?

— O Sr.Harris pode fazer o que ele quiser.

— Quero ver ele fazer o que quer quando o Capitão América foi me defender lá na escola.

Logan solta uma risada, enquanto eu avisto vários carros de polícia cruzarem a rua.

— Ei, acho que Molly e Chase já foram pegos. Você viu quantos carros de polícia passaram por aqui? Consegue pegar a frequência deles e descobrir o que tá rolando?

— Se eu consigo!? — Logan ri com falso desdém. — Mas é lógico que eu consigo! Aliás, estou um passo a sua frente. Eles estão atrás de uma suspeita, com uma fantasia roxa e uma espada como arma.

— Você tá falando sério?

— Infelizmente sim. Achei que pudesse ser a Gertrudes....mas...

— Ela não usa uma espada. Nem roupa roxa. —Levo uma das mãos ao rosto e começo a rir. — Cara, é impressão minha ou essa cidade tá cada vez mais louca?

— Quem dera fosse só impressão sua. Quer ir atrás dela?

— Não, vamos deixar nossa polícia nova-iorquina cuidar desse tipo de maluco.

— Sem problemas, vou passar ai e te pego então. Depois eu te ajudo a estudar para o teste de amanhã.

— Estarei esperando.

Assim que desligo meu comunicador, sinto minha cabeça doer, como se fosse explodir.

Ah, de novo não.

Lorraine disse que isso poderia acontecer. Desde que me encontrei com Loki e descobri o que realmente posso fazer, as coisas tem oscilado entre “normais, estranhas e absurdamente anormais”.Há dias em que tudo está perfeito. Mas em outros, minha vida parece um episódio de supernatural.

E acredite, isso não é legal.

Deixe-me explicar melhor: Depois que voltamos da nossa “aventura temporal”, as dores de cabeça haviam voltado. Junto com os pesadelos cada vez mais constantes que praticamente roubam minhas noites de sono. E de uns tempos pra cá, as coisas só tem piorado. Tipo, piorado de verdade, ficando cada vez mais assustadoras. Mas prefiro não comentar sobre isso.

Ok. Isso parece ruim não é?

Eu sei, eu também acho que isso seja ruim. Mas ruim não significa péssimo, então decidi que posso lidar com a minha atual situação sem ter que envolver mais ninguém além de Lorrie e Rachel. Só as duas sabem do que está acontecendo, e eu prefiro assim. Não quero que os outros fiquem se preocupando a toa comigo.

Principalmente Logan e meus pais.

Com um longo suspiro, afasto todos esses pensamentos idiotas da minha mente, revirando os olhos e me concentrando em qualquer coisa que me distraia. Então começo andar pelo terraço esperando por Logan, que começa a demorar. Porém, não dou nem quatro passos, até pisar em um local que cede com meu peso. O que sinto em seguida é o impacto do meu corpo contra o chão duro no interior do edifício velho e abandonado.

Mas que droga! Por que esse tipo de coisa só acontece comigo?— É a primeira coisa que penso.

Abro os olhos, tossindo devido à grande quantidade de poeira e olho para cima, observando o grande buraco formado no teto. Sento-me, começando a tirar a poeira do meu uniforme, enquanto meus olhos se adaptavam a pouca iluminação do lugar.

— Maravilha. — Sussurro para mim mesma, tentando identificar melhor o interior do lugar. Não posso deixar de me lembrar de Dominic, ele com certeza saberia pra que lado fica a saída, já que ele consegue enxergar melhor no escuro.

Quando me coloco de pé, sinto um frio na espinha e ouço a risada sínica e doentia, que me persegue a meses. Viro-me lentamente em direção a risada, mas não vejo nada. Então fecho os olhos, tentando recuperar o controle da situação. Estava acontecendo outra vez.

“Relaxa Scarlly, é tudo coisa da sua cabeça” — Tento manter a calma, como Lorraine me ensinou.

Abro os olhos novamente, enquanto continuo a ouvir não só sua risada, mas agora meu nome como sussurros, até que vejo um vulto passando atrás de mim. Por reflexo, pego meu arco e preparo uma flecha, mas acabo tropeçando em alguma coisa e caio no chão.

Então eu finalmente o vejo, com as costas apoiada na parede e com um sorriso frio em seus lábios.

— Pobre Scarlett. — Loki diz com divertimento. — Não consegue me esquecer, não é?

Encaro o deus da Trapaça rangendo os dentes, tentando não demonstrar mais do que sinto.

— Cai fora, você não é real.

— Não? — Ele abre um sorriso muito maior. — Me parece que você acredita que eu seja.

— Você está em Asgard. Preso. — Repito, vacilando nas palavras. — Me deixe em paz.

— Está piorando não é? Até você já percebeu que está piorando. — Ele dizia enquanto se aproximava lentamente.

— Eu mandei cair fora e me deixar em paz!

