– Daryl? – Glenn chamou pelo amigo que estava metros a sua frente.

O caipira ignorou o chamado por alguns instantes, mas parou, virando-se para encarar o coreano.

– Que cena foi aquela com a Tara? – Glenn perguntou enquanto ainda dava alguns passos para se postar ao lado de Daryl.

–Cena? – O homem franziu o cenho, fingindo não saber do que Glenn falava. – Que cena?

– Você a ameaçou. – Falou da forma mais obvia possível. – Sei que não gosta dela, mas você não pode ficar fazendo isso.

Daryl virou-se novamente e recomeçou a andar; agora com Glenn em seu encalço.

– Você sabe que isso é errado, não é? – Glenn tentou novamente.

– Errado é ela ficar olhando daquela maneira para a minha mulher!

– O que? – Glenn parou de andar de novo, tentando compreender as palavras do caipira.

Daryl ficou imóvel também, os músculos se retesando, mostrando como ele estava tenso no momento.

– Você não percebeu? – Daryl ergueu uma sobrancelha. – Ela olha para Carol quase da mesma forma que você olha para Maggie.

– Você está falando sério? – Glenn soltou uma risada nervosa. Agora ele compreendia o motivo da raiva do amigo. E sabia também que aquilo não acabaria bem se Daryl tivesse razão sobre Tara. – Ela está de olho em Carol?

Daryl que agora mantinha a expressão fechada, apenas assentiu.

– O que você vai fazer? – Glenn indagou com a preocupação visível em sua voz.

Daryl pareceu ponderar sobre a resposta.

– Nada. – O caipira parecia mais calmo agora. – Se ela não fizer nada, eu também não farei.

Glenn concordou com um aceno de cabeça antes de voltar sua atenção para a floresta a sua volta.

– Você acha que eles ainda vão demorar muito? – Carl perguntou a Carol, que estava sentada ao seu lado.

– Não sei, querido. Mas eu espero que não! – A mulher sorriu para ele.

Os dois ficaram em silencio por um tempo, cada um preso em seus devaneios.

– Você gosta muito do Daryl, não é? – Aquilo soou mais como uma afirmação do que como uma pergunta para Carol.

– Sim, muito. – Ela desviou o olhar para o chão, amaldiçoando-se por corar. Aquilo sempre acontecia quando o assunto era Daryl Dixon. – Mas porque a pergunta?

– Nada. – Carl lançou-lhe um sorriso sincero. – Só por curiosidade mesmo.

Carol assentiu e voltou seu olhar para Maggie, que estava sentada na porta do ônibus, alguns metros á frente.

Judith tinha o poder de contagiar qualquer pessoa com o seu sorriso inocente.

E Tara estava provando disso agora.

Ela embalava a criança em seus braços com a prática que adquirira anos atrás, quando sua sobrinha nascerá.

Aquela lembrança, ao contrário das outras, não lhe deixava triste.

Ela dava forças para Tara continuar a viver naquele mundo. Mas mesmo com Judith aos seus cuidados, os pensamentos de Tara projetavam-se para longe, para uma certa mulher com encantadores olhos azuis.

Mais encantadores do que qualquer par de olhos que Tara já vira na vida.

Ela deixou seu olhar vagar pela estrada até chegar ao outro lado, onde Carol e Carl estavam sentados, observando Maggie de longe.

Um sorriso brotou nos lábios da mulher.

Ela ficou perplexa por alguns instantes pensando em como era incrível que apenas olhar para Carol fizesse-a sorrir.

Mas antes que ela pudesse aprofundar seus pensamentos com a mulher, Judith mexeu-se irritada em seu colo, clamando por atenção.

Tara rapidamente olhou-a, os pequenos olhos observavam curiosamente algo ao longe.

Tara seguiu o olhar de Judith no mesmo instante que Daryl e Glenn saiam de dentro da floresta.

Os olhos da mulher focalizaram alguns homens vindo na direção de seu grupo.

Ela logo levantou-se, ajeitou rapidamente Judith em seu colo de modo que a segurasse apenas com um dos braços e a mão que estava livre procurou a faca presa em sua cinta.

– Mas que merda! – Daryl grunhiu irritado.

O homem que havia ameaçado Carl estava agora vindo em sua direção, juntamente com mais um pequeno grupo.

O caipira logo apressou o passo, sendo seguido por Glenn. Eles passaram por Tara e Maggie, chamando-as.