Sem pensar mais, preparo novamente meu arco e atiro contra o deus, que desaparece como fumaça assim que a flecha o atravessa. Suspirando aliviada, solto um riso nervoso ao constatar que o ocorrido de segundos atrás era apenas mais uma “ilusão”.

Eu não disse que estava piorando?

Pois é. Era exatamente disso que eu estava falando.

Eu realmente não queria tocar nesse assunto, mas vejo que não tenho outra alternativa agora. O lance é que, desde que voltamos para o nosso tempo real, depois de toda aquela confusão, por mais que eu queira negar, eu percebi que lentamente ao longo dos meses, eu comecei a perder a minha capacidade de dizer o que é real, e o que não é.

O que quero dizer é que, de uns tempos pra cá, se tornou (muito) frequente que eu visse Loki, em todos os lugares. Às vezes eu posso jurar que ele me segue, me observa, mesmo sabendo que ele está preso em Asgard. E sempre que fecho os olhos, realmente o vejo e o ouço em minha mente.

Não quero usar a palavra “Alucinação”, porque eu acredito que ainda não estou nesse nível de loucura. Porém, é como Lorraine gosta de chamar isso.

Eu sei, eu sei. Minha história só melhora.

Mas como eu já disse, posso resolver esse problema sozinha. Só não sei como ainda, mas estou trabalhando em descobrir. E devo agradecer por ser ótima atriz em encobrir esses acontecimentos.

Retomando o controle da situação, levanto-me devagar e pego meu arco. Mas então, quando estou prestes a dar o fora desse lugar, sinto uma lamina pontiaguda encostar em minha coluna. Levanto as mãos em sinal de rendição, tentando não surtar e identificar a pessoa pelo canto do olho.

— Não se mexa.

Para meu alivio, não é a voz de Loki. É uma voz feminina que me é muito vagamente familiar. Ou provavelmente é só impressão minha.

— Olha, eu não estou tendo uma noite muito boa, não vai querer comprar briga comigo agora.

Antes que a garota pudesse responder qualquer coisa, viro-me agilmente, desarmando-a em um piscar de olhos.

Um sorriso escapa de meus lábios.

Agora a situação se inverteu. Eu tenho sua arma - uma espécie de bastão/lança – em minhas mãos e a encaro. Ela por sua vez, me encara de volta, com ódio em seus olhos. Aparentemente ela não esperava por essa.

A garota é mais baixa que eu e possui uma peruca roxa (quer dizer, espero que seja uma peruca). Sua roupa é roxa com detalhes em preto, com uma capa e uma máscara estilo Robin cobrindo seus olhos.

Mas era só o que me faltava. Uma metida a “super-vilã”, com uma roupa ridícula e uma arma perigosamente letal. É então que percebo que ela é a procurada da qual Logan me falou.

— Acho que a polícia está te procurando.

— Não me diga. — A garota responde com rispidez. — Então, se eu fosse você, eu dava o fora daqui. Mas antes, me devolve isso!

Ela avança contra mim, mais ágil do que eu julgava que ela poderia ser, mas sou mais rápida e consigo derruba-la com sua própria arma.

— Como bem feitora desta cidade, não posso fazer isso. — Giro a arma em minhas mãos. — Além do mais, gostei dessa sua lança. Ou espada, sei lá o que é isso. Mas o arco e flechas é bem mais convidativo.

— Vai se foder!

A garota novamente investe contra mim, mas eu sou rápida e por uma fração de segundo desvio novamente.

— Ah, que foi? Vai chorar porque tirei seu brinquedinho? De verdade, ninguém poderia andar por ai com um negócio desses. Seus pais não te ensinaram que isso aqui pode machucar? Eu...

Antes que eu pudesse terminar minha fala, a garota desfere um soco muito forte para uma pessoa do tamanho dela em meu estomago, seguido de uma rasteira que me leva ao chão sem que eu possa entender o que acabou de acontecer. Antes eu me levante, ela recupera sua lança e investe contra mim. Se eu não fosse rápida o suficiente em rolar para o lado e me levantar em um pulo, provavelmente eu estaria sendo fatiada agora, por que ela com certeza não iria parar seu golpe.

Agora ela realmente quer me ver irritada.

—Você não faz ideia de com quem está lidando.

Desta vez, sou eu quem avança contra ela, mas a garota consegue desviar e me dá um chute, me desequilibrando. Consigo não cair, mas quando vou revidar, sou pega de surpresa por outro soco, desta vez em meu rosto.

— Estou lidando com uma esquizofrênica. — Ela responde entre dentes, sem perder o ritmo, me atacando de várias maneiras possíveis e ágeis. — Eu ouvi você falando sozinha.

A garota é boa. Boa até demais.

Mas mesmo sendo incrivelmente talentosa, ela não é tão boa para me derrubar tão fácil novamente, ou para me vencer. Ela apenas é uma oponente digna de uma boa e divertida luta.