Quando se juntaram a Carol e Carl, todos já estavam com suas armas em mãos.

Eles não sabiam o que aquele grupo poderia fazer; E eles não iriam arriscar.

Mais alguns passos e o grupo que estava com Abraham, como Daryl lembrou, estava a alguns metros dos outros sobreviventes.

Eles não estavam com suas armas levantadas, mas Daryl não abaixaria as suas tão rápido.

– Ei, vejam se não é aquele pirralho novamente! – A voz de Abraham chegou rapidamente aos ouvidos do grupo de Daryl.

Carl fez menção que iria falar, mas o olhar que Daryl lançou-lhe fez com que ele recuasse.

– Vamos lá, pessoal. Não precisamos ser tão hostis. – Mesmo ao longe, todos podiam perceber o olhar desafiador de Abraham. – Nós nem estamos com as nossas armas em mãos. – Ele gesticulou para o grupo atrás de si. – Muito menos apontadas para vocês.

Daryl respirou fundo, ponderando sobre sua próxima ação.

Ele decidiu baixar sua crossbow. Os outros fizeram o mesmo com suas armas.

– O que vocês querem? – Daryl gritou de volta para Abraham.

– O mesmo que vocês. – A risada de trovão de Abraham parecia fazer tudo tremer ao seu redor. – Podemos nos aproximar? É ruim ficar gritando, além do mais, atrai muitos desses bichos para perto.

Daryl assentiu.

Em poucos segundos os dois grupos já estavam frente a frente.

– Vejo que hoje você está mais receptivo. – Diz Abraham olhando diretamente para Daryl. O caipira sorriu-lhe friamente. – Nós estávamos fazendo uma parada – Abraham lançou um olhar irritado para um dos homens de seu grupo – quando um bando de bichos nos atacou.

– E daí? – Carol foi ríspida, surpreendendo a todos ali.

– Bem, o Eugene aqui – O homem apontou para outro que parecia assustado. – não sabe atirar, mas mesmo assim ele pegou uma das armas e disparou até conseguir atingir o tanque de gasolina do nosso carro.

– Então voltamos por causa do ônibus. - Uma mulher saiu de trás de Abraham, fazendo-se presente.

– Como vocês sabiam do ônibus? – Tara perguntou, seus olhos apertados.

– Passamos por ele a algumas horas. – Abraham voltou a falar. – Fomos nós que matamos os bichos.

Maggie deu um passo á frente, mas foi impedida de continuar por Glenn, que segurou firmemente em seu pulso.

– Não havia uma garota viva? – Maggie falava rápido. – Ela estava nesse ônibus, mas não a encontramos entre os zumbis.

– Zumbis? – Um homem indagou, mas não lhe deram atenção.

Abraham trocou um olhar significativo com o homem que estava ao seu lado.

– Bem, havia sim. – Os olhos de Abraham brilhavam, demonstrando alegria. Aquilo passou despercebido por todos, menos por Daryl.

– Como ela era? – Maggie que havia conseguido se soltar do aperto de Glenn, estava agora em frente a Abraham. Ela precisava esticar o pescoço para trás para ver o rosto do homem. – Loira? – Abraham assentiu. – Olhos azuis? – Mais uma confirmação. – Ela disse o nome? – Abraham pareceu pensar, como se não lembrasse. – Era Beth?

– Sim. – A confirmação veio dos lábios da mulher que agora estava de um dos lados de Abraham.

– E onde ela está? – Maggie pareceu desesperada por um momento, mas logo se recompôs. Quando ela não obteve nenhuma resposta, voltou a perguntar. – Onde ela está?

– Morta. – Aquele brilho de diversão ainda não havia saído dos olhos de Abraham e Daryl não esqueceria disso.

Aquilo foi um choque para todos do grupo de Daryl. Mas Abraham não pareceu se abalar nem mesmo quando Maggie desmanchou-se em lágrimas na sua frente.

– Aliás, onde foram parar meus bons modos. Esses são Eugene, Rosita, - Ele ia apontando para cada pessoa enquanto falava – Joe, Tony, Dan. – Ele apontou o dedo indicador para o próprio peito. – E eu sou Abraham.

– Você tem certeza que Beth está morta? – Carol indagou com a voz chorosa.

– É claro. Ela bate com a descrição que a garota deu. Além do mais, nós vimos com nossos próprios olhos um bicho arrancar as tripas de dentro dela.

O soluço de Maggie pôs fim no assunto.