Desvio de vários golpes que ela desferia - com sua arma e seu próprio corpo - com agilidade, revidando sempre que consigo achar uma brecha. Mas ela é incrivelmente habilidosa. Sério, ela estava sendo uma oponente melhor que o Ward.

— Quem é você? — Ela inquire.

— Não está mesmo me reconhecendo?! — Desvio de um soco e revido com um chute. — Dama de Gelo? Dos Jovens Vingadores?

—Dama de Gelo? — Ela retruca sinicamente. — Mas que nome de merda. E quem são JovensVingadores? Uma mistura amadora de Jovens Titãs e Vingadores?

Eu vivo dizendo que temos que melhorar nossa imagem pública, que é praticamente nula (Somos uma equipe totalmente desconhecida ainda), mas Garrett e Aiden nunca me dão bola.

Bom, tá aí o resultado.

— Somos tipo os Vingadores, só que mais bonitos e legais. — Consigo imobiliza-la, prendendo sua garganta com meu braço. — E só para te avisar: O Power Ranger roxo ligou e pediu a roupa de volta

— Puta que pariu! Você não cala a boca?

— Você não é a primeira que diz isso.

— Me pergunto o porquê, Katniss. — Com uma cotovelada em minha costela, a garota consegue se soltar.

Cambaleio para trás devido a dor, e vejo que a garota usa esse tempo para recuperar o folego, até que novamente acerte sua postura para recomeçar a luta.

Ficamos frente a frente uma para a outra, nos encarando, estudando cada movimento, uma esperando que a outra ataque primeiro. Se eu pudesse pisar no chão e cobri-lo com gelo (Como no filme Frozen), seria bem mais fácil derruba-la. Mas não consigo fazer isso sem congelar todo o resto. Além do mais, não sei se é uma boa ideia usar meus poderes agora.

Então, espero que ela perca a paciência e venha pra cima de mim.

— Me diga, — Começo, — o que leva uma pessoa a sair por ai, com uma fantasia infantil sem ser Halloween?

— Você por acaso já se olhou no espelho sua otária?

— A diferença, é que em mim fica legal, Barney.

Isso foi o estopim para ela avançar em mim novamente. Com golpes rápidos e bem elaborados, ela estava tornando a luta cada vez mais difícil. Uso meu arco como um bastão, bloqueando diversos de seus golpes.

Eu já mencionei o quão talentosa ela é?

Em algum momento de nossa luta acirrada, eu erro um bloqueio e a garota me chuta com violência no estomago, me fazendo cair de costas no chão. Em um piscar de olhos, ela está em cima de mim e por alguns segundos e eu realmente penso:

“Já era. Eu perdi pra uma amadora qualquer.”

Então, tão rápido quanto esse último minuto, algo entra no ambiente em que estamos e quando percebo, a garota some de minha vista. Olho para o lado e vejo o que realmente aconteceu.

Logan, com sua armadura preta e dourada, segura a garota pelo pescoço contra a parede.

— Fim da linha, garota.

É o que a voz eletrônica diz enquanto me ponho de pé e tento, somente tento, recuperar um pouco do meu orgulho e dignidade, que estão espalhados pelo chão.

— Eu tinha tudo sob controle, babaca de ferro! — Grito com Logan sem pensar, explodindo de raiva, enquanto minhas mãos ficavam geladas. Por impulso, dou um soco em sua armadura, quase quebrando minha própria mão.

“Nota mental. Seu namorado usa uma armadura de ferro, sua imbecil”

— Ei, ei. Que tal esfriar a cabeça, floco de neve? — Logan retruca sem se abalar com minha pequena explosão, ainda sem soltar a garota. — Eu vi que tinha tudo sob controle. Estava tudo tão controlado por aqui, que você até teve tempo de retocar a maquiagem, não é? Adorei o batom vermelho.

Levo minha mão a boca e a mesma volta vermelha de sangue.

— Me...solta — A garota rosna. — Desde quando o Homem de Ferro...

— Ele não é o homem de ferro, trouxa!

— Já mandei você ir se ferrar, Robin Hood!

—Espera. — Logan quase resmunga enquanto vira sua atenção para a garota. — Conheço essa voz.

— Tira logo essa máscara dela! — Quase ordeno de raiva. — Vamos ver se ela é tão corajosa sem a máscara.

Ignorando os insultos da garota, Logan tira a peruca da mesma, revelando cachos de cabelo loiro, e então ele tira a máscara dela e eu sinto meu corpo perder todo o calor. Aquilo só podia ser uma piada de mal gosto do destino.

Eu sabia que aquela voz irritante era extremamente familiar.

— Mindy?! — Logan e eu exclamamos juntos sem querer, enquanto minha melhor amiga continuava a se debater e a nos xingar